31 janeiro 2011

Rock # 19 - Prolapse – “The Italian Flag” (1997 Radar)

Sempre evoluindo na muita publicitada tensão entre os seus dois vocalistas, Linda Steelyard e Mick Derrick, a banda de Leicester, seguiu o impressionante disco de 1996, “Backsaturday”, com o igualmente inventivo e igualmente conflituoso, “The Italian Flag”. Ligeiramente menos atolado no lamacento “lo-fi”, “The Italian Flag”, novamente acasala poderosos ritmos com esquizofrenia vocal.
Após meia década a vomitarem reciprocamente acrimônias, a suave Steelyard e o psicótico escocês Derrick ainda possuem ódio e energia suficientes para continuar a dar vida ao seu muito pessoal, torturado e negligente show “a bela e o monstro”. Mesmo quando não se lamuriam (como na doce “Flat Velocity Curve”), eles justapõem as suas vozes num dissonante uníssono. E independentemente das suas características vocalizações, os Prolapse abordam os seus “jams” com uma intensidade desenfreada. O tema de abertura “Slash/Oblique”, divide a melodia bem no centro, fervilhando com a vivacidade de uns Sonic Youth, enquanto a incongruente, mas agradável “Killing The Bland” impele um “power pop” com uma tal abstracção, que se finge que o “new-wave punk” nunca enojou.
Adicionando fúria vocal com uma solidez instrumental, os Prolapse são um tanque multicolorido de prazer, uns mais ácidos Blonde Redhead, infundindo a sua música com a mesma “euro-sublimidade” mas com rajadas muito mais cáusticas.
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27 janeiro 2011

Compilações # 9 - The Homosexuals – “The Homosexuals Record” (1984 Recommended)

Uma das melhoras bandas da primeira geração “punk” nunca editou um álbum legítimo. Esta compilação de 16 temas seleccionados por Chris Cutler para a sua editora, e lançada seis anos após a maioria dos temas ser gravado, reagrupa “singles” e gravações “perdidas” e se pode omite algumas coisas, é na mesma deslumbrante.
Os The Homosexuals foram uma banda extremamente original, inteligente, bizarra e apaixonante, que sempre se esconderam atrás de inúmeros pseudónimos e abraçaram a obscuridade.
Eles representaram verdadeiramente a ética “DIY” do “punk”, ao fazerem um esforço concentrado para evitarem o sucesso comercial, gravando em tempo emprestado nos estúdios dos seus amigos, editando os seus próprios discos e raramente tocando ao vivo.
Extremamente influentes em todas as formas da música “punk” britânicas as suas guitarras angulares, as melodias complexas e as tendências experimentais distanciou-os um pouco do “punk” que estava ser criado pelos seus contemporâneos e cimentou a sua reputação como uns precursores do “pós-punk”.
Apesar destas inclinações externas, a sua música é mais ecléctica do que experimental, pois a maioria dos aspectos experimentais – harmónica dissonante, letras surrealistas, múltiplas mudanças estilísticas e rítmicas dentro das músicas – actuam como um véu para, basicamente, canções de “pop” excêntricas, completas com harmonias vocais, refrão e versos.
Foram muitas vezes comparados com os This Heat, mas os The Homosexuals estavam mais preocupados com a elaboração de canções de uma forma mais interessante do que a desconstrução das mesmas.
Eles foram fortemente influenciados pelo “afro-beat” e pelo “dub”, mas ao invés de assimilarem estes estilos numa sonoridade “punk”, eles criaram um crivo sonoro através do qual essas sonoridades pudessem passar e depois surgirem radicalmente alteradas.
Sublimemente difícil.
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17 janeiro 2011

Classic # 29 - Blur – “Parklife” (1994 Food)

Apenas três meses após o lançamento de “Modern Life Is Rubbish”, os Blur entraram no estúdio de Maison Rouge com o produtor Stephen Street para começarem a trabalhar no próximo álbum. Nesta fase eles ainda eram somente uma pequena banda de culto, essencialmente pelo relativo sucesso dos “singles” “There’s No Other Way”, “For Tomorrow” e “Chemical World” nas tabelas de vendas britânicas. Pois antes de ser tornarem na essência do “britpop” dos nos 90, os Blur eram apenas uns meros pretendentes ao trono, e seria a partir deste disco que se tornariam numa das mais assombrosamente consistentes e audazes bandas das últimas décadas.
Se por um lado “Parklife” é um disco que audaciosamente retrata um período temporal, no entanto este encontra-se a anos-luz da maioria dos discos desse mesmo período. Com uma parte de mordazes comentários sociais, e outra parte de pura extravagância pop “pós-punk”, o disco gerou a mais dançável crítica social com o ultra contagiante e decadente “disco” de “Girls & Boys” e incluía mais 15 outras variadas músicas (desde o ardente “neo-punk” de “Bank Holiday”, passando pelo misterioso “space-rock” de “Far Out”, pelas melódicas harmonias de “Badhead”, até às luxuriantes orquestrações de “To The End”), o terceiro disco do grupo de Londres, misturou um irresistível e contagiante “pop”, com “soul grooves” e belas guitarras irregulares, tudo suportado por irónicas letras que satirizavam todas as coisas verdadeiramente burguesas e britânicas.
“Parklife” extravasa melodias e atmosferas e as letras de Damon Albarn desdobram-se como um grande história, saltando de uma idiossincrasia da sociedade Inglesa para outra. As suas personagens são ricas e complexas figuras, cujas vidas e acções conseguem agarrar a atenção do ouvinte (segundo Damon Albarn, “Parklife” significa “o ambiente onde a normalidade tem a oportunidade de distorcer, mas nunca realmente mudar”).
Apoiado pelas loucas vendas do “single” “Girls and Boys”, este arrebatador disco atingiu o topo das tabelas de vendas e os Blur acabaram por passar de uma banda miserável que estava prestes a ser esmagada pelo “grunge”, para serem aclamados como a melhor banda britânica desde os The Smiths.
Mas talvez a melhor ironia, é que no processo de desvirtuamento dos estereótipos modernos, os Blur não conseguiram evitar de participar numa das mais duradouras instituições britânicas: o “pop” sofisticado.
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11 janeiro 2011

Electronic # 19 - Oval – “94 Diskont” (1995 Mille Plateaux

“94 Diskont” é um daqueles discos que podia e deveria ter mudado a rota da música moderna. Hoje desfruta de um prestígio indiscutível, mas a sua influência na estética contemporânea parece ser inversamente proporcional.
Um trabalho singular, contribuiu para a evolução artística ao utilizar a tradição estabelecida e esmagando tudo em pedaços, numa época em que a maioria dos músicos procurava inspiração nas décadas anteriores, “94 Diskont” surgiu com uma refrescante visão do futuro, não abandonando a música electrónica do passado, mas transformando-a de formas imagináveis.
O tema de abertura “Do While” consegue, em pouco mais de 20 minutos, um ponto culminante e de destilação de todos os anteriores esforços minimalistas na música.
Conscientemente ou não, sintetizou a influência e as melhoras práticas do mais puro minimalismo de Steve Reich ou Terry Riley com essência digital da nova tecnologia “instrumental”.
A partir de detritos digitais, Oval construiu um ressonante holismo de pura beleza cristalina. E se o disco é difícil no seu propósito e metodologia, também não revela as influências e arrisca, agravado por um forte sentimento de melodia e capacidade de composição.
O tempo demonstrou que o trabalho de Markus Popp foi revolucionário, começando com a criação – ou melhor, negação – do facto musical, reduzindo-o a um conjunto de processos e algoritmos, sem aplicações dramáticas ou emocionais. Apesar de intransigente, revela-se mais acessível com subsequentes audições.
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05 janeiro 2011

My Favorites # 23 - Wall Of Voodoo – “Seven Days In Sammystown” (1985 I.R.S.)

Depois do formidável “Dark Continent”, do espantoso “Call of The West”, e com o inesperado sucesso de “Mexican Radio”, muitos pensaram que com a saída do seu principal compositor e vocalista Stan Ridgway, os WOV se iriam afundar.
Mas isso fez com que a banda amadurecesse e seguisse uma nova direcção, pois aqui tudo está em perfeito equilíbrio, através de som exuberante e de uma surpreendente dinâmica para um registo com 25 anos. Gravado em Inglaterra, com Ian Broudie (The Pale Fountains, The Coral) e Gil Norton (Pixies, Echo & The Bunnymen), este é o disco que altera o mecanizado som dos Voodoo, evidente nos sintetizadores muito da época utilizados nos registos anteriores, levando-o para novas áreas sonoras. Aqui a constante foi aquele verdadeiramente único som de guitarra de Marc Copeland, e a habilidade na composição de canções, mas a música possui muito mais conteúdo e substância, nuns tons mais sombrios, mas mais energéticos. Provavelmente mais acessível (dá a impressão de ter sido minuciosamente produzido, mas nunca dá a impressão de ter sido sobre-produzido). Temos de juntar a energia e o carisma trazido pelo novo vocalista Andy Prieboy, que sem comprometer o espírito essencial dos WOV ainda conseguiu contemporizou a sua sonoridade.Apesar dos fãs mais incondicionais acharem que é desrespeitoso dizer que este álbum se encontra no mesmo nível dos registos anteriores (o disco seguinte “Happy Planet” já é bastante irregular), é uma bela, retorcida, romântica e sinistra obra-prima, pois desde a incrível “Far Side Of Crazy”, passando pelo requintado humor de “This Business Of Love”, pela pungente “Faded Love”, pela robusta “Mona”, pela intensa “Big City”, por “Dark As A Dungeon” (popularizada por Johnny Cash), pela extraordinária “Tragic Vaudeville”, até à inesperada (para os fãs WOV) “(Don’t Spill My) Courage”, estamos na presença de um disco muito à frente do seu tempo.
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