30 março 2007

Do fundo da prateleira # 2 - Papas Fritas – “Helioself” (1997 Minty Fresh)

O segundo disco deste trio de Massachusetts, é um lição pop.
Canções pop “lo-fi” de 3 minutos ridiculamente contagiantes.
O piano e órgão relembram o soft-rock dos 70, enquanto as alternâncias vocais levam-nos para o power-pop dos 60. E se estas influências normalmente dão-nos vontade de fugir antes de admitirmos que gostamos delas, aqui conseguem seduzir-nos.
Instrumentalmente este segundo disco foi também uma evolução, em relação ao primeiro, que era muito rudimentar. Especialmente a coordenação entre a secção rítmica, e a prestação de Tony Goddess no piano e órgão.
O disco abre com “Hey Hey You Say”, exercício psicadélico recheado com harmonias vocais exuberantes, e um sintetizador que parece zumbir constantemente.
Enquanto “We´ve Got All Night” e “Live By the Water” com os “falsetos” vocais e as guitarras “surf”, demonstram as influências “Pet Sounds”, já “Sing about Me” é “girl-group” pop puro. “Say Goodbye” apesar de melancólica, é equilibrada com o positivismo da descoberta de algo ou alguém novo.
“Small Rooms” com as suas guitarras e aquele refrão “la la la”, é um hino aos quartos pequenos (ironia ou eternos adolescentes).
“Helioself” é um disco de verão, onde se desejam discos pequenos para dias maiores, e assim sempre o poderemos ouvir duas vezes.

20 março 2007

Malcolm Middleton – "A Brighter Beat" (2007 Full Time Hobby)

Ao longo dos seus três discos, o ex-Arab Strap está a transformar-se. As suas canções estão a perder o fatalismo que as caracterizavam, estão mais agradáveis, revelando que Middleton estará mais optimista em relação à vida.
Este último disco, é um exercício de reflexão, recheado de canções melódicas que evocam simultaneamente serenidade e desespero, complementadas com excelentes arranjos orquestrais, que comprovam a qualidade de composição de Middleton.
Sonoramente distinto do trabalho realizado com Aidan Moffat nos Arab Strap, canções como “We’re All Going to Die”, “Stay Close, Sit Tight” ou “A Brighter Beat”, são mais ritmadas e parecem destinadas a alegrar a rotina diária.
“Superhero Songwriter” encerra o disco, e é um épico de humor negro, onde Middleton aborda com cinismo os seus temas predilectos (solidão, insignificância, etc) até atingir o clímax com um solo de piano, onde afirma: “Superhero songwriter, fixing to change the world from my room, maybe i should stick to writing wills, cos i’m no good at finding ways”.

16 março 2007

Classic #1 - The Modern Lovers – "The Modern Lovers" (1976 Beserkley)

Formados em Boston no início dos nos 70, são por muitos considerados como percursores do punk. Eram diferentes da maioria das bandas do início dos anos 70 (onde a decadência era o mote), pela sua forma de estar e de vestir. Com as suas actuações ao vivo, os Modern Lovers, chamaram a atenção da Warners, que os convidou a gravar uma demos em 1972/73, metade das quais seriam produzidas por John Cale. Mas quando Jonathan Richman disse que não pretendia tocar as canções ao vivo, a Warners anulou o contrato e não lançou o disco. Em 1976, Matthew Kaufman deixou a Warners para formar a Besrkley, e editou o disco com as demos gravadas em 1972/73. E apesar de não ser um álbum no verdadeiro sentido da palavra, este disco é o seu manifesto. É o disco que marca uma fase do som americano da época com a passagem das experiências psicadélicas (expoente máximo Velvet Underground ) para um rock cru e rudimentar. Canções de angústia, neuróticas, recheadas de comentários sociais introspectivos, e com letras adolescentes e bizarras (o que pretende com “Hospital”).
As canções não negam as influências de Lou Reed, em especial na forma como Richman canta e toca guitarra, ouçam “Astral Plane”, “Pablo Picasso” e “Someone I Care About”. O som é reforçado com o complemento musical providenciado pelo orgão Farfisa de Jerry Harrison.
E claro, contém esse clássico rock “on-the-road” que é “Roadrunner”.
Para mim, é esse som primitivo, em combinação com a voz nasal de Richman que faz com que este disco seja tão especial.

08 março 2007

Paul Murphy – “The Trip” (2006 AfroArt)

Este é um projecto pessoal do veterano Paul Murphy, mentor do projecto Soul Drummers, e companheiro de luta de Ashley Beedle. Segundo a informação que consta do interior deste álbum, o mesmo foi imaginado após uma viagem pela Índia. Mas as influências presentes neste disco são universais, já que são vários os estilos musicais aqui representados, concretizados nas sessões gravadas em Londres, com músicos experientes como Roger Beaujolais, David Mantovani ou Ashley Slater, e permitem através da perspectiva “live”, que o disco transmite, atingir um misto de modernidade e tradição, reminiscente das experiências musicais realizadas no princípio dos anos 90 por editoras como a Talkin’Loud ou a Mo’Wax.
A maioria dos temas são excelentes exercícios instrumentais (a viagem psicadélica de “The Trip”, é notável), excepção feita a um dos melhores momentos do disco: “Budapeste Chachacha”, que conta com a participação vocal do duo húngaro Secta Chameleon, é um épico “gypsy-jazz” que hipnotiza o ouvinte.
Só temos que esperar que realize mais viagens idênticas.

05 março 2007

Chin Up Chin Up – “This Harness Can´t Ride Anything” (2006 Suicide Squeeze)

Se “We Should Have Never Lived Like We Were Skyscrapers” (2004) foi uma excelente surpresa, “This Harness Can´t Ride Anything” é um disco que confirma a qualidade deste quinteto de Chicago. 10 canções pop meticulosamente estruturadas, um som envolvente de guitarras e sintetizadores, que chama a atenção para a qualidade musical dos intervenientes. Se o disco de estreia provocou admiração por esse mesmo facto, este disco surpreende pela consistência e qualidade das canções. Estas interligam-se entre si, e quando concluímos a sua audição, ficam-nos na cabeça. Temas como "Mansioned", "I Need a Friend With a Boat", ou "Trophies for Hire" destacam-se pela sua beleza.
A música é difícil de catalogar (o seu território andará próximo de American Analog Set, Modest Mouse, Broken Social Scene). Mas são excelentes canções pop, que lembram a nossa adolescência, cheia de esperança e optimismo.

02 março 2007

Little Annie @ Serralves 02-03-2007

Little Annie ou Annie Anxiety ou Annie Bandez, é uma eclética artista multimédia, cuja música não pode ser categorizada de forma convencional. Ao longo da sua carreira a solo ou nas inúmeras colaborações trabalhou com artistas tão díspares como Wolfgang Press, Current 93, Coil, Fini Tribe, ou mais recentemente com Antony e Khan.
O seu último disco “Songs from the Coalmine Canary” (2006) conta com a participação de Antony, que toca piano. E a grande beleza deste disco, é essa combinação do piano de Antony com a voz crua de Annie, que cria um ambiente jazz negro, retrato cruel da nossa sociedade actual.
Se a sua actuação incidir somente sobre este disco, não iremos ter oportunidade de assistir a outros momentos da sua carreira, como “Little Annie & The Legally Jammin’” (2003), a sua colaboração com Khan (Air Liquide) e Jendreiko, que é um disco excelente. É um projecto baseado no discurso “Spoken-word” de Annie, sobre estruturas rítmicas electrónicas, que poderá ser qualificado como “No Wave Disco”.
Também seria excelente recordar temas dos seus discos mais antigos como "Short and Sweet" (1992), que me revelou esta ex-punk.


Recomendado.