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23 agosto 2010

Rock # 16 - Pixies – “Surfer Rosa” (1988 4AD)

Na sequência do surpreendente mini-LP “Come On Pilgrim”, este mortífero disco de estreia dos extraterrestres de Boston é tudo o que viria a ser futuramente afinado para o impecável “Doolittle” e novamente “rasgado” para “Trompe Le Monde”.
Brilhantemente desalinhado, explosivo, sujo e cru, para além das reflexões mais delirantes dos Sonic Youth, esta sonoridade era basicamente inédita na época. É uma soberba mistura da melhor capacidade de composição, de letras loucas e perturbadoras, de guitarras abrasivas e de uma melodia verdadeiramente impressionante.
Black Francis surge aqui mais psicótico do que nunca, as suas vocalizações alternam entre gritos e pensativas reflexões, Joey Santiago continua a provar que é um dos mais subestimados guitarristas de sempre, e o estrondoso rufar de David Lovering dá às músicas uma qualidade superlativa.
Tal como os Velvet Underground, os Pixies sempre tiveram os seus lados mais abrasivos e mais suaves, e foram capazes de os demonstrar num registo único, e muitas vezes dentro da mesma música.
Este é o mais resoluto, áspero e agudo disco, menos filtrado, as canções são editadas para eliminar qualquer nota que não seja absolutamente necessária – isto claro obra de Steve Albini – e assim elas surgem brutais, com guitarras altamente distorcidas e letras sobre incesto e injúrias, mas no entanto são bastante cativantes e melódicas.
Desde o soco inicial dado pelos clássicos por excelência, o enlouquecido e desafiante “Bone Machine” e o rápido e furioso “Break My Body”, passando pela deliciosa interpretação de Kim Deal em “Gigantic” (um assombroso e assustador hino sobre o voyeurismo infantil), pela excelentemente intensa “River Euphrates”, ou pela arrepiante beleza do inesquecível “Where Is My Mind?”, o clímax do álbum, e uma das melhoras músicas dos anos 80.
Um grande disco que provou ser massivamente influente em praticamente todas as futuras áreas do rock alternativo.
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16 março 2009

Electronic # 8 - Doctor Rockit - “The Music Of Sound” (1996 Clear)

Matt Herbert empreendeu aqui um novo conceito musical, inspirado pelo “techno” mas frequentemente leve como uma pena, inspirado pelo “ambient” mas projectado para focar tanta atenção quanta conseguir produzir. Os seus trilhos rítmicos são trabalhados a partir de bizarras gravações, seja de uma pessoa a correr na praia ou de alguém a comer uma maça. Sinistras matrizes electrónicas são esculpidas, e distanciados arranjos de cordas e vibrafones são ligeiramente introduzidos, aludindo aos filmes de espionagem dos anos 60. Existem ainda faixas que são baseadas em gravações realizadas em meios onde Herbert se movimenta habitualmente, assim há uma ressonância pessoal quando ele próprio surge a tocar piano acompanhado pelas campânulas de uma igreja Italiana; ou a divertir-se com os seus amigos e os seus acordeões nasais num café de Viena. Também esta aqui incluída “A Quiet Week In The House”, uma bela e simples banda-sonora para um filme animado de Jan Svankmeyer.
A primeira metade do disco tem uma consciência mais experimental; a segunda metade assenta em exercícios rítmicos levemente mais fáceis e directos. Sempre muito delicadamente trabalhados, os sons parecem dar impressão de estarem filtrados e despojados, e existe imenso espaço.
Ao juntar citações da cultura popular com referências muito pessoais e uma animada atitude experimental em relação à tecnologia, Herbert criou uma música muito particular que impressiona por ter muito em comum com muitas das correntes artes visuais. Podem rotula-lo de banda-sonora imaginária ou après-techno, se quiserem, para mim, é somente um tipo de arte encantadora.
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