28 junho 2010

Covers # 13

Mais uma ronda pela prateleira com o objectivo de seleccionar algumas versões que particularmente aprecio.


Este é uma excelente interpretação para um grande clássico intemporal.

Death Cab For Cutie - This Charming Man (The Smiths)


Ainda me lembra do filme que incluia esta na sua banda-sonoro. Curiosamente Ray Manzarek foi o produtor.

Echo And The Bunnymen - People Are Strange (The Doors)


Um grupo que merecia muito mais atenção do que a recebeu, mas que terá sempre um carinho especial cá por casa.

Shop Assistants - She Said (The Beatles)

E aqui está uma boa razão para ainda comprar "singles".

25 junho 2010

Inovadores # 17 - Ash Ra Tempel - “Join Inn” (1973 Ohr)

Os Ash Ra Tempel fundiram um denso psicadelismo com sobrecargas de electrónica e no processo tornaram-se pioneiros do movimento “space-rock” alemão. Formados em 1970 pelo guitarrista Manuel Göttsching, pelo baixista Hartmut Enke e pelo também elemento dos Tangerine Dream, Klaus Schulze, gravaram uma série de extraordinários e resplandecentes discos durante a primeira metade da década de 70. Discos como “Schwingungen”, “Seven Up”, “Join Inn”, e o seu disco homónimo de estreia são de audição obrigatória para quem estiver interessado na história da “kosmische musik”. E apesar de com o passar dos anos se terem afastado das sonoridades “acid-rock” para terrenos mais diversos, como uma primária electrónica, e de serem popularmente perceptíveis como o arquétipo trio “freeform” dos “krautrock”, Göttsching, Enke e Schulze produziram alguma da mais potente exploração do período.
O muitas vezes menosprezado “Join Inn”, é constituído apenas por dois longos temas instrumentais (e aproxima-se mais do seu disco de estreia), e foi o último capítulo quer para Schulze (que abandonou para prosseguir uma carreira a solo) quer para Enke (que abandonou totalmente a realidade consensual, ao ser vitima de uma doença mental) nos Ash Ra Tempel.
“Freak’n’Roll” é uma apelante viagem espacial desfigurada pela confiante progressão “blues” de Göttsching (aqui em grande forma), uma sua nova predilecção que surgiu e alterou o disco anterior dos Ash Ra Tempel – o ultrajante “Seven Up”. Reciprocamente, o outro tema, “Jenseits” é um ditoso épico cósmico com alongados diáfanos de guitarra trémula em modo elusivo que coagulam as progressões pendulares do baixo de Enke, enquanto diversas tonalidades sonoras provenientes do sintetizador de Schulze flutuam. Simplesmente encantador.
_

22 junho 2010

Extremos # 8 - Gastr Del Sol – “Upgrade & Afterlife” (1996 Drag City)

Os Gastr Del Sol começaram como um projecto paralelo do vocalista/guitarrista dos Bastro, David Grubbs, e ao longo dos seis anos em que existiram como banda, sempre desenvolveram inúmero conteúdos musicais, sem nunca se tornarem previsíveis.
No elegante “Upgrade & Afterlife”, o segundo disco onde predominou a parceria entre Grubbs e Jim O’Rourke, o talentoso duo trabalhou com o percussionista dos Tortoise, John McEntire e o violinista Tony Conrad, entre outros convidados para compor “rock”, música electro-acústica, poesia, dedilhações de guitarra acústica (incluindo uma versão de “Dry Bones In The Valley”, original de John Fahey) e composições minimalistas em algo espaço e hipnótico, que, de acordo com o que Grubbs na altura disse de forma sarcástica, serviu como uma “janela” para os interesses colectivos que tinham no momento. Superficial, talvez, mas certamente que muito mais se estava a passar, e assim tornou as possíveis interpretações infinitas.
O posterior “Camofleur” é amplamente considerado, pela comunidade “indie”, como sendo o melhor disco deles, essencialmente pelo facto de possuir composições mais estruturadas e ter menos experimentação, mas pessoalmente considero o absolutamente formoso e extremamente comovente “Upgrade & Afterlife” como um notável e evocativo trabalho de génio e que mostra realmente Grubbs e O’Rourke no seu auge.
_

18 junho 2010

Rock # 14 - Elastica – “Elastica” (1995 Deceptive)

Ao abrir uma porta através da qual inúmeras bandas alternativas lideradas por mulheres não hesitaram em transpor, o disco homónimo de estreia das Elastica, também surgiu de um vácuo auto-imposto que as próprias seriam tolas em não quebrar. O disco apresentava canções curtas, afiadas e chocantes que eram tão breves como as melhores dos Ramones, e notoriamente instáveis como as primeiras dos Wire. E se essa última homenagem especial foi perdida quer nos advogados (os Wire queixaram-se da apropriação rítmica de “I Am The Fly” para “Line Up”), quer nos críticos, bandas como as Sleeper e as Echobelly (somente citando as que mais se destacaram), teriam sido muito mais puras sem a influência de canções como “Connection”, “Stutter”, “Line Up”, “Waking Up”, “Hold Me Now”, “Annie”, “Car Song”, “Vaseline” ou “2:1”.
“We’re crap at writing middle eights, and i get really bored when songs are longer than three minutes”, esta foi a única defesa a seu favor por parte da vocalista/guitarrista Justine Frischmann. As suas canções eram tão acentuadas e tão resolutas que rapidamente as Elastica foram absorvidas indiferentemente pelo “mainstream”. O seu segundo álbum não conseguiu acompanhar as expectativas que se criaram com a admirável estreia. Mas na sua rota para o esquecimento, elas ressuscitaram e reinventaram o minimalismo para uma geração sinfónica.
_

15 junho 2010

The Black Keys – “Brothers” (2010 V2)

Depois de terem trabalho com o produtor Danger Mouse no seu último disco, o duo de Ohio - Dan Auerbach e Patrick Carney – aventuraram-se corajosamente no legendário estúdio Muscle Shoals em Alabama, e se ao longo dos anos, eles sempre procuraram novas formas de actualizar o seu indistinto “roadhouse-blues”, e sempre tentaram diferenciar cada álbum do anterior, “Brothers” é mais um bom exemplo desses pressupostos, pois é uma totalmente comprometida, feroz e emotiva exploração do “blues” contemporâneo, repleto de “old school rock”, e cheio de detalhes intrigantes e imaginação.
E se o excitável e cintilantemente “funky” “Tighten Up” é um dos grandes temas do disco, é também a única produção de Danger Mouse no mesmo, pois uma das mais-valias do álbum é o estilo de produção simples (eles parecem ter aprendido isso com Danger Mouse, juntamente com a introdução de novos elementos sonoros) e são os precisos instintos de Auerbach e Carney, que aliados à excepcional capacidade de composição, fazem com que os grosseiros “blues rockers” e os crus “soul grooves” sejam apresentados através de esqueléticas misturas que permitem aos instrumentos e às vocalizações espalharem-se.
Através da intensidade torcida e do trémulo “falsetto” de “Everlasting Light”, do “riff” “heavy rock” de “Next Girl”, do agitado “Howlin’ For You”, do rodopiante orgão de “The Only One”, do “vintage” “r&b” de “Too Afraid To Love You”, da fumegante guitarra de “Ten Cent Pistol”, do rastejar lento de “Unknown Brother”, da respeitosa versão de “Never Gonna Give You Up”, ou do encantador e subjugado “These Days”, “Brothers” é um agradável, diversificado e inteligente estudo de géneros que combina perspectivas clássicas e contemporâneas do “blues”, “rock”, “soul” e “r&b”.
_

12 junho 2010

Electronic # 17 - Dntel – “Life Is Full Of Possibilities” (2001 Plug Research)

Os discos anteriores do projecto de Jimmy Tamborello dos Figurine estavam mais alinhados com o IDM praticado por experimentalistas com Fennesz ou Oval. Mas aqui ele resolveu sair das gélidas sombras do “glitch” e separar-se dos inúmeros “bedroom programmers” e apimentar a sua electrónica ao fundi-la com elementos do mais irregular” indie-pop” - incluindo o recrutamento de alguns vocalistas da elite “indie” como Ben Gibbard dos Death Cab For Cutie, Mia Doi Todd ou Chris Gunst dos Beachwood Sparks – explorando no processo todas as suas incomparáveis e infinitas possibilidades.
Assim magníficos instrumentais são intercambiados com canções onde Tamborello manipula os convidados vocais como se fossem “samples” para criar delicados e intimistas ambientes. O disco demonstra a incrível capacidade de Tamborello para elaborar intricadamente acessíveis e credíveis canções “pop” a partir das mais abstractas formas da música electrónica, pois poucos “músicos electrónicos” chegam perto da robustez de composição contida neste delicadamente produzido disco.
Sejam os encharcados efeitos digitais de “Umbrella”, o assombroso “Anywhere Anyone”, com Mia Doi Todd a cantar tristemente sobre uma mix de sintetizadores invertidos e “glockenspiels” a pingar em reverberação, a escuridão confusa de “Fear of Corners”, o ambiente flutuante de “Pillowcase”, a maravilhosa tristeza de “Why I’m So Unhappy” ou a excelente melodia de “The Dream of Evan and Chan” que acendeu a parceria musical com Ben Gibbard e que resultaria no sucesso dos The Postal Service.
Um disco precioso e negligenciado que merece o seu muito legitimo lugar como uma das mais inventivas e deslumbrantes peças da moderna música electrónica.
_

07 junho 2010

Do fundo da prateleira # 24 - The For Carnation - “The For Carnation” (2000 Touch And Go)

Este projecto do ex-Squirrel Bait e ex-Slint, Brian McMahan ajudado por músicos rotativos, criou uma música minimalista, comoventemente tímida e requintadamente bonita
Muito menos catárticos do que os Slint, os The For Carnation não eram menos sombrios e claustrofóbicos, assim aqui são várias as semelhanças com o lendário "Spiderland", pois os ritmos fatiados ainda lá estão, mas neste registo gravado durante três anos e que inclui seis canções gravadas em seis diferentes estúdios de gravação, surgem muito mais enraizados no “blues”, sendo posteriormente fracturados através de uma prisma sonoro.
As músicas não possuem uma estrutura convencional, no entanto, o estilo musical é muito mais contido. Todos os temas são movidos por lânguidas e sinuosas linhas de baixo, com uma percussão minimal, acrescidas de florescentes arranjos de cordas e rajadas de guitarras distorcidas, que acompanham o estilo vocal de McMahan - uma assustadora narrativa meio-falada – que se assemelha à fala mansa de uma predador que sussurra para a sua preza. Isto tudo resulta numa música lentamente e cuidadosamente confeccionada, mas maravilhosamente atmosférica e sombria, tão sufocante e poderosa, que ao entrar em qualquer “lugar”, preenche-o, não deixando espaço para o ar circular. Soa hiperbólico, mas o efeito é palpável.
Existem no entanto algumas tréguas e as texturas ambientais de “Moonbeam” e “Emp. Man’s Blues” com as suas rastejantes vagas de sintetizador e vibrações “low end”, aliviam a tensão, mas por outro lado e subjacentes a elas, são construídas as fundações da paranóia. Pois McMahan é paranóico em nunca aumentar o volume externo, excepto para alguns gemidos dos seus apoiantes, de forma de que o seu sussurro sufocante, sustente toda a tensão a um nível incrivelmente baixo.
“The For Carnation” é uma surpreendente e digna viagem através das paisagens sonoras e das profundezas do inconsciente.
_

02 junho 2010

In the Beginning # 4 - Spiritualized – “Lazer Guided Melodies” (1992 Dedicated)

Após o término dos seminais Spacemen 3, o obscuro “rocker” Jason Pierce avançou em frente com o projecto Spiritualized, cujo brilhante disco de estreia “Lazer Guided Melodies” provou que as espirais hipnóticas de “noise” nem sempre levam os ouvintes à catatonia. “Lazer Guided Melodies” é por muitos considerado como música evangélica para aqueles que adoram o altar dos “estados mentais alterados”, mas nunca soa ocioso ou lento na sua tentativa de levar o ouvinte a lugares muito mais elevados.
A dramática voz de Pierce, planeia sobre as alegóricas e felpudas paisagens sonoras que se dilatam com um requinte “art-rock” e uma ousadia “arena-rock”, mas que se recusam a derivar sem objectivo para um qualquer buraco negro que possa sugar toda a paixão evidenciada como acontece com outros similares grupos do denominado “space-rock”. Este disco atinge patamares verdadeiramente poderosos, que seriam posteriormente reflectidos em “Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space”, mas que para muitos, nunca soaram tão perfeitos e brilhantes como aqui, com uma radiância tumultuada, num plano superior de existência.
Em ultima análise, a capacidade dos Spiritualized para estabilizar a sua orbita é resultado da forma como as sublimes melodias encaixam perfeitamente dentro das primorosamente trabalhas outras camadas sonoras que são construídas ao longo de cada canção no impecável “Lazer Guided Melodies” (seja a beleza cintilante de “You Know It’s True”, o “uptempo” exagerado de “Run” e “Angel Sigh”, a sensação hipnotizante de “Shine A Light” ou os oscilantes e espaçados “Step Into The Breeze”, “Symphony Space” e “Sway”) - um original casamento do natural com o sobrenatural que faz com que flutuar no espaço pareça uma actividade perfeitamente normal.
_
Spiritualized - Shine A Light