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09 julho 2009

Tributo # 10 - John Cooper Clarke

Começou com um tema numa compilação, depois foi pela descoberta de alguns discos em segunda mão, e a apreciação por este “poeta punk” foi crescendo.
Desde novo que recitava poesia em pequenos clubes de Salford (a sua terra natal) e Manchester, onde divertia as audiências com a sua bem humorada e acelerada poesia.
Em 1977 juntamente com Ed Banger e Jilted John ingressou na editora Rabid, que para além de lhe permitir abrir as primeiras partes de grupos como Buzzcocks ou Warsaw/Joy Division., ainda lhe possibilitou de gravar o seu primeiro single, que inclui “Psycle Sluts Parts 1 & 2”, um ataque violento e grotesco, recheado de desvirtuadas imagens e obscenamente inteligentes trocadilhos que soava tão terrificante como os Sex Pistols.
Surge como um poeta punk/electrónico, no seu apertado fato e com um penteado e óculos à Bob Dylan fase “Blonde On Blonde”, traçando um mapa da sociedade britânica nos anos 70, recheado de diversos retratos inteligentes de personalidades mesquinhas e dos seus meios de vida, descritas no seu estilo colorido, politicamente e socialmente sensato, sarcástico e perversamente engraçado. Apoiado na sua inarmónica voz, disparava supostas rimas sobre distintos “beats”, tradicionalmente fornecidos pelos The Invisible Girls, que inclui gente como Martin Hannett, Bill Nelson ou Pete Shelley.
Rapidamente assinou com a CBS e editou o seu primeiro álbum – “Disguise In Love” (1978) - gozou algum sucesso com o “single “Gimmix!” e com “Snap Crackle & Bop” (1980), que é provavelmente o seu melhor disco e que inclui o clássico “Beasley Street”, uma ode à miséria industrial de Salford, repleta de imundice, decadência e desespero infiltrada em cada poro. Imagens de parasitas, homicídios, prostituição geram um incomparável sentimento de desesperação.
“Zip Style Method” (1982) foi o seu último disco – nos anos seguintes a sua dependência de drogas (heroína) fez com que passasse a maior parte do seu tempo em clínicas de reabilitação com a sua companheira no vício, Nico.
Recentemente regressou aos palcos e acompanhou os The Fall numa tournée britânica. E teve uma homenagem e tributo da parte de Alex Turner dos Arctic Monkeys. Mas o seu estilo de vida sufocou o seu talento.


John Cooper Clarke - Psycle Sluts (Part 1)

25 maio 2009

Editoras # 5 - Factory

A Factory desempenhou um papel incrivelmente activo dentro da sua comunidade natal. Pode ser citada como uma influência cultural catalisadora do noroeste britânico na decada de 80.

A editora “Factory” foi precedida pelo clube “Factory” domiciliada no Russell Club em Manchester durante o ano de 1978. O seu nome foi escolhido por Alan Erasmus (um actor que foi sócio de Tony Wilson em vários aventuras), não, como normalmente é associado, ao estúdio de arte de Andy Warhol nos anos 60 em Nova Iorque, mas pela simples razão de que um enorme placar com a designação “Factory for Sale” chamou a sua atenção. Poucos meses depois, em resposta à florescente actividade musical de Manchester e da vizinha Liverpool, e pelo sucesso do clube, acharam que podiam capitalizar ainda mais com a edição de 12”.
Wilson e Erasmus aceitaram o desafio e recrutaram o produtor local Martin Hannett e o designer Peter Saville. Em Janeiro de 1979, saiu o duplo 7” “A Factory Sampler” com a contribuição dos Joy Division, The Durutti Column, John Dowie e Cabaret Voltaire. Baseados no modesto apartamento de Erasmus, a editora destacou-se pela excêntrica união de música alternativa com uma perversa destreza por discografias estranhas.
No verão de 79, os A Certain Ratio , heróis não celebrados até ao dia de hoje, editaram “All Night Party” e os Orchestral Manoeuvres In The Dark, “Electricity”. Mas o passo mais arrojado foi quando Rob Gretton, manager dos Joy Division, decidiu editar o enorme álbum de estreia, “Unknown Pleasures”, pela Factory em vez do gigante WEA. Apesar do disco ter recebido criticas mistas na imprensa especializada, a sua edição conjuntamente com o subsequente single, “Transmission”, definiu o futuro durante anos.E se nos primeiros meses demonstraram uma capacidade de aproveitar as oportunidades que surgiram à sua volta, os anos seguintes provaram o quanto difícil seria sobreviver. Os Joy Division atingiram grande sucesso com o enorme “Love Will Tear Us Apart”, mas o suicídio de Ian Curtis obrigou-os a repensar no futuro. Assim surgiram os New Order, que iriam com “Ceremony” e “Movement” editar discos de grande sucesso em 1981, em contraste com as menos distintas edições dos Minny Pops e Stockholm Monsters.
Nessa altura as ambições aumentaram e a Factory Records tornou-se na Factory Communications Ltd., e surgiu um clube associado ao império Factory, o Hacienda. Os primeiros rumores de falência surgiram logo no ano seguinte, mas em 1983, com a edição do single recordista de vendas "Blue Monday” dos New Order, a situação acalmou. Só assim se justifica a edição de registos de bandas como Abercederians ou The Wake. A partir de 1985, começou a surgir no Hacienda, um movimento inspirado pela música de dança originária dos Estados Unidos que anos mais tarde viria a designar-se por “Madchester”, e que iria culminar com o sucesso em 1987 de “True Faith” dos New Order, e de “Squirrel And G-Man, 24 Hour Party People…” o primeiro álbum dos Happy Mondays.
Com o surgimento de novas dificuldades financeiras, a companhia tornou-se menos errante, começou a utilizar melhores técnicas de marketing, muito mais de acordo com o resto da indústria musical, e realizaram os primeiros contratos escritos da sua história.
Com o advento da “acid-house”, com a Hacienda como expoente do movimento, com o sucesso de “Bummed” dos Happy Mondays, com “Technique” dos New Order, a atingir o lugar cimeiro dos tops, o despontar de uma nova era adivinhava-se. A “dance remix” de “Wrote For Luck” dos Happy Mondays, não foi a primeira, mas foi certamente a mais efectiva nesta ocasião, tornando Shaun Ryder e companhia, nuns improváveis heróis adoptados pela nova geração “pop-dance”.
Projectos como os Northside e os Revenge de Peter Hook ofereciam pouco em termos de inspiração musical. E só os Happy Mondays dominavam com sólidos sucessos como os singles “Hallelujah” e “Step On” ou o álbum “Pills ‘N’ Thrills And Bellyaches”, mas mesmo eles não estavam a gerar as receitas necessárias para suportar a organização.
Mas a Factory sofreu outro imprevisto quando as autoridades encerraram o Hacienda. A contratação dos The Wendys e dos The Adventures Babies também não iria convencer ninguém. E para culminar tudo os dispendiosos débitos na gravação de “Yes Please!” dos Happy Mondays nos Barbados e de “Republic” dos New Order em Ibiza, curiosamente as suas bandas mais rentáveis, fizeram com que em Novembro de 1992, a Factory Communications Ltd, declarasse falência.

04 março 2009

The Durutti Column - Discografia Selectiva

“The Return Of The Durutti Column” (1980 Factory)
“LC” (1981 Factory)
“The Guitar And Other Machines” (1987 Factory)
”Vini Reilly” (1989 Factory)

O ironicamente intitulado disco de estreia, resultou de que devido a diversas singulares circunstâncias, Vini Reilly ficou de fazer um álbum sozinho com Martin Hannett. O resultado é um disco muito simples, mas com um grande charme. A forma de tocar levemente relaxada de Reilly isolado em pranto num canto, é suportada apenas pelas extremamente espaçadas sequências rítmicas de Hannett. Este certamente percebeu que “menos é mais”. “Sketch For Winter” e “Collette” são particularmente belas, e onde o doloroso som das guitarras imediatamente induz um sentimento de nostalgia.
O segundo disco dos TDC surgiu em 1980 e o seu título – LC – foi baseado no movimento político italiano “Lotta Continua”. Desta vez Reilly envolveu-se mais na gravação e trouxe o seu colaborador de longa data, Bruce Mitchell, para tocar bateria. Não surpreende que Reilly surja aqui mais confidente, mas ainda existe uma qualidade intimista, tipo “caseira”, parcialmente porque não participam mais nenhuns músicos, parcialmente porque usaram um gravador de quatro pistas TEAC. Reilly invoca emoções dos pedais de efeitos e restante equipamento, e chega a cantar em algumas canções (algo que até os seus maiores apreciadores desaprovam). É certo que as vocalizações são bem misturadas na retaguarda, mas “The Missing Boy” (sobre a morte de Ian Curtis dos Joy Division) é uma canção tão boa, que faz-nos pensar o que aconteceria se ele tivesse convidado alguém para a cantar.
Com “The Guitar And Other Machines” (1988), estavam hesitantes em realizar um disco “pop”, mas a força de carácter de Reilly assegurou que tal não acontecesse. Este disco é fascinante – Reilly aprendeu a trabalhar com sequenciadores, e alargou a palete sonora ao incluir a “viola” de John Metcalfe e a harmónica de Rob Gray. Finalmente encontrou as apropriadas vocalistas em Pol e na chinesa Liu Sola. E até existe um verdadeiro produtor na figura de Stephen Street. Uma canção como “When The World” tem mais estruturas do que era habitual, com paragens, solos rabiscados e inclusive um refrão.
Recuando um pouco da cratera latente do “pop” ”Vini Reilly” de 1989 ainda conta com a participação de Street, mas têm Reilly na co-produção. Aqui adicionou o “sampling” aos seus atributos e vários “samples” vocais estão disseminados pelas canções. A sonoridade é grandiosa e quente de uma forma melancólica, devido principalmente à maior presença da vigorosa guitarra acústica.
Os quatro discos são todos notáveis, e se prefiro “The Guitar And Other Machines, desconfio que é pela tensão existente entre a disciplinada produção de Stephen Street e a auto-indulgência genial de Vini Reilly”.
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04 dezembro 2008

Compilação # 3 - ESG – “South Bronx Story” (2000 Soul Jazz)

Primeiro de tudo, temos de agradecer à senhora Scroggins, pois esta, para que as suas filhas não ficassem nas ruas e assim pudessem cair nas tentações do South Bronx, comprou-lhes alguns instrumentos musicais. As irmãs alinharam e cedo começaram a criar excertos musicais onde tentavam copiar o som de James Brown. O passo seguinte foi participar em alguns concursos de talentos, e num desses Ed Bahlmann, dono da pequena editora independente 99 Records, vê algo de especial naquelas adolescentes, e sobre a sua alçada coloca-as a partilhar os palcos com os seus futuros companheiros discográficos - Liquid Liquid e Konk. Impressionado também ficou o patrão da Factory, Tony Wilson, quando as viu em Nova Iorque, e que de imediato se ofereceu para editar o seu trabalho. Assim em 1981 gravaram as três canções - “You’re No Good”, “U.F.O.” (uma das canções mais sampladas da história) e “Moody” – que iriam constituir o seu primeiro single, e que seriam produzidas à distância em Manchester por Martin Hannett. Rapidamente se tornaram muito populares no circuito de dança de Nova Iorque, que apadrinhou especialmente “Moody” e iriam partilham o palco com gente como A Certain Ratio, Gang Of Four e P.I.L..
Todo isto porque conseguiram criar um tipo de “funk” minimal, primitivo e repetitivo, muito próprio, com ritmos esqueléticos, baseado essencialmente no baixo e percussão, que agradou a brancos (pelo minimalismo associado ao punk) e a negros (pela insistência rítmica).
Para além dos três temas mais conhecidos, destacam-se o mini-ritmo distinto de “Tiny Sticks” e a fascinante simplicidade de “My Love For You”. Mas até no mais recente e convencional “Erase You” as ESG nunca perdem a sua cândida identidade.
Problemas legais com a 99 Records fizeram com que os registos discográficos fossem poucos (somente dois álbuns de originais, o último de 1991), mas esta compilação, que agrega o essencial, permite regalar-nos com a pura inocência da banda e demonstrar que com ritmos simples se podem criar belos momentos musicais.
A positiva reacção a esta mesma compilação fez com que regressassem ao activo e editassem mais dois álbuns, “Step Off” em 2002 e “Keep On Moving” em 2006. E actualmente ainda são vários os músicos, de géneros como o hip-hop, passando pelas Luscious Jackson ou Le Tigre, que nunca esconderam a sua forte admiração.
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18 maio 2007

Classic # 4 - Joy Division - “Unknown Pleasures” (1979 Factory)

A arte gráfica minimal, monocromática, os títulos modernistas, o vestuário formal e a postura austera faziam dos Joy Division um grupo diferente. Mas seria com a sua música, que se iriam distinguir.
Este quarteto de Manchester nunca imaginou que o seu encontro com Martin Hannett iria mudar o futuro da música. As suas ambições iam para além da mera produção. A sua visão seria fundamental na definição do som que caracterizou este disco. As diferenças entre os singles anteriores e “Unknown Pleasures” são bem evidente. O espaço, o ruído e os efeitos sonoros (gravações de vidro a partir, portas a fechar, passos, etc.) são tão importantes como a estrutura das canções. Na produção envolveu os instrumentos com um rígido eco metálico, e adicionou à bateria de Stephen Morris caixas de ritmos. As canções desdobram-se atrás de barulhos furtivos de emoção e actividade.
As canções de “Unknown Pleasures” fugiram dos “clichés” das letras do “rock” (amor, drogas, juventude, rebeldia, etc), para incluir reflexões sobre tristeza, ódio, desespero, depressão urbana, existencialismo e pessimismo, cujas letras são baseadas nas fabricas fechadas, nas crises económicas, nas consequentes relações desmanteladas, que caracterizavam a Inglaterra no fim dos anos 70.
As dez músicas que constituem o disco são marcos absolutos, qualquer que seja a canção, desde a nervosa dança da morte de “She’s Lost Control”, a chamada pungente de escape, libertação (com o seu magnifico apogeu final) de “New Dawn Fades”, a alternância rítmica que acompanha o imaginário assassinato de “Shadowplay” (que pode ser sumariada na frase “In the Shadowplay acting your own death”), o caminho para o apocalipse de “Insight”, ou a forma como Curtis parece anunciar o fim do mundo em “Day of The Lords”.
Depois temos a estrutura melódica. A voz de Curtis é áspera, profunda e dramática. O baixo de Peter Hook é tratado como o instrumento principal. A percussão/bateria é metronómica. As guitarras são ambientais mas também atacam.
O nascimento da lenda dos Joy Division e um dos documentos do pós-punk. Inigualável na sua perturbante beleza e energia, que ainda hoje soa provocadoramente invulgar e vagamente inquietante. Intemporal. Perfeito.

16 abril 2007

My Favorites # 3 - Magazine – “The Correct Use of Soap” (1980 Virgin)

Não é fácil escolher o melhor disco dos Magazine. As opiniões sempre se dividiram entre os três primeiros discos desta banda simultaneamente clássica e extremista: “Real Life”(1978), “Secondhand Daylight”(1979) e “The Correct Use of Soap”(1980).
Para mim, sempre me fascinou “The Correct Use of Soup”, que conta com a presença de Martin Hannett na produção, porque é o resultado da evolução sonora começada com “Real Life”, e apesar de poder ser considerado mais comercial do que os anteriores, é neste disco que os cenários de paranóia existencial criados por Howard Devoto atingem o seu limite.
O disco abre em alta com “Because You're Frightened”, com o chocalhar de guitarra que era a marca registada de John McGeoch,, e com Devoto a emitir poesia numa psicose delirante. Em “You Never Knew Me” e “I Want To Burn Again”, estão as anti-canções de amor, da depressão resultante do rompimento da relação
A forma irónica de abordar a auto-estima e o ódio em canções como “I’m A Party” e em “A Song From Under The Floorboards, esta última provavelmente a melhor canção dos Magazine, onde a letra define na perfeição o carácter individualista de Devoto.
E o que dizer da inquietante versão de Sly Stone, “Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin)”, que é seguida pela oblíqua “Sweetheart Contract”, com o baixo de Barry Adamson destoante dos sintetizadores de Dave Formula.
Um trabalho surpreendentemente durável dado o nível de experimentação presente.