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26 maio 2010

Pop # 13 - Beulah - “Yoko” (2003 Fargo)

O quarto disco dos Beulah é um épico “indie-rock” apaixonadamente ecléctico.
Produzido pelo experiente Roger Moutenot (conhecido pela sua longa colaboração com os Yo La Tengo), e em comparação com os registos anteriores revela uma maior profundeza de detalhes e será provavelmente o mais sombrio e melancólico. Pois o que poderia ser um consciente passo para longe das harmonias solarentas dos discos anteriores, não é mais do que o relato dos problemas conjugais que abalaram a banda antes da gravação do disco, evidente nas letras muito mais directas e mais maduras, marcadas pela tristeza, que parecem distanciadas das presentes nos discos anteriores, e que lhes dá uma ligação mais emocional, mais ainda assim mantendo o som “indie-rock” intacto.
Assim e tal como o sinistro titulo do álbum - que certamente poderá ter algo a ver com o seu homónimo de desagradável destruidor de bandas – estamos na presença de uma bela colecção de elegias a amores falhados, que abordam a amargura, a raiva, a reflexão, o perdão das mesmas, e onde as emoções são exploradas de uma forma real, sem nenhum traço de auto-piedade. O espectro “pop-rock” é amplo, e contempla o bonito apogeu de “A Man Like Me”, o “garage-pop” de “Landslide Baby”, a deprimente e lamentosa, “You’re Only King Once”, a deliciosamente discordante “Me and Jesus Don’t Talk Anymore”, a sincera “Don’t Forget To Breathe” ou a épica “Wipe Those Prints and Run”.
Impressionante a vários níveis, é uma receita sónica de “rock’n’roll” entregue com inteligência e sagacidade. E se nos anteriores registos as referências musicais eram os Beatles e os Big Star, agora são mais facilmente identificados com os Wilco de “Summerteeth” e “Yankee Hotel Foxtrot”.
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24 março 2010

Classic # 26 - Big Star – “# 1 Record” (1972 Ardent)

Em 1972, as canções “rock” relevantes deviam supostamente incluir complicadas progressões musicais, letras introspectivas e uma aparente tendência progressista. Canções agradáveis e concisas acerca de “boys and girls and cars”, eram uma traição para as sempre futuristas tendências do “rock”. Mas no seu disco de estreia, dois miúdos inteligentes de Memphis, Alex Chilton e Chris Bell, mostraram-nos como podiam combinar a delicadeza do “british pop” de uns Beatles, com o “american rock”, e ainda juntar pedaços de “garage-soul”, ajustado a um profundamente pessoal e frequentemente revelador universo lírico.
Eles eram uma verdadeira versão americana de Lennon e McCartney, e se não inventaram o “power pop”, forneceram a mina de ouro que serviu de inspiração a gente como R.E.M., Teenage Fanclub, The Replacements, Elliot Smith, The Posies, entre muitos outros.
“#1 Record”, com uma vibrante e cintilante produção de John Fry, adquire apropriadas e distintas reviravoltas, umas atrás de outras, através das cuidadosamente idealizadas canções e da formosa reciprocidade entre as guitarras acústicas e eléctricas e as vocalizações repartidas, seja na “auto-afirmativa “Ballad Of El Goodo”, no turbilhão “pop” de “My Life Is Right”, na magnificente “Thirteen”, na impetuosa “When My Baby’s Beside Me” ou na ondulante “Feel”.
Alguns responsabilizaram Bell (o McCartney), que abandonou após este disco, pelo excessivamente acústico e melancólico segundo lado, mas quer ele quer Chilton (o Lennon) iriam atingir aqui estados de espírito distintos, e beneficiaram dos alternados entusiasmos e suspiros nas suas letras e vocalizações. E por isso “#1 Record” é praticamente perfeito.
Os Big Star eram obviamente e excessivamente “Sixties” – ele estavam demasiadamente feridos para as ideias revolucionárias do “rock” e eram suficientemente sensatos para saber que “boys, gals and the gang” iriam sempre durar muito mais que qualquer tendência.
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18 março 2010

R.I.P. : Alex Chilton

Faleceu ontem, tudo indica devido a problemas cardiacos e com apenas 59 anos, o norte-americano Alex Chilton.

Foi uma verdadeira surpresa pois estava previsto actuar com os Big Star já neste próximo Sabado no conhecido festival South by Southwest.

Sendo uma figura extremamente admirada pelos seus colegas de profissão, pareceu-me mais propositada esta homenagem dos The Replacements do que uma canção dos Big Star, cujo post fica prometido.
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24 setembro 2009

Wilco - Discografia Selectiva

“Being There” (1996 Reprise)

Tal como os Rolling Stones de “Country Honk” e os Grateful Dead de “American Beauty”, executam uma mistura de estilos – primariamente “country-rock” e rude “American punk” – com uma excitação “bar-room” e um charme decrépito que é inteiramente ilusório neste disco de dupla meditação sobre a idade e a vida “rock’n’roll”. Existe uma busca optimista na visão do compositor Jeff Tweedy que é perfeitamente igualada pela força das suas melodias.
Destaques: “Hotel Arizona”, “Outtasite (Outta Mind)”

“Summerteeth” (1999 Reprise)

Uma miasma de “rock, pop e “country”, que transcende géneros, onde trocaram as suas raízes “roots rock” pelos acordes “power-pop” dos Big Star, pelas harmonias radiosas dos The Beach Boys e por uma esfera de experimentação.
Rodopiando numa extraordinária tapeçaria de sons e uma enormidade de instrumentos que inclui mellotrons, guitarras “e-bow”, moogs, trompetes e várias percussões - todos tocados de uma forma vibrante, apurada e imaculada - as canções invocam as angústias amargas e as euforias irrealistas das relações humanas, através das tristes e sombrias letras, que demonstram um invulgar crescimento da parte de Tweedy. Ele aparentemente é sincero e directo, e o resultado é imediato, alternativamente amável e irritado, simultaneamente esplendoroso e perturbador.
Destaques: “Can’t Stand It”, “I’m Always In Love”, She’s A Jar”, “Via Chicago”

“Yankee Hotel Foxtrot” (2002 Nonesuch)

Um disco verdadeiramente especial, de uma banda que estava a alterar a sua sonoridade, com uma unicamente sóbria sensibilidade, e que leva o ouvinte numa ecléctica viagem existencialista.
Impregnado com uma consistência codificada e com uma complexidade rítmica jamais atingida num disco dos Wilco, onde os instrumentos típicos batalham com turbilhões de ruídos e sons bizarros, que interligam as canções de todas as formas possíveis. A presença de Jim O’Rourke não será alheia a esta sonoridade.
Está recheado de escuridão e mistério, com comoventes canções acerca do amor (imprevisível, magnífico, doloroso, incompreendido, desleal), num estranho mundo moderno, que revelam uma beleza intangível.
Destaques: “I Am Trying To Break Your Arm”, “War On War, “Heavy Metal Drummer”

“A Ghost Is Born” (2004 Nonesuch)

Outro diversificado e encantadoramente incompreensível esforço de um dos mais interessantes experimentalistas da musica moderna. Para além dos paradigmas e da ironia musical, temos o intrigante “pop”, mas também o rude, fumegante e jubiloso “rock’n’roll”. Imprevisivelmente, as canções aqui geralmente evitam os rápidos dividendos e grandes refrãos em favor de arranjos complexos e subtis dinâmicas. Tweedy surge mais relaxado, mais subjugado, e mais dependente do estúdio de gravação. O efeito é gradual, libertino em tonalidade, detalhe e nas estruturas libertas de convencionalismos das canções. Provavelmente não cativará na primeira audição, todavia, quando investimos tempo e o ouvimos repetidamente, conseguimos apreciar este disco sem esforço e as canções tornam-se verdadeiramente contagiantes.
Detaques: “At Least That’s What You Said”, “Hummingbird”,


18 abril 2008

Pop # 1 - Matthew Sweet – “Girlfriend” (1991 Zoo)

Era uma vez um miúdo fanático pelos Big Star e que desde muito novo trocou correspondência com Michael Stipe e Mitch Easter, Sweet mal acabou o liceu mudou-se para Athens, na Geórgia, onde se juntou à irmã de Stipe nos Oh-OK. Cedo assinou como artista a solo por uma editora, mas os seus dois primeiros discos soavam extremamente datados.
Mas com “Girlfriend”, Sweet, deu o passo, que anteriormente faltou. Dois factores foram fundamentais para que isso se concretizasse. O primeiro resulta da inspiração proveniente do seu tumultuoso casamento e também por uma recente inundação que lhe destruiu a casa. A segunda é o sublime contributo prestado por dois veteranos guitarristas - Richard Lloyd (dos Television) e especialmente Robert Quine (dos Richard Hell & The Voidoids, e colaborador de Lou Reed ou Tom Waits, entre outros) - que aqui estão super-inspirados, verdadeiramente em “chamas” durante todas as melodiosas e harmoniosas canções
O disco está recheado de brilhantes momentos de habilidade “pop”. Canções alegres como “I’ve Been Waiting” e “Evangeline”, assim como a lamentosa “Winona” e a sombria “Divine Inspiration” soam tão emotivas, arrebatadoras e genuínas como os discos dos R.E.M. e dos Game Theory que originalmente inspiraram Sweet.
Foi um dos melhores discos de “powerpop” dos anos 90 (juntar Teenage Fanclub e Posies), e que ainda hoje permanece vibrante e estimulante.

21 dezembro 2007

Canções de Natal I


Big Star – “Jesus Christ” (1978 do album “Third/Sister Lovers”)

Gorky’s Zygotic Mynci – “Christmas Eve” (1999 do album “Spanish Dance Troupe”)

Lou Reed – “Xmas In February” (1993 do album “New York”)

Okkervil River – “Listening To Otis Redding At Home During Christmas” (2002 do album “Don't Fall in Love with Everyone You See”)

Palace Songs – “Christmastime In The Mountains” (1994 do EP “Hope”)

The Fall – “Christmas with Simon” (1990 lado B do single “High Tension Line”)

The Flaming Lips – “Christmas at the Zoo” (1995 do album “Clouds Taste Metallic”)

The Pogues – “Fairytale of New York” (1987 do album “If I Should Fall from Grace with God”)

Tom Waits – “Christmas Card From A Hooker In Minneapolis” (1978 do album “Blue Valentine”)

26 novembro 2007

Rock # 1 - The Cramps - “Songs The Lord Taught Us” (1980 I.R.S.)

Apesar de existirem desde 1976 (no apogeu do “punk”), quando este disco apareceu em 1980, o universo musical estava em mudança. O “punk” tinha-se fragmentado e espalhado por géneros como o Gótico, o Industrial e a “new-wave”. E surgiu também o movimento que foi designado por “Psychobilly”/”Rockabilly” – uma mistura de surf rock, psicadelismo e garage-rock dos anos 60. Não me recordo de mais nenhuma banda que tenha popularizado da mesma forma este género (ex: os Stray Cats eram muito puros). Apesar de não se poderem considerar uma banda “punk”, tinham mais atitude do que a maioria devido à sua intratável imagem e inclassificável sonoridade.
Eram compostos por Lux Interior que gritava e uivava de uma forma louca, e era uma mistura entre Elvis Presley e Vincent Price, por Ivy Rorschach que tocava guitarra de uma forma ordinária mas eficaz, dentro do espírito do “rockabilly”/“garage-rock”, por Bryan Gregory, que era obcecado pelo oculto, é era um monstro do feedback, e por Nick Knox, impassível atrás dos seus óculos escuros e da sua batida primitiva.
O seu disco de estreia, gravado nos estúdios de Sam Phillips em Memphis e produzido pelo lendário Alex Chilton dos Big Star, estava no seu estado bruto o que o tornava tão excitante.
A combinação da poderosa voz, das guitarras e da pulsante bateria, juntava-se às misteriosas letras (referências à lobisomens, horríveis assassinatos, atmosfera “b-movie”, etc) que perturbavam a conservadora sociedade americana, para criarem canções eternas.
A guitarra minimalista e a voz gorgolejante de Lux Interior na contagiante “Garbageman”, cuja simplicidade lírica dá-lhe uma sensibilidade “pop”, “T.V. Set” que é verdadeiramente doentia e repulsiva, “Zombie Dance” que é perfeita para uma festa de “Halloween”, “I Was A Teenage Werewolf” que representa toda a estética dos Cramps, “Tear It Up” que é a perfeita síntese do “rockabilly” e “garage- punk”, ou a sóbria versão de “Strychnine”, que tal como o original, é uma paródia às festas nas praias durante os anos sessenta.
Outra versão fantástica é a do clássico “Fever”, transformado numa espécie de hino fúnebre, que encerra de uma forma deliciosamente subversiva o álbum.
Um divertido e bizarro espectáculo de aberrações.