16 setembro 2007

Classic # 8 - Massive Attack – “Blue Lines” (1991 Circa)

Na minha opinião, 1991 foi um ano muito importante para a música. Só nesse ano surgiram álbuns influenciais como “Nevermind”, “Loveless” ou “Screamadelica” (só para enumerar três).
Surgiu também o álbum de estreia de um colectivo de Bristol, que com a fusão da electrónica com o “dub”, o “rap” e o “hip-hop”, iria introduzir os ritmos do “trip-hop” ao mundo, e definir padrões musicais para as décadas seguintes. Mas mesmo que ignoremos a sua importância histórica, é na mesma um clássico.
A visão e criatividade dos vários elementos que participam no disco, permitiu criar uma sensação natural, orgânica, uma verdadeira banda-sonora urbana, ao transformar os elementos citadinos em sons.
O álbum começa de uma forma magistral com “Safe From Harm”, canção padrão do “trip-hop”: vozes “soul”, “rap”, “beats” indistintos, com um poderoso baixo samplado de Billy Cobham/ Mahavishnu Orchestra. Ritmos sonâmbulos que ia contra a corrente “tecno” do inicio da década.
Todas as músicas/canções estão no seu lugar correcto, permitindo ao disco fluir uniformemente, e algumas vezes sem respirar (de “Blue Lines” para “Be Thankful For What You Got”), permitindo uma total absorção do corpo e mente nos sons sedutores do baixo “dub”.
É uma fantástica e variada viagem desde o “dub” de “Five Man Army” com o delicado “falsetto” da lenda reggae Horace Andy, passando pelo arrasador “Unfinished Sympathy”, com os seus elegantes arranjos sinfónicos, por “Daydreaming”, com a grande voz de Shara Nelson, os “beats dub” e um ambiente “soul”, até chegar a “Hymn Of The Big Wheel” que desliza até ao fim do disco, e a nossa vontade é pedir por mais.
Simplesmente essencial.

13 setembro 2007

Nina Nastasia & Jim White – “You Follow Me” (2007 Fat Cat)

Desde “The Blackened Air” (2002), passando pelo meu favorito - “Run to Ruin” (2003), até “On Leaving” (2006), a carreira de Nina Nastasia tem sido impressionante.
Agora, e apesar de Jim White já colaborar com ela há vários anos, Nina resolveu gravou um disco admirável a meias com o baterista dos Dirty Three.
A magnificamente suave, mas resoluta voz de Nina, é mais um instrumento a juntar à guitarra e bateria, conseguindo através das várias canções, todos os tons que procura emocionalmente.
Mas a surpresa é o notável trabalho realizado por White na bateria, com mudanças bruscas de compasso e explosões sonoras (realçadas na forma magistral como Steve Albini captura os sons criados), que conferem a cada canção um carácter único.
E esse trabalho serve de base para Nina explorar novos territórios, que tornam as suas canções ainda mais originais. E funciona tão bem que perguntamos porque é ninguém tentou anteriormente uma abordagem semelhante.
As canções abordam o desejo pela pessoa amada. Desencontros e desilusões afectivas.
Ouçam o assombroso “I’ve Been Out Walking”, o doce e hipnotizante “Our Discussion”, o revoltado “Late Night”, e “The Day Would Bury You” uma das mais emocionantes canções do disco.
Um disco incrivelmente reconfortante, que glorifica a vontade de experimentar.

10 setembro 2007

Singles # 5 - The Smiths – “How Soon Is Now?” (1985 Rough Trade)

Será sem dúvidas a canção mais famosa dos Smiths (aqui foi-o) que no entanto surgiu primeiro em 1984 como o lado B do single "William, It Was Really Nothing".
“How Soon Is Now?” é uma das canções mais “rock” da banda, com uma sonoridade única, na forma como entrelaça as longas partes instrumentais (inesquecível aquele riff/vibrato de guitarra) com as sublimes partes vocais de Morrissey.
A letra é das mais introspectivas que Morrissey escreveu, treatricamente amarga.
Esta seria a base do som dos Smiths: as melodias de Johnny Marr e as letras de Morrissey, histórias de desilusão, desamor e inadequação aos tempos modernos.
Os Smiths gravaram várias obras-primas, mas nenhuma tão perene como esta.
Um hino da música alternativa dos anos 80.

Video

07 setembro 2007

Do fundo da prateleira # 5 - Field Mice – “For Keeps” (1991 Sarah Records)

Os Field Mice eram os cabeça de cartaz da pequena independente Sarah Records.
Tiveram uma carreira curta, e após a edição de alguns singles e dois bons mini-albuns, editaram o seu único álbum de originais, “For Keeps”.
Faziam uma música sofisticada que podemos classificar de indie-pop, mas que é preenchida pelas mais diversificadas influências que vamos deslumbramos ao longo do disco, como o psicadelismo dos anos 60 ou o som típico da Factory do início dos anos 80. E assim criaram uma sonoridade única, que permitiu que se conseguissem afastar das diversas tendências que despertaram no início dos anos 90.
Eram canções simples, que abordavam temas como amor, desânimo, esperança, e cantadas na emotiva voz de Robert Wratten, ou em dueto com Annemarie Davis.
Como minha favorita tenho o épico “This Is Not Here” (recordações de outros tempos).
Uma verdadeira obra-prima perdida.

05 setembro 2007

Liars – “Liars” (2007 Mute)

Após o conceptual “Drum’s Not Dead” e ao quarto disco, os Liars tiveram uma aproximação mais tradicional aos formatos típicos de canção.
As combinações rítmicas são menos complexas, no entanto estes ainda são os Liars cujas credenciais conhecemos, e de quem aprendemos a esperar o inesperado.
Se as experimentações de “Drum’s Not Dead” continuam presentes, a estrutura está mais próxima da canção pop-rock, mas com uma criatividade e variedade incomparáveis.
Senão vejamos: “Plaster Casts of Everything” parte de um único “riff” e cresce em intensidade de uma forma “drone-rock”. O minimalismo synth- funk de “Houseclouds”, transforma-a numa das melhores canções que ouvi este ano. O sónico “Leather Prowler” relembra os Sonic Youth, com muito “echo” e “delay”. “Freak Out” é bubblegum pop. “Cycle Time” é uma canção perdida de “Psychocandy”. Em “Clear Island” evocam o glam-rock e em “Pure Unevil” o “shoegazing”. E em “Protection”, uma balada sobre a infância, temos um órgão eclesiástico que realça o tema em questão.
Continua a ser um disco difícil de catalogar, que ao longo de cada passagem vamos descobrindo algo que não detectamos previamente, permitindo que cada audição seja tão excitante como a primeira.
Um disco mais acessível do que os anteriores, no entanto é corajoso e ousado numa época em que arriscar pode ser um risco, mas como Angus Andrews canta no sedativo “Sailing to Byzantium”: “It’s time to wake these dumb fucks up”.

04 setembro 2007

Mudd – “Claremont 56” (2007 Rong)

O verão merece discos assim. E este disco (que é tão criativo que se torna difícil de catalogar), acompanhou-me no último mês em diversas viagens, e devido à sua refrescante beleza rítmica, ajudou-me a esquecer o pouco sol que temos tido.
Trata-se de um projecto de Paul N. Murphy (este dos Akwaaba e não o dos Soul Drummers), onde a diversidade de influências são evidentes (soul, funk, disco e house), e acabam por enriquecer o disco.
E ao contrário de muita música que actualmente surge em compilações “ambient”/“chill-out”, esta é música electrónica quente e melódica, tratam-se de canções com alma (ouçam “Mount Pleasant Lane”).
Como destaques, ouçam ainda o ambiente refrescante de “C40”, o ritmo funky disco de “Drop Lane”, e o magnífico e irresistível exercício que é “54B”.
Reminiscente do som “nu-disco” que caracterizou o disco de estreia de Lindstrom & Prins Thomas, também podemos classificar as sonoridades de “balearic”, e talvez sejam mesmo essas sonoridades ambientais que me atraem neste disco, ideal para uma “late-night-session” até amanhecer.