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14 maio 2010

The Besnard Lakes - “The Besnard Lakes Are the Roaring Night” (2010 Jagjaguwar)

Os canhões, o fogo e o céu vermelho presentes na capa do terceiro disco do grupo de Montreal são um claro indicador do que se encontra no seu interior.
Mais ritmado e imediato do que o anterior “The Besnard Lakes Are a Dark Horse”, onde tinham brilhantemente estabelecido a ambiciosa combinação entre “pop” orquestral e “guitar-heavy rock” (e que muitos mais milhares de grupos também tentaram sem sucesso fazer), aqui a mistura desses aparentemente incompatíveis estilos é ainda mais transparente e refinada.
Além disso eles realmente parecem ter retirado os seus fundamentos de bases mais distantes, e o seu majestosamente intenso “rock psicadélico” carregado de reverberação é bem alimentado por guitarras que sugerem influências tão díspares como Hawkwind ou Godspeed You! Black Emperor, mas também revelam uma real leveza de carácter.
O álbum é cintilantemente lúcido, demonstrando que eles obviamente estão no seu elemento, e tal como os discos anteriores, é um registo que funciona como um todo e que garante uma plena e ininterrupta audição do início ao fim, pela forma como as canções se fundem maravilhosamente nos seus ambientes circundantes.
Assim o voluptuoso épico “Like The Ocean, Like The Innocent, part II - The Innocent”, é edificado de uma forma que eleva a guitarra psicadélica e as maravilhosamente atmosféricas harmonias (aqui denota-se uma inspiração de Neil Young), a beleza etérea de “Chicago Train”, começa com as perfeitas harmonias bem ao estilo The Beach Boys por cima de um delicado sintetizador até que por volta do meio da música esta muda bruscamente para uma engrenagem em crescendo de reverberação e volutas vocalizações, o brilhante “Albatross” combina a deslumbrante voz de Olga Goreas com enormes “drones” de guitarra como pano de fundo, invadindo o território “shoegazing”, e a cintilante “Land Of Living Skies” contrasta as grandes camadas de ondulantes guitarras com as vocalizações espectrais.
Quase que posso garantir que não irá fazer o mesmo ruído que “…Are a Dark Horse”, mas estamos na presença de um álbum definitivamente forte e mais inequívoco que o anterior.
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12 abril 2010

The Morning Benders – “Big Echo” (2010 Rough Trade)

O jovem quarteto de Berkeley está de regresso com um disco cujo título, “Big Echo”, apropriadamente informa a mudança ocorrida. Eles demonstram ambição, pois o disco representa um enorme passo em frente, uma bela evolução estilística, que confirma o potencial demonstrado em registos anteriores.
Chris Chu tentou expandir o som da sua banda utilizando a técnica “wall of sound” desenvolvida por Phil Spector, mas modernizando-a. A magnífica utilização da reverberação e do eco, são completadas com as harmonizadas e assertivas vocalizações de Chu, que recria o que Brian Wilson fez para os The Beach Boys em “Pet Sounds”. Tenta ainda fugir ao “indie-guitar-pop” que marcou a maioria das suas primeiras gravações, dando mais atenção à sonoridade criada, mantendo o foco nas abundantes e inebriantes melodias, que apesar de simples são cuidadosamente trabalhadas. Deixa os efeitos sonoros para segundo plano e surge mais experimental, provavelmente devido à influência de Chris Taylor dos Grizzly Bear que co-produz o disco. O resultado é uma sonoridade muito própria, onde cada canção é extremamente estratificada, construída lentamente e pacientemente com sons vibrantes e suaves, onde floresce a capacidade de escrita de Chu. É uma complexa experiência auditiva, pois as canções introduzem uma infinidade de variações que inesperadamente esgueiram-se para a nossa cabeça, permitindo descobrir algo de novo mesmo após várias audições.
O melhor exemplo é a peculiar e encantadora “Excuses”, mas não existe ao longo do disco nenhum ponto que pareça introdutório ou conclusivo, pois o verdadeiro efeito produzido por “Big Echo” é a continuidade. Desde a deslumbrantemente agridoce “Promises”, passando pelo economicamente viciante “folk” de “Cold War”, pela serenidade da épica “Pleasure Sighs” ou pela bela fragilidade “pós-rock” de “Stitches”, os The Morning Benders criaram uma gloriosa obra de arte sonora.
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24 setembro 2009

Wilco - Discografia Selectiva

“Being There” (1996 Reprise)

Tal como os Rolling Stones de “Country Honk” e os Grateful Dead de “American Beauty”, executam uma mistura de estilos – primariamente “country-rock” e rude “American punk” – com uma excitação “bar-room” e um charme decrépito que é inteiramente ilusório neste disco de dupla meditação sobre a idade e a vida “rock’n’roll”. Existe uma busca optimista na visão do compositor Jeff Tweedy que é perfeitamente igualada pela força das suas melodias.
Destaques: “Hotel Arizona”, “Outtasite (Outta Mind)”

“Summerteeth” (1999 Reprise)

Uma miasma de “rock, pop e “country”, que transcende géneros, onde trocaram as suas raízes “roots rock” pelos acordes “power-pop” dos Big Star, pelas harmonias radiosas dos The Beach Boys e por uma esfera de experimentação.
Rodopiando numa extraordinária tapeçaria de sons e uma enormidade de instrumentos que inclui mellotrons, guitarras “e-bow”, moogs, trompetes e várias percussões - todos tocados de uma forma vibrante, apurada e imaculada - as canções invocam as angústias amargas e as euforias irrealistas das relações humanas, através das tristes e sombrias letras, que demonstram um invulgar crescimento da parte de Tweedy. Ele aparentemente é sincero e directo, e o resultado é imediato, alternativamente amável e irritado, simultaneamente esplendoroso e perturbador.
Destaques: “Can’t Stand It”, “I’m Always In Love”, She’s A Jar”, “Via Chicago”

“Yankee Hotel Foxtrot” (2002 Nonesuch)

Um disco verdadeiramente especial, de uma banda que estava a alterar a sua sonoridade, com uma unicamente sóbria sensibilidade, e que leva o ouvinte numa ecléctica viagem existencialista.
Impregnado com uma consistência codificada e com uma complexidade rítmica jamais atingida num disco dos Wilco, onde os instrumentos típicos batalham com turbilhões de ruídos e sons bizarros, que interligam as canções de todas as formas possíveis. A presença de Jim O’Rourke não será alheia a esta sonoridade.
Está recheado de escuridão e mistério, com comoventes canções acerca do amor (imprevisível, magnífico, doloroso, incompreendido, desleal), num estranho mundo moderno, que revelam uma beleza intangível.
Destaques: “I Am Trying To Break Your Arm”, “War On War, “Heavy Metal Drummer”

“A Ghost Is Born” (2004 Nonesuch)

Outro diversificado e encantadoramente incompreensível esforço de um dos mais interessantes experimentalistas da musica moderna. Para além dos paradigmas e da ironia musical, temos o intrigante “pop”, mas também o rude, fumegante e jubiloso “rock’n’roll”. Imprevisivelmente, as canções aqui geralmente evitam os rápidos dividendos e grandes refrãos em favor de arranjos complexos e subtis dinâmicas. Tweedy surge mais relaxado, mais subjugado, e mais dependente do estúdio de gravação. O efeito é gradual, libertino em tonalidade, detalhe e nas estruturas libertas de convencionalismos das canções. Provavelmente não cativará na primeira audição, todavia, quando investimos tempo e o ouvimos repetidamente, conseguimos apreciar este disco sem esforço e as canções tornam-se verdadeiramente contagiantes.
Detaques: “At Least That’s What You Said”, “Hummingbird”,


12 janeiro 2009

Do fundo da prateleira # 13 - Cardinal – “Cardinal” (1994 Flydaddy)

Para mim, o australiano Richard Davies e o americano Eric Mathews nunca conseguiram igualar, nas suas carreiras a solo, o modesto esplendor deste disco único. Editado numa época onde o movimento “grunge” era verdadeiramente dominador, o duo criou, sem grandes pretensões, este belo e assombroso disco, que é um dos mais melodicamente e liricamente inesquecíveis dos anos 90.
Dez faixas maioritariamente escritas por Davies, mas que Matthews adorna cada uma perfeitamente com os seus singularmente barrocos arranjos “pop”. Se formos a citar influências, seria algures entre os Beach Boys de “Smile”, os Beatles de “White Album” e Syd Barrett, mas todas as canções têm uma vida própria, pois o que é extremamente satisfatório neste disco, é que eles pegaram nessas mesmas influências e renovaram-as em vez de as reciclar. E assim “Cardinal” não é uma reversão, pois eles criam uma música resoluta, aterradoramente cheia de profundidade e originalidade.
As harmoniosas canções são delicadas na sua construção, próprias para o tom sombrio e melancólico que enfeita as mesmas, e mesmo quando as letras desmentem a sonoridade, o disco tem sempre um triste e ansioso sentimento presente, como acontece em “You’ve Lost Me There” um dos destaques aqui presentes. A esta canção podemos adicionar ainda, como momentos memoráveis, “If You Believe In Christmas Trees”, “Big Mine”, “Dream Figure” e “Silver Machines”.
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10 abril 2008

The Ruby Suns – “Sea Lion” (2008 Sub Pop)

O segundo disco do projecto liderado por Ryan McPhun (um californiano a residir na Nova Zelândia), é provavelmente um dos mais singulares editados pela Sub Pop nos últimos anos, mas também será um dos mais fascinantes.
Difícil de categorizar, apesar de ser essencialmente um disco “pop”, a engenhosa mistura de psicadelismo, “world music” e “rock”, dão-lhe um som globalizante e policromático.
As guitarras são a base das composições, mas a presença de instrumentos menos usuais como “ukulele” e “djembe”, e a utilização de outros sons pouco familiares (como acessórios domésticos e gravações de animais no seu habitat natural), conferem-lhe um charme distinto. Sendo tão reminiscente do “sunshine pop” dos The Beach Boys, como das variações dos Animal Collective.
Os sons quentes, apoiados numa delicada percussão, e com as letras a abordarem o meio ambiente e as culturas indígenas, “Sea Lion” é a evocação de um mundo de delicada beleza.
Uma das canções do disco parece dar o mote - “Adventure Tour” – pois é um percurso através de Africa, Polinésia, América Latina, e pelas diversas regiões da Nova Zelândia.
Destaco “Oh, Mojave”, “These Are Birds”, “Kenya Dig It?” e “Tane Mahuta” (totalmente cantada em Maori).
Arrebatador, evocativo e extraordinariamente belo, é ideal para se ouvir ao pôr do sol, agora que o verão se aproxima.