Mostrar mensagens com a etiqueta My Favorites. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta My Favorites. Mostrar todas as mensagens

05 janeiro 2011

My Favorites # 23 - Wall Of Voodoo – “Seven Days In Sammystown” (1985 I.R.S.)

Depois do formidável “Dark Continent”, do espantoso “Call of The West”, e com o inesperado sucesso de “Mexican Radio”, muitos pensaram que com a saída do seu principal compositor e vocalista Stan Ridgway, os WOV se iriam afundar.
Mas isso fez com que a banda amadurecesse e seguisse uma nova direcção, pois aqui tudo está em perfeito equilíbrio, através de som exuberante e de uma surpreendente dinâmica para um registo com 25 anos. Gravado em Inglaterra, com Ian Broudie (The Pale Fountains, The Coral) e Gil Norton (Pixies, Echo & The Bunnymen), este é o disco que altera o mecanizado som dos Voodoo, evidente nos sintetizadores muito da época utilizados nos registos anteriores, levando-o para novas áreas sonoras. Aqui a constante foi aquele verdadeiramente único som de guitarra de Marc Copeland, e a habilidade na composição de canções, mas a música possui muito mais conteúdo e substância, nuns tons mais sombrios, mas mais energéticos. Provavelmente mais acessível (dá a impressão de ter sido minuciosamente produzido, mas nunca dá a impressão de ter sido sobre-produzido). Temos de juntar a energia e o carisma trazido pelo novo vocalista Andy Prieboy, que sem comprometer o espírito essencial dos WOV ainda conseguiu contemporizou a sua sonoridade.Apesar dos fãs mais incondicionais acharem que é desrespeitoso dizer que este álbum se encontra no mesmo nível dos registos anteriores (o disco seguinte “Happy Planet” já é bastante irregular), é uma bela, retorcida, romântica e sinistra obra-prima, pois desde a incrível “Far Side Of Crazy”, passando pelo requintado humor de “This Business Of Love”, pela pungente “Faded Love”, pela robusta “Mona”, pela intensa “Big City”, por “Dark As A Dungeon” (popularizada por Johnny Cash), pela extraordinária “Tragic Vaudeville”, até à inesperada (para os fãs WOV) “(Don’t Spill My) Courage”, estamos na presença de um disco muito à frente do seu tempo.
_

26 novembro 2010

My Favorites # 22 - Menomena – “Friend and Foe” (2007 Barsuk)

Desde o seu disco de estreia que os Menomena nos presenteiam com um absolutamente incrível trabalho artístico.
Neste disco apresentaram-nos outro vigoroso exercício, musicalmente como liricamente cheio de ideias, pois é impressionante a quantidade de momentos inteligentes e emocionantes que ficam connosco após a sua audição.
Eles fizeram como o seu foco principal, descarnarem a formula standard de composição e utilizando todos os aspectos da sua música para uma extensão absolutamente máxima de delicias sonoras.
As composições são imprevisíveis e complexas, no entanto as melodias são ágeis e sustentadas, numa muito própria imediata simplicidade, menos angular na sua entrega e isso torna-as mais fáceis de entender. Os seus momentos de quietude são preenchidos com estranhos saxofones, escuros e súbitos traços de piano e esmagadoras guitarras distorcidas, que espreitam a cada esquina, complementando toda a peculiar e divertida estrutura “pop” que a banda toca com perfeição em cada uma das doze faixas. Os Menomena certificam-se que cada instrumento utilizado é especificamente deles, e que o majestoso som de todas as canções é e soa claramente Menomena.A sua “assinatura” do modular “pop” que praticam é visivelmente eficaz no tema de abertura, o intrincado “Muscle’n’Flo”, um verdadeiro carrossel musical, que abre o caminho desta estranha viagem, que demonstra as dezenas de engenhosos e arrepiantes detalhes que são oferecidos no álbum, através do assombroso piano de “Wet & Rusty”, do verdadeiramente único negro “fun pop” de “Weird”, da saltitante linha de baixo e da bateria electrónica de “Evil Bee”, do “pop” fracturado de “My My”, ou do brilhantemente implacável “The Pelican”. E tal como os álbuns anteriores, a embalagem é surpreendente – o artista Craig Thompson fez todos os desenhos (um humorístico e infernal universo “freak”) e a sua sublime arte reflecte perfeitamente o som que o álbum revela.
_

13 agosto 2010

My Favorites # 21 - This Mortal Coil – “It’ll End In Tears” (1984 4AD)

Um projecto criado na mente de Ivo Watts-Russell, onde membros de vários grupos da 4AD como Cocteau Twins, Dead Can Dance, The Wolfganf Press ou Colourbox trabalharam conjuntamente para escreverem canções e para realizarem surpreendentes versões de temas popularizados por Tim Buckley, Roy Harper ou Alex Chilton dos Big Star. A perspectiva era intimadora mas funcionou incrivelmente bem e seria um epítome e uma óptima introdução para do som 4AD.
Com tanta gente a trabalhar num disco, é natural que as sonoridades sejam bastante diversificadas. É evidente a diferença entre Howard Devoto a cantar o devastador “Holocaust” (original Alex Chilton) com o seu piano e violoncelo, para a turbulenta guitarra “indie” de “Not Me”, original de Colin Newman dos Wire.
Destaca-se o grande momento mágico, dominado pelos Cocteau Twins, na surpreendente versão, verdadeiramente de cortar a respiração, pela calmante cadência espiritual propositada por Liz Frazer, para “Song To The Siren”, o hino a uma sereia de Tim Buckley. Mas ainda a dolorosamente sedutora “Kangaroo” (original de Alex Chilton) cantada por Gordon Sharp, que nunca conseguiu com a sua banda - CindyTalk – atingir a graça que obteve neste álbum, a assustadora voz hipnótica de Lisa Gerard em “Dreams Made Flesh”, ou o exótico “Barramundi”, obra de Simon Raymond (baixista dos Cocteau Twins) que com a sua natureza obscura cria uma sonoridade verdadeiramente gótica. No entanto, e apesar de todos esses contrastes, cada faixa tem uma ligação estreita. É quase como se estivesse-mos a seguir um caminho espiritual.
Poderá faltar a grandeza do posterior “Filigree and Shadow”, mas este hipnótico e surpreendentemente belo álbum é despojado até ao esqueleto de beleza e tristeza.
_

11 maio 2010

My Favorites # 20 - The Angels of Light – “Everything Is Good Here/Please Come Home” (2003 Young God)

Ao terceiro disco do seu projecto The Angels of Light, e mais uma vez após as experiências com World of Skin/ Skin e The Body Lovers, Michael Gira continua na tentativa de exorcização da tensão criada pelo seu primeiro grupo - Swans - agora que se reinventou como um “shaman” que procura no misticismo e na religião a sua fonte de inspiração.
Apesar de muitas vezes ser inferiormente comparado com os dois registos anteriores do projecto, essencialmente por apresentar um mais variado conjunto de músicas e ser muito menos sufocante do que os referidos discos, aqui as canções conseguem atingir um efeito misterioso e fascinante. As palavras, como sempre, parte fundamental da essência dos The Angels of Light, são acentuadas pelo pulsar da contagiante música e da sua complexa instrumentação.
Está recheado de pequenas histórias tristes, que assentam no contraste que resulta da combinação entre o sombrio e a luz, e ao serem relatadas na voz de Gira, obtêm o efeito de controlo e comando de um capaz líder de um obscuro culto (aqui adjuvado por Devendra Banhart, Siobhan Duffy e o coro infantil de Stratford-Upon Avon). O resultado é deslumbrante pela forma como sugere dor, tensão, escuridão, e até mesmo redenção simultaneamente.
Destacam-se a lúdica, quase infantil melodia da mística “Palisades”, a primitiva, dissonante e obsessiva “All Souls’ Rising”, o sónico esplendor de “Kosinski” com os seus arranjos hipnóticos, a complexa e deprimente “The Family God”, a delicada “What You Were”, a contagiantemente alegre “Sunset Park” com a sua rica textura de vozes a interagir, e a melodiosamente triste “What Will Come” com a sua atmosférica instrumentação.
_

07 abril 2010

My Favorites # 19 - Lisa Germano – “Geek the Girl” (1994 4AD)

O segundo disco da multi-instrumentista Lisa Germano (que esta noite toca na Casa da Música) é um trabalho coerente e focalizado, sincero e sombrio. Não é um disco musicalmente assustador ou sequer aventuroso, mas o absolutamente puro e emocional poder que transmite, esse assusta.
Aqui a música acompanha o profundamente reflectivo auto lirismo, relatando tragédias num tom sombrio e assustador, recheado de paranóia, estados depressivos e prisões espirituais, que pode ser verdadeiramente venenoso e deprimente. Através de uma atmosfera calma, mas exuberante, as dolorosas vocalizações de Germano são entregues num arrepiante silêncio, e os instrumentos (principalmente piano e violino) soam lúgubres. Assim estão apropriados às sinistras e analíticas letras que através de uma íntima abordagem extremamente feminista, relatam temas proibidos do nosso quotidiano - seres proscritos, violações, assaltos e infância - até estes atingirem um clímax de emoção e desespero, num impressionante equilíbrio entre o sonho e a realidade, entre o terror e a diversão, entre a resignação e a raiva.
Mas Germano consegue capturar algo genuíno, sem soar constrangedoramente emocional, como é evidente no desolado “My Reason Secret”, no devastador “Cry Wolf”, na assustadora ”Sexy Little Princess” ou no doloroso “Cancer of Everything”.
Pode relembrar Nico ou uma ferida Liz Phair, poderia ainda ser uma Tom Waits no feminino, mas certamente falta-lhe a variedade vocal. Agora o desespero presente na sua voz e a forma como nos faz sentir quentes e estridentes de uma vez só é bastante impressionante. A capacidade de soar triste e miserável, e cínica ao mesmo tempo, é um talento ímpar que faz este álbum verdadeiramente único.
_

04 dezembro 2009

My Favorites # 18 - Mark Lanegan - “Whiskey For The Holy Ghost” (1994 Sub Pop)

Ainda a propósito do recente post sobre o último disco dos Soulsavers, será uma pena se a maioria das pessoas apenas conhecer Mark Lanegan como ex-membro dos Screaming Trees, membro ocasional dos Queens of The Stone Age ou aquele que tornou os últimos discos de Isobel Campbell tão formidavelmente especiais.
O seu trabalho a solo é indispensável, especialmente o sombriamente esplendoroso segundo disco – que demorou cerca de três anos a gravar, com a ajuda de Mike Johnson na altura nos Dinosaur Jr. e dos veteranos produtores/engenheiros de som Jack Endino e Terry Date, entre outros notáveis convidados – e que é uma absoluta obra-prima.
Triste, profundamente atmosférico e introspectivo, apesar de às vezes ser levemente reconfortante, representava uma significante rotura em relação ao seu trabalho com os Screaming Trees e em relação ao seu primeiro disco a solo - “The Winding Sheet”- revelava uma maior consistência global e um acréscimo de maturidade na escrita de Lanegan.
Ele, confessadamente tentava combater os seus demónios pessoais, que habitavam o seu despojado, mas todavia esperançoso mundo, através de encantadoras canções acerca de abandono e desespero, expondo-nos completamente a nu a sua atormentada alma. Mas a melancolia presente é compensada pelas requintadas e melódicas canções, que surgem uma atrás da outra, tão dolorosamente belas que não deixarão o ouvinte indiferente. E depois destaca-se o baixo, mas profundo tom de voz de Lanegan, marcado por demasiadas garrafas de whiskey e milhares de maços de cigarros, e ao contrário dos Screaming Trees, onde ele forçava a sua voz até ao alcance máximo possível, aqui ele permite-a descer até ao seu alcance mais natural, que reforça a sua abordagem musical, maioritariamente assente nas palavras.
Ouçam a atmosférica mistura do baixo com a guitarra acústica de “The River Rise”, a reconfortante “Kingdoms Of Rain”, a bizarra “Carnival”, a magnifica “El Sol”, a assombrosa “Judas Touch”, a lamentosa “Beggar’s Blues” ou “Sunrise”.
Revelando uma maravilhosa força motriz, é provavelmente o seu melhor disco, e se quisermos enquadra-lo com outra obra-prima de conteúdo similar, podemos coloca-lo ao nível de “On The Beach” de Neil Young.
_

04 setembro 2009

My Favorites # 17 - Calexico – “Feast Of Wire” (2003 Quarterstick)

Foi o sábio crítico Greil Marcus que “inventou” o termo “The Old Weird America” como tributo a um sombrio e intrigante lugar, mas que é tão bem sucedida na sua exportação para o resto do mundo.
Muitos músicos agruparam-se debaixo desse crescentemente gasto estandarte “alt-country” para derivarem por essa América ilusória e singular como os Calexico.
John Convertino e Joey Burns, estão há vários anos sitiados em Tucson, muito perto da fronteira com o México, e a sua música é consequentemente infiltrada pela sua natural localização, pois captura a intriga das cidades fronteiriças, a solidão do deserto e o exotismo mexicano.
Apesar do seu quarto disco ter sido provavelmente o mais acessível até à data, e onde a frequentemente fracturada e embriagada música agora soa nitidamente recortada, ainda transmite um sentimento enganador de algo não estar correctamente certo. Como exemplo ouçam “Black Heart”, onde Ennio Morricone se junta a uma marcha fúnebre “Tex-Mex”, ou a belamente intitulada “Not Even Stevie Nicks”, onde a personagem principal espectacularmente comete suicídio.
O mesmo se aplica a “Sunken Waltz” e “Woven Birds” – mas quando parece que estão prontos para serem conotados com o estilo musical “alt-country”, eles subitamente mudam totalmente de direcção como em “Close Behind”, no esplêndido “Mexican Guero Canelo” ou em “Crumble” – e o resultado das suas influências predominantes são direccionadas estrondosamente com pedaços de “bebop jazz”. E contra enormes probabilidades tudo resulta brilhantemente.
_

07 agosto 2009

My Favorites # 16 - Lambchop – “Nixon” (2000 Merge)

Kurt Wagner e a sua cada vez maior banda, podem provir de Nashville, mas a sua sonoridade vai muito mais além do que as limitações que essa cidade impôs na música “country”.
Os excelentes “How I Quit Smoking” e “What Another Man Spills” são completados em “Nixon” um disco mais coeso, aonde às fundações sombrias e rurais, continuam a adicionar enfeites “r&b” e “blues”.
Um dos poucos genuinamente sentimentais discos da ultima década, onde se encontram algumas das sonoridades mais melancolicamente purificadas que já ouvi. Está recheado de fantásticos arranjos e melodias luxuriantes delicadamente executadas que incluem ociosas guitarras, secção de sopro e uma vibrante secção de cordas. E se a musica por si só bastava para tornar este disco honroso, temos que acrescentar as infames, excêntricas e singulares letras, aqui no seu máximo de coerência, sinceridade e consciência social, entregues no inquietante e embaraçantemente desamparado “falsetto” de Wagner, muito atmosférico e dócil, e que realmente relembra o eterno Curtis Mayfield.
Destacar uma canção é difícil, mas como favoritas pessoais, enumero a genial “Up With People” (e o seu magistral final), a ilustre “You Masculine You”, a bestial “Grumpus”, “The Old Gold Shoe” ou a enorme “The Book I Haven’t Read”.
_

11 maio 2009

My Favorites # 15 - The Feelies – “Crazy Rhythms” (1980 Stiff)

Originários de Hoboken, New Jersey, foram juntamente com Sonic Youth, Mission Of Burma ou Bush Tretas, uma das bandas da costa este que estiveram na vanguarda do movimento pós –punk americano. As ideias musicais de Glenn Mercer e Bill Million sobre minimalismo, dinâmicas, tonalidades e texturas musicais foram apoderadas pelo núcleo central dos músicos que integravam o emergente movimento “rock alternativo”.
Criaram uma inimitável e completamente única sonoridade, onde as suas canções tem uma evidente sensação de urgência e a sua sonoridade destilava uma perfeita sensibilidade estética. As guitarras de Mercer e Million são delicadas e elevadas – em contraste com os fortes acordes do “punk” – o incessante e descendente dedilhar, com crescendos sem clímax, e acções descontroladamente repetitivas é um óbvia influência dos Velvet Underground. Os ritmos – vocais e instrumentais – eram tensos e desassossegados – tal como os Talking Heads, mas com uma qualidade ameaçadora que foi meia abafada na música dos Heads, com as suas investidas na “world music”.
São inevitáveis as comparações com os grupos já referidos e os Television, mas “Crazy Rhythms” é tão impressionantemente original que é como se tivesse desenvolvido numa estufa desprovido de quaisquer influências ambientais. E o que torna o disco ainda mais inovador, foi o facto da percussão ser particularmente efectiva, em virtude da substituição do anterior baterista pelo extravagantemente inventivo Anton Fier. O seu frenético e forte tambor “tom-tom” tornou-se numa terceira voz no diálogo rítmico com os duelos de guitarra de Mercer e Million. Para além disso, o uso de um variado conjunto de instrumentos de percussão pouco convencionais (tamborim, “maracas”) e a acção combinada entre silêncio e ruído adiciona estrutura e solidifica o seu som. Daí resultaram momentos sublimes como a honestamente semi-biográfica “The Boy With Perpetual Nervousness”, “Fa Ce La”, a intensa “Moskow Nights”, a contagiante “Loveless Love”, a “estratificada complexidade de “Force At Work”, “Original Love”, a revoltada “Raised Eyebrows”, ou a irreconhecível e irreverente versão de “Everybody’s Got Something To Hide Except For Me And My Monkey” dos Beatles.
Um disco muito subestimado (e o único disco onde exerceram controlo criativo), ideal para descobrir as origens do “indie rock”/”rock alternativo”, onde muitos grupos - R.E.M., The Dream Syndicate, Yo La Tengo, até Clap Your Hands Say Yeah - retiraram elementos sonoros, mas que não são tão citados como alguns dos seus pares.
_

27 fevereiro 2009

My Favorites # 14 - The Disposable Heroes Of Hiphoprisy – “Hipocrisy Is The Great Luxury” (1992 4th & Broadway)

Em 1992, os TDHOH editaram um dos mais subestimados discos da década. E eles são tudo menos “disposable”, pois estabeleceram um novo padrão para o rap. Erguendo-se das cinzas dos The Beatnigs, Michael Franti e Rono Tse, criaram um disco histórico numa altura onde a maioria dos “rappers” estavam a promover o “gangsta”, os TDHOH criticavam severamente a América e os seus estabelecidos limites, empreendendo uma campanha global, cheia de inéditos comentários politico e social que rasga até ao núcleo central das modernas injustiças, abordando temas tabus no rap, como a homofobia e os vícios consumistas dos negros, tudo isto através de descrições acutilantes e de um discurso articulado e não dogmático.
Mas classificar este disco como “rap”, é ambíguo, pois os elementos industrias estão bem presentes e relembram as experiências anteriormente abordadas pelos Consolidated e Tackhead – e se os “Inspirators & Conspirators” listados no “booklet” que acompanha o disco incluem Gil Scott-Heron, KRS-One e Public Enemy, também incluem Jello Biafra, Adrian Sherwood e Meat Beat Manifesto – podemos dizer que temos uma fusão, um “industrial rap”, totalmente diferente do que Franti desenvolveu posteriormente no projecto Spearhead.
Os TDOHO atacavam politicamente, emocionalmente e racialmente de uma forma inteligente, onde cada cortante canção é brilhante, entregue pela intensamente hipnotizante e serena voz de Franti sobre contagiantes “beats” e inteligentemente colocados “samples”.
Relatos nada delicados de uma sociedade dominada pela televisão (“Television, The Drug Of The Nation”), de casos violentos de descriminação contra minorias (“Socio Genetic Experiment”), da Guerra do Golfo (“The Winter of The Long Hot Summer”), ou a notável versão de “Califórnia Über Alles” (original dos Dead Kennedys) eram fortes mensagens que nos permitem decidir sobre o tópico politico em discussão pela nossa própria cabeça.
_

13 fevereiro 2009

My Favorites # 13 - Echo And The Bunnymen – “Heaven Up Here” (1981 Korova)

Edificado sobre a juvenil vitalidade e dinamismo do exuberante “Crocodiles”, “Heaven Up Here” é, para mim, o auge de expressão dos Echo And The Bunnymen.
Existe aqui algo mais místico do que na maioria dos discos, mais filosófico e auto-motivante, e este torna-se no “nosso disco”, é como se estivesse-mos envolvido na sua criação. Está recheado de momentos sombrios assim como algumas estranhas e serenas fantasias que juntamente com as letras hipnotizadoras podem semear-se no nosso inconsciente.
Somos surpreendidos com as contundentes guitarras de Will Sergeant que cintilam como gotas que caiem em charcos, enquanto o baixo produz “riffs” hipnóticos e a bateria tritura ritmos tribais (o baterista Pete De Freitas tem uma importância divina ao longo de todo o disco). E depois reparamos na voz: ela eleva-se, mergulha, penetra, guia-nos e luta com a música, muitas vezes no espaço da mesma canção. A voz de Ian McCulloch é sinistra e possui algo de divino e anciã que nos faz acreditar nele. Ela que goteja quer sejam dramas ou situações patéticas, entregando poemas ocultos que nos atraem para uma estranha lógica interior que efectivamente com o passar do tempo começa a ter o seu sentido.
A “magia” está presente em todo o disco, mas destacam-se as três primeiras canções, uma das melhores trilogias de abertura de sempre:
“Show of Strength” a bateria e o baixo formam uma sólida rede sobre a qual a guitarra investe e lamenta-se. Ian McCulloch“ apregoa por aceitação, e a sua segura e gloriosa melodia faz com que acreditemos no seu magistral romantismo, a guitarra magicamente liga tudo num enorme buraco sem emenda, e a canção parece entalhada numa gigante montanha-russa.
“With a Hip” começa com uma sonoridade reminiscente de um vastidão industrial e termina com um cometimento à grandeza. Pelo meio as guitarras constroem uma tensão que é libertada através dos ensurdecedores tambores.
“Over The Wall” é uma viagem nocturna pelas encostas, enquanto o nevoeiro se precipita e as incertezas que nos atormentam rastejam por debaixo da nossa pele.
_

15 dezembro 2008

My Favorites # 12 - Iron & Wine – “The Creek Drank The Cradle” (2002 Sub Pop)

Este disco foi editado numa altura em que existiu um verdadeiro redescobrimento da música “folk” por parte do “underground” americano. Tivemos também os PG Six, Jack Rose, Six Organs Of Admittance, Joshua Burkett, etc, cada um utilizando fundamentos semi-baseados no ”folk” para transportar os ouvintes a um lugar especial. O que me chamou a atenção nos Iron And Wine”- um projecto de Sam Beam - foi o facto de a sua performance ser desprovida e descontraída com uma abordagem simples. Os “riffs” que ele exerce nas guitarras acústicas, eléctricas, banjos, etc, são tão directos como as mais singelas composições de uns Pearls Before Swine. Isto dá a sua forma de tocar uma emoção instantânea que nem todos os seus contemporâneos possuem.
O conteúdo lírico de “The Creek Drank The Cradle” é personalizado no método daqueles que estudaram os discos de Nick Drake, mas a atmosfera aqui é maduramente americana. Como o título do disco deixa explícito, Beam estava familiar com o peso icónico de certas palavras numa era onde se redescobriu o trabalho antológico de Harry Smith. Outras distintas influências americanas no seu trabalho são igualmente oferecidas sem pretensão. O encanto das suas melódicas composições e a sua entrega lançam sopros quer de David Crosby quer dos primórdios de Paul Simon, duas referências que são uma anátema para alguns, excepto os conscientes estudantes da tradição “folk” americana.
Para além de todas estas referências, o que torna este disco tão cativante é a combinação invulgar de elementos. A sua forma gentil e vacilante arrasta-me para as suas profundezas de cada vez que ouço. A forma como a gravação “lo-fi” combina com a mesmérica qualidade da guitarra circular e a sussurrante vocalização criam uma rara atmosfera holística.
Curiosamente, estranhei que um disco como este fosse editado numa editora associada a um tipo muito específico de “rock”. Mas é mais excitante pensar que a velha guarda do “underground” estava/está a expandir a sua mente para conter tudo o que é digno – independente dos géneros. Como deve ser.
_
Iron & Wine - Southern Anthem

02 dezembro 2008

My Favorites # 11 - The Cure – “Pornography” (1982 Fiction)

Esta é inquestionavelmente a hora mais negra de Robert Smith. Todos os momentos de “Pornography” são assustadores, desesperantes e angustiantes, nunca os The Cure soaram tão frios e rancorosos, nem a música “rock” tinha sido tão opressiva e claustrofóbica. Cinco anos após o apogeu dos Sex Pistols e The Clash, este era o seu momento de violência “punk”, nada como os anteriores, mas na mesma furiosa e niilista. Foi um marco no movimento “pós-punk” onde apenas rivaliza com “Closer” dos Joy Division. Mas é um disco colossalmente criativo pois contém alguma da música mais sepulcral já criada. O facto de na altura Smith ser um regular utilizador de LSD, e que mal falava com os seus companheiro, é evidente na forma como a sua voz frágil é levantada por impiedosos gritos de agonia, surgindo desesperado e transtornado. Assim como os rígidos ritmos - a forma mais dissonante e extenuante de tocar guitarra, os tons lúgubres dos sintetizadores, o baixo sorumbático, a forma monótona e mecânica de tocar bateria de Lawrence Tolhurst criam um absoluto sentimento de inércia ao longo do disco – são factores que contribuem para a triste aura deste convidativo disco. Este começa com a frase: “It doesn’t matter if we all die”, retirada de “One Hundred Years”, cheia de desespero e desejo não correspondido. Seguem-se os hipnóticos hinos fúnebres “Siamese Twins” e “The Figurehead”, a tribal “The Hanging Garden” que é provavelmente uma das melhores canções dos The Cure, “A Strange Day” que é dominada pelo presente sentimento de raiva, mas com algo contíguo em beleza oculto no seu interior. E a faixa-título é uma claustrofóbica e completa descida aos abismos da total loucura, como deve ser o fecho de um disco destes.
Smith revisitou este disto com “Disintegration”, em 1989, que a par deste, continuam a ser as suas obra-primas. E estes são os The Cure com que me identifico, e não os de “Friday I’m In Love”.
_

27 outubro 2008

My Favorites # 10 - Built To Spill - “Keep It Like A Secret” (1999 Warner Bros)

Com “Perfect From Now On” (1997), Doug Martsch e os seus rapazes já nos tinham prometido uma obra-prima. Ela chegou com “Keep It Like A Secret”, que continua a mesma fórmula, com mais 10 intensas canções literalmente de cortar a respiração.
Neste disco perfeitamente equilibrado criaram algo único e impetuoso, onde podemos pensar nos velhos Sonic Youth, mas sem a abstracção.
Sendo um incrivelmente dotado músico, Martsch abstêm-se largamente de solos que aturdem, em ordem de manter o foco nas canções. E com isto não quero dizer que ele não nos presenteia com excelentes momentos no disco. Pois em vez de momentos instrumentais onde nos demonstra a sua formidável proficiência como guitarrista, ele opta antes por usar o instrumento como um meio de constituição da estrutura e dar coloração a cada canção.
Começa de forma perfeita com a concisa “The Plan”, depois segue-se essa declaração “pop” que é “Center Of The Universe”, o assombroso trabalho de guitarra na fenomenalmente simples “Carry the Zero”, o desenvolvimento do núcleo da canção em “Time Trap”, as brilhantes camadas sonoras de “Temporarily Blind”, ou as suaves harmonias de “Else”.
O disco termina com o épico “Broken Chairs”, e admiramos como pode um disco soar tão variado e no entanto, simultaneamente parecer tão consistente.
Puro esplendor.

04 junho 2008

My Favorites # 9 - Soul Coughing - “Ruby Vroom” (1994 Slash)

“Ruby Vroom” é a vertiginosa investida de uma ruidosa civilização indecisamente, contudo irrevocavelmente em direcção a um novo milénio. O que faz com este disco seja a banda-sonora ideal dos anos 90, uma década onde os géneros musicais confluíam sem aviso e a história era uma coisa do passado.
Uma década onde a maioria das bandas passeou sem objectivos, procurando o abrigo na elusiva sonoridade pós-Nirvana, M. Doughty e companhia, criaram um som único - onde batidas “avant-noise” e melodias fracturadas colidem conscientemente - ao combinaram a poesia com “rock”, “hip-hop”, “blues”, “folk”, “techno” e muito mais, numa magnificamente subtil e agradavelmente eclética “mix” (excelentes músicos, destaca-se o impecável trabalho de Yuval Gabay na bateria).
Juntaram um inteligente, elegante e gracioso, mas cortante vocabulário, e os resultados estão excepcionalmente expressos seja na melancólica canção de amor na América rural em “True Dreams of Wichita”, seja no épico e despropositado sobrecarregado “jam” “Uh Zoom Zip”, seja na história do vendedor ambulante que more de “overdose” num quarto de banho de um hotel em “BlueEyed Devil. “City of Motors” conta a sinistra história de um roubo e da testemunha que o presencia, e “Screenwriters Blues” é um fantástico instantâneo de Doughty numa imaginária vida como argumentista em Los Angeles, cheia de contrastes entre os aspectos negativos de Hollywood e L.A., e a beleza que a cidade exibe.
E ainda falta referir “Mr. Bitterness”, “Is Chicago, Is Not Chicago”, “Casiotone Nation”, “Down To This”, “Bus To Beelzebud”, todas elas geniais.
Uma das bandas mais criativas, inovadoras e interessantes dos anos 90, e também uma das mais inclassificáveis, foram um verdadeiro oásis.
_

31 março 2008

My Favorites # 8 - Moondog Jr. - “Everyday I Wear A Greasy Black Feather On My Hat” (1995 Island)

Apesar de ainda pertencer aos dEUS na altura da edição deste disco, Stef Kamil Carlens já tinha tido as suas experiências nos Kiss My Jazz, e parecia querer definitivamente afastar-se do rumo que Tom Barman pretendia para os dEUS. E essencialmente queria poder gravar as suas composições, e não perder tempo a “lutar” com as composições dos outros membros dos DEUS.
Com a colaboração de vários músicos conhecidos da enérgica cidade de Antuérpia, criou um projecto que iria abordar um som mais “americano”, pois as influências da cultura e música americana são evidentes. O facto do disco ter sido co-produzido pelo competente Michael Blair, conhecido pelo seu trabalho com Tom Waits, e as evidentes semelhanças com o trabalho deste último, aqui presentes, reforçam esse facto (“Cachita” é um excelente exemplo).
O disco é extremamente rico ao nível musical, com variadas fontes: “rock”, “blues”, “country”, “jazz”; que interligadas dão origem a um som original.
As canções como é apanágio em Carlens são extremamente emocionais, intensas, melancólicas.
Destaco algumas das minhas favoritas: “Jintro & The Great Luna”, “Shall I Let This Good Man In” ou “The Ricochet”.
Após a edição do disco teriam problemas legais por causa do nome Moondog, e iriam altera-lo para Zita Swoon. O culto, esse continuaria.

03 março 2008

My Favorites # 7 - The Afghan Whigs - “Gentlemen” (1993 Sub Pop/Elektra)

“Gentlemen”, para além de provavelmente ser o ponto mais alto da carreira dos The Afghan Whigs, é portador de uma dúbia distinção: é sem dúvidas o disco mais negro dos anos 90.
Greg Dulli e os seus rapazes, gravaram um disco impecável: um pesaroso, vingativo holocausto romântico, que audaciosamente infunde todas as cruas emoções da música “soul” dos anos 60, com as tumultosas guitarras do rock moderno.
Mas só um testamento assim tão corajoso e verdadeiro, poderia pronunciar com clareza toda a perturbação emocional presente nestas canções, impressionantemente belas como a sublime e penosa “Be Sweet”.
Como outras favoritas temos “Debonair”, e o papel disfuncional que ocupamos nas nossa relações, “What Jail Is Like” uma poderosa descrição do que é estar preso entre culpa e prazer visceral, e esse hino ao desejo e ao vício que é “Fountain and Fairfax”.
“Gentlemen” é um mapa misterioso para os caminhos baldios dos corações despedaçados. – e sangra brilhantemente.

29 dezembro 2007

My Favorites # 6 - Liz Phair - “Exile In Guyville” (1993 Matador)

Neste disco é possível descortinar o que bem quisermos: desde hinos ao pós-feminismo, passando pela rapariga dos subúrbios a armar-se em “tesa”, ou a pretensa e assumida réplica de “Exile On Main Street”.
Eu ao escutá-lo prefiro pensar em Liz Phair como uma rapariga que pretende encontrar o amor verdadeiro, ou uma que pretende ser uma “blow-job queen”.
O que não se pode é menosprezar a importância deste disco: um registo suave, dramático, que foi editado numa altura em que todos os outros se baseavam em gritos estridentes; o disco que demonstrou o poder das produções caseiras “lo-fi”; o disco que melhor capturou o sofrimento e a ansiedade da confusão pós-adolescência/ pré-idade adulta; o disco cujo sucesso influenciou que muitas multinacionais contratassem uma geração de cantoras-compositoras.
A sua musicalidade é por ventura desnivelada, a sua performance vocal não é revolucionária, mas a sua escrita… uau!!! que canções.
São canções que nos tocam no coração, comprometem a mente e até chegam a estimular sexualmente.
Liz sabe como construir um relato intenso e pessoal.
Apesar de todas serem fantásticas, gosto especialmente de “6’1””, “Help Me, Mary”, “Never Said”, “Mesmerizing”, “Fuck and Run”, “Divorce Song” e “Shatter”.
Ao contrário da maioria das cantoras-compositoras referidas anteriormente, a quem faltava a subtileza elegante” de Liz Phair, esta continuou a demonstrar o seu singular talento em trabalhos posteriores como “Whip-Smart” ou “Whitechocolatespaceegg”.
Com “Exile In Guyville” deixou-nos um registo que é um tributo à qualidade da “canção rock”, e que o torna num dos melhores discos de todos os tempos.

24 outubro 2007

My Favorites # 5 - P.J. Harvey – “Rid of Me” (1993 Island)

O disco de estreia de PJH, “Dry”, já tinha a marca arrojada de uma genuína cantora-compositora que aparentemente não tinha medo de nada.
Para “Rid of Me”, PJH e a sua banda (Rob Ellis e Steve Vaughan) resolveram trabalhar em Minneapolis, com Steve Albini, que elevou a barreira sonora do disco anterior, ao torná-lo mais áspero e abrasivo, fazendo com que cada corda de guitarra e cada batida do címbalo criem no ouvinte uma sensação arrepiante.
A influência assumida das dinâmicas “noise” dos Pixies, com a do “garage-rock” dos anos 60, faz com que na palete sonora de “Rid of Me”, se encontrem “rock” puro (“50 Foot Queenie”, “Snake”), confissões de dor (“Missed”, “Legs”), arranjos clássicos (“Man-Size Sextet”), e também uma versão de “Highway 61 Revisited” que violentamente transporta Bob Dylan para a década de 90.
Em cada palavra, cada nota, cada batida, estão presentes as emoções cruas e tumultuosas, as provocações que encarnou, sempre cheias de negrume. PJH não foge dos assuntos, não está com meias medidas, quando expressa a sua raiva e a sua sexualidade (é arrebatadora a forma como ela canta “Lick my Legs, I’m on Fire” em “Rid of Me”).
Escutar “Rid of Me” é uma experiência única, e as armas que PHJ utiliza são primárias: a sua versátil e devastadora voz, a guitarra ácida, e uma fantástica secção rítmica.

01 junho 2007

My Favorites # 4 - The Magnetic Fields - “69 Love Songs” (2000 Circus)

Stephen Merritt sempre foi um compositor prolífero, tendo gravado para além dos Magnetic Fields, como The 6ths, The Future Bible Heroes ou The Gothic Archies. No entanto, até este disco, a sua obra sempre foi um pouco marginalizada.
Estamos perante três CD’s contendo 69 canções de amor, um excessivo catalogo pop, que cobre todos os géneros, desde o rock até ao country, passando por valsas e punk-rock.
A excelência dos arranjos e a brevidade das canções, todas com menos de 3 minutos (tão básicas e naturais, que nunca tornam o disco pretensioso), utilizando as alternâncias vocais e um arsenal de instrumentos: “ukelele”, banjo, acordeão, piano, flautas, violinos, violoncelos, uma variedade de guitarras e os usuais sintetizadores, fazem com que o ouvinte não se aborreça.
E o que dizer das cativantes e inventivas letras.
Começa com “Absolutely Cuckoo”, ridiculamente engraçada e contagiante. E o mote está dado.
Temos duetos à Sonny & Cher (“Yeah! Oh Yeah!”), baladas românticas (“Come Back from San Francisco”), World Music (“World Love”), o distinto som dos 80 (“I Can´t Touch You Anymore”) ou “60’s standards” (“For We are the King of the Boudoir”), mas Merritt também nos mostra que consegue criar canções surpreendentemente sinceras como “Busby Berkeley Dreams” ou “The Book of Love”. Merritt ainda aproveita para abordar temas que não são abordados em canções pop, ouçam “Papa Was A Rodeo” ou “My Only Friend”.
“69 Love Songs” é um disco que facilmente poderá ocupar toda a nossa vida com a sua inteligente, graciosa, presunçosa e brilhante forma, numa deslumbrante e ofuscante inconsistência que não conseguimos evitar de gostar. Se calhar era essa a sua finalidade.