Mostrar mensagens com a etiqueta The Replacements. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta The Replacements. Mostrar todas as mensagens

24 março 2010

Classic # 26 - Big Star – “# 1 Record” (1972 Ardent)

Em 1972, as canções “rock” relevantes deviam supostamente incluir complicadas progressões musicais, letras introspectivas e uma aparente tendência progressista. Canções agradáveis e concisas acerca de “boys and girls and cars”, eram uma traição para as sempre futuristas tendências do “rock”. Mas no seu disco de estreia, dois miúdos inteligentes de Memphis, Alex Chilton e Chris Bell, mostraram-nos como podiam combinar a delicadeza do “british pop” de uns Beatles, com o “american rock”, e ainda juntar pedaços de “garage-soul”, ajustado a um profundamente pessoal e frequentemente revelador universo lírico.
Eles eram uma verdadeira versão americana de Lennon e McCartney, e se não inventaram o “power pop”, forneceram a mina de ouro que serviu de inspiração a gente como R.E.M., Teenage Fanclub, The Replacements, Elliot Smith, The Posies, entre muitos outros.
“#1 Record”, com uma vibrante e cintilante produção de John Fry, adquire apropriadas e distintas reviravoltas, umas atrás de outras, através das cuidadosamente idealizadas canções e da formosa reciprocidade entre as guitarras acústicas e eléctricas e as vocalizações repartidas, seja na “auto-afirmativa “Ballad Of El Goodo”, no turbilhão “pop” de “My Life Is Right”, na magnificente “Thirteen”, na impetuosa “When My Baby’s Beside Me” ou na ondulante “Feel”.
Alguns responsabilizaram Bell (o McCartney), que abandonou após este disco, pelo excessivamente acústico e melancólico segundo lado, mas quer ele quer Chilton (o Lennon) iriam atingir aqui estados de espírito distintos, e beneficiaram dos alternados entusiasmos e suspiros nas suas letras e vocalizações. E por isso “#1 Record” é praticamente perfeito.
Os Big Star eram obviamente e excessivamente “Sixties” – ele estavam demasiadamente feridos para as ideias revolucionárias do “rock” e eram suficientemente sensatos para saber que “boys, gals and the gang” iriam sempre durar muito mais que qualquer tendência.
_

15 março 2010

The Soft Pack – “The Soft Pack” (2010 Kemado)

O disco de estreia destes “punks minimalistas”de San Diego, é uma boa prova que eles não pretendem ser mais uma “banda do momento”.
É bem visível que não estão interessados em seguir o já extenuado caminho do revivalismo “garage-rock”. Eles apenas tentam ser eles próprios, e sonoramente nunca soam como um lugar-comum mas sim excitantemente frescos, ao combinam uma rara mistura de “garage-rock” e espírito “punk-rock”.
É verdade que estão presentes os afiados “pop riffs”, e que as suas influências podem ser claramente identificadas (não consegui deixar de reparar que incorporam brilhantemente o fragor de uns The Replacements), mas tentaram manter as suas influências “punk” e apenas misturam-na com um pouco do “pop” luminoso que desde sempre brotou da sua nativa Califórnia. Destacam-se pela bruscamente eficiência das guitarras – ruidosas, jubilosas, desarticuladas, tal com os The Kinks outrora fizeram - e pela secção rítmica que mantém as coisas ordenadas.
Mas não se enganem, a sonoridade bem ritmada é balançada pelo sombriamente cínico lirismo constante ao longo do disco. Ajudadas pela desligada entrega do vocalista Matt Lamkin, as canções possuem uma qualidade que as impede de soarem alegres e risonhas, e mantêm as firmemente plantadas algures entre uma apática e congestionada insanidade.
Desde a potente e enérgica, mas melódica “C’mon”, passando pelo pesado dedilhar das acústicas guitarras de “Down On Loving”, pela discordante e feroz “Answer To Yourself”, pela visceral “Move Along”, pela sofisticada e encharcada de reverberação “More Or Less”, pela sinistra “Tides of Time”, pela arrebatadora, saltitante e agressiva “Flammable”, ou pelo demente” lap-steel” presente na hipnótica e perturbadora “Mexico”, estamos na presença de um louco e muito particular cocktail musical.
_

05 março 2010

Classic # 25 - R.E.M. – “Murmur” (1983 I.R.S.)

O disco de estreia do R.E.M. foi o mais forte sinal de que as bandas que surgiram no denominado movimento “Paisley Underground” tinham a profundidade e a capacidade artística de criar algo novo a partir das suas raízes “punk”, “garage” e “country”. E “Murmur” permanece como um enigmático testamento dessa época de grande inspiração.
Segundos os próprios, queriam criar um disco que não tivesse influências externas nenhumas, de forma a que ninguém os pudesse comparar com determinada banda ou artista. E surgiu na altura certa, pois não soava como a maioria da música popular da altura (se por um lado tínhamos o “indie-rock” britânico e a “new wave”, nos Estados Unidos, os tops nesse no ano foram dominados pelos Motley Crue e por “Thriller”) e conjuntamente com os The Replacements foram as primeiras alternativas ao “rock” “mainstream” corporativo.
A sua distinta sonoridade representa a mudança do “pós-punk” para a música alternativa. E ao contrário da maioria das bandas deste período, que infelizmente desenvolveram-se, mas ficaram fatalmente atoladas quer no “country-rock” ou num monótono psicadelismo, as canções possuem uma qualidade atmosférica que é absolutamente diferenciadora. São afáveis e gentis, e exalam vida, insinuam mistério e inflamam paixões.
As indecifráveis letras e a sua tenebrosamente estranha capa (um sinistro campo de árvores “kudzu”, comum no sudeste americano) – só perpetuou a inapreensível beleza da música.
Desde a sólida “Radio Free Europe”, passando pelas três despendidas melodias da dócil “Laughing”, pela simples afirmação de intenção que é “Talking About The Passion”, pela subtil reclusão de “Perfect Circle” (que é realmente perfeita), pela inocente “Catapult”, pela cadenciada, breve e simples “We Walk” ou pela assombrosa “West Of Fields”, estão aqui temas que fazem este marcante álbum ser um dos discos fundamentais do R.E.M..
_

04 maio 2009

Rock # 8 - The Replacements – “Let It Be” (1984 Twin/Tone)

Nomear um disco com o mesmo título com que os Beatles nomearam um dos seus, pode ser um pau de dois bicos. Felizmente estes quatro rapazes de Minneapolis (e companheiros de estrada dos Hüsker Dü) criaram um disco extremamente consistente que em nada envergonha o do quarteto de Liverpool.
Em grande parte devido aos incríveis talentos naturais de Bob Stinson e Paul Westerberg – que até podiam aproximar-se em “talento bruto” de Lennon & McCartney - foram das melhores bandas surgidas no início da década de 80 a exprimirem a sua revoltada angustia através da música – um incontornável “pop-trash” malandro. Agrupadas no movimento “punk/alternative rock” americano (apesar da sua sonoridade incluir elementos de “hard rock”, “country” ou até de música psicadélica), situavam-se num patamar muito superior à maioria dos grupos desse movimento.
A excelente capacidade de composição de Paul Westerberg surge no seu estimável melhor em “I Will Dare” e “Androgynous” – onde mistura pura poesia com uma porção de humor.
Destacam-se ainda a revolta de “We’re Coming Out”, a desilusão da adolescência intencionalmente mordaz de “Sixteen Blue”, o “punk” puro de “Gary’s Got A Boner”, a provavelmente auto-biográfica “Unsatisfied”, ou a torturada canção de amor “Answering Machine”. E se “Black Diamond” poderia ser a mais obscuras da versões visto ser um original dos Kiss, quem entende a banda percebe que encaixa perfeitamente e é bem melhor que o original.Um clássico da década e um dos mais importantes discos do “rock alternativo” americano.
_

13 maio 2008

Do fundo da prateleira # 9 - Superchunk - “No Pocky For Kitty” (1991 Merge/Matador)

Originários de Chapel Hill na Carolina do Norte, os Superchunk inicialmente tocavam um “punk” puro para ouvidos “pop”. Ao misturarem o tom áspero dos The Replacements com o sentido melódico dos Buzzcocks, o quarteto trouxe algo único e ajudou a lançar o espírito “DIY” do “rock underground” que se desenvolveu como contraste ao movimento de rock alternativo pós-Nirvana.
E ao contrário de outras bandas os Superchunk transformaram essa estética numa carreira e num movimento, e ao repelirem as grandes editoras multinacionais, a favor da sua própria editora, a Merge, tornaram-se nuns Fugazi da “pop-punk”.
Os seus melhores momentos acabaram por surgir na forma de três minutos explosivos. Muitos deles presentes em “No Pocky For Kitty”. Será menos um grande álbum, mas será certamente uma colecção de grandes “singles”, pois inclui canções furiosamente tímidas e loucamente contagiantes como “Seed Toss” e “Tie A Rope To The Back of The Bus”, todas cantadas pela voz de hélio de Mac McCaughan.
Desde a edição deste disco, os Superchunk transformaram-se em algo raro: “punk-popers” que melhoraram musicalmente com o passar dos anos, sem nunca perderem a sua alma.

Superchunk - Seed Toss