29 junho 2007

Jimi Tenor & Kabu Kabu – “Joystone” (2007 Sahko)

Ao longo dos anos Jimi Tenor foi um dos músicos mais aventureiros na área da música electrónica no seu desejo de experimentação, ao criar um som caracteristicamente único em editoras como a Warp, a Kitty-Yo, e na sua Sahko.
Ao reunir-se com o colectivo africano Kabu Kabu (que inclui nas suas fileiras Nicholas Addo Nettey, ex-percussionista de Fela Kuti), Jimi Tenor conseguiu a liberdade de realmente explorar-se e expandir-se, e assim regressa com um dos seus melhores discos.
Com “Joystone” Jimi Tenor simultaneamente consolida o seu som electrónico particularmente “kitsch”, ao mesmo tempo que o expande ao incorporar os ritmos terrenos dos Kabu Kabu. O resultado é uma experiência musical imaginativa e calorosa.
Existe uma mudança de rumo, e assistimos a um regresso aos anos 70, que servem de inspiração na forma brilhante como é efectuada a interligação ente a música electrónica, o afro-beat, o soul-jazz, o funk e a pop.
Os teclados e os sintetizadores de Tenor mantém-se como o ponto central das composições, no entanto as percussões africanas dão uma contribuição notável conduzindo-as numa direcção única. É um cocktail funk, com temas extremamente alegres, que nos relembram o verão.
Excepcionalmente contagiante e único.

28 junho 2007

As 7 Maravilhas da Blogosfera

Como estas escolhas muitas vezes são pessoais e subjectivas, não devem ser muito levadas em consideração.
Mas como amavelmente me nomearam, e como sabe bem ver o nosso "trabalho" reconhecido, também vou fazer o mesmo.
Infelizmente só é possivel seleccionar 7 blogs, mas como todos os links que estão no meu blog são para aqueles que são consultados regularmente e que na minha opinião me transmitem alguma forma de mais-valia (no meu caso, essencialmente musical), a verdadeira votação estará nesse link. Os restantes não me interpretem mal.
Penso, que em ultima análise, este tipo de votações pode é servir para divulgar alguns blogues que podem andar perdidos na blogosfera.
"Depois da ideia de se elegerem as 7 Maravilhas do Mundo, alguém teve a brilhante ideia de eleger as 7 Maravilhas de Portugal. E como se não bastasse, outra alma iluminada teve a ideia de fazer a votação para as 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa. Bem, depois disto tudo também tive uma ideia... Por a votação as 7 Maravilhas da Blogoesfera.

Regulamento:
1. Podem participar na votação todos os bloggers que mantenham blogues activos há mais de um mês [os outros esperem por outra ideia brilhante que alguém irá ter].
2. Cada blogger deverá referenciar sete nomes de blogs. A cada menção corresponde um 1 voto.
3. Cada blogger só poderá votar uma vez, e deverá publicar as suas menções no seu blog [da forma que melhor lhe aprouver], enviando-as posteriormente para o seguinte e-mail:
7.maravilhas.blogoesfera@gmail.com.
No e-mail, para além da escolha, deverão indicar o link para o post onde efectuaram as nomeações. A data limite para a publicação e envio das votações é dia: 01/07/2007.

4. De forma a reduzir alguns constrangimentos [e desplantes], e evitar algumas cortesias desnecessárias, também são considerados votos nulos:
- Os votos dos blogger(s) em si próprio(s) ou no(s) blogue(s) em que participa(m);
- Os votos no blog O Sentido das Coisas.

No dia 7.7.2007 serão anunciados os vencedores e disponibilizadas todas as votações."
Nomeações:

26 junho 2007

Inovadores # 2 - Minutemen – “Double Nickels On The Dime” (1984 SST)

No início dos anos 80 as bandas da SST sentiam um salutar sentido competitivo, o que tornou possível que quando os Hüsker Dü gravaram o duplo “Zen Arcade”, este trio de californianos pensaram que também deveriam fazer um disco duplo. E o resultado são 45 canções (43 na reedição em CD), de paixão e clareza.
O disco representa os Minutemen e a sua atitude perante a música, a política e a vida.
Desafiando todas as convenções musicais com a sua atitude e experimentação, encontra-mos de tudo neste disco: rock, punk, jazz, folk, funk, blues, country, psicadelismo, spoken-word, e versões dos Creedence Clearwater Revival, Steely Dan ou Van Halen (só no vinil), mas contrariamente à maioria dos grupos punk que realizavam versões irónicas dos artistas que desprezavam, os Minutemen gostavam dos grupos que revestiram.
D. Boon através de confidentes e assertivas vocalizações ultrapassava as suas imperfeições. Não sendo um grande guitarrista, a sua técnica era baseada no “treble”. Mike Watt era/é um dos melhores baixistas de sempre, com o seu estilo jazzy. Com ele o baixo parece que ganha vida. E o baterista George Hurley conseguia fazer sons notáveis com um pequeno “drumkit”. Os Minutemen tinham nas suas fileiras três dotados músicos, que excediam a maioria das bandas punk da altura. Adicionando um “condimento” jazz-funk, criaram um som único.
Como exemplo vejam a forma como em cinco minutos, os Minutemen, passam do funk de “Viet Nam”, pela introspectiva guitarra acústica de “Cohesion”, até aos “drum breaks” de “It’s Expected I’m Gone”.
Cheio de grandes canções na maioria inferiores aos 2 minutos, destacam-se o punk-pistoleiro de “Corona”, o hipnótico “Jesus and Tequila”, essa falsa semi-balada que é “History Lesson-Part II”, e o funky “Anxious Mofo”.
Duas decádas após a sua edição, a sua influência ainda é palpável no trabalho de bandas como os Red Hot Chili Peppers, musicalmente, e os Wilco liricamente/politicamente.
Um marco absoluto no domínio rock alternativo.

15 junho 2007

Classic # 5 - P.I.L. - “Metal Box” (1979 Virgin)

Com o fenómeno punk em declínio, John Lydon estava desencantado e saturado, pois na senda do sucesso dos Sex Pistols, aparecerem muitas pretensas bandas punk, que pouco tinham em comum com o ideal punk. E claro estava no início a longa batalha legal entre Lydon e Malcolm McLaren.
Lydon decidiu que estava na altura de fazer algo diferente. Os Public Image Ltd eram diferentes, muito diferentes.
Após o relativo sucesso do primeiro disco “First Issue”, Lydon continuou a levar a música para outras direcções, e com “Metal Box”, o segundo disco, conseguiu-o, brilhantemente.
Muitas das canções em “Metal Box” são criticas sociais e políticas, algumas referem os seus dias nos Sex Pistols, e mais especificamente como eram explorados e a forma com era esperado que eles “actuassem” não só no palco, mas também como uma espécie de circo ambulante. Lydon não queria nada disso nos P.I.L. E logo no primeiro tema do disco (“Albatross”) encontramos essas referências.
O que distingue este disco é a sua unicidade, e a combinação de 3 factores: a voz distinta de Lydon, as guitarras metálicas de Keith Levene, e o baixo de Jah Wobble, que é a força dominadora deste álbum.
Essa unicidade é evidente e poderá ser entendida ao escutar-se seguidamente a triologia "Memories”, “Swan Lake” e “Poptones”.
Ao ritmo baixo/bateria de “Careering” existe um acompanhamento de um teclado que parece emitir sons retirado de um filme de ficção científica série b. Essa mesma sensação parece estar evidente na vocalização de Lydon em “No Birds”.
Seguem-se duas canções favoritas: “The Suit” conduzida pelo baixo, e um ritmo de bateria simples, mas é a forma monótona de cantar de Lydon que torna o tema sombrio e ameaçador; e “Bad Baby” , também essencialmente comandado pelo baixo, e o com o regresso das teclas alienistas, é um perfeito exemplo da já referida unicidade, onde tudo está perfeitamente em harmonia e sincronia, até a voz de Lydon.
“Socialist” é um instrumental “up-tempo”, que contrasta com o desarticulado “Chant”, onde Lydon usa as repetitivas palavras: “love, war, kill, hate”. E esta canção efectua outra radical transposição para o ultimo tema “Rádio 4”. E como é difícil descrever “Radio 4”, só mesmo ouvindo este tipo de exercício de musica clássica ao estilo P.I.L.. Uma excelente maneira de acabar o disco.
Classificar a música dos P.I.L. e em particular este disco, é impossível, pois não se encaixa em nenhum género, apesar de já ter sido referenciado como uma mistura de “dub-reggae” e “krautrock”.
E para suportar a minha opinião de que esta música não é classificável, quem me explica como é que no meio dos discos de vinil ou nas caixas de CD (conforme seja o caso da edição original ou da reedição em CD), se consegue guardar uma caixa de metal!?!

12 junho 2007

Lanu – “This Is My Home” (2007 Tru Thoughts)

O disco de estreia a solo de Lance Ferguson dos The Bamboos, é uma maravilhosa surpresa, que vem revelar mais um talento que surge da Nova Zelândia, a juntar aos fantásticos Fat Freddy’s Drop ou a Mark Clive-Lowe.
Nota-se um distinto afastamento do som mais “deep-funk” do Bamboos, e uma produção mais intuitiva e sensível.
Assimilando e incorporando diversas influências globais, criou uma notável mistura de “neo-soul”, “nu-jazz”, electrónica, hip-hop e “funk”, que proporcionam uma fascinante viagem, com ritmos e texturas complexas, que relembram o trabalho de outros pioneiros como Roy Ayers, 4 Hero ou Fela Kuti.
Os teclados “electro-funk” Rhodes/Moog em “Dis-Information”, as influências afro-beat de “Mother Earth” (com a colaboração de Quantic), ou o “swing” brasileiro de “Shine” são um excelente exemplo.
Um disco versátil e profundo, com qualidade do início ao fim do disco, que se distingue de tantos projectos de fusão medianos que aparecem hoje em dia.

08 junho 2007

The Pop Group - “Y” (1979 Radar/Rhino)

Oriundos do movimento “post-punk” de Bristol, os The Pop Group nunca tiveram muito a ver com “pop”. Fundindo elementos de free-jazz, reggae, dub minimalista, funk e punk, criaram um assalto sonoro, reminiscente dos movimentos “no wave” e “mutant disco” nova-iorquinos (ESG, Konk, Liquid Liquid), onde o ritmo era a base fundamental.
Produzido por Dennis Bovell, “Y” demonstra uma banda musicalmente muito confiante.
As guitarras eram cortantes, luminosas e intensas, a bateria de Bruce Smith alternava entre ritmos militaristas e explosões sonoras. E o saxofone parecia estar desconectado do resto da banda.
As canções de “Y” ou parecem estar prestes a explodir em estilhaços de vidro ou fragmentos de metal, ou a implodirem num combate rítmico interno.
O vocalista Mark Stewart (que também era o responsável pelas altamente politizadas e polémicas letras) era um inflamatório líder, um sinistro pregador possuído.
Destaca-se também o segundo disco “For How Much Longer Do We Tolerate Mass Murder” que foi editado em 1980 na Rough Trade.
Novamente disponível numa excelente edição da Rhino, que incluiu como bónus o clássico single “She Is Beyond Good and Evil” (na versão original), e o seu lado b “3.38”, “Y” continua a ser um disco chave da era, audacioso, pioneiro e excitante.

06 junho 2007

Do fundo da prateleira # 3 - Jackie-O Motherfucker - “Fig. 5” (2000 Road Cone)

De uma banda com um nome como este, seria de se esperar um som punk-trash.
Mas os Jackie-O Motherfucker são difíceis de classificar, se sonoramente estão próximos do pós-psicadelismo de uns Amon Düül, estão também fortemente enraizados nas tradições da música americana.
Este colectivo de Portland, leva a improvisação e o “jamming” ao extremo, tocando tudo o que possa fazer barulho. E se ao início parece faltar coesão e detalhe, ao longo das audições descobrimos algo magnífico.
Se o tema de abertura “Analogue Skillet” (algo verdadeiramente único) é confusamente estruturado como “drone-rock”, é imediatamente seguido pelo “folk” caleidescópico de “Native Einstein”, e pelo “post-rock” de “Your Cells Are In Motion”. As estruturas do “blues” estão presentes em “Beautiful September (We Are Going There)” e são acompanhadas pela encantadora voz de Honey Owens.
Notável é também a sua versão do tradicional clássico “Amazing Grace”.
Fig. 5 é inovativo, surpreendente e hipnótico.

P.S. Destaco ainda a excelente embalagem de Ben Dury (com trabalhos realizados para a Mo’Wax).

04 junho 2007

Junior Boys - “Dead Horse EP” (2007 Domino)

A qualidade deste disco começa na excelente selecção de artistas de diversas áreas musicais que tornam este ecléctico disco de remisturas diferente da maioria do género. São cinco remisturas no CD (os 12” não tem a mix de Marsen Jules).
Os Hot Chip subvertem “In The Morning” polvilhando-o com sons organicos de sintetizadores e órgãos “Moog”.
A remistura dos Ten Snake é a surpresa do disco, ao transformarem o sereno “FM” numa maravilhosa obra de house minimal.
O mágico Carl Craig pega em “Like A Child” e cria um épico ao chocar sons polidos com interferências industriais.
Kode 9 cria uma viagem futuristica de “deep-dub”em “Double Shadow” despindo-o dos seus traços iniciais e tornando-o irreconhecível.
Marsen Jules aplica a “FM” uma mix fantasmagórica reminiscente de Fennesz.
Estas “remixes” permitem aos temas expandirem-se para destinos não previstos, mas no fim parece mais que natural que assim fosse.

01 junho 2007

My Favorites # 4 - The Magnetic Fields - “69 Love Songs” (2000 Circus)

Stephen Merritt sempre foi um compositor prolífero, tendo gravado para além dos Magnetic Fields, como The 6ths, The Future Bible Heroes ou The Gothic Archies. No entanto, até este disco, a sua obra sempre foi um pouco marginalizada.
Estamos perante três CD’s contendo 69 canções de amor, um excessivo catalogo pop, que cobre todos os géneros, desde o rock até ao country, passando por valsas e punk-rock.
A excelência dos arranjos e a brevidade das canções, todas com menos de 3 minutos (tão básicas e naturais, que nunca tornam o disco pretensioso), utilizando as alternâncias vocais e um arsenal de instrumentos: “ukelele”, banjo, acordeão, piano, flautas, violinos, violoncelos, uma variedade de guitarras e os usuais sintetizadores, fazem com que o ouvinte não se aborreça.
E o que dizer das cativantes e inventivas letras.
Começa com “Absolutely Cuckoo”, ridiculamente engraçada e contagiante. E o mote está dado.
Temos duetos à Sonny & Cher (“Yeah! Oh Yeah!”), baladas românticas (“Come Back from San Francisco”), World Music (“World Love”), o distinto som dos 80 (“I Can´t Touch You Anymore”) ou “60’s standards” (“For We are the King of the Boudoir”), mas Merritt também nos mostra que consegue criar canções surpreendentemente sinceras como “Busby Berkeley Dreams” ou “The Book of Love”. Merritt ainda aproveita para abordar temas que não são abordados em canções pop, ouçam “Papa Was A Rodeo” ou “My Only Friend”.
“69 Love Songs” é um disco que facilmente poderá ocupar toda a nossa vida com a sua inteligente, graciosa, presunçosa e brilhante forma, numa deslumbrante e ofuscante inconsistência que não conseguimos evitar de gostar. Se calhar era essa a sua finalidade.