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07 janeiro 2010

Classic # 23 - The Velvet Underground And Nico- “The Velvet Underground & Nico” (1967 Verve)

Por muitos considerado como o ponto de partida para a música alternativa, este disco realmente alterou a face do “rock”, mas também do “glam”, do “punk”, do “goth” ou do “indie”. Mas 43 anos depois, o que ainda mais surpreende é a sua audácia, a sua diversidade, a sua capacidade de experimentação sonora e a sua originalidade.
Sombrio e introspectivo, é a absoluta antítese, do movimento “hippie” que o resto da América andava a jubilar, e áspero como a cidade onde nasceu.
A música não é complexa, surge dispersa e escorregadia, mas é estranhamente compelível. E a estranha aliança entre Lou Reed e John Cale , fazia com eles experimentassem algo diferente em cada canção, através das hipnóticas espirais de dissonantes guitarras e viola, sempre apoiados pela poderosa bateria de Mo Tucker e com Sterling Morrison a agregar toda a mutilação sonora. Ao juntarem o contraste entre a voz fortemente superficial de Reed e o suave trautear de Nico, e a ilustre escrita de Reed - com referências sinceras e directas ao sexo bizarro e drogas, algo que ninguém tinha coragem para abordar tão abertamente à 40 anos atrás, pois no passado grupos como The Beatles (em “Happiness Is A Warm Gun”) ou The Byrds (em “Eight Miles High”), escreveram sobre os mesmos controversos temas ambiguamente – criaram momentos verdadeiramente únicos.
Começando na volátil, celestial, simultaneamente fascinante e sinistra “Sunday Morning”, passando pelas implacáveis e puramente loucas imagens do completamente soberbo “I'm Waiting For The Man”, pela gentil e sedutora “Femme Fatale”, pelo perturbador e contundente exótico relato sadomasoquista da claustrofóbica “Venus In Furs”, pela a atitude fútil do desbotado “garage” de “Run, Run, Run”, pelo melancólico “avant-garde” de “All Tomorrow’s Parties”, pela assustadora e francamente brilhante confissão no surreal épico “Heroin”, ou pela invulgarmente delicada e encantadora “I’ll Be Your Mirror”, chegamos às duas últimas canções que efectivamente representam a criação do rock alternativo: a convulsiva “The Black Angel’s Death Song” com a feroz e penetrante viola e a poesia absurda de Reed e a abismal batalha instrumental recheada de feedback presente em “European Son”, que absorve por completo o ouvinte.
Certamente Sonic Youth, Suicide, The Jesus and Mary Chain, Pixies, Smashing Pumpkins, My Bloody Valentine, entre outros, não teriam realizado os extraordinários álbuns que fizerem sem a existência deste magnifico monumento ao espírito brutal do “rock’n’roll”.
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30 novembro 2009

Classic # 22 - John Cale – “Music For A New Society” (1982 Ze/Island)

John Cale convida-nos a participar na sua particular viagem através dos sombrios recantos da vida, e nós num total devaneio consciente parece que acompanhamos a sua mente ao longo dessa viagem, recheada de indefinidas ânsias e saudades de algo desaparecido.
Estamos na presença de um disco esplêndido, mas que foi sempre extremamente subestimado na longa carreira de Cale.
Minimal, frugal e espectral (em completo contraste com as experiências “noise” do disco anterior “Honi Soit”), aqui existe uma arrebatadora sensação de desânimo, derrota, traição e desespero, que se senta lado a lado com pungentes passagens de pura beleza, entregues na desamparado e dramática voz de Cale.
Gentis mas perturbadoras baladas como “Taking Your Life In Your Hands”, “Thoughtless Kind”, “Sanities” ou “If You Were Still Around” (com letras de Sam Shepard) surgem acompanhadas por ameaçadoras e desarticuladas colagens sonoras, que substituem os “tradicionais” arranjos “rock”, e que provavelmente serve para demonstrar bem os instintos do ex-Velvet Underground, quer como experimentalista sónico, quer como criador de gentis melodias. Ouçam a forma como a maravilhosa “Risé, Sam & Rimsky-Korsakov”, edifica uma nova forma de expressão.
Um disco profundamente emotivo e inquietantemente pessoal, mas que nos acompanhará para sempre.
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John Cale - Taking Your Life In Your Hands

08 janeiro 2009

Classic # 17 - Brian Eno – “Another Green World” (1975 Island)

Se “Taking Tiger Mountain” (o seu disco anterior), era largamente um maior desdobramento dos temas de maior sucesso encontrados no seu primeiro disco a solo (“Here Come The Warm Jets”), “Another Green World” é uma declaração de independência artística, que nada deve aos seus antecessores. Eno extraiu muita energia e confiança das suas bem sucedidas colaborações com músicos como John Cale, Phil Manzanera e particularmente Robert Wyatt. A aparentemente fragmentária construção de “Another Green World” recordava o último de Wyatt, “Ruth Is Stranger Than Richard”. Os dois discos têm uma qualidade aventureira, e um sentimento de espontaneidade e imprevisivilidade.
A intenção de Eno para este disco era dispensar a disciplina tradicional de gravação e de criar em estúdio um ambiente que iria precipitar, através de ideias e propostas acidentais, a concepção e captura de estratégias oblíquas num processo que não tivesse um objectivo específico ou predeterminado. A música resultante é o resultado da interacção entre várias combinações de oito músicos totalmente complacentes com a experimentação. E se o imprevisível sempre foi adoptado por Eno como uma fonte viável de informação e inspiração, aqui a proeza, é a sua habilidade de orquestrar os diferentes estados e atmosferas produzidas ao longo da construção do disco de forma a submeter os estilos e as texturas sonoras numa única dimensão.
A maior parte do disco possui uma extraordinária e incandescente beleza que ocasionalmente dá lugar a uma mais sombria e sobrenatural tranquilidade. “St.Elmo’s Fire” é uma brilhante ilustração da primeira qualidade: abre com uma complexa matriz rítmica dispersa através dos altifalantes seguida pela voz de Eno à deriva pelo meio de um bruma de subtis enfeites de teclados. A guitarra de Robert Fripp subitamente surge numa brilhante cascata de som, delicadamente realçando o tom predominante da canção com enorme destreza. Este tema está em directo contraste, com a compulsiva cadência rítmica de “Sky Saw” e “Over Fire Island”, que também contêm a claridade glacial que caracteriza “Becalmed” e a excepcional sequência final, “Spirits Drifting” - a brilhante perfeição desta composição é arrepiante. “Golden Hours”, “Zawinul/Lava” e “Everything Merges With The Night” confiam no inegável efeito da pouca complexidade. E assim, o disco, como um todo, é marcado por uma surpreendente frugalidade e uma refrescante ausência da dispensável decoração auricular.
Altamente recomendado.
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18 novembro 2008

Classic # 16 - Patti Smith - “Horses” (1975 Arista)

Um dos discos de estreia mais escandalosamente original, em 1975, “Horses”, foi fundamental para estabelecer a nova estética “punk” que alterou as regras do “rock” para sempre, mas catalogar Patti Smith não é fácil, pois a sua música transcende qualquer género musical. Iconoclasta abre o disco com a referência (“Jesus died for somebody’s sins, but not mine”), reinterpretando o velho clássico “Gloria”, de uma forma rude, determinada e provocadora. Está dado o mote para o resto do álbum: sem limites.
Produzido por John Cale, o disco está recheado de perturbadores, mas vivos relatos de sexo e violência, com temas que abordam a violação homossexual, a luxúria e até o suicídio, onde somos transportados para um halucinatório e perigoso sub-mundo. Intensa e poética, no entanto simultaneamente genuína e sincera, ela fez com que as suas “faladas/cantadas” letras se tornassem não só compelíveis, mas também credíveis.
Nunca ninguém verdadeiramente conseguiu restabelecer a originalidade criada por Smith.
É evidente a dramática estrutura das canções: a esperançosa “Free Money” com a sua mutação da bela balada de piano até o mais puro “rock”, o surrealismo evocativo de “Kimberly”, a pesarosa e gentil “Redondo Beach” com as suas influências “ska” e arranjos de sintetizador, o belo hino “Break It Up” que se eleva continuamente e que conta com o contributo de Tom Verlaine dos Television, as duas encantatórias invocações de fantasmas passados - a sublime e emocional “Birdland” (baseado em “Book of Dreams” de Wilhelm Reich), que nos transporta da plenitude até ao êxtase na sua complexa estrutura lírica e musical e a cinemática “Land”, violentamente erótica, com uma transcendente parte vocal e um extraordinário trabalho de guitarra – até à suicida “Elegie”que fecha assustadoramente o disco (escrita a meias com Allan Lanier dos Blue Oyster Cult, tal como “Kimberly”). Convém acrescentar que isto tudo não seria possível sem a excelente banda, liderada por Lenny Kaye, que a acompanhou.
“Horses” será um percursor do “punk”, primeiramente porque antecipou aquele género sonoramente antes da sua materialização, no entanto também porque antecipou o espírito do “punk” pela retrospecção dos velhos dias do “rock’n’roll” e capturar a sua juvenil e inspirada essência.
A sua influência foi óbvia e está presente em P.J.Harvey ou Liz Phair, em outras, ou até mesmo nas Sleater-Kinney. E como a icónica capa com a fotografia de Robert Mapplethorpe o testemunha, Patti Smith é a original Riot Grrrl.
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29 abril 2008

Compilação # 1 “Artificial Intelligence” (1992 Warp)

Apesar de John Cale ter popularizado o termo “Artificial Intelligence” no seu álbum de 1985, seria esta compilação da editora Warp a responsável (pelo menos para mim) pelo ressurgimento da música electrónica como uma experiência musical audível, ou se preferirem música de dança para se “escutar”. Iriam rotula-la de IDM – Intelligent Dance Music).
Rob Mitchell e Steve Beckett, fundadores da Warp, andavam atentos e descobriram que existiam muitos projectos musicais de dimensão similares, e decidiram criar um espaço onde pudessem conviver.
É certo que já tinham existido as experiências anteriores dos KLF ou The Orb que criaram um primeiro género de “ambiente house”, e que os artistas aqui presentes foram sem dúvida influenciados pelos Tangerine Dream ou Kraftwerk, mas souberam pegar em todas essas influências e expandiram-nas para criar algo verdadeiramente único.
Apesar das contribuições de muitos dos projectos aqui presentes (maioritariamente sobre a forma de pseudónimos), não serem tão interessantes como os seus trabalhos posteriores, seria desta forma que muitas pessoas iriam contactar pela primeira vez com nomes como Aphex Twin (como Dice Man), B12 (como Musicology), Black Dog (como I.A.O.) ou Autechre. E felizmente todos rapidamente iriam aprender a explorar e potenciar este novo espaço musical através de álbuns notáveis para a Warp.
Independentemente disso, muita da música aqui contida ainda hoje soa moderna e inovadora, especialmente os temas dos Autechre (“Crystal” e “The Egg”), dos I.A.O. (“The Clan”), e o esquecido “Spiritual High” dos UP! (mais uma maravilha criado pelo génio de Richie Hawtin).
Um pedaço de história.

16 março 2007

Classic #1 - The Modern Lovers – "The Modern Lovers" (1976 Beserkley)

Formados em Boston no início dos nos 70, são por muitos considerados como percursores do punk. Eram diferentes da maioria das bandas do início dos anos 70 (onde a decadência era o mote), pela sua forma de estar e de vestir. Com as suas actuações ao vivo, os Modern Lovers, chamaram a atenção da Warners, que os convidou a gravar uma demos em 1972/73, metade das quais seriam produzidas por John Cale. Mas quando Jonathan Richman disse que não pretendia tocar as canções ao vivo, a Warners anulou o contrato e não lançou o disco. Em 1976, Matthew Kaufman deixou a Warners para formar a Besrkley, e editou o disco com as demos gravadas em 1972/73. E apesar de não ser um álbum no verdadeiro sentido da palavra, este disco é o seu manifesto. É o disco que marca uma fase do som americano da época com a passagem das experiências psicadélicas (expoente máximo Velvet Underground ) para um rock cru e rudimentar. Canções de angústia, neuróticas, recheadas de comentários sociais introspectivos, e com letras adolescentes e bizarras (o que pretende com “Hospital”).
As canções não negam as influências de Lou Reed, em especial na forma como Richman canta e toca guitarra, ouçam “Astral Plane”, “Pablo Picasso” e “Someone I Care About”. O som é reforçado com o complemento musical providenciado pelo orgão Farfisa de Jerry Harrison.
E claro, contém esse clássico rock “on-the-road” que é “Roadrunner”.
Para mim, é esse som primitivo, em combinação com a voz nasal de Richman que faz com que este disco seja tão especial.