23 janeiro 2009

Inovadores # 11 - Pere Ubu - “The Modern Dance” (1978 Blank) / “Dub Housing” (1978 Chrysalis)

Um dos grupos mais importantes dos últimos 30 anos, os Pere Ubu, formaram-se em Cleveland, uma cidade industrial orgulhosamente decadente, que fomentou o sentimento de reclusão e a simpatia pelas ruínas da industrialização que serviriam de inspiração para a formação dos mesmos.
Liderados pelo seu ideólogo e arauto, David Thomas, descrevem um mundo onde os propósitos foram modificados e servem a banda-sonora desse mesmo mundo em mutação.
Embora afastados de Nova Iorque, de onde eclodiu o “punk”/ “new wave” americano – Patti Smith, Television, Talking Heads – os Pere Ubu estavam próximos em temperamento, eram o lado sombrio dessa geração. Tiveram poucos antecedentes e poucos seguidores (só se referenciar-mos o projecto embrião Rocket From The Tombs), nesta sonoridade muito própria, que decididamente não será “punk” (nem sei se eles próprios o sabiam), mas que resulta na singular mistura do “art-rock” de Captain Beefheart, com as indolentes texturas “avant-garde” – os ritmos opostos, as guitarras dementes, a temerosa electrónica, o abstracto “noise”, as vibrantes psicóticas vocalizações de Thomas – gerando um importuno mas vigoroso “rock”.
Os seus dois primeiros discos são realmente especiais, fenomenalmente inventivos e proféticos, onde temos que reconsiderar todas as ideias preconcebidas do que é harmonia, melodia e ritmo.
Em “Modern Dance” (1978) (com a sua exótica capa - um trabalhador operário do antigo regime soviético com sapatos de “ballet”) Thomas canta sobre a sua incapacidade de comunicar, sobre a sua confiança na namorada para protege-lo contra o mal, ou sobre o pânico resultante da possibilidade de relações íntimas, e divide-se entre um gorjeador melodioso ou um relinchar explosivo. Destacam-se obviamente a pós-traumatica “Non-Alignment Pact” e “Life Stinks” que ainda hoje soam agressivas e niilistas, e ainda a psíquica “Sentimental Journey”, “Street Waves”, “Real World” e “Humor Me”.
Em “Dub Housing” a mescla é fantástica, desde as contagiantemente “funky” “Navvy” ou “On The Surface”, passando pelas experimentações “noise” de “Thriller” ou “Blow Daddy-o”, pela levemente oscilante “Drinking Wine Spodyody”, pelo “psico-pop” de “Ubu Dance Party”, ou a brilhante “Caligari’s Mirror”, que captura magnificamente a tensão entre paranóia e hilaridade, sempre presente na gelada tonalidade que percorre este disco, com Thomas completamente psicótico, a derramar torrentes de conscientes divagações que obviamente influenciaram Black Francis e os seus Pixies.
Uma experiência nada fácil.
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Pere Ubu - Non-Alignment Pact
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Pere Ubu - Navvy

20 janeiro 2009

Grouper – “Dragging A Dead Deer Up A Hill” (2008 Type)

Grouper é o projecto muito pessoal da enigmática Liz Harris. E se os primeiros discos, desta originária de Portland, eram mais baseados em “drones” de guitarra e muito mais abstractos, neste terceiro, onde ainda continuam presentes os murmúrios minimalistas, existiu uma expansão e desenvolvimento sonoro, onde Harris reduziu a quantidade de distorções e introduziu muitos mais rudimentares dedilhados de guitarra acústica que permitiu tornar a sua voz mais límpida.
Um disco introspectivamente melancólico calorosamente emocional que merece grande elogio e atenção – pela utilização de delicadas estruturas sonoras baseadas nas arrepiante mas serenas e ininteligíveis vocalizações e nas assombrosas mas calmantes guitarras carregadas de efeitos sobre arrebatadores “drones” ambientais.
Apesar da presença única de Harris na guitarra e vocalizações, ambas são multiplicadas, causando uma ressonância das mesmas, tornando estupendamente rica a atmosfera sonora, e dando ao disco uma estranha e inexplicável coesão. E apesar do seu perturbador titulo e da arrepiante fotografia da rapariga com o chapéu preto na capa, existe uma grande profusão de beleza evidente em canções como a absolutamente fabulosa “Heavy Water/I’d Rather Be Sleeping”, a excelentemente construída “Disengaged”, a assustadora “Invisible”, as atmosféricas “Wind And Snow” e “Tidal Wave”, ou a ritmada “Fishing Bird”.
Uma “pop-drone” experimental onde as comparações com Cocteau Twins podem justificar-se pelas sedutoras vocalizações de Harris, mas a sua atmosférica temerosa e as dissonantes harmónicas “folk” relembram também o trabalho de Andrew Chalk.
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19 janeiro 2009

The Fall @ CdM - 17.01.2009

A espera pela prestação ao vivo de uma das mais lendárias bandas de todos os tempos era grande. E o aperitivo foi um excelente jantar acompanhado pelos distintos bloggers April Skies, Classe de 70, Dedos Bionicos, Gravilha, Mouco, O Puto, elementos de uma das melhores bandas nacionais, e de uma loja de referência do Porto.
A recepção foi efectuada com uma curiosa e interessante manipulação vídeo-sonora de gente diversa como Eurythmics, Elvis Presley (esta particularmente brilhante) ou Barbra Streisand, que preparou a entrada da banda em palco.
Como previsto a prestação incidiu sobre “Wax Imperial Solvent”, o ultimo de originais do grupo e um dos melhores da última década.
Para além da presença carismática em palco de Mark E. Smith, que alguém brilhantemente comparou a Mr. Magoo - cujo momento alto foi a leitura das letras a partir de um folha de papel de costas viradas para a audiência - ficou na memória de todos os presentes a forma fenomenal como transformaram “50 Year Old Man” ou “Reformation!” em autênticos exercícios frenéticos de transe psicadélico, com destaque para a excelente performance da banda que actualmente acompanha MES, e que excluindo Elena Poulou (a actual Sra. Smith), apenas estão juntos desde 2006. Parecem que estão dispostos a aturar MES - como sempre a mexer nos amplificadores do guitarrista e do baixista.
Para todos os fieis seguidores faltou o regresso aos anos 80, e dessa época o máximo que MES retrocedeu foi até 1988 com “Carry Bag Man”, e se para o encore existiam expectativas em todos para que os seus desejos pessoais - “Mr.Pharmacist”, L.A.”, “Victoria” – fossem realizados, nem à década de 80 foram, ficaram por 1991 com uma das várias “covers” que sempre realizam, neste caso a honra couve a “White Lightning”.
Este é o seu mundo e nem todos são convidados, e como o próprio diz: “I’m a 50-year-old-man”… “and i like it”…

15 janeiro 2009

The Fall – Discografia Selectiva


“Dragnet” (1979 Step Forward)
O som claustrofóbico, tenebroso de uns amadores ranhosos a explorar os nossos nervos. Os regalos incluem o funesto “Flat Of Angles” e “Psykick Dancehall”.

“Grotesque (After The Gramme)” (1980 Rough Trade)
A primeira verdadeiramente grande obra. Foi aqui que os Pavement se inspiraram. A combinação entre o entusiasmante pop-psicadélico e a perversa melancolia – conseguiam ser simultaneamente contagiantes e repugnantes. Melhores faixas: “Container Drivers”, “English Scheme”, “New Face In Hell” e o manifesto “N.W.R.A.” que definiu a sua continuidade.

“Hex Enduction Hour” (1982 Kamera)
“Denso e desordenado. Um massivo desmoronamento de “noise” e histórias ocultas. Um crítico descreveu-o como “música criada para torturar imbecis”. Inclui “The Classic” e “Hip Priest”, que iria ser incluída na banda-sonora de “O Silêncio dos Inocentes”.

“The Wonderful And Frightning World Of The Fall” (1984 Beggars Banquet)
O avanço gradual para a normalidade “pop” com a produção a cargo de John Leckie e já com Brix Smith a bordo. O maravilhoso “Disney’s Dream Debased” está aqui presente, assim como o bombasticamente sangrento “The Lay Of The Land”. Soberbo.

“This Nation’s Saving Grace” (1985 Beggars Banquet)
Provavelmente o melhor disco. Novamente com Leckie, recheado de “riffs” gigantescos e batidas propulsoras, foi aqui onde estiveram o mais próximo do “rock tradicional”, mas ainda bastante afastados do “pop”. Aqui estão presentes a colérica e psicologicamente opressiva sátira de “Spoilt Victorian Child”, o presciente “L.A.” e “I Am Damo Suzuki”, o tributo ao vocalista dos Can.

“Bend Sinister” (1986 Beggars Banquet)
Ao longo do disco prevalece um imenso pessimismo, neste sombrio endereço à mediocridade e ao caprichismo da sociedade. Inclui “Mr. Pharmacist” e “Dktr Faustus”. Seria o fim da associação com John Leckie.

“The Frenz Experiment” (1988 Beggars Banquet)
Quando nos apercebemos que a nossa mente está a ser controlado por este disco, já é tarde demais. Entre a tranquilidade (“The Steak Place”) e a violência (a oculta perversidade de “Bremen Nacht”). Inclui ainda a bem sucedida versão de “Victoria” dos The Kinks.

“Extricate” (1990 Phonogram)
A presença de Adrian Sherwood e dos Coldcut, abrangeu o uso de mais tecnologia (sintetizadores e caixas de ritmos) que conseguiram estimular a banda – “Sing! Happy” rouba a ”Little Doll” dos The Stooges, enquanto o fabuloso “Bill Is Dead” demonstra subtileza. Fabuloso.

“The Infotainment Scan” (1993 Permanent)
Profundamente sintético, consegui entrar no Top 10 das tabelas de vendas britânicas. Apesar de “Glam Racket” ser inconsciente nostálgico e “Paranoia Man In Cheap-Shit Room” ser excentricamente autobiográfico. Um dos seus melhores álbuns.

“The Unutterable” (2000 Eagle Rock)
A velha fórmula – “rock’n’roll”visceral esboçado por cima de abstracções – é completamente implementada. Produzido por Grant Showbiz (que também realizou “Dragnet”) também inclui uma canção sobre William Blake, tal como “Dragnet”.

“Reformation Post-TLC” (2007 Slogan)
Mais uma vez após ter perdido uma formação numa tournée nos Estados Unidos, juntou membros de bandas de Los Angeles, e o resultado foi uma energética união de “riffs”, declamação e tecnologia, entregue com os mesmos níveis de vigor de outros tempos.
E ainda temos os vários singles:
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14 janeiro 2009

Tributo # 9 - The Fall

Se visualizarmos uma das primeiras tabelas de vendas independentes do Reino Unido em 1979 encontramos obscuridades como os Splodgednessabounds ou The Vibrators, mas também encontramos um grupo desse período que nunca parou. Imunes às modas, unicamente auto-confiantes e possivelmente o mais desprezível grupo de sempre, os The Fall e o seu implacável ditador Mark E. Smith perduram.
Ao longo de 33 anos, em 17 diferentes editoras, através de mais de 40 membros, entregaram-nos cerca de 60 discos oficiais, sendo 27 de gravações originais e a sua história é imensa.
Elogiando The Stooges, Can e a música “reggae” anos antes de todos se tornarem objectos de moda, Mark E. Smith formou os The Fall em Salford, Manchester no final de 1976. O seu primeiro disco foi o EP “Bingo-Master’s Breakout” em 1978, uma bizarra história de um mal fadado jogador de bingo, executado por uma banda que não sabia tocar e um vocalista que não sabia cantar, ainda hoje subsiste brilhantemente. Um ano depois surge o primeiro álbum – “Live At The Witch Trials” – a veloz percussão, os inarmónicos teclados baratos e as gatafunhadas guitarras já fariam este disco muito perturbador, mas Smith “ladrando” histórias de terror e farsas psicóticas por cima das mesmas, dizia mais sobre “punk rock” que muitos dos discos da altura. O segundo disco de 1979 –“Dragnet” – viu a chegada do guitarrista Craig Scanlon e do baixista Steve Hanley – e uma espécie de núcleo central formou-se. As contínuas edições de discos determinaram um standard para uma implacável produtividade. A ideia comum era que os The Fall tinham muito mais ideias que a maioria dos contemporâneos. Essa abundância de material era continuada nas letras que eram uma verdadeira confusão mental, e a essência dos The Fall - não-partidários, visões tangenciais, sátira social e uma aversão à sofisticação urbana.
Em 1983, com o seu casamento com a guitarrista Brix Smith, a sonoridade suavizou para formatos “pop” mais reconhecíveis. E descortesmente, na década seguinte os The Fall perseguiram um rota mais comercial que anteriormente. No final dos anos 80 incorporaram alguns elementos de programação electrónica, cuja experimentação atingiu o auge em “The Infotainment Scan” de 1993. No entanto em 1995, aquando da edição de “Cerebral Caustic”, tornou-se claro que um tipo de deterioração se instalou. Os concertos tornaram-se cada vez mais erráticos, culminando com uma cisão total depois de uma luta em palco entre Smith e os restantes membros, em Abril de 1998 na cidade de Nova Iorque – a saída de Hanley, um dos membros mais antigos, e que discutivelmente era tão crucial como Smith, poderia indiciar o fim do grupo.
Mas tal como muito erradamente muitos citam o início dos anos 80 como o único período valido dos The Fall, uma lição é que nunca sabemos o que esperar desta banda. Rapidamente uma nova formação se agrupou, e os concertos e gravações recomeçaram, e já em “The Unutterable” (2000) a banda soava totalmente inspirada. E ainda hoje, numa altura onde a musica “underground” é cada vez mais difícil de se identificar, Mark E. Smith continua a ser o seu padrinho.
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The Fall - Bingo Master's Break Out

12 janeiro 2009

Do fundo da prateleira # 13 - Cardinal – “Cardinal” (1994 Flydaddy)

Para mim, o australiano Richard Davies e o americano Eric Mathews nunca conseguiram igualar, nas suas carreiras a solo, o modesto esplendor deste disco único. Editado numa época onde o movimento “grunge” era verdadeiramente dominador, o duo criou, sem grandes pretensões, este belo e assombroso disco, que é um dos mais melodicamente e liricamente inesquecíveis dos anos 90.
Dez faixas maioritariamente escritas por Davies, mas que Matthews adorna cada uma perfeitamente com os seus singularmente barrocos arranjos “pop”. Se formos a citar influências, seria algures entre os Beach Boys de “Smile”, os Beatles de “White Album” e Syd Barrett, mas todas as canções têm uma vida própria, pois o que é extremamente satisfatório neste disco, é que eles pegaram nessas mesmas influências e renovaram-as em vez de as reciclar. E assim “Cardinal” não é uma reversão, pois eles criam uma música resoluta, aterradoramente cheia de profundidade e originalidade.
As harmoniosas canções são delicadas na sua construção, próprias para o tom sombrio e melancólico que enfeita as mesmas, e mesmo quando as letras desmentem a sonoridade, o disco tem sempre um triste e ansioso sentimento presente, como acontece em “You’ve Lost Me There” um dos destaques aqui presentes. A esta canção podemos adicionar ainda, como momentos memoráveis, “If You Believe In Christmas Trees”, “Big Mine”, “Dream Figure” e “Silver Machines”.
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09 janeiro 2009

Compilação # 4 - “Nuggets: Original Artyfacts from the First Psychedelic Era, 1965-1968” (1972 Elektra)

Originalmente editado em 1972, “Nuggets” é uma terrivelmente fabulosa colecção que reúne algumas das maiores descobertas dos tesouros perdidos do rock. Compilado por Lenny Kaye, colaborador de Patti Smith, incluía uma pletora de gravações de bandas de “garage-rock” pouco conhecidas com pequenos êxitos.
E se a palavra “psicadélica” que consta no título pode afastar alguns, esqueçam, pois as movimentadas e cintilantes cores e luzes e viagens intergaláticas com a mente só chegaram no início da década de 70.
Aqui, esta “primeira era psicadélica” é assente nas ondulantes guitarras, nos órgãos Farfisa, e em pequenos sistemas sonoros. Mais próximos da urgência do “punk” e da “new wave”, pela sua espontânea explosão de testosterona, as ousadas guitarras e o simbolismo dos 7”, tornou-se um critério de referência para esses movimentos. E muitas das raízes estão aqui bem presentes, desde o proto-punk dos The Seeds com “Pushin' Too Hard” ou em “Dirty Water” dos The Standells, o garage punk dos Count Five em “Psychotic Reaction”, o proto-metal dos Amboy Dukes em “Baby Please Don’t Go”, o punk-psicadélico dos The Magic Mushrooms em “It’s-A-Happening”, ou a incompreensível experimentação dos The Castaways em “Liar Liar“.
Vamos esquecer-nos momentaneamente dos Beatles, de Bob Dylan, e de outros revolucionários culturais, “Nuggets”, é uma simples colecção que captura a alegre estética que atraiu os “teenagers” e celebra o básico ideal do “rock”: qualquer um consegue gravar um disco e editá-lo, habilitando-se a ter um sucesso.
A Rhino iria editar mais recentemente uma caixa com 4 discos, mas esta colectânea, a primeira de revelo da era do “rock moderno”, é mais concisa e fundamental com uma avalanche do mais rude e estranho que o rock dos anos 60 ofereceu, e que três décadas depois continua a demonstrar o resplandecente aprumo de quem o realizou.
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The Standells - Dirty Water

08 janeiro 2009

Classic # 17 - Brian Eno – “Another Green World” (1975 Island)

Se “Taking Tiger Mountain” (o seu disco anterior), era largamente um maior desdobramento dos temas de maior sucesso encontrados no seu primeiro disco a solo (“Here Come The Warm Jets”), “Another Green World” é uma declaração de independência artística, que nada deve aos seus antecessores. Eno extraiu muita energia e confiança das suas bem sucedidas colaborações com músicos como John Cale, Phil Manzanera e particularmente Robert Wyatt. A aparentemente fragmentária construção de “Another Green World” recordava o último de Wyatt, “Ruth Is Stranger Than Richard”. Os dois discos têm uma qualidade aventureira, e um sentimento de espontaneidade e imprevisivilidade.
A intenção de Eno para este disco era dispensar a disciplina tradicional de gravação e de criar em estúdio um ambiente que iria precipitar, através de ideias e propostas acidentais, a concepção e captura de estratégias oblíquas num processo que não tivesse um objectivo específico ou predeterminado. A música resultante é o resultado da interacção entre várias combinações de oito músicos totalmente complacentes com a experimentação. E se o imprevisível sempre foi adoptado por Eno como uma fonte viável de informação e inspiração, aqui a proeza, é a sua habilidade de orquestrar os diferentes estados e atmosferas produzidas ao longo da construção do disco de forma a submeter os estilos e as texturas sonoras numa única dimensão.
A maior parte do disco possui uma extraordinária e incandescente beleza que ocasionalmente dá lugar a uma mais sombria e sobrenatural tranquilidade. “St.Elmo’s Fire” é uma brilhante ilustração da primeira qualidade: abre com uma complexa matriz rítmica dispersa através dos altifalantes seguida pela voz de Eno à deriva pelo meio de um bruma de subtis enfeites de teclados. A guitarra de Robert Fripp subitamente surge numa brilhante cascata de som, delicadamente realçando o tom predominante da canção com enorme destreza. Este tema está em directo contraste, com a compulsiva cadência rítmica de “Sky Saw” e “Over Fire Island”, que também contêm a claridade glacial que caracteriza “Becalmed” e a excepcional sequência final, “Spirits Drifting” - a brilhante perfeição desta composição é arrepiante. “Golden Hours”, “Zawinul/Lava” e “Everything Merges With The Night” confiam no inegável efeito da pouca complexidade. E assim, o disco, como um todo, é marcado por uma surpreendente frugalidade e uma refrescante ausência da dispensável decoração auricular.
Altamente recomendado.
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06 janeiro 2009

Best of 2008

Algum dinheiro extra recolhido nesta fase de Natal e aniversário (é verdade), ainda permitiu a aquisição de mais alguns discos, e após muita “reflexão”, anexo a sempre polémica lista dos melhores do ano. Como é sempre difícil a ordenação, a selecção está por “grupos”, para ser mais democrático.

Top 5
Deerhunter – “Microcastle” (Kranky)
Fleet Foxes – “Fleet Foxes” (Bella Union/Sub Pop)
Nick Cave & The Bad Seeds – “Dig!!! Lazarus Dig!!!” (Mute)
Portishead – “Third” (Island)
TV On The Radio – “Dear Science” (4AD)

Top 15
Atlas Sound - “Let the Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel” (Kranky)
Bon Iver – “For Emma, Forever Ago” (Jagjaguwar)
Drive-By Truckers – “Brighter Than Creation’s Dark” (New West)
Foals - "Antidotes" (Transgressive)
High Places – “High Places” (Thrill Jockey)
My Brightest Diamond – “A Thousand Shark’s Teeth” (Asthmatic Kitty)
Ra Ra Riot - “The Rhumb Line” (Barsuk)
The Ruby Suns – “Sea Lion” (Sub Pop)
Why? – “Alopecia” (Anticon)
Young Knives – “Superabundance” (Transgressive)

Top 40
Awesome Color – “Electric Aborigines” (Ecstatic Peace)
Beck – “Modern Guilt” (XL)
Bonnie “Prince” Billy – “Lie Down In The Light” (Drag City)
British Sea Power – “Do You Like Rock Music?” (Rough Trade)
DeVotchka - “A Mad & Faithful Telling” (Anti)
Erykah Badu – “New Amerykah Part One (4th World War)” (Motown)
Evangelista - “Hello, Voyager” (Constellation)
Foge Foge Bandido – “Foge Foge Bandido” (Turbina)
Fuck Buttons - “Street Horrrsing” (ATP)
Fujiya & Miyagi – “Lightbulbs” (Grönland)
Human Bell - “Human Bell” (Thrill Jockey)
No Age – “Nouns” (Sub Pop)
Mogwai – “The Hawk Is Howling” (Rock Action)
Ricardo Villalobos – “Vasco” (Perlon)
Robert Forster - “The Evangelist” (Yep Roc)
Santogold – “Santogold” (Downtown/Lizard King)
School of Language - “Sea From Shore” (Thrill Jockey)
Spiritualized – “Songs In A&E” (Fontana)
Stereolab - “Chemical Chords” (4AD)
The Fall – “Imperial Wax Solvent” (Sanctuary)
The Kills – “Midnight Boom” (Domino)
The Walkmen – “You & Me” (Gigantic)
The Week That Was – “The Week That Was” (Memphis Industries)
Two Banks of Four - “Junkyard Gods” (Sonar Kollektiv)
Xiu Xiu - “Women as Lovers” (Kill Rock Stars)