30 agosto 2010

Foals – “Total Life Forever” (2010 Transgressive)

Depois do ataque declamatório do seu disco de estreia - “Antidotes” - aqui surge uma tranquilidade e uma profundidade de emoções que os Foals nunca antes tinham abraçado.
É evidente uma maior ambição e uma maior maturidade, o que sugere que a prioridade da banda foi racionalizar a sonoridade “indie” mais acessível, que foi de alguma forma criticada no disco de estreia. É certo que as características guitarras encharcadas de agudos ainda permanecem, mas agora elas servem para adicionar sabor ao invés de conduzir as músicas, e também o vocalista Yannis Philippakis melhorou, e o seu emocional e arrepiante desempenho está a quilómetros de distância do seu indiscutivelmente repetitivo uivar do passado. Assim o som global é mais expansivo e a produção mais “calorosa”, eles expandiram consideravelmente a sua gama musical e combinaram todas as suas forças, mas raramente soam previsíveis.
Destacam-se a pálida e límpida “Blue Blood”, que lentamente acumula vigor antes de explodir num coro glorioso e num duplo serpentear de guitarras, e “Spanish Sahara”, que é inicialmente paciente e metódico, sendo os elementos adicionados gradualmente de forma a refazerem uma completamente satisfatória construção rítmica. Mas ainda temos as delícias “pop” de “Miami”, as texturas sensuais de “Black Gold” e “2 Trees”, a arrojada escultura melódica de “Total Life Forever”, as cintilantes guitarras e as camadas atmosféricas de sintetizadores de “This Orient”, as belíssimas melodias de “Alabaster” ou a simplicidade tribal de “What Remains”.
É pois a ambiguidade de estilos, e a insistência em levar o ouvinte ao longo de uma intensa viagem, que faz de “Total Life Forever” uma declaração de intenções infinitamente interessante.
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27 agosto 2010

Covers # 14

Para encerrar o ciclo dos ultimos posts que estavam relacionadas com a editora 4AD, andei pela prateleira e encontrei estas versões:


Um das bandas mais bizarras que esteve na 4AD, recriou este tema que acabou por ser um inesperado sucesso no inicio da decada de 80:



Das poucas "covers" que os Pixies realizaram, esconderam uma no lado B do single "Velouria", para o pretenso "padrinho" do "grunge"


E em relação aos Pixies, a sua influência é enorme e não faltam "covers":





23 agosto 2010

Rock # 16 - Pixies – “Surfer Rosa” (1988 4AD)

Na sequência do surpreendente mini-LP “Come On Pilgrim”, este mortífero disco de estreia dos extraterrestres de Boston é tudo o que viria a ser futuramente afinado para o impecável “Doolittle” e novamente “rasgado” para “Trompe Le Monde”.
Brilhantemente desalinhado, explosivo, sujo e cru, para além das reflexões mais delirantes dos Sonic Youth, esta sonoridade era basicamente inédita na época. É uma soberba mistura da melhor capacidade de composição, de letras loucas e perturbadoras, de guitarras abrasivas e de uma melodia verdadeiramente impressionante.
Black Francis surge aqui mais psicótico do que nunca, as suas vocalizações alternam entre gritos e pensativas reflexões, Joey Santiago continua a provar que é um dos mais subestimados guitarristas de sempre, e o estrondoso rufar de David Lovering dá às músicas uma qualidade superlativa.
Tal como os Velvet Underground, os Pixies sempre tiveram os seus lados mais abrasivos e mais suaves, e foram capazes de os demonstrar num registo único, e muitas vezes dentro da mesma música.
Este é o mais resoluto, áspero e agudo disco, menos filtrado, as canções são editadas para eliminar qualquer nota que não seja absolutamente necessária – isto claro obra de Steve Albini – e assim elas surgem brutais, com guitarras altamente distorcidas e letras sobre incesto e injúrias, mas no entanto são bastante cativantes e melódicas.
Desde o soco inicial dado pelos clássicos por excelência, o enlouquecido e desafiante “Bone Machine” e o rápido e furioso “Break My Body”, passando pela deliciosa interpretação de Kim Deal em “Gigantic” (um assombroso e assustador hino sobre o voyeurismo infantil), pela excelentemente intensa “River Euphrates”, ou pela arrepiante beleza do inesquecível “Where Is My Mind?”, o clímax do álbum, e uma das melhoras músicas dos anos 80.
Um grande disco que provou ser massivamente influente em praticamente todas as futuras áreas do rock alternativo.
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13 agosto 2010

My Favorites # 21 - This Mortal Coil – “It’ll End In Tears” (1984 4AD)

Um projecto criado na mente de Ivo Watts-Russell, onde membros de vários grupos da 4AD como Cocteau Twins, Dead Can Dance, The Wolfganf Press ou Colourbox trabalharam conjuntamente para escreverem canções e para realizarem surpreendentes versões de temas popularizados por Tim Buckley, Roy Harper ou Alex Chilton dos Big Star. A perspectiva era intimadora mas funcionou incrivelmente bem e seria um epítome e uma óptima introdução para do som 4AD.
Com tanta gente a trabalhar num disco, é natural que as sonoridades sejam bastante diversificadas. É evidente a diferença entre Howard Devoto a cantar o devastador “Holocaust” (original Alex Chilton) com o seu piano e violoncelo, para a turbulenta guitarra “indie” de “Not Me”, original de Colin Newman dos Wire.
Destaca-se o grande momento mágico, dominado pelos Cocteau Twins, na surpreendente versão, verdadeiramente de cortar a respiração, pela calmante cadência espiritual propositada por Liz Frazer, para “Song To The Siren”, o hino a uma sereia de Tim Buckley. Mas ainda a dolorosamente sedutora “Kangaroo” (original de Alex Chilton) cantada por Gordon Sharp, que nunca conseguiu com a sua banda - CindyTalk – atingir a graça que obteve neste álbum, a assustadora voz hipnótica de Lisa Gerard em “Dreams Made Flesh”, ou o exótico “Barramundi”, obra de Simon Raymond (baixista dos Cocteau Twins) que com a sua natureza obscura cria uma sonoridade verdadeiramente gótica. No entanto, e apesar de todos esses contrastes, cada faixa tem uma ligação estreita. É quase como se estivesse-mos a seguir um caminho espiritual.
Poderá faltar a grandeza do posterior “Filigree and Shadow”, mas este hipnótico e surpreendentemente belo álbum é despojado até ao esqueleto de beleza e tristeza.
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05 agosto 2010

In The Beginning # 5 - Cocteau Twins – “Garlands” (1982 4AD)

O disco de estreia dos Cocteau Twins é uma experiência auditiva bem mais áspera do que as suas futuras produções majestosas e etéreas, “Garlands” está desprovido de qualquer tipo de bom humor. A primeira de muitas obras-primas, revela um lado diferente na música dos Cocteau Twins, pois sonoramente são mais directamente decalcáveis de uns The Cure ou Siouxsie And The Banshees pelas penetrantes e góticas guitarras. Liz Frazer e Robin Guthrie (mais o baixista Will Heggie) costuram uma incrível combinação de impedimento e mistério.
O excelente “Garlands” soa cru, minimal, nocturno e sombrio. Muito mais baseado nas guitarras do que a maioria dos outros álbuns dos Cocteau Twins, são as ferozes e estrondosas linhas de guitarra de Guthrie que quase justapostas ao lado do baixo taciturno de Heggie que dominam a paisagem sonora (acompanhados pelo crepitando da “drum machine”) mas sem deslocar o surpreendentemente sobrenatural estilo vocal de Liz Frazer, e assim constituem um todo perfeito e homogéneo. As vocalizações aqui não são leves e celestiais como em álbuns posteriores, nomeadamente “Treasure” e “Victorialand”, pelo contrário elas soam assustadoras e assombrosas e possuem uma certa estética de identificação.
“Garlands” é o resultado final da junção de três excepcionalmente brilhantes músicos, que têm um entendimento mútuo e conseguiram criar neste resultado sinérgico, um grande disco.
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