31 outubro 2007

Live @ Trintaeum - Faze Action Dj Set - Simon Lee

Hoje à noite...

Reza a história… dois irmãos, um autodidacta, influenciado pelo “funk” e “house”, outro pelo “rare groove”, criaram uma mistura de raiz “disco” com ritmos africanos, latinos e puro “jazz-funk”, que dá aos temas uma sensação puramente orgânica, “live”.

Faze Action - "In The Trees" (Carl Craig Remix) 12" (2007 Juno)

A remistura que tranfigura e expande o original...
responsabilidade Carl Craig



Faze Action - "In The Trees" 12" (1996 Nuphonic)

O original que se tornou num clássico.

29 outubro 2007

The Sea And Cake – “One Bedroom” (2003 Thrill Jockey)

Ao longo dos anos, o grupo “pós-rock” de Chicago, sempre se manteve fiel ao seu rumo.
Composto pelas guitarras e vocalizações aspiradas de Sam Prekop, pelo baixo de Eric Claridge, pela complexa percussão de John McEntire e pela guitarra tensa de Archer Prewitt, os S&C, insistem na mesma mestria ao longo da sua carreira.
O seu sexto disco, “One Bedroom” (que para mim será o mais conseguido), por um lado relembra a pop cintilante das bandas da Postcard, por outro as influencias “motorik” dos Stereolab. A voz suave, mas elevada de Prekop combina com o som “jazzy” criado pela banda, que ao introduzir sintetizadores retro, uma complexa electrónica, e o serpentear das guitarras, cria um som atenuante, mas perfeitamente melódico.
Provavelmente menos “jazzy” do que por exemplo “Oui”, é no entanto mais definido.
“Four Corners” e “Left Side Clouded” são do melhor que produziram, sedativos e melancólicos, com o tilintar das guitarras e um rude, mas melódico baixo, superiormente quebrados pela distorção. O ritmado “Hotel Tell” utiliza os atributos de programação de McEntire, nos sóbrios, mas irresistíveis batimentos da caixa de ritmos.
O destaque do álbum é a perfeita versão de “Sound And Vision” de David Bowie. Exuberantes arranjos estruturadamente ricos em detalhes são perfeitos para o agridoce logro de Bowie.
Ao longo do disco, encontramos uma música delicada e perfeita. Em contraste com a aparente casualidade das letras, a música é perfeitamente esculpida à volta das vozes. A produção é tão delicada e os arranjos tão bem trabalhados e cheios de detalhe que é impossível não ficar-mos totalmente seduzidos por este elegante e descerrado disco.

Hoje - 23H00 - O Meu Mercedes é Maior que o Teu

24 outubro 2007

My Favorites # 5 - P.J. Harvey – “Rid of Me” (1993 Island)

O disco de estreia de PJH, “Dry”, já tinha a marca arrojada de uma genuína cantora-compositora que aparentemente não tinha medo de nada.
Para “Rid of Me”, PJH e a sua banda (Rob Ellis e Steve Vaughan) resolveram trabalhar em Minneapolis, com Steve Albini, que elevou a barreira sonora do disco anterior, ao torná-lo mais áspero e abrasivo, fazendo com que cada corda de guitarra e cada batida do címbalo criem no ouvinte uma sensação arrepiante.
A influência assumida das dinâmicas “noise” dos Pixies, com a do “garage-rock” dos anos 60, faz com que na palete sonora de “Rid of Me”, se encontrem “rock” puro (“50 Foot Queenie”, “Snake”), confissões de dor (“Missed”, “Legs”), arranjos clássicos (“Man-Size Sextet”), e também uma versão de “Highway 61 Revisited” que violentamente transporta Bob Dylan para a década de 90.
Em cada palavra, cada nota, cada batida, estão presentes as emoções cruas e tumultuosas, as provocações que encarnou, sempre cheias de negrume. PJH não foge dos assuntos, não está com meias medidas, quando expressa a sua raiva e a sua sexualidade (é arrebatadora a forma como ela canta “Lick my Legs, I’m on Fire” em “Rid of Me”).
Escutar “Rid of Me” é uma experiência única, e as armas que PHJ utiliza são primárias: a sua versátil e devastadora voz, a guitarra ácida, e uma fantástica secção rítmica.

22 outubro 2007

Band of Horses – “Cease to Begin” (2007 Sub Pop)

O segundo álbum do grupo de Seattle é mais um grande conjunto de canções que reforça a qualidade de compositor de Ben Bridwell, que agora está sozinho, depois da partida de Matt Brooke.
E com uma mudança geográfica ocorrida para a gravação deste disco, o som também sofreu alterações, denotando-se que o tentaram expandir. Tudo parece mais grandioso. As guitarras, a bateria, as vozes.
Apesar disso, o tema que abre o disco, o grande “Is There a Ghost”, demonstra que o som típico dos BOH está presente, ao evoluir dentro da canção, do estilo acústico de Neil Young, para a explosão de distorção bem ao estilo “rock” de uns My Morning Jacket. E no meio desses ruídos sonoros, aquela magnífica voz continua presente, sempre em destaque, elevando a canção ao nível do sublime.
A parir daqui, e apesar de “Cease To Begin” ser um disco de raiz Americana, canções de base “country” como a enérgica “The General Specific” ficam com um ar solene, e outras tipicamente rock como “Lamb on the Lam (In the City)”, “Cigarettes, Wedding Blues” (uma das melhoras aqui presentes) ou “Marry Song”, mexem com o disco.
E fecha de uma forma perfeita com o “country-blues” redentores de “Window Blues”.
O disco fala-nos de amor, morte, pequenas cidades, vizinhos, e também de um ex-jogador da NBA. “Detlef Schrempf”, dedicado ao ex-jogador oriundo da Alemanha, apesar de estranha, é emocionalmente gentil.
Um álbum arriscado, musicalmente, mas que verá o seu esforço recompensado ao figurar nos mais interessantes discos de rock do ano.

18 outubro 2007

Singles # 7 - The Gist – “Love At First Sight” (1981 Rough Trade)

Após o fim dos Young Marble Giants, Stuart Moxham e o seu irmão Philip criaram os The Gist, que seriam basicamente um projecto de estúdio, onde continuaram a explorar a pop minimalista que caracterizava o som dos YMG. Em alguns temas do álbum que se seguiu (“Embrance the Herd” (1983 Rough Trade), introduziram um pouco mais de electrónica, resultando um disco multifacetado.
Aqui criaram uma cativante e contagiante canção. Um pequeno tesouro, com uma mensagem facilmente perceptível e evocativo das nossas paixões.
Sempre que a ouço, para além das boas recordações que traz, fica sempre um bem-estar presente no espírito.
Uma pérola pop.

15 outubro 2007

Classic # 9 - Television – “Marquee Moon” (1977 Elektra)

Companheiros de Patti Smith, e posteriormente dos Ramones, Talking Heads e Blondie no lendário clube nova-iorquino CBGB, os Television foram um dos grupos mais importantes da pré-história do punk-rock e pós-punk. (e de toda a história do “rock” propriamente dito).
A formação original incluía o baixista Richard Hell, que patenteou o “look” punk, muito antes dos Sex Pistols, e o líder Tom Miller, assumiu como novo “apelido” o do poeta simbolista francês. Assim as credenciais eram perfeitas, o problema era que os Television não tocavam punk-rock. Seria mais um “psychedelic jazz punk”? O que quer que fosse, era diferente e original.
Seriam, na minha opinião, o primeiro grupo identificado com o movimento “punk” que realmente criaria algo novo e original, quer ao nível técnico quer ao nível estético.
O disco inicia com o hipnotizante “See No Evil”, passa pelo dramático “Elevation”, com as suas constantes paragens e arranques, e fecha com um longo lamento, que sugere futuras direcções na sinistra, mas profética “Torn Curtain”.
O som do grupo está perfeitamente registado no tema que dá título ao álbum, o épico “Marquee Moon”, com o “staccato” penetrante, sinistro, complexo e labiríntico, cria um super-sofisticado poema sonoro, apoiado na frágil voz de Verlaine. Musica para o corpo e mente.
O virtuosismo instrumental do grupo é evidente na forma perfeita como contrastam as guitarras gémeas – Verlaine, (temperamental e improvisador), Richard Lloyd, (controlado, preciso & denso) – encaixam completamente, enquanto as influências jazz e a sensibilidade melódica iluminam a forma sincopada de tocar do baterista Billy Ficca e do baixista Fred Smith.
Introspectivo, “Marquee Moon”, é um marco de criatividade, de coerência, e de consistência.

11 outubro 2007

Yesterdays New Quintet – “Yesterdays Universe” (2007 Stones Throw)

Possivelmente este será o melhor disco dos YNQ, onde Otis Jackson Jr., ou melhor, Madlib, prova que é um dos mais imaginativos músicos/produtores da actualidade, pela forma brilhante como ao assimilar o imenso leque de conhecimentos/influências cria verdadeiras obras-primas.
Este último disco é uma “pseudo-compilação” criada pelos vários membros da banda, que aparecem disfarçados em curiosos alter-egos.
Uma salutar colisão entre o passado e o futuro, onde teclados Rhodes e “turntablism”, “vibes” e “beats”, fazem mais do que recriar um estilo de música. É a passagem de testemunho do som “mellow jazz funk” praticado nos anos 70 por editoras como a CTI, para o século XXI, o nível seguinte.
Madlib cria um “cocktail” musical completamente distinto, ao fundir electro-jazz, funk, swing, e até hip-hop, na forma como aborda clássicos como “Bitches Brew” de Miles Davis, ou os vários originais presentes.
O resultado é um disco sem comparação, que agrupa neste registo vários capítulos da história da música afro-americana.
Só o futuro dirá se estamos na presença de um visionário do nível de John Coltrane, Miles Davis ou Herbie Hancock.

08 outubro 2007

Singles # 6 - M/A/R/R/S – “Pump Up The Volume” (1987 4AD)

Uma colaboração proposta por Ivo Watts-Russell, líder da 4AD, iria criar um dos discos mais importante da história da música de dança, e do “sampling” em particular. Acabou por ser um êxito global, tendo sido re-editada por mais de dez vezes, e proporcionou à 4AD um sucesso inesperado.
Consistiu na junção de duas bandas que na altura faziam parte do catálogo da casa: A.R. Kane e Colourbox (o nome é composição das iniciais dos nomes dos envolvidos), com os DJ’s Dave Dorrell e C.J. Macintosh (responsáveis pela selecção dos “samplers”, pelos “scratchs” e efeitos sonoros).
Importante seria o trabalho destes últimos ao realizarem a mistura principal, utilizando cerca de 250 samples para o efeito, com a base principal de “Pump Up The Volume” a ser retirada de "I Know You Got Soul" de Eric B & Rakim. Incluía ainda outros extractos de faixas como “Say Kids, What Time Is It?” dos Coldcut, “Im Nin'Alu" de Ofra Haza, ou “Funky Drummer” de James Brown. Mas também incluía 3 segundos “samplados” de “Roadblock” dos Stock Aitken & Waterman, que não foram “legalizados” para uso, e que criou problemas na edição do disco, e nos consequentes “royalties”.
Na altura foi fundamental ao providenciar a ligação entre o som “retro” do “rare groove” com a nova corrente de música baseada em “samplers” oriunda dos Estudos Unidos.