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17 setembro 2010

In The Beggining # 6 - Palace Music – “Viva Last Blues” (1995 Drag City)

Na década de 90, e embora muitos caminhos tenham sido perseguidos e posteriormente abandonados por músicos em busca de estilos ainda não saqueados, a trilha dos “Appalachian” foi uma das menos prováveis.
Mas no inicio dessa década, Will Oldham involuntariamente contribuiu para um outro renascimento das raízes americanas quando o nativo de Louisville no Kentucky, olhou para o seu próprio quintal em busca de inspiração.
Inicialmente editou a sua bem estudada versão de baladas “country” da era da Depressão no registo de 1992, “There Is No-One What Will Take Care Of You”, mas rapidamente ele abandonou o pastiche do “field-recording” e estabeleceu a sua própria voz em “Viva Last Blues”. Resolveu juntar uma banda com elementos que nunca tinham tocado juntos e libertou-os no estúdio, criando uma intrigante mistura de “folk-country-rock” que desafia classificação (ocasionalmente cobre o mesmo terreno do que os American Music Club). A produção desnudada de Steve Albini é bem visível na forma como a bateria é alisada sobre as guitarras com toda a delicadeza de uma forma a que o registo relembre uma autêntica “basement tape”.
Apesar de estar mais perto do convencional, a sua voz ainda surge rachada nos momentos certos, com Oldham acrescentando sentimento e idiotice” a versos como “If I could fuck a mountain, Lord, I would fuck a mountain” enquanto a sua banda toca como uns desarticulados músicos de Nashville.
Pode deixar-nos com um sentimento triste e claustrofóbico, mas este disco é extremamente belo na sua morbilidade.
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05 agosto 2010

In The Beginning # 5 - Cocteau Twins – “Garlands” (1982 4AD)

O disco de estreia dos Cocteau Twins é uma experiência auditiva bem mais áspera do que as suas futuras produções majestosas e etéreas, “Garlands” está desprovido de qualquer tipo de bom humor. A primeira de muitas obras-primas, revela um lado diferente na música dos Cocteau Twins, pois sonoramente são mais directamente decalcáveis de uns The Cure ou Siouxsie And The Banshees pelas penetrantes e góticas guitarras. Liz Frazer e Robin Guthrie (mais o baixista Will Heggie) costuram uma incrível combinação de impedimento e mistério.
O excelente “Garlands” soa cru, minimal, nocturno e sombrio. Muito mais baseado nas guitarras do que a maioria dos outros álbuns dos Cocteau Twins, são as ferozes e estrondosas linhas de guitarra de Guthrie que quase justapostas ao lado do baixo taciturno de Heggie que dominam a paisagem sonora (acompanhados pelo crepitando da “drum machine”) mas sem deslocar o surpreendentemente sobrenatural estilo vocal de Liz Frazer, e assim constituem um todo perfeito e homogéneo. As vocalizações aqui não são leves e celestiais como em álbuns posteriores, nomeadamente “Treasure” e “Victorialand”, pelo contrário elas soam assustadoras e assombrosas e possuem uma certa estética de identificação.
“Garlands” é o resultado final da junção de três excepcionalmente brilhantes músicos, que têm um entendimento mútuo e conseguiram criar neste resultado sinérgico, um grande disco.
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02 junho 2010

In the Beginning # 4 - Spiritualized – “Lazer Guided Melodies” (1992 Dedicated)

Após o término dos seminais Spacemen 3, o obscuro “rocker” Jason Pierce avançou em frente com o projecto Spiritualized, cujo brilhante disco de estreia “Lazer Guided Melodies” provou que as espirais hipnóticas de “noise” nem sempre levam os ouvintes à catatonia. “Lazer Guided Melodies” é por muitos considerado como música evangélica para aqueles que adoram o altar dos “estados mentais alterados”, mas nunca soa ocioso ou lento na sua tentativa de levar o ouvinte a lugares muito mais elevados.
A dramática voz de Pierce, planeia sobre as alegóricas e felpudas paisagens sonoras que se dilatam com um requinte “art-rock” e uma ousadia “arena-rock”, mas que se recusam a derivar sem objectivo para um qualquer buraco negro que possa sugar toda a paixão evidenciada como acontece com outros similares grupos do denominado “space-rock”. Este disco atinge patamares verdadeiramente poderosos, que seriam posteriormente reflectidos em “Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space”, mas que para muitos, nunca soaram tão perfeitos e brilhantes como aqui, com uma radiância tumultuada, num plano superior de existência.
Em ultima análise, a capacidade dos Spiritualized para estabilizar a sua orbita é resultado da forma como as sublimes melodias encaixam perfeitamente dentro das primorosamente trabalhas outras camadas sonoras que são construídas ao longo de cada canção no impecável “Lazer Guided Melodies” (seja a beleza cintilante de “You Know It’s True”, o “uptempo” exagerado de “Run” e “Angel Sigh”, a sensação hipnotizante de “Shine A Light” ou os oscilantes e espaçados “Step Into The Breeze”, “Symphony Space” e “Sway”) - um original casamento do natural com o sobrenatural que faz com que flutuar no espaço pareça uma actividade perfeitamente normal.
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Spiritualized - Shine A Light

18 maio 2010

In the Beginning # 3 - Mercury Rev – “Yerself Is Steam” (1991Mint Films)

O “rock’n’roll” tinha uns decrépitos 35 anos quando os Mercury Rev o alimentaram com um comprimido de nitroglicerina – o seu alienado álbum de estreia – em 1991. Apesar de não ser verdadeiramente inovador, “Yerself Is Steam” realmente estendeu todas as fronteiras da ousadia ao reinventar o “rock psicadélico” tão elegantemente que pareceu que o género passou por uma segundo e superior nascimento.
Ao longo das suas oito faixas, o caos e a beleza são superiormente conjugados como figuras do Kama Sutra e as amaldiçoadamente cativantes e estruturadas “canções” de alguma forma resistiram aos ciclones de guitarras, baixo, bateria, flauta e às vocalizações radicalmente desprendidas, do na altura, vocalista David Baker.
Liderados pelos erraticamente brilhantes guitarristas/compositores Grasshopper e Jonathan Donahue, os Mercury Rev conseguiram forjar “prog-psych” à escala de Wagner (“Sweet Oddysee Of A Cancer Cell t’th’ Center of Yer Heart”), conjurar novas tonalidades de guitarras e flautas mentalmente desafiadoras (“Chasing A Bee”), criar virtuais alucinações a partir de nebulosas camadas de guitarras eléctricas e acústicas (“Frittering”), ou electrocutar o nosso sistema nervoso com um “rock” anfetaminico (“Coney Island Cyclone”, Syringe Mouth”). Alguns fãs podem considerar muitos dos discos posteriores mais consistentes, mas os extremos de “Yerself Is Steam” ainda tem de ser superados no cânone deste sub-apreciado tesouro americano.
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27 abril 2010

In the Beginning # 2 - My Bloody Valentine - “Isn’t Anything” (1988 Creation)

Após a regulamentação da pureza “indie-pop” nos EP’s “Strawberry Wine” e “Ecstasy” (ambos de 1987), “Isn’t Anything” foi comprovadamente pós- lapsariano. A transformação dos MBV de pretendentes ao espectro sonoro dos The Jesus and Mary Chain, para aventureiros sónicos ainda hoje é de difícil crédito. Só mesmo a audição do tenso holocausto que foi o EP “You Made Me Realise” e o verdadeiramente inovador álbum que o seguiu, podem ajudar a sua compreensão.
Sonoramente caótico, incorporando as desfalecidas paisagens sonoras dos Cocteau Twins, juntamente com um uso altamente inovador de “microtons” e artisticamente submerso no estúdio, é impressionante a sua consistente tonalidade negra e erótica, alternadamente desnorteante ou agressivamente voraz. É um disco cheio de contrastes, sejam as exuberantes paisagens sonoras recheadas de “feedback”, sejam as sensuais combinações das vocalizações vazias de Kevin Shields contra os encantos etéreos de Bilinda Butcher. As músicas não são “sobre” amor, sexo e emoções, mas “soam” como fossem momentos hiper-sensíveis de amor, sexo e emoções.
E ao ouvir “Isn’t Anything” actualmente, ele parece ter muito em comum com o sentimento de euforia vivida na altura em torno do “second summer of love”, pois tem a mesma qualidade entorpecedora do que os resultados das experimentações químicas ocorridas aquando do referido movimento.
Embora a apoteose do MBV ficasse completa após o lançamento de “Loveless”, “Isn’t Anything” mantém uma nitidez e clareza de composição, que é às vezes um pouco ausente nos inúmeros de efeitos de guitarra presentes em “Loveless”.
Desde o dub-balançante do totalmente sexual “Soft As Snow (But Warm Inside)”, passando pelo orgásmico, minimalista e absolutamente arrebatador “Lose My Breath”, pela poesia de tom fúnebre do perturbador “No More Sorry”, pelo alegremente perturbador “All I Need”, pelos “riffs” brutais do apocalipticamente erótico “Feed Me With Your Kisses”, pelo verdadeiro letal “Sueisfine” até à violentamente sexy “Nothing Much To Lose”, “Isn’t Anything” é uma aventura musical que transcende qualquer redundante género estilístico onde possam inadvertidamente ter sido colocados os MBV.
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05 abril 2010

In the Beginning # 1 - Billy Bragg – “Brewing Up With Billy Bragg” (1984 Go! Discs)


Lembro perfeitamente que quando comprei este disco na feira da vandoma por volta de 1986, com cerca de quinze anos, ainda estava numa fase inicial da minha descoberta musical. Aqui descobri um “one-man band”, um homem contra o sistema, numa rebelião politica, falando em nome dos necessitados contra o governo de Margaret Thatcher. A sonoridade era escassa, somente voz e guitarra, deliberadamente áspera e não adulterada, impulsiva e graciosa. E se soava interessante, era porque a capacidade de escrita é brilhante. Bragg foi sempre um dos principais líderes do movimento designado como “The Red Wedge” – um grupo de artistas da esquerda – mas a suas referências politicas inicialmente eram diminutas.
Este segundo álbum de Bragg, continha 11 impressionantemente observadas e detalhadas canções que representam muita da mais sólida e da mais efectiva escrita de Bragg. Amplamente equilibrando mensagens politicas de esquerda (a estridentemente feroz critica à imprensa de direita “It Says Here”, os claustrofóbicos horrores da guerra em “Island of No Return”, a perspicaz “Like Soldiers Do”, que relata a perspectiva do comum soldado), com lamentosas histórias de amor suburbanas que nunca correm bem (a encantadora melancolia do notável “A Lover Sings”, a profundamente comovedora paixão adolescente de “The Saturday Boy”, os detalhes de infidelidade e do colapso de uma relação na dolorosa “The Myth of Trust”, a triste, mas melancolicamente bela “St.Swinthin’s Day”).
Ele tornou-se mais estridente e menos observador de várias maneiras, e os seus discos tornaram-se mais ambiciosos com o passar dos anos. Não sou adverso ao seu trabalho nos anos 90, mas os três primeiros discos (juntar “Life’s A Riot With Spy Vs. Spy” (1983) e “Talking With The Taxman About Poetry” (1986)), representam o seu pico criativo para mim, tendo depois disso a qualidade declinado de disco para disco.
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