30 abril 2007

Panthers - “The Trick” (2007 Vice)

Este quarteto de Brooklyn, regressa com um disco intenso, que merece atenção de todas as áreas musicais. Uma combinação das origens hardcore e punk dos seus membros com intervenção politica. Gravado com Steve Revitte, que anteriormente trabalhou com Liars ou Beastie Boys, estamos perante canções guitar-rock hipnótico de três minutos. Ruidosas, pesadas e rápidas, mas ao mesmo tempo super-melódicas.
Elementos dos The Jesus Lizard e Stooges, são evidentes nestes hinos rock totalmente cativantes nos seus escassos 32 minutos.
Um som que seria perfeito, se nos encontrassemos num bar nos anos 70 em Detroit ou Cleveland.

26 abril 2007

Explosions In The Sky - “All of a Sudden I Miss Everyone” (2007 Bella Union/ Temporary Residence Limited)

Aos primeiros acordes de “The Birth and Death of the Day” (a faixa que abre o disco), constatamos que estamos perante um disco brilhante.
Este disco, o quarto do grupo texano, é passo em frente em relação aos anteriores trabalhos da banda. Musicalmente as canções estão muito mais eficientes e a variedade instrumental utilizada foi muito mais ampla.
Comparações com bandas classificadas de “post-rock” como Godspeed You Black Emperor! ou Mogwai, podem entender-se devido à música encaixar no mesmo quadrante contemplativo. O que diferencia e ao mesmo tempo ainda mantém a atracção deste formato musical, é resultado da arte dos Explosion In The Sky.
Ao longo do disco, as guitarras contorcem-se ao longo de etapas sombrias, as quais tentam transmitir relações sonoras como: tensão e escape, conflito e resolução, emoção e conforto.
Estamos perante canções “indie-rock” transformadas em longos instrumentais, centradas em melodias simples, mas no entanto obscuras.

Existe uma edição especial de dois CD’s, que contém remisturas dos temas pelos Four Tet ou Adem, entre outros.

16 abril 2007

My Favorites # 3 - Magazine – “The Correct Use of Soap” (1980 Virgin)

Não é fácil escolher o melhor disco dos Magazine. As opiniões sempre se dividiram entre os três primeiros discos desta banda simultaneamente clássica e extremista: “Real Life”(1978), “Secondhand Daylight”(1979) e “The Correct Use of Soap”(1980).
Para mim, sempre me fascinou “The Correct Use of Soup”, que conta com a presença de Martin Hannett na produção, porque é o resultado da evolução sonora começada com “Real Life”, e apesar de poder ser considerado mais comercial do que os anteriores, é neste disco que os cenários de paranóia existencial criados por Howard Devoto atingem o seu limite.
O disco abre em alta com “Because You're Frightened”, com o chocalhar de guitarra que era a marca registada de John McGeoch,, e com Devoto a emitir poesia numa psicose delirante. Em “You Never Knew Me” e “I Want To Burn Again”, estão as anti-canções de amor, da depressão resultante do rompimento da relação
A forma irónica de abordar a auto-estima e o ódio em canções como “I’m A Party” e em “A Song From Under The Floorboards, esta última provavelmente a melhor canção dos Magazine, onde a letra define na perfeição o carácter individualista de Devoto.
E o que dizer da inquietante versão de Sly Stone, “Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin)”, que é seguida pela oblíqua “Sweetheart Contract”, com o baixo de Barry Adamson destoante dos sintetizadores de Dave Formula.
Um trabalho surpreendentemente durável dado o nível de experimentação presente.

11 abril 2007

Andrew Bird - “Armchair Apocrypha” (2007 Fat Possum)


Se “The Mysterious Production of Eggs” (2005) era uma pérola de experimentalismo pop, em “Armchair Apocrypha” o compositor de Chicago expandiu o som desse disco, enriquecendo-o com uma nova densidade rítmica. Agora a guitarra é mais predominante, mas a textura sonora criada pela presença de instrumentos como o violino, aumenta a esfera de acção musical.
Outra detalhada colecção de canções, este disco tem de tudo: melodias cantáveis, letras fáceis de interpretar, alegria, tristeza, emoção, discernimento.
Um dos factores que me fascinam na música de Bird é a forma como nunca leva a melodia no ritmo que esperamos que ela tome. Ouçam “Plasticities” como exemplo.
Dentro de um género, onde abundam cantores/autores medíocres, Bird desenvolveu um estilo singular, que independentemente das surpresas que nos possa reservar, a sua música será distinta dos restantes.
Em última análise, “Armchair Apocrypha é outro objecto de uma beleza única, deste inventivo compositor.

05 abril 2007

Classic # 2 - Gang of Four - “Entertainment!” (1979 EMI)

Este quarteto de Leeds, composto por estudantes de Ciências Sociais (o seu nome é uma referência retirada da China comunista), foi responsável pela produção de alguma da mais excitante música proveniente de Inglaterra no período pós-punk.
Associações aos ensinamentos dos situacionistas, caracterizaram a curta carreira da banda. Curiosamente os membros da banda eram sempre listados alfabeticamente, dando conformidade ao seu espírito equitativo.
“Entertainment!” é a ponte de inspiração entre a primeira onda punk e o pós-punk, que inclui outros percursores como Birthday Party ou 23 Skidoo.
O seu som experimental era punk-funk, ritmos funk de James Brown alimentado pela dinâmica “raw punk” característica da época. Também as letras politizadas baseadas na vida quotidiana e monólogos existenciais, não eram paralelas às do movimento punk.
As canções de “Entertainment!” são verdadeiros tesouros. “Damaged Goods” é tenso, muscular, com as guitarras distorcidas, e com a voz seca Jon King, é a canção que melhor simboliza a obra dos Gang of Four. Em “Anthrax”, após o feedback inicial, o ritmo funky da secção rítmica acompanha 2 vozes em simultâneo, uma que canta outra que fala, e se é desorientador, ao mesmo tempo torna-se única. E “Not Great Men”, para além de ser também uma das melhores canções do pós-punk, é a base dos primeiros discos dos Red Hot Chili Peppers, segundo os próprios.
Curiosamente sempre influenciaram muito mais a música underground americana, desde The Jesus Lizard, Nirvana ou Jon Spencer, até aos representantes da nova onda pós-punk, como Interpol, Radio 4 ou Liars.