Mostrar mensagens com a etiqueta The Byrds. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta The Byrds. Mostrar todas as mensagens

04 fevereiro 2011

Pop # 16 - Apple Boutique – “Love Resistance” (1987 Creation)

Lembro-me perfeitamente que foi na nossa querida RTP2, que no final das tardes dos anos 80, passava programas musicais originários de Inglaterra, um deles, às 6ª feiras, era dedicado à música “indie”, e foi aqui que ouvi pela primeira vez, este registo único elaborado por dois ilustres secundários, Philip King e John Mohan, que entre outras bandas, tocaram nos The Servants, Lush e Felt (que curiosamente gravaram uma canção intitulada “Apple Boutique” no seu álbum de 1988, “The Pictoral Jackson Review”).
Aqui brilhantemente cruzaram uma bela melodia com uma letra simplíssima no que iria resultar numa perfeita canção “pop”, que é uma alegria pura ouvir repetidamente.
Destaca-se o excepcional trabalho de guitarra e a interacção entre os instrumentos, numa forma delicada e inspirada de tocar o denominado “jangle pop”, que nos anos 80 era encharcado pela sonoridade das Rickenbacker inspiradas nos The Byrds, mas que aqui se mostrava visionário em comparação com a s maioria das bandas da altura.
O lado B inclui ainda a enorme “The Ballad of Jet Harris”, uma canção quase instrumental que gradualmente cresce até atingir um elegante final (e aqui eles rivalizam com os melhores Felt) e a interessante “I Don’t Even Believe In You”. Um verdadeiro tesouro perdido.
_

07 janeiro 2010

Classic # 23 - The Velvet Underground And Nico- “The Velvet Underground & Nico” (1967 Verve)

Por muitos considerado como o ponto de partida para a música alternativa, este disco realmente alterou a face do “rock”, mas também do “glam”, do “punk”, do “goth” ou do “indie”. Mas 43 anos depois, o que ainda mais surpreende é a sua audácia, a sua diversidade, a sua capacidade de experimentação sonora e a sua originalidade.
Sombrio e introspectivo, é a absoluta antítese, do movimento “hippie” que o resto da América andava a jubilar, e áspero como a cidade onde nasceu.
A música não é complexa, surge dispersa e escorregadia, mas é estranhamente compelível. E a estranha aliança entre Lou Reed e John Cale , fazia com eles experimentassem algo diferente em cada canção, através das hipnóticas espirais de dissonantes guitarras e viola, sempre apoiados pela poderosa bateria de Mo Tucker e com Sterling Morrison a agregar toda a mutilação sonora. Ao juntarem o contraste entre a voz fortemente superficial de Reed e o suave trautear de Nico, e a ilustre escrita de Reed - com referências sinceras e directas ao sexo bizarro e drogas, algo que ninguém tinha coragem para abordar tão abertamente à 40 anos atrás, pois no passado grupos como The Beatles (em “Happiness Is A Warm Gun”) ou The Byrds (em “Eight Miles High”), escreveram sobre os mesmos controversos temas ambiguamente – criaram momentos verdadeiramente únicos.
Começando na volátil, celestial, simultaneamente fascinante e sinistra “Sunday Morning”, passando pelas implacáveis e puramente loucas imagens do completamente soberbo “I'm Waiting For The Man”, pela gentil e sedutora “Femme Fatale”, pelo perturbador e contundente exótico relato sadomasoquista da claustrofóbica “Venus In Furs”, pela a atitude fútil do desbotado “garage” de “Run, Run, Run”, pelo melancólico “avant-garde” de “All Tomorrow’s Parties”, pela assustadora e francamente brilhante confissão no surreal épico “Heroin”, ou pela invulgarmente delicada e encantadora “I’ll Be Your Mirror”, chegamos às duas últimas canções que efectivamente representam a criação do rock alternativo: a convulsiva “The Black Angel’s Death Song” com a feroz e penetrante viola e a poesia absurda de Reed e a abismal batalha instrumental recheada de feedback presente em “European Son”, que absorve por completo o ouvinte.
Certamente Sonic Youth, Suicide, The Jesus and Mary Chain, Pixies, Smashing Pumpkins, My Bloody Valentine, entre outros, não teriam realizado os extraordinários álbuns que fizerem sem a existência deste magnifico monumento ao espírito brutal do “rock’n’roll”.
_

26 novembro 2009

Pop # 8 - Beachwood Sparks – “Once We Were Trees” (2001 Sub Pop)

Numa primeira abordagem este disco até poderá parecer fácil de descrever, mas escutando-o atentamente, constatamos que já não será assim.
É certo que similitudes serão sempre descortinadas, mas elas também não estão escondidas, pelo contrário, estão bem visível na sonoridade “West Coast” “country-pop” que incorpora o estilo sonoro saltitante de bandas como os The Byrds, os Love ou os The Flying Burrito Brothers - e cujas influências eles nunca negaram – e no facto dela ser intencionalmente sombria, reproduzida por processos e efeitos que utilizam variados métodos “vintage”. Mas neste disco também é visível o facto de explorarem ambiciosamente o alegre e puro psicadelismo mais em comum com os Pink Floyd de “A Saucerful Of Secrets”.
Eles soam verdadeiramente originais e desafiam uma categorização fácil. Produzem uma sonoridade aveludada, com óptimas mudanças rítmicas, magníficos arranjos orquestrais e harmonias fantásticas, assentes essencialmente nas estranhas vocalizações ondulantes, nas impetuosas guitarras e no espectral órgão.
Daí resultam canções incrivelmente contagiantes como “Confusion Is Nothing New”, “The Sun Surrounds Me”, “Let It Run”, “Your Selfish Ways”, ou a surpreendentemente soberba e palpitante versão de ”By Your Side”, original de Sade, que contém uma mensagem lírica que transmite ao ouvinte um sentimento de conforto e esperança, e que assim dá alguma serenidade ao tom carregado mais predominante ao longo deste disco complexo, que certamente se tornará num clássico intemporal.
_

15 setembro 2008

Pop # 3 - Orange Juice - “You Can’t Hide Your Love Forever” (1982 Polydor)

Depois de um conjunto de singles para a Postcard, os Orange Juice até já tinham gravado o seu primeiro álbum - “Ostrich Churchyard” - quando assinaram pela multinacional Polydor, mas regressaram ao estúdio com o produtor Adam Kidron, alterando o som mais “garage-rock” do primeiro pelo cintilante “indie-pop” deste. Aqui presentearam-nos com um conjunto de canções cativantes e excitantes, cheias de dilacerantemente belas melodias, que se elevam e exercem o seu poder. Apoiados no crepitar zumbido das inarmónicas guitarras, superiormente lideradas por Malcolm Ross (que tinha abandonado os Josef K), na vibrante batida da bateria de Zeke Manyika e essencialmente em Edwyn Collins com a sua rígida e fora de timbre voz, num estilo inimitável, idiossincrático e unicamente sincero, produziram um som altamente original, por polir, espontâneo, que pegou na intensidade do “punk” e o seu grande idealismo e faculdade de diversão, e fundiu-a com uma romântica sensibilidade lírica e muita alma. Como influências apontam-se várias, Velvet Underground, The Byrds, The Buzzcocks, Television – e também são referenciados como precedentes da similar sonoridade desenvolvida pelos The Smiths (e como obvia influência no som de Stuart Murdoch e dos seus Belle & Sebastian). E só um grande compositor como Edwyn Collins, com as suas letras obliteráveis, tal como Morrissey, visionário, deprimido e levemente cínico, mas inteligente, honesto e credível, poderia abordar as fraquezas do amor e a sua falta de direcção, e criar a pletora de clássicos com a excelência de “Falling and Laughing”, “Satellite City”, “Consolation Prize”, “Untitled Melody” ou a icónica “Felicity”.
Edwyn Collins gravaria posteriormente bons discos, mas foi aqui que revelou o seu génio. Um disco de instantânea e ditosa alegria.
_
Orange Juice - Felicity

08 abril 2008

Classic # 14 - The Stone Roses – “The Stone Roses” (1989 Silvertone)

“Sgt. Pepper…”, “Dark Side of The Moon” “Never Mind the Bollocks”, cada geração tem os seus álbuns de culto, que muitas vezes determinam modas e comportamentos. Para quem tinha entre 15 e 25 anos em 1989, “The Stone Roses” foi um deles.
Curiosamente e ao contrário, dos referidos discos, no inicio teve pouca ressonância cultural, politica e comercial. Apareceu do nada, indiferente, e foi através da sua divulgação pela rádio, que vincou a sua magnifica mistura de “indie-pop” e psicadelismo que grupos como os Primal Scream já andavam a tentar produzir sem sucesso.
O disco não é particularmente revolucionário, só que continha um inesperado conjunto de superlativas canções “pop”, brilhantemente tocadas por quatro desinteressantes rapazes oriundos de Manchester.
Sempre que regresso a este disco é admirável como quer as canções, a performance e a produção (cortesia do veterano John Leckie), resistiram ao passar dos anos. E que a atmosfera de mistério e melancolia inicial ainda permanece sem diminuição.
Desde os primeiros acordes de “I Wanna Be Adored”, onde o crescente baixo de Mani, é adicionado ao brilhante, extremamente retardado e descendente “riff” de John Squire, existe uma sensação totalmente do outro mundo.
No “riff” circular de “Waterfall” – e no seu reflexo retrógrado “Dont’ Stop” – o convite para desligarmos a mente e relaxar, é descaradamente reminiscente dos Beatles. A “pop” firmemente “ferida” de “She Bangs The Drums”, “Made Of Stone” e “(Song For My) Sugar Spun Sister” relembra a “pop” psicadélico dos Byrds.
Ian Brown não é um grande cantor, mas a sua ansiosa e melancólica voz tem um efeito monotonamente volátil. A guitarra de John Squire é inspiradora e sincopada, e cria a alquimia perfeita com a leve e fluida bateria de Reni, e o ágil e vivo baixo de Mani. É uma terapia musical que culmina no extenso e sibilante “I Am the Resurrection” – o tema que encerra o disco e completa o consciencioso ciclo iniciado em “I Wanna Be Adored”.
“The Stone Roses” deu o tom para a música rock dos anos 90.