29 dezembro 2007

My Favorites # 6 - Liz Phair - “Exile In Guyville” (1993 Matador)

Neste disco é possível descortinar o que bem quisermos: desde hinos ao pós-feminismo, passando pela rapariga dos subúrbios a armar-se em “tesa”, ou a pretensa e assumida réplica de “Exile On Main Street”.
Eu ao escutá-lo prefiro pensar em Liz Phair como uma rapariga que pretende encontrar o amor verdadeiro, ou uma que pretende ser uma “blow-job queen”.
O que não se pode é menosprezar a importância deste disco: um registo suave, dramático, que foi editado numa altura em que todos os outros se baseavam em gritos estridentes; o disco que demonstrou o poder das produções caseiras “lo-fi”; o disco que melhor capturou o sofrimento e a ansiedade da confusão pós-adolescência/ pré-idade adulta; o disco cujo sucesso influenciou que muitas multinacionais contratassem uma geração de cantoras-compositoras.
A sua musicalidade é por ventura desnivelada, a sua performance vocal não é revolucionária, mas a sua escrita… uau!!! que canções.
São canções que nos tocam no coração, comprometem a mente e até chegam a estimular sexualmente.
Liz sabe como construir um relato intenso e pessoal.
Apesar de todas serem fantásticas, gosto especialmente de “6’1””, “Help Me, Mary”, “Never Said”, “Mesmerizing”, “Fuck and Run”, “Divorce Song” e “Shatter”.
Ao contrário da maioria das cantoras-compositoras referidas anteriormente, a quem faltava a subtileza elegante” de Liz Phair, esta continuou a demonstrar o seu singular talento em trabalhos posteriores como “Whip-Smart” ou “Whitechocolatespaceegg”.
Com “Exile In Guyville” deixou-nos um registo que é um tributo à qualidade da “canção rock”, e que o torna num dos melhores discos de todos os tempos.

21 dezembro 2007

Canções de Natal I


Big Star – “Jesus Christ” (1978 do album “Third/Sister Lovers”)

Gorky’s Zygotic Mynci – “Christmas Eve” (1999 do album “Spanish Dance Troupe”)

Lou Reed – “Xmas In February” (1993 do album “New York”)

Okkervil River – “Listening To Otis Redding At Home During Christmas” (2002 do album “Don't Fall in Love with Everyone You See”)

Palace Songs – “Christmastime In The Mountains” (1994 do EP “Hope”)

The Fall – “Christmas with Simon” (1990 lado B do single “High Tension Line”)

The Flaming Lips – “Christmas at the Zoo” (1995 do album “Clouds Taste Metallic”)

The Pogues – “Fairytale of New York” (1987 do album “If I Should Fall from Grace with God”)

Tom Waits – “Christmas Card From A Hooker In Minneapolis” (1978 do album “Blue Valentine”)

19 dezembro 2007

The Autumns - “Fake Noise From A Box Of Toys” (2007 Bella Union)

O quarto disco do quarteto americano, mostra-nos uma banda que amadureceu em termos de ambição e na capacidade de produzir brilhantes e detalhadas canções.
É verdade que as influências do “Shoegazer” ainda estão lá (mas já não são tão evidentes), que a voz de Matt Kelly é comparável com o “falsetto” de Jeff Buckley ou Thom Yorke, que o disco pode ser mais acessível que os trabalhos anteriores, e que ao longo do mesmo denotam-se variadas influências, mas que os The Autumns assimilam e transportam para peças musicais originais, alternando constantemente entre momentos mais fortes e rápidos, e outros mais lentos e de delicada beleza, sempre com a secção rítmica a comandar e a conduzir os destinos.
Dos momentos altos do disco destacam-se a triologia: “Night Music” que é um momento verdadeiramente mágico, com uma fantástica prestação vocal de Kelly; “Killer in Drag” e o seu contagiante refrão, e “Only Young” com uma melodia antífona.
Mas ainda temos “Boys”, acessível, mas com uma fantástica melodia, apoiada nas magistrais guitarras, o rock vicioso de “Adelaide”, e as inesperadas alternâncias rítmicas de “Glass Jaw”.
Quando chegamos a fim, estamos emaranhados na música.
A edição/distribuição perto do fim do ano, poderá fazer com que o disco passe despercebido, o que é lamentável, pois estamos perante um grande e resoluto disco.

17 dezembro 2007

Singles # 11 -Sugarhill Gang – “Rapper’s Delight” (1979 Sugarhill)

“Rapper’s Delight” foi o primeiro grande sucesso do hip-hop/ rap, e permitiu ao movimento ganhar uma dimensão mundial.
Reza a história que Sylvia Robinson (veterana cantora, produtora e editora musical, que iria criar a editora Sugarhill) ouviu que na Bronx, em Nova Iorque, estava a surgir uma forma musical que utilizava o rap sobre colagens instrumentais. O rap já existia como forma musical há uma década desde que pioneiros como os Last Poets começaram a utilizá-lo.
Pensando que poderia tirar proveito desta nova forma musical, juntou um trio de desconhecidos, e utilizando uma base rítmica baseada numa parte de “Good Times” dos Chic, criou uma canção que cativou os ouvidos dos habitantes nova-iorquinos que reclamaram por mais.
Eram 15 minutos (só foi editado na versão 12”) que apresentaram uma mensagem positiva, onde encorajavam as pessoas a dançar e a afastar-se das drogas. As suas mensagens sempre foram de carácter social, ao contrário da maioria do hip-hop actual, cujas referências líricas são bem diferentes.
Criariam mais sucessos como “8th Wonder, e serão para sempre recordados como pioneiros da “old school”.
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11 dezembro 2007

Rock # 2 - The Sonics - “Here Are The Sonics!!!” (1965 Etiquette/Norton)

Se muitas das bandas de “garage-rock” dos anos 60, tendiam a soar similares, o som dos The Sonics era totalmente diferente.
Criaram um som novo, intenso, selvagem, através de composições básicas, e ao combinarem os gritos histéricos de Gerry Roslie, o som forte das enérgicas guitarras de Larry Parypa, da intensa e violenta bateria de Bob Bennett, em conjunto com uma produção intencionalmente tosca, com uma rudimentar qualidade sonora. Era puro e genuíno “rock’n’roll”.
Para a história deixaram-nos clássicos como os originais “Psycho”, “The Witch”, “Boss Hog” ou “Strychnine”, e versões insanas de clássicos de R&B.
A introdução de “The Witch”, com o seu característico órgão, é uma referência do movimento “garage-rock”. E “Psycho” ainda hoje continua brutal e psicótico.
Como eram originários de Tacoma, que geograficamente era próximo de Seattle, e como também era localizado no estado de Washington na zona Noroeste do Pacifico são muitas vezes referenciados como precursores do “grunge”, mas é muito mais evidente a influência que esta banda teve nos movimentos “proto-punk” e “punk”, e que ainda hoje têm em todas as “garage-bands” actuais.
Bandas como The Stooges, Ramones The Cramps, The Gories, Jon Spencer Blues Explosion ou White Stripes, devem ter escutado este disco várias vezes.

Editaram ainda “Boom” (1966 Etiquette), que apesar de ser um disco interessante e de ter tido um inesperado relativo sucesso comercial, já não é tão fascinante e não causa o mesmo impacto. Neste disco, para além de “Shot Down” e “He’s Waitin’, destaco somente uma magnífica versão de “Louie Louie”.

07 dezembro 2007

Classic # 10 - Jane’s Addiction - “Ritual De Lo Habitual” (1990 Warner Bros.)

A combinação singular da estridente e cortante voz de Perry Farrell, dos ritmos tribais de Stephen Perkins, do ressonante e melódico baixo de Eric Avery e dos espantosos atributos técnicos de Dave Navarro, permitiram criar uma música psicadélica, esquizofrénica, repleta de “funk” e com um carácter etéreo.
Em 1988 com o surpreendente “Nothing’s Shocking”, já tinham conseguido abalar a indiferente indústria musical. E para mim, a banda ainda se conseguiu superar, pois considero “Ritual…” musicalmente mais interessante e desafiante que “Nothing’s…”, pois assumiram mais riscos ao criarem uma alucinatória viagem sonora.
Com “Ritual De Lo Habitual” apresentam-nos mais nove exuberantes temas, ao nível do melhor que já tinham feito, mas ainda adicionaram a agradável habilidade da canção “pop”.
O disco pode dividir-se em dois lados distintos.
De um lado estão as canções mais “rock”, as mais enérgicas, que com as suas batidas rítmicas e o irromper das explosivas guitarras tornaram “Stop!” (com a subversiva introdução em Espanhol), “No One’s Leaving”, “Ain’t No Right” e “Been Caught Stealing” (uma gracejante paródia) apropriadas para a rádio e a MTV. Enquanto do outro temos as canções mais “calmas”, as mais experimentais e diversificadas, como a belíssima “Classic Girl”, “Then She Did…” e a épica obra-prima de 12 minutos que é “Three Days”, composta por cinco distintas secções, que contemplam guitarras acústicas, secções de cordas, até aos desenfreados solos de bateria e guitarra que conduzem a canção ao seu grandioso final, e que deram aos fãs algo para devorar e idolatrar.
“Ritual…” é simultaneamente suculento, estimulante e sarcástico, mas também intenso e teatral.
Quem sabe, se não tivesse existido um disco, editado no ano seguinte, de nome “Nevermind”, e este talvez não fosse considerado como o exponente do rock moderno.