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27 janeiro 2011

Compilações # 9 - The Homosexuals – “The Homosexuals Record” (1984 Recommended)

Uma das melhoras bandas da primeira geração “punk” nunca editou um álbum legítimo. Esta compilação de 16 temas seleccionados por Chris Cutler para a sua editora, e lançada seis anos após a maioria dos temas ser gravado, reagrupa “singles” e gravações “perdidas” e se pode omite algumas coisas, é na mesma deslumbrante.
Os The Homosexuals foram uma banda extremamente original, inteligente, bizarra e apaixonante, que sempre se esconderam atrás de inúmeros pseudónimos e abraçaram a obscuridade.
Eles representaram verdadeiramente a ética “DIY” do “punk”, ao fazerem um esforço concentrado para evitarem o sucesso comercial, gravando em tempo emprestado nos estúdios dos seus amigos, editando os seus próprios discos e raramente tocando ao vivo.
Extremamente influentes em todas as formas da música “punk” britânicas as suas guitarras angulares, as melodias complexas e as tendências experimentais distanciou-os um pouco do “punk” que estava ser criado pelos seus contemporâneos e cimentou a sua reputação como uns precursores do “pós-punk”.
Apesar destas inclinações externas, a sua música é mais ecléctica do que experimental, pois a maioria dos aspectos experimentais – harmónica dissonante, letras surrealistas, múltiplas mudanças estilísticas e rítmicas dentro das músicas – actuam como um véu para, basicamente, canções de “pop” excêntricas, completas com harmonias vocais, refrão e versos.
Foram muitas vezes comparados com os This Heat, mas os The Homosexuals estavam mais preocupados com a elaboração de canções de uma forma mais interessante do que a desconstrução das mesmas.
Eles foram fortemente influenciados pelo “afro-beat” e pelo “dub”, mas ao invés de assimilarem estes estilos numa sonoridade “punk”, eles criaram um crivo sonoro através do qual essas sonoridades pudessem passar e depois surgirem radicalmente alteradas.
Sublimemente difícil.
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23 outubro 2010

Compilações # 8 - Abecedarians – “AB-CD” (1988 Caroline)

O curioso título desta compilação, que basicamente contém os conteúdos dos dois primeiros álbuns dos californianos Abecedarians, é uma abreviatura do seu próprio nome. Eles foram durante os cinco anos da sua existência, uma das poucas bandas americanas do “post-punk” que deram uma apropriada resposta ao paralelo movimento britânico. E seria uma pena se ficarem na história apenas por terem sido a única banda americana que editou pela Factory Records (o single “Smiling Monarchs”, pois eles tinham uma sonoridade única, extremamente ampla e deserta, que encapsulava elementos do “post-punk”, “dream pop”e “post-rock”. Foram alvo de inúmeras comparações com os melhores do género, mas certamente serão os Echo And The Bunnymen a melhor referência, pelos ritmos enérgicos, pelas ressonantes guitarras, pelo serpenteante baixo e por uma bateria num estilo “jazzistico”, reminiscente dos Can, que impulsionava as músicas de uma forma expansiva, mas desapressada, para criar composições heterodoxas como as impressionantemente hipnotizantes “Soil” e “I Glide”.
Assente nas vocalizações profundas e distintas de Chris Manecke, em conjunção com as exuberantes guitarras submersas em “reverb”, era a robusta secção rítmica que funcionava como a âncora sonora que continha as imponderáveis atmosferas onde as canções se aventuravam. A banda notavelmente intercalava uma quantidade de truques tecnológicos no seu som, alternando entre canções mais optimisticamente “pop” e material mais melancolicamente lento. E assim se as guitarras discordantes do sombrio “Ghosts” relembram os Joy Division, já as “drum-machines” e os sintetizadores presentes em “The Other Side Of The Fence” recordam os Orchestral Manoeuvres In The Dark nos seus primórdios.
Um disco para ouvir lentamente e repetidamente.
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06 julho 2010

Compilação # 7 - Y Pants – “Y Pants” (1998 Periodic Document)

Barbara Ess tocou com Glenn Branca nos The Static, mas o seu grupo posterior, Y Pants, descolou-se do idealismo “make-it-new” do movimento artístico “no wave”, para se tornarem num dos mais divertidos grupos femininos de sempre.
Baseados em torno do baixo pulsante de Ess, no pequeno teclado Casio de Gail Vachon e na forma brusca e vigorosamente primitiva com que Virginia Piersol tocava a sua bateria de plástico, as Y Pants evitaram a centralidade da guitarra tanto quanto elas poderiam – quando era necessário algo para preencher uma faixa, elas geralmente preferiam o “ukulele”. Elas tinham todas vozes frágeis e límpidas, mas cantavam em simultâneo para se reforçarem umas as outras, e apesar de todo o seu repúdio pela ortodoxia “rock”, elas adoravam o seu ritmo e a sua simplicidade.
Este disco reúne todas as gravações realizadas pela banda: o seu EP de estreia em 1980, uma faixa de uma compilação da Tellus, e o seu único álbum de originais, “Beat It Down” de 1982. E é um belo documento de um momento particular na história da “downtown NYC”, pois para além dos chilreantes e tinidos originais, como o satírico ”Do The Obvious”, estão presentes configurações de Bertold Brecht e Emily Dickinson, e uma versão imortal do clássico “That’s The Way Boys Are” de Lesley Gore, abrandada como para um canto fúnebre e cantada “acappella” com um grito ouvido vagamente na retaguarda.
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11 fevereiro 2010

Compilação # 6 - The Lines- “Memory Span” (2008 Acute) / “Blood Bank” (2008 Acute)

Tentar perceber porque é que do fértil período do “pós-punk” os The Lines ficaram na obscuridade, enquanto numerosas bandas do mesmo cânone foram redescobertas, é realmente uma grande incógnita.
Mas felizmente, e depois dos Fire Engines e The Prefects, a Acure decidiu remediar a situação ao editar duas compilações que cobrem os anos de actividade da banda de Rico Conning, entre 1978 e 1983 - “Memory Span” (que agrupa “singles”, faixas previamente não editadas e Peel Sessions) e “Flood Bank” (que reagrupa os dois discos originais que gravaram - “Therapy” e “Ultramarine”).
Extremamente imaginativos e focados, criaram um som verdadeiramente ecléctico, ao combinarem a estética “punk” com a música psicadélica, o “funk” e harmonias “dub”.
O resultado é um esparso e inteligente “pop-rock” abrupto e hipnótico, que relembra mas nunca imita contemporâneos como The Soft Boys, XTC, ou Wire.
O facto de terem criado a sua própria editora – Red Linear – fez com que tivessem a liberdade para experimentar e a capacidade de se desenvolverem ao seu próprio ritmo.
Do primeiro disco destacam-se o possível clássico “White Night”, o austero chocalhar de “Cool Snap”, o “disco-punk” de “False Alarm” e “Transit” e a espantosa “House Of Cracks”.
Do segundo, o temerário experimentalismo presente no minucioso “funk” de “Instincticide”, no indolente baixo e na tensa guitarra de “Stripe”, no zumbido electrónico de “Disenchanted”, na jubilosa e oscilante guitarra de “Tunnel Party”, e no arquétipo “post-rock” de “Blow A Kiss”.
Fascinante e essencial.

28 abril 2009

Compilação # 5 - The Beta Band – “The 3 E.P.s” (1998 Regal)

O grupo de Edimburgo juntou aqui os seus três altamente coleccionáveis EP’s, de edição limitada que chegam a atingir preços exorbitantes no mercado. E aqui é onde eles estão ao seu melhor e não no homónimo disco de estreia.
A música é tão idiossincrática e nada processada, super nostálgica e surge algo desligada do mundo, no entanto é extremamente emocional, distinta e excitante. Será algo parecido a um “cocktail” onde se misturam Beck, música psicadélica e “jams”. Mas isso é reduzir a enorme ambição sonora que almejam. Incluindo uma extraordinária variedade de sonoridade e géneros musicais no seu interior, nota-se essencialmente que se estão a divertir, pela forma como os patetas, complacentes, premeditadamente repetitivos ritmos psicadélicos abundam. E se o seu intentado som é desordenado com a inclusão de todo o tipo de instrumentos, como bongos, guitarras acústicas, trompetes, harpas, “hammonds”, palmas e “dub bass” (onde entrelaçando tudo isto está a soporífica voz de Steve Mason), este foi tecnicamente fundido com destreza para elevar a sua aura exótica.
Sendo impossível indicar uma canção que seja o perfeito exemplo da sonoridade criada pelos The Beta Band, podemos destacar a delicada intimidade de “I Know”, a sedutora monástica nostalgia de “Dr. Baker”, a extremamente relaxada cadência rítmica do indolente manifesto “Dry The Rain” (como é possível resistir a esta vibrante canção), a fantástica “Inner Meet Me”, o “pedrado” deambular de “Push It Out”, a atenuante “Needles In My Eyes”, o hábil e subtil poder de “Dogs Got A Bone”, a épica sensibilidade “pop” de “She’s The One”, e os 16 minutos da louca e sinuosa “The Monolith”.
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09 janeiro 2009

Compilação # 4 - “Nuggets: Original Artyfacts from the First Psychedelic Era, 1965-1968” (1972 Elektra)

Originalmente editado em 1972, “Nuggets” é uma terrivelmente fabulosa colecção que reúne algumas das maiores descobertas dos tesouros perdidos do rock. Compilado por Lenny Kaye, colaborador de Patti Smith, incluía uma pletora de gravações de bandas de “garage-rock” pouco conhecidas com pequenos êxitos.
E se a palavra “psicadélica” que consta no título pode afastar alguns, esqueçam, pois as movimentadas e cintilantes cores e luzes e viagens intergaláticas com a mente só chegaram no início da década de 70.
Aqui, esta “primeira era psicadélica” é assente nas ondulantes guitarras, nos órgãos Farfisa, e em pequenos sistemas sonoros. Mais próximos da urgência do “punk” e da “new wave”, pela sua espontânea explosão de testosterona, as ousadas guitarras e o simbolismo dos 7”, tornou-se um critério de referência para esses movimentos. E muitas das raízes estão aqui bem presentes, desde o proto-punk dos The Seeds com “Pushin' Too Hard” ou em “Dirty Water” dos The Standells, o garage punk dos Count Five em “Psychotic Reaction”, o proto-metal dos Amboy Dukes em “Baby Please Don’t Go”, o punk-psicadélico dos The Magic Mushrooms em “It’s-A-Happening”, ou a incompreensível experimentação dos The Castaways em “Liar Liar“.
Vamos esquecer-nos momentaneamente dos Beatles, de Bob Dylan, e de outros revolucionários culturais, “Nuggets”, é uma simples colecção que captura a alegre estética que atraiu os “teenagers” e celebra o básico ideal do “rock”: qualquer um consegue gravar um disco e editá-lo, habilitando-se a ter um sucesso.
A Rhino iria editar mais recentemente uma caixa com 4 discos, mas esta colectânea, a primeira de revelo da era do “rock moderno”, é mais concisa e fundamental com uma avalanche do mais rude e estranho que o rock dos anos 60 ofereceu, e que três décadas depois continua a demonstrar o resplandecente aprumo de quem o realizou.
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The Standells - Dirty Water

04 dezembro 2008

Compilação # 3 - ESG – “South Bronx Story” (2000 Soul Jazz)

Primeiro de tudo, temos de agradecer à senhora Scroggins, pois esta, para que as suas filhas não ficassem nas ruas e assim pudessem cair nas tentações do South Bronx, comprou-lhes alguns instrumentos musicais. As irmãs alinharam e cedo começaram a criar excertos musicais onde tentavam copiar o som de James Brown. O passo seguinte foi participar em alguns concursos de talentos, e num desses Ed Bahlmann, dono da pequena editora independente 99 Records, vê algo de especial naquelas adolescentes, e sobre a sua alçada coloca-as a partilhar os palcos com os seus futuros companheiros discográficos - Liquid Liquid e Konk. Impressionado também ficou o patrão da Factory, Tony Wilson, quando as viu em Nova Iorque, e que de imediato se ofereceu para editar o seu trabalho. Assim em 1981 gravaram as três canções - “You’re No Good”, “U.F.O.” (uma das canções mais sampladas da história) e “Moody” – que iriam constituir o seu primeiro single, e que seriam produzidas à distância em Manchester por Martin Hannett. Rapidamente se tornaram muito populares no circuito de dança de Nova Iorque, que apadrinhou especialmente “Moody” e iriam partilham o palco com gente como A Certain Ratio, Gang Of Four e P.I.L..
Todo isto porque conseguiram criar um tipo de “funk” minimal, primitivo e repetitivo, muito próprio, com ritmos esqueléticos, baseado essencialmente no baixo e percussão, que agradou a brancos (pelo minimalismo associado ao punk) e a negros (pela insistência rítmica).
Para além dos três temas mais conhecidos, destacam-se o mini-ritmo distinto de “Tiny Sticks” e a fascinante simplicidade de “My Love For You”. Mas até no mais recente e convencional “Erase You” as ESG nunca perdem a sua cândida identidade.
Problemas legais com a 99 Records fizeram com que os registos discográficos fossem poucos (somente dois álbuns de originais, o último de 1991), mas esta compilação, que agrega o essencial, permite regalar-nos com a pura inocência da banda e demonstrar que com ritmos simples se podem criar belos momentos musicais.
A positiva reacção a esta mesma compilação fez com que regressassem ao activo e editassem mais dois álbuns, “Step Off” em 2002 e “Keep On Moving” em 2006. E actualmente ainda são vários os músicos, de géneros como o hip-hop, passando pelas Luscious Jackson ou Le Tigre, que nunca esconderam a sua forte admiração.
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22 outubro 2008

Compilação # 2 - Coldcut - “Journeys By DJ” (1995 JDJ)

Em 1995, o colectivo de DJ’s Coldcut – Jonathan Moore, Matt Black, Strictly Kev e PC - editou um CD-mix que tinha como objectivo 3 pressupostos - tinha de incluir os seus discos favoritos através de uma ofuscantemente ampla selecção musical, tinha de ser um disco que se pudesse escutar no conforto caseiro, e tinha de dar um “proverbial” pontapé no saturado e confuso género, muito obcecado por apenas gerar dinheiro.
E logo na sua edição, a reacção foi unânime, este era o disco a possuir.
Seria pelo facto do disco abranger uma desconcertante mistura de géneros com muita qualidade, contendo “electro” (Newcleus, Mantronix), “reggae” (Junior Reid), “hip hop” (Boogie Down Productions), “tecno” (Plastikman, Luke Slater), “house” (MAW), “ambient-pop” (Joanna Law), “jazz-funk” (Red Snapper), “mad funk” (Pressure Drop), “drum’n’bass” (Photek, 2 Player), humor (excertos da série Dr. Who) e outras formas mais abstractas (Jello Biafra, Air Liquide e as outras incarnações dos Coldcut na Ninja Tune)?
Seria pela forma como os efeitos e o tratamento no computador, de que foram pioneiros, adaptou este ajustado puzzle?
Seria pela nova posição numa velha formula, cujo resultado parecia realizado de um forma descarada e sem esforço?
A resposta é obvia, tudo isto e muito mais. “Journeys By DJ” é uma mescla de ingredientes que o tornam maior do que a soma das suas partes, e é muito mais amplo na sua estrutura temporal.
Foi uma surpreendente definição de um estilo numa era e quebrou as regras para o atingir. Intemporal? O melhor será mesmo ouvir, pois é uma viagem fantástica.

Como bónus anexo um original de “Let’s Us Play!” (1997)
Coldcut - More Beats And Pieces

29 abril 2008

Compilação # 1 “Artificial Intelligence” (1992 Warp)

Apesar de John Cale ter popularizado o termo “Artificial Intelligence” no seu álbum de 1985, seria esta compilação da editora Warp a responsável (pelo menos para mim) pelo ressurgimento da música electrónica como uma experiência musical audível, ou se preferirem música de dança para se “escutar”. Iriam rotula-la de IDM – Intelligent Dance Music).
Rob Mitchell e Steve Beckett, fundadores da Warp, andavam atentos e descobriram que existiam muitos projectos musicais de dimensão similares, e decidiram criar um espaço onde pudessem conviver.
É certo que já tinham existido as experiências anteriores dos KLF ou The Orb que criaram um primeiro género de “ambiente house”, e que os artistas aqui presentes foram sem dúvida influenciados pelos Tangerine Dream ou Kraftwerk, mas souberam pegar em todas essas influências e expandiram-nas para criar algo verdadeiramente único.
Apesar das contribuições de muitos dos projectos aqui presentes (maioritariamente sobre a forma de pseudónimos), não serem tão interessantes como os seus trabalhos posteriores, seria desta forma que muitas pessoas iriam contactar pela primeira vez com nomes como Aphex Twin (como Dice Man), B12 (como Musicology), Black Dog (como I.A.O.) ou Autechre. E felizmente todos rapidamente iriam aprender a explorar e potenciar este novo espaço musical através de álbuns notáveis para a Warp.
Independentemente disso, muita da música aqui contida ainda hoje soa moderna e inovadora, especialmente os temas dos Autechre (“Crystal” e “The Egg”), dos I.A.O. (“The Clan”), e o esquecido “Spiritual High” dos UP! (mais uma maravilha criado pelo génio de Richie Hawtin).
Um pedaço de história.