30 agosto 2007

Tony Allen – “Black Voices” (1999 Comet)

Aproveitando mais uma visita deste percussionista, por muitos considerado um dos melhores de sempre...

Se devemos relembrar o seu trabalho como líder do grupo que acompanhou Fela Kuti nos seus anos mais produtivos (1969-79), também devemos referir o seu notável trabalho a solo muitas vezes menosprezado.
Para mim um dos melhores registos é este “Black Voices”, um regresso em força após uma década pouco produtiva.
O disco foi gravado em Paris com uma produção minimalista de Doctor L. O resultado é um conjunto estrutural de composições, onde intensos ritmos Afrobeat, rodeados por guitarras, teclados “wah-wah”, e um poderoso e enérgico baixo, apoiados nas vozes (negras e claustrofóbicas) dos veteranos do P-Funk, Mike “Clip” Payne e Gary “Mudbone” Cooper, nos proporcionam uma crescente viagem psicadélica que nos deixa intoxicados.
O seu som continua inovador e experimental, e onde a improvisação serve de complemento às estruturas rítmicas predefinidas, abrindo novos rumos, ao combinar o afro-beat com o dub, e com a electrónica.

Hoje 22H15
Festival Músicas do Mar - Póvoa de Varzim

29 agosto 2007

My Bloody Valentine Reuniting?

Será verdade....

Via DS - But now some tantalizing hints have emerged in the past few weeks that suggest the band is finally gearing up for a return to action. In July, several fans reported encounters with Shields at Primal Scream and Dinosaur Jr. shows in England, Ireland, and Russia, each returning with the same story: that Shields very matter-of-factly spoke of My Bloody Valentine in the very present tense. The fans reported Shields said that two new My Bloody Valentine releases are in the works – an anthology of unreleased 90s material and an album of brand new studio recordings – along with the imminent release of remastered versions of the band’s original studio work. He is also reported as saying, on several different occasions, that a 2008 tour is in the works that will feature the band’s original lineup. Furthermore, in an interview published earlier this year in Magnet magazine, Shields was adamant about the band’s return: “We are 100% going to make another My Bloody Valentine record unless we die or something,” he said.

28 agosto 2007

Singles # 4 - Blur – “There’s No Other Way” (1991 Food)

Após escutar o charme inocente de “She’s So High”, o primeiro single dos londrinos, Stephen Street interessou-se pela banda, e como resultado surgiu “There’s No Other Way”, o primeiro resultado de uma longa colaboração entre ambos.
O segundo single dos Blur é bastante diferente do trabalho futuramente realizado pela banda, está mais próximo da “indie-dance” do final dos anos 80 do que do “brit-pop”, apesar que a melodia me relembra os R.E.M. em “Stand”.
Estávamos numa altura em que a banda ainda não tinha de se preocupar em ser porta-estandarte de uma geração.
Após a edição, no mesmo ano, do álbum de estreia “Leisure”, os Blur iriam reinventar-se e os frutos surgiriam um ano depois com o lançamento de “Popscene”.
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23 agosto 2007

Seefeel – “Quique” (1993 Too Pure)

Apesar de terem assinado posteriormente trabalhos na Warp e na Rephlex, seria no seu disco de estreia
- o meu favorito - que os Seefeel, realizaram provavelmente o trabalho mais conceptual do grupo, e onde se denota uma maior sinergia entre os diversos membros.
Assim criaram uma mistura de hipnóticas texturas analógicas com efeitos de guitarras “Shoegazing” (influência clara My Bloody Valentine) My Bloody Valentine) e as luxuriantes angélicas vozes femininas.
O disco agrupa de uma forma completamente única diversas influências distintas, às vezes de uma forma experimental, outras de uma forma estética.
É difícil escolher um destaque porque o disco funciona como um todo.
Ouçam os três temas iniciais: “Climactic Phase #3” com os seus ritmos simples, e as imensas ondas de sintetizadores, seguida de “Polyfusion” que adorna o “feedback”, com densas camadas sonoras e a bela e incompreensível voz de Sarah Peacock, e “Industrious”, mais uma vez com a voz a estremecer etereamente sobre uma poderosa batida rítmica; e constatem como ao juntarem as possibilidades oferecidas pela electrónica com um trabalho de guitarra e baixo poderoso e sensual, criaram algo verdadeiramente diferente.
Se os Cocteau Twins tivessem integrado mais sintetizadores e caixas de ritmos talvez soassem assim.
Um clássico “indie-electronica” de um grupo que teve uma curta carreira, está agora disponível numa “Redux Edition” de 2 CD’s com mais 9 temas do que a edição original (o costume: B-Sides e remixes). Se ainda não o possuem, aproveitam, pois nos restantes discos nunca mais capturaram a criatividade aqui presente.
Um sedativo de atmosferas digitais.

13 agosto 2007

Extremos # 1 - Naked City – “Naked City” (1989 Nonesuch/Elektra)

Um dos discos que mais me surpreendeu aquando da sua edição em 1989. As primeiras audições foram brutalmente surpreendente, pois do pouco que conhecia do trabalho de Zorn (essencialmente “The Big Gundown”) não esperava nada disto.
Trata-se de um estimulante projecto do multifacetado saxofonista John Zorn, acompanhado pela fina-flor dos músicos nova-iorquinos: Bill Frisell, Fred Frith, Wayne Horvitz, Joey Baron; e com a colaboração do vocalista Yamatsuka Eye dos Boredoms, cujo objectivo inicial era testar os limites da composição e da improvisação com uma banda de rock tradicional.
Dessa forma a música presente no disco incorpora elementos tão diversos como o free-jazz ou o punk-rock.
Assim o disco inclui uma notável reinterpretação de “Lonely Woman” de Ornette Coleman, alucinantes versões de temas de filmes clássicos como “The James Bond Theme”, “Chinatown” ou “A Shot In the Dark”, e inclusive puros exercícios de hardcore-rock, próprios para fãs dos Napalm Death ou Carcass (com quem chegaram a partilhar os palcos), como em “Speedball” ou “N.Y. Flat Top Box”, onde Yamatsuka Eye parece estar possuído.
No entanto a maioria dos temas são imprevisíveis originais, onde são evidentes também as qualidades de compositor de Zorn, que se destacam em “Saigon Pick-Up”, onde vão variando de estilo e “tempos”, mas conseguem-se manter perfeitamente consistentes.
Totalmente diferente do seu trabalho posterior com o projecto Masada, não é um disco para ouvidos e corações frágeis. Excitante, mas assustador.

10 agosto 2007

Singles # 3 - Altered Images – “Don’t Talk To Me About Love” (1983 Epic)

Estes escoceses já tinham editado um single - “Happy Birthday” (podia ser uma escolha) - que os tinha tornado num dos grupos independentes mais populares do início dos anos 80.
Entretanto a banda amadureceu e os frutos estão presentes no álbum “Bite”, o terceiro da sua carreira.
Fundamental para esse desenvolvimento sonoro foi a contratação do produtor Mike Chapman (que produziu “Heart Of Glass” dos Blondie), para a produção do álbum, que continha “Don’t Talk To Me About Love”.
A canção soa tão fresca hoje como quando foi editada.
Atinge o auge da verdadeira expressão artística, liricamente é tão dolorosa como encantadora. E a voz de Clare Grogan, soa voluptuosamente polida.
Infelizmente, actualmente não são muito relembrados, o que é estranho quando ouvimos um dos melhores singles indie-pop de sempre.
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08 agosto 2007

Patrick Cleandenim – “Baby Comes Home” (2007 Ba Da Bing!)

Após o sucesso obtido no ano transacto com o disco de estreia dos Beirut, esta pequena editora parece ter encontrado outro potencial sucessor para o ano corrente, com o disco de estreia do nova-iorquino Cleandenim.
O disco contém uma enorme quantidade de influências, evidentes nos trabalhados arranjos que são um testemunho das suas capacidades de criador de clássicos pop, baseados nos seus conhecimentos enciclopédicos que incluem desde o trabalho inicial de Scott Walker, até às “big bands orchestras” e o swing dos anos 50, passando pelo 60’s beat, pela Motown, e a grandiosidade cinemática que percorre permanentemente o disco.
E se estas influências podem funcionar como homenagens, o disco não está preso ao passado, e tem a capacidade de o recriar. Ouçam “Whispers Only Hurt Them”, com a dualidade entre o piano e o órgão Rhodes e a voz ligeiramente distorcida, que refrega de outro modo uma serena canção.
Com um retro “vibes”, onde “Days Without Rain”, é um perfeito exemplo, com o omnipresente piano suportado pelas maravilhosas investidas da secção de cordas, que a transforma numa canção brilhante ao ponto de poder desafiar Rufus Wainwright.
E como podemos resistir a canções com títulos como “Caviar & Cognac”(outro destaque patetamente elegante).
É um disco ambicioso, a música é super-melódica, com sofisticados arranjos de cordas, e um sofisticado trabalho vocal. Uma das grandes surpresas de 2007.
Um episódio da era dourada do pop revitalizado no século 21.

03 agosto 2007

Classic # 7 - Slint – “Spiderland” (1991 Touch and Go)

Dezasseis anos após a sua primeira edição, “Spiderland”, não perdeu nenhum do seu encanto.
É difícil explicar o impacto que este disco teve, porque paradoxalmente, não soa como nada que surgiu antes ou depois da sua edição.
Para mim o parente mais próximo será o trabalho desenvolvido pelos Tortoise e outras bandas “post-rock” onde estiveram envolvidos os antigos membros dos Slint, nomeadamente o projecto posteriormente desenvolvido por Brian McMahan, os The For Carnation. No entanto ”Spiderland” é no essencial música “rock”, mas com um sentido de mistério que escapa totalmente à maioria das “bandas rock”.
Renunciando completamente a tradicional estrutura da canção:”versos-refrão-versos”, os Slint (Brian McMahan, David Pajo, Britt Walford e Todd Brashear) criaram e estratificaram composições densas e atmosféricas, com dinâmicas diversificadas, mas acessíveis ao mesmo tempo.
O seu encanto reside no facto da sua brutalidade ser “brutalmente” subtil.
Uma música poderosamente enérgica e dramática, notória na intensidade das épicas canções.
E reza a história que as gravações foram tão intensas que vários membros da banda tiveram de receber apoio psiquiátrico.
Como exemplo e destaque óbvio, “Good Morning Captain”, a melhor canção do disco, sete minutos e meio estranhamente “assustadores”, que através dos suspiros de Brian McMahan, complementadas pelas guitarras incendiarias em fundo e o ritmo tribal da bateria, evolui até atingir o seu êxtase, quando a canção explode e liberta aquele grito arrepiante “I Miss You”. Aquele momento é um dos mais emotivos pedaços de música que alguma vez ouvi.
É um final extraordinário para um disco extraordinário.

01 agosto 2007

Singles # 2 - Saint Etienne – “Only Love Can Break Your Heart” (1990 Heavenly)

Surgiram do nada com uma versão fantástica do original de Neil Young, e com o nome inspirado na famosa equipa francesa de futebol dos anos 70.
Pegaram no rústico original e transformaram-no numa excelente canção “pop” para a geração pós-rave, com uma batida irresistível, um crescendo de piano e um baixo orquestralmente mecânico, dando-lhe uma nova e impensável revisão.
Na altura sem vocalista definida, utilizaram Moira Lambert, que ao não acrescentar muita emoção na performance, acabou por favorecer a canção.
A mesma tornar-se-ia um clássico “chill-out” devido à excelente remistura realizada pelo mágico Andrew Weatherall, “mix of two halves” presente na versão 12” e na posterior re-edição em CD.
Como muito do trabalho inicial do St. Etienne (“Nothing Can Stop Us”; “Filthy”; Join Our Club"), “Only Love Can Break Your Heart”, é fortemente evocativo de uma época, o verão do início dos anos 90.

PS – Para os curiosos o original está no “After The Gold Rush”, e também é uma excelente canção, dentro do seu género.

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