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19 outubro 2010

Tributo # 13 - Can

Os Can surgiram em 1968, na cidade de Colónia. A anarquia, novas liberdades e novas questões estavam no ar. A Europa Ocidental estava a adoptar novas formas de pensar o seu futuro, e os jovens alemães levaram a necessidade de revolução para o coração.
O teclista Irmin Schmidt tinha sido aluno do pioneiro da música electrónica Karlheinz Stockhausen, e durante esse período, Schmidt conheceu Holger Czukay, que na altura compunha extremamente complexas peças musicais e que se tornou baixista enquanto ganhava a vida como professor de música.
Um dos alunos de Czukay, o guitarrista, Michael Karoli, estava convencido de que os The Beatles e os The Rolling Stones eram melhores do que Stockhausen e Beethoven. Ele demonstrou-o a Czukay ao tocar “I Am the Walrus”, um momento decisivo para Czukay, pois este percebeu que era possível ser-se musicalmente audacioso no contexto de uma canção “pop”.
Entretanto Schmidt estava a ficar cada vez mais aborrecido com os seus estudos formais da música e cada vez mais encantado pelos sons radicais provenientes do mundo do “rock”, especialmente, os The Mothers of Invention, os The Velvet Underground e Jimi Hendrix, ou seja, música eléctrica que incorporou improvisação, dissonância, elevados volumes sonoros e, provavelmente o mais importante, o ritmo percussivo – um elemento que a música clássica, mesmo nos seus modelos mais “avant-.garde”, nunca incluiu.
Schmidt e Czukay decidiram formar um grupo para criar um novo tipo de música; nenhum tinha muito conhecimento do “idioma rock”, um facto que ambos consideravam uma grande vantagem, pelo facto de assim ser difícil seguir os “rock” clichés.
Recrutaram Karoli para tocar guitarra, e completaram o grupo com um amigo de Schmidt – o baterista Jaki Liebezeit - que tocava “free jazz” e “bebop”, e um itinerante artista negro norte-americano chamado Malcolm Mooney, que possuía a rara habilidade de improvisar letras que faziam um muito seu próprio sentido.
Os Can queriam fazer um tipo de música que combinasse elementos de “rock”, “jazz”, “r&b”, “world music”, electrónica, mas que no entanto não fosse nenhuma dessas, pois era crucial que essa música fosse apenas deles, caso contrário, não tinha interesse.
Liebezeit, também tinha começado a odiar as suas performances de “free jazz”, ele sentiu que o “free”, paradoxalmente, estava actualmente a matar a música, e começou a desenvolver um interesse nos ritmos “naturais” que podiam ser encontrados nas músicas étnicas, ritmos que podem ser multifacetados e complexos e ao mesmo tempo facilmente “sentidos” e “compreendidos” pelo corpo humano.
Desde o início que a música dos Can se caracterizou pelos fortes poliritmos da percussão e pela densa interacção instrumental, como é visível nos 20 minutos de “Yoo Doo Right” do primeiro álbum “Monster Movie”.
Foi no seu próprio estúdio de gravação situado num velho castelo chamado Schoss Norvenich, a cerca de meia hora de Colónia, que os primeiros álbuns da banda foram gravados (o japonês Damo Suzuki substituiu Mooney após a edição do primeiro). A música dos Can foi construída no princípio de que “everyone solos, no one solos” – ou seja, a música era sobre o “tecido” e não sobre os “tecelões”. As peças têm frequentemente uma “qualidade fabricada” – Czukay, como engenheiro chefe, esculpia as “jams” livres, através da edição e da mistura, dando-lhes estrutura e espaço para respirar.
Foi a espontaneidade e a forma quase telepática de trabalharem em conjunto que criou o verdadeiro génio e que os fãs consideram os seus melhores anos: “Tago Mago”, “Ege Bamyasi”, “Future Days” e “Soon Over Babaluma”.
Todos os álbuns foram gravados em duas pistas, o que é surpreendente tendo em conta a densidade de informação sónica que contêm. Mas Czukay, sentiu que o uso de “multitracking” foi o princípio do fim, pois incentivou o grupo a pensar em si mesmos como “players” mais preocupados com as suas partes do que contribuírem apenas com o que era necessário para a excelência do todo. E isto é evidente nos últimos discos dos Can, já com Rosko Gee no lugar de Czukay, e com a adição do percussionista Reebop Kwaku Baah. O grupo tinha melhorado como “players”, no entanto a música perdeu a sua inefabilidade, o seu mistério e assim o seu real poder.

06 março 2009

Classic # 18 - Love – “Forever Changes” (1967 Elektra)

Um dos mais perfeitos discos alguma vez registados, impressiona-me pelos exuberantes arranjos, pelas estruturas acústicas e pelo tom melancólico. E apesar de parcialmente soar como um produto do seu tempo, o disco é extremamente sofisticado musicalmente. Está repleto de instrumentos, de excelentes sinfónicas orquestrações (por David Angel), de sumptuosas harmonias vocais, de distintas melodias, de uma atmosfera sombria e uma grande produção de Bruce Botnick e Lee. Apesar de baseados em Los Angeles, a sua sonoridade não tinha nada a ver com contemporâneos como The Doors, pois a sua música envolve vários estilos, como “folk” e “jazz” o que a torna difícil de catalogar. Por essa altura Lee tornou-se incrivelmente fatalista, convencido que iria morrer e que este seria o seu último testamento, e sabendo que não conseguia competir com a energia eléctrica do seu amigo Jimi Hendrix, Lee decidiu investir num som mais introspectivo.
Tal como a fantástica capa do disco, é um disco cheio de vida, uma rodopiante colecção de cores, estados de espírito e emoções. E alguém pode duvidar disso depois de ouvir o primeiro tema - “Alone Again Or” – começa com a sua contagiante e serena guitarra acústica para depois inesperadamente surpreender-nos com o majestoso e hábil solo de trompete. E o que parece ser uma canção de amor transforma-se numa noção “hippie” em que o narrador proclama “could be in love with almost everyone”.
Os temas são interpretados de uma forma triste, (a paranóia e a morte misturam com temas mais animados) mas nunca oprimida, e ao longo do disco existe uma vivacidade até nas canções mais delicadas como na visão apocalíptica de “Andmoreagain” ou “The Good Humor Man He Sees Everything Like This”. Mesmo nas canções mais “rock”, na propulsiva “A House In Not A Motel” ou na realista “Live And Let Live” o tom é subjugado e a ira é controlada. As visionárias “Maybe The People Would Be The Times Or Between Clark and Hillsdale” e “You Set The Scene” são autênticos postais da era - o verão do amor, cínico e desesperante, formoso e imponente – onde na última tão bem se reflecte a realidade nos seus momentos de solidão e optimismo existencial.
Arthur Lee é um dos mais sobrestimados compositores de todos os tempos, e esta primeira incarnação dos Love foi a melhor pelo seu incompatível convívio com Bryan Maclean.
Indescritivelmente essencial.
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23 fevereiro 2009

Inovadores # 12 - Silver Apples – “Silver Apples” (1968 Kapp)/ “Contact” (1968 Kapp)

Alan Vega dos Suicide costumava citar o nome dos Silver Apples como a principal influência para as suas estranhas psicoses sonoras. Nada soava como os Silver Apples quando o duo apareceu em 1968. Era uma rígida, embora pulsante e hipnotizante apropriação do “rock” para além dos seus limites. Se bem que o apetite pela experimentação inevitavelmente conduziu muitos grupos a introduzir instrumentos electrónicos, foram os SA, que desde o princípio, ousaram abandonar todos os outros instrumentos para estender e capturar o som do futuro.
Simeon Coxe deixou Nova Orleans com 21 anos para tentar a sua sorte como pintor em Nova Iorque. Mas um encontro casual com o compositor Hal Rodgers, iria mudar o seu rumo. Este mostrou-lhe o “oscillator” que tinha ligado ao seu equipamento “stereo”. Era a primeira vez que Coxe via de perto um instrumento electrónico, e ficou totalmente fascinado pelos sons alienados que produzia. Posteriormente Coxe adquiriu o instrumento, que iria costumizar e que viria a ser a base do futuro som dos Silver Apples.
Antes ainda teve algumas experiências com outros grupos, que se foram distanciando de Coxe pelo facto de este querer introduzir gradualmente mais electrónica, até que um dia ficou sozinho com o baterista Danny Taylor, que tinha tocado com Jimi Hendrix e por isso não era facilmente perturbado por ruídos antinaturais, e ambos decidiram formar os SA.
O seu primeiro disco foi editado por uma pequena editora chamada Kapp em 1968, suportado pela surpreendente capa prateada com o recorte de duas maças a negro. A música era uma unicamente híbrida mistura de dinâmicas “rock” - cortesia da sintonizada bateria de Taylor - de caprichosa electrónica e de poesia fornecida por vários conhecidos da banda. Para o segundo disco tiveram acesso a um estúdio de 24 pistas, com uma mesa de mistura que se parecia com a consola de um avião. Isso seria espelhado em tom de brincadeira na capa do disco, onde aparecem fotografados dentro do “cockpit” de um avião real da Pan Am.
Mas seria também o inicio do fim, a companhia aérea ameaçou avançar com uma acção judicial, a que se seguiu um conflito com o agente da banda relacionado com dividas contraídas, que iria impedi-los de actuar ou gravar, e que eventualmente acabou com a banda.
No final do século passado surgiu um interesse pelo trabalho do grupo através de tributos prestados por gente como Xian Hawkins, Flying Saucer Attack, Third Eye Foundation e Spacemen 3. E chegaram a gravar um disco mediano com Steve Albini, mas é neste dois discos que está um importante capítulo da evolução musical.

16 julho 2008

DVD # 3 - White Stripes - “Under Blackpool Lights” (2004 XL)

Esqueçam todas as opiniões e ideias que se possam fazer sobre a importância dos White Stripes, e do facto de terem ou não revolucionado o “garage-rock-blues”. Aqui somente nos vamos centrar neste concerto.
Filmado nos formatos Super 8 e 16mm, com as suas imperfeitas imagens cheias de grãos, e para assim reforçar o objectivo de proporcionar uma magnifica perspectiva intemporal de se capturar a emoção e sentimento (para além das qualidades anti-tecnológicas, evidentes na edição do próprio concerto) de ver uma das melhores bandas contemporâneas ao vivo.
É um documento em bruto, despojado e extremamente genuíno dos White Stripes ao vivo, e que demonstra que não existe mais nada a afirmar, somente a sua idiossincrasia e esplendor.
Pois nesta fria noite de Janeiro, na soturna cidade costeira do noroeste de Inglaterra, realizaram uma fantástica e electrizante performance minimalista, demonstrando que é quando tocam ao vivo onde eles desabrocham mais energia e paixão, e todo o fundamento das raízes da sua música.
A forma de Jack White tocar guitarra é hipnotizadora, como se estive possuído, chegando a relembrar Jimi Hendrix. E Meg White toca bateria descalça, com o seu ar infantil, mas gerando um louco e trovejante barulho, numa forma simplesmente única de tocar a mesma.
Quando Jack White grita o tema de Leadbelly, “Take a Whiff On Me, Death Letter”, temos a melhor descrição desta actuação arrebatadoramente entre o absoluto caos e o sublime. E conseguem atingir o brilhantismo nas terríveis interpretações de “Black Math”, “Truth Doesn't Make A Noise”, “Hotel Yorba” e “Seven Nation Army”.
O facto de incluir muitas canções dos primeiros discos, e não se focaram excessivamente em “Elephant” (na altura o seu ultimo disco), torna-se ainda mais atractivo.