28 janeiro 2010

Vampire Weekend - “Contra” (2010 XL)

Os atípicos Vampire Weekend desde o seu disco de estreia que cativaram uma boa quantidade de fãs e antipatias.
Isso deveu-se essencialmente e simultaneamente pelo facto de ao terem extraído toda a permutabilidade das melodias e ritmos instituídos nos principais elementos da música Africana, com uma jovialidade e um aparato habilidoso, fez com que o mesmo fosse considerado como um acto pretensioso realizado por um bando de miúdos universitários privilegiados.
Mas a sua música - executada com precisão e inspiração - é meritória do “hype” que geram.
Mais uma vez produzido pelo teclista Rostam Batmanglij, “Contra”, é mais complexo e variado, mas menos imediato do que o seu antecessor. Aqui o quarteto liderado por Erza Koenig inventou novas formas de recriar o que tinham feito anteriormente. Existem menos guitarras, e mais “samples”, muitos sintetizadores, várias espaçosas orquestrações e mais efeitos de estúdio que realçam o seu som. As influências africanas ainda estão presentes, mas agora incorporam o “dancehall”, “reggae”, e o “ska”. E assim, cada impecavelmente meticulosa composição é uma inventiva experiência rítmica cultural.
Seja no sereno matraqueado piano, evocativo dos Konono Nº1 de “Horchata”, no ruído arrastante de “White Sky”, na incorporação do “ska” em “Holiday”, no cintilante piano e nas luxuriantes orquestrações de “Taxi Cab”, na frenética “Cousins”, no “electro-rock” presente em “Giving Up The Gun” ou na delicada e melancólica “I Think Ur A Contra”, o exótico “Contra” confunde e encanta, e os “antipatizantes” estão a perder algo brilhante.
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21 janeiro 2010

Electronic # 13 - The Sabres Of Paradise - “Haunted Dancehall” (1994 Warp)

Normalmente relegados para segundo plano quando se analisa a editora Warp, os The Sabres Of Paradise criaram aqui um disco extremamente coeso, que envelheceu maravilhosamente e ao contrário de muitos registos do mesmo período ainda soa tão moderno hoje como quando foi editado.
Inventivo e abstracto, ao nível do melhor de uns Aphex Twin, Andrew Weatherall e companhia fizeram um disco conceptual, mas onde parece obvio que também se queriam divertir, pois inventaram as treze pequenas narrativas (que seriam retiradas de um imaginário livro “Haunted Dancehall” de um imaginário autor - James Woodbourne), que acompanham o disco e que dão o titulo aos temas que servem para relatar a atmosfera da peculiar excursão de um tal Nicky McGuire pelo lado impuro da cidade de Londres.
Convenientemente estruturado, muito mais que o anterior disco, o palpitante “tecno” de “Sabresonic”, e menos direccionados para a pista de dança, é evidente que eles aqui encontraram o espaço necessário para serem cinemáticos e descritivos sem nunca comprometer o “groove”, ao criarem texturas sonoras (triturando “hip-hop”, “electro”, “dub”, “acid”) e sentimentos verdadeiramente únicos e totalmente envolventes, onde os espaços entre a música são tão importantes como a própria música.
Manhosamente, as faixas agem como se tivessem sido edificadas a partir da precedente, e de faixa para faixa, criam um sublime padrão auricular, através de pervertidos e borbulhantes “beats”, que aumenta a sombria atmosfera presente nas incursões de McGuire pelas ruas sinistras e becos misteriosos de Londres.
É impossível resistir à sinistra ameaça “lo-fi” de “Tow Truck”, aos melancólicos “grooves” da “mix” dos Portishead para “Planet D”, à assombrosa beleza de “Theme 4”, ao “tecno-dub” suspenso de “Wilmot”, ao excêntrico “Bubble And Slide”, às fantásticas paisagens sonoras de “The Ballad Of Nicky McGuire” e à espantosamente obscura “Haunted Dancehall” que encerra este aventuroso disco.
Genial.
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19 janeiro 2010

Do fundo da prateleira # 19 - Clearlake - “Cedars” (2003 Domino)

Depois da excelente estreia com ”Lido”, o atraentemente e simultaneamente sereno e ameaçador “Cedars” foi o segundo disco deste quarteto liderados por Jason Pegg.
Aqui destaca-se essencialmente a capacidade de Pegg escrever melodias assombrosamente harmoniosas, de forma a criar incisivas e despretensiosas canções que aprofundam assuntos raramente explorados desta forma tão “forense” - loucura, morte, frustração, alienação - utilizando um humor bem seco, reminiscente do melhor Morrissey, e encontrando grande inspiração nas mundanas tradições britânicas.
O vigor e a profundidade claustrofóbica de “Cedars” – que inclui canções que oscilam entre a poesia paroquial de “Keep Smiling” e a melancolia cinematográfica de “Wonder If The Snow Will Settle” - conferem um sentimento quase sobrenatural de empatia na “pop” inarmónica da vibrante “Almost The Same”, na espirituosa “The Mind Is Evil”, na glacial e grandiosa “I’d Like to Hurt You”, ou na sombria e intensa “It’s All Too Much”. Estão ainda melhores na inspirada “Treat Yourself With Kindness” (uma canção que simultaneamente nos faz rir e chorar), e terminam maravilhosamente bem com “Trees In The City”.
Um ecléctico e cativante álbum, produzido pelo ex-Cocteau Twins Simon Raymonde, que confirmava o “pedigree” da banda, que na altura chegou mesmo a ser qualificados por muitos como uma das possíveis sucessoras dos The Smiths para o século XXI.
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14 janeiro 2010

Rock # 11 - Archers Of Loaf - “Icky Mettle” (1993 Alias)

Infelizmente os Archers Of Loaf sempre pareceram perdidos no dilúvio da enorme corrente de “música alternativa” que surgiu no início da década 90 nos Estados Unidos.
O seu inquietante e desordenado “indie-rock”, é muita vezes comparado com o dos Pavement, mas sonoramente estão mais próximos dos seus conterrâneos da North Carolina, Superchunk e Polvo pelo choque entre “noise-pop” e “ pós-punk”, ou mesmo dos Dinosaur Jr., pela capacidade enérgica.
O seu abrasivo e impetuoso disco de estreia, “Icky Mettle”, está repleto de energia e fúria. São as penetrantes, abruptas e triturantes guitarras que comandam, mas com a sólida secção rítmica (composta pelo baixista Matt Gentling e pelo baterista Mark Price), a grudar conjuntamente toda a potente confusão. E através da impressionantemente extenuada voz do vocalista Eric Bachmann, surgem as disfuncionais, rancorosas e impenetráveis letras que abordam gloriosamente a vida na sociedade moderna.
Ecléctico, torna-se difícil destacar algum tema, mas pessoalmente continua-me a fascinar a persistente atracção de “Web In Front”, a inflexível “Last Word”, a dupla artilharia de guitarras presente em “You And Me”, a ríspida energia de “Fat”, a ardente “Learo, You’re A Hole”, a genial “Toast”, ou a áspera “Backwash”.
Nos três discos seguintes iriam por variadas razões evoluir sonoramente, mas “Icky Mettle”, é ainda hoje obrigatório para a compreensão do “indie-rock” nos anos 90.
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13 janeiro 2010

Pop # 9 - Belle And Sebastian - “If You’re Feeling Sinister” (1996 Jeepster)

“If You’re Feeling Sinister” é, na minha opinião, onde encontramos o mais forte conjunto de canções alguma vez criado pelos Belle And Sebastian. Mais melancólico, complexo e sofisticado, do que por exemplo “The Boy With The Arab Strap”, aqui criam uma “pop” perfeitamente arrebatadora e melódica, maioritariamente assente em guitarras acústicas ou guitarras eléctricas límpidas.
Composto de formosas canções, que contam histórias únicas - às vezes opinativamente, às vezes introspectivamente – relatadas pela fantástica visão surreal da vida cotidiana que Stuart Murdoch têm.
As vozes suaves e a dócil música podem enganar, pois existe aqui pouca inocência. Ouçam atentamente as memoráveis letras, subtis e sarcásticas, impregnadas de um elevado (embora bem negro) sentido de humor.
Desde a épica, intemporal e fantasticamente cómica “The Stars of Track And Field”, passando pela espiral de piano presente em “Seeing Other People”, pelos gentis e alucinogénicos arranjos de “Like Dylan In The Movies” , pelo belo hino metafórico “The Fox In The Snow”, pela notável “Get Me Away From Here, I’m Dying”, pelo delicado e disciplinado dedilhar visível na extraordinária “If You’re Feeling Sinister”, até concluir com a distinta “Judy And The Dream Of Horses”.
O facto de serem originários de Glasgow, e descenderem de uma estirpe que remonta a bandas como The Pastels ou Orange Juice, ajuda a compreender as suas origens, mas também podemos visualizar a inigualável melancolia de um Nick Drake ou mesmo algumas influências dos Tindersticks.
E o melhor é que podemos escutar repetidamente o disco, e descobrir sempre algo novo, e são estas pequenas coisas inteligentes, perspicazes, poéticas que nos fazem sentir melhor.
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11 janeiro 2010

Extremos # 6 - Blue Cheer - “Vincebus Eruptum” (1968 Philips)

Nomeados segundo um particularmente potente tipo de “acido”, os Blue Cheer são muitas vezes considerados os progenitores do que se iria denominar como “Heavy Metal” ou “Hard Rock, pela extremamente pesada sonoridade que praticavam para a época.
Reza a história que o grupo tocava tão forte e alto, que inadvertidamente chegaram a causar a morte prematura de um cão, que se extraviou para o palco numa altura em que eles estavam a improvisar.
No seu disco de estreia “Vincebus Eruptum”, descobriram que os amplificadores podiam atingir o volume máximo, e deram-nos seis temas recheados de “feedback” e mau génio. Começando no deformado e explosivo “Summertime Blues”, passando pelo preguiçoso e delirante “Rock Me Baby”, pela massiva e confusa distorção de “Doctor Please”, pelo fantástico “Out Of Focus” que é precisamente isso, pela erupção da psicótica “Parchment Farm”, até chegarmos ao verdadeiro abuso da guitarra e do amplificador de “Second Time Around”.
Rosnando violentamente na face da inocência “hippie”, “Vincebus Eruptum” não impressionou a geração Woodstock com o seu ataque sónico, mas rapidamente se tornou num hino para os Hell’s Angels.
Apesar da abordagem caótica o tornar menos directo que os primeiros trabalhos dos Black Sabbath ou The Stooges - as suas referencia mais próximas - anos mais tarde iria adequadamente inspirar uma nova geração de contundentes bandas “garage” e numerosos trios de “noise” japoneses, como os High Rise e os Musica Transonic de Asahito Nanjo, que ao longo dos anos lhes iriam prestar uma mutante homenagem.
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07 janeiro 2010

Classic # 23 - The Velvet Underground And Nico- “The Velvet Underground & Nico” (1967 Verve)

Por muitos considerado como o ponto de partida para a música alternativa, este disco realmente alterou a face do “rock”, mas também do “glam”, do “punk”, do “goth” ou do “indie”. Mas 43 anos depois, o que ainda mais surpreende é a sua audácia, a sua diversidade, a sua capacidade de experimentação sonora e a sua originalidade.
Sombrio e introspectivo, é a absoluta antítese, do movimento “hippie” que o resto da América andava a jubilar, e áspero como a cidade onde nasceu.
A música não é complexa, surge dispersa e escorregadia, mas é estranhamente compelível. E a estranha aliança entre Lou Reed e John Cale , fazia com eles experimentassem algo diferente em cada canção, através das hipnóticas espirais de dissonantes guitarras e viola, sempre apoiados pela poderosa bateria de Mo Tucker e com Sterling Morrison a agregar toda a mutilação sonora. Ao juntarem o contraste entre a voz fortemente superficial de Reed e o suave trautear de Nico, e a ilustre escrita de Reed - com referências sinceras e directas ao sexo bizarro e drogas, algo que ninguém tinha coragem para abordar tão abertamente à 40 anos atrás, pois no passado grupos como The Beatles (em “Happiness Is A Warm Gun”) ou The Byrds (em “Eight Miles High”), escreveram sobre os mesmos controversos temas ambiguamente – criaram momentos verdadeiramente únicos.
Começando na volátil, celestial, simultaneamente fascinante e sinistra “Sunday Morning”, passando pelas implacáveis e puramente loucas imagens do completamente soberbo “I'm Waiting For The Man”, pela gentil e sedutora “Femme Fatale”, pelo perturbador e contundente exótico relato sadomasoquista da claustrofóbica “Venus In Furs”, pela a atitude fútil do desbotado “garage” de “Run, Run, Run”, pelo melancólico “avant-garde” de “All Tomorrow’s Parties”, pela assustadora e francamente brilhante confissão no surreal épico “Heroin”, ou pela invulgarmente delicada e encantadora “I’ll Be Your Mirror”, chegamos às duas últimas canções que efectivamente representam a criação do rock alternativo: a convulsiva “The Black Angel’s Death Song” com a feroz e penetrante viola e a poesia absurda de Reed e a abismal batalha instrumental recheada de feedback presente em “European Son”, que absorve por completo o ouvinte.
Certamente Sonic Youth, Suicide, The Jesus and Mary Chain, Pixies, Smashing Pumpkins, My Bloody Valentine, entre outros, não teriam realizado os extraordinários álbuns que fizerem sem a existência deste magnifico monumento ao espírito brutal do “rock’n’roll”.
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04 janeiro 2010

Best of 2009

Top 40

Uns dias de férias permitiram uma escuta reforçada das últimas aquisições, e após muita “reflexão”, anexo a sempre polémica lista dos melhores do ano. Como é sempre difícil a ordenação, mais uma vez a selecção está por “grupos”, para ser mais democrático.

Top 3
Animal Collective – “Merriweather Post Pavilion”(Domino)
Bill Callahan – “Sometimes I Wish We Were An Eagle” (2009 Drag City)
The Phantom Band – “Checkmate Savage” (2009 Chemikal Underground)

Top 10
Atlas Sound – “Logos” (2009 Kranky)
Dirty Projectors – “Bitte Orca” (Domino)
Fuck Buttons – “Tarot Sport” (ATP Recordings)
Grizzly Bear – “Veckatimest” (Warp)
Lindstrom and Prins Thomas – “II” (2009 Eskimo)
Noah & The Whale – “The First Days Of Spring” (Vertigo)
Yeah Yeah Yeahs – “It’s A Blitz” (Polydor)

Top 40
Alasdair Roberts – “Spoils” (Drag City)
Andrew Bird – “Noble Beast” (Fat Possum)
Arbouretum – “Song Of The Pearl” (Thrill Jockey)
Blues Control – “Local Flavor” (Siltbreeze)
Boozoo Bajou – “Grains” (!K7)
Dan Auerbach – Keep It Hid” (V2)
David Sylvian – “Manafon” (Samadhi Sound)
Do Make Say Think – “Other Truths” (Arts & Crafts)
Girls – “Album” (True Panther Sounds/ Matador)
Howling Bells – “Radio Wars” (2009 Independiente)
Japandroids – “Post-Nothing” (Polyvinyl)
Jon Hassell – “Last Night The Moon Came Dropping Its Clothes in The Street” (ECM)
Mono – “Hymn To The Immortal Wind” (2009 Temporary Residence)
Regina Spektor – “Far” (2009 Warner)
Richard Hawley – “Truelove’s Gutter” (Mute)
Sa-Ra Creative Partners – “Nuclear Evolution: The Age Of Love” (Ubiquity)
Seeland – “Tomorrow Today” (2009 Loaf)
Sonic Youth – “The Eternal” (Matador)
Soulsavers - Broken” (2009 V2)
Sunset Rubdown – “Dragonslayer” (Jagjaguwar)
The Antlers – “Hospice” (Frenchkiss)
The Horrors – “Primary Colours” (XL)
The Skygreen Leopards – “Gorgeous Johnny” (Cosmos)
The Very Best – “Warm Heart Of Africa” (Moshi Moshi)
The Whitest Boy Alive – “Rules” (Groove Attack)
Timber Timbre – “Timber Timbre” (Arts & Crafts)
Tó Trips – “Guitarra 66” (Mbari)
Tortoise – “Beacons Of Ancestorship” (Thrill Jockey)
Wilco – “Wilco” (Nonesuch)
Yo La Tengo – “Popular Songs” (2009 Matador)