Mostrar mensagens com a etiqueta Sonic Youth. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sonic Youth. Mostrar todas as mensagens

31 janeiro 2011

Rock # 19 - Prolapse – “The Italian Flag” (1997 Radar)

Sempre evoluindo na muita publicitada tensão entre os seus dois vocalistas, Linda Steelyard e Mick Derrick, a banda de Leicester, seguiu o impressionante disco de 1996, “Backsaturday”, com o igualmente inventivo e igualmente conflituoso, “The Italian Flag”. Ligeiramente menos atolado no lamacento “lo-fi”, “The Italian Flag”, novamente acasala poderosos ritmos com esquizofrenia vocal.
Após meia década a vomitarem reciprocamente acrimônias, a suave Steelyard e o psicótico escocês Derrick ainda possuem ódio e energia suficientes para continuar a dar vida ao seu muito pessoal, torturado e negligente show “a bela e o monstro”. Mesmo quando não se lamuriam (como na doce “Flat Velocity Curve”), eles justapõem as suas vozes num dissonante uníssono. E independentemente das suas características vocalizações, os Prolapse abordam os seus “jams” com uma intensidade desenfreada. O tema de abertura “Slash/Oblique”, divide a melodia bem no centro, fervilhando com a vivacidade de uns Sonic Youth, enquanto a incongruente, mas agradável “Killing The Bland” impele um “power pop” com uma tal abstracção, que se finge que o “new-wave punk” nunca enojou.
Adicionando fúria vocal com uma solidez instrumental, os Prolapse são um tanque multicolorido de prazer, uns mais ácidos Blonde Redhead, infundindo a sua música com a mesma “euro-sublimidade” mas com rajadas muito mais cáusticas.
_

10 novembro 2010

Rock # 18 - Bardo Pond – “Amanita” (1996 Matador)

São bem evidentes as diferenças sonoras presentes no disco de estreia da banda de Filadélfia para a Matador, em relação a sonoridade tipicamente “basement-tapes” do anterior “Bufo Alvarius”, pois o surpreendentemente brilhante “Amanita” revela uma profundidade e maturidade que todos os seus esforços anteriores apenas insinuavam.
Tal como a maioria dos álbuns dos Bardo Pond, está recheado de intensas sonoridades “fuzzy” que giram e trituram, no entanto por debaixo de tudo isso existe sempre uma deslumbrante melodia como só mesmo eles são capazes de criar.
As influências são notórias: o psicadelismo dos anos 60, os Crazy Horse e claro os Sonic Youth.
Sombrio, pesado e hipnótico, atinge níveis superiores de massacre sonoro, camada após camada, através das trilhas de feedback das guitarras de John e Michael Gibbons e da irradiante flauta fantasmagórica da vocalista Isobel Sollenberger, sempre partindo do nuclear baixo pulsante de Clint Takeda, para criar algum da melhor música “psicadélica” das bandas contemporâneas.
Assim desde a monumental abertura com o denso e complexo “Limerick”, com as suas gritantes guitarras que criam tensão e a ressonante voz feminina, passando pela delirante experimentação sonora de “Rumination”, pela introspectiva e sensual “Be A Fish”, por essa densa valsa nuclear que reside em “High Frequency”, pelas distorcidas sinfonias celestiais de “Sentence”, até à conclusão com as texturas sonoras encharcadas de raiva presentes no tributo “RM”, seremos rapidamente absorvidos no lago (pond) e não sairemos pacificamente.
_

14 outubro 2010

Pop # 15 - The Delgados – “Peloton” (1998 Chemikal Underground)

Antes de chegarem a "The Great Eastern", os The Delgados progrediram brilhantemente do “trash-pop” influenciado pelos Sonic Youth de “Domestiques” (1996) para uma mais detalhada palete sónica em “Peloton”, adicionando flautas, ao estarem recheados de quartetos de cordas e ao incluir o ocasional “sample”, fazendo com que cada canção tivesse arranjos verdadeiramente únicos. E se a isso juntarmos o facto de Emma Pollock e Alan Woodward ao alternam as vocalizações, fazem com que os seus sedutores tons celestiais tenham um efeito paliativo sobre o ouvinte.
O processo de aprendizagem que os levou de um extremo para o outro, desdobra-se diante dos nossos olhos. Os primeiros temas são particularmente bons exemplos – em “The Arcane Model” e especialmente na esplêndida “Everything Goes Around the Water”, existe uma fusão entre o deslocado “pub rock” de “Domestiques” com o estranho tom de suavidade aveludado da sua música posterior.
Pollock surge magnífica nos tons melodiosos da suave “The Actress”, e na viçosa e mágica “Pull The Wires From The Wall” a sua contribuição é particularmente impressionante. A presença da guitarra acústica e do violoncelo na introdução faz evocar Kristen Hersh, mas há também uma pitada de Marianne Faithfull na assustada mas avaliada entrega de Pollock. Mais emocionante ainda é “Blackpool”, um sinistro relato em que as alterações dos tempos são negociados por uma bizarra acrobacia fonética que encanta e confunde o ouvinte. E o francamente mental “Repeat Failure” que soa como se os My Bloody Valentine estivessem a massacrar os Belle And Sebastian, escutado através de um exausto rádio de onda curta.
_

23 agosto 2010

Rock # 16 - Pixies – “Surfer Rosa” (1988 4AD)

Na sequência do surpreendente mini-LP “Come On Pilgrim”, este mortífero disco de estreia dos extraterrestres de Boston é tudo o que viria a ser futuramente afinado para o impecável “Doolittle” e novamente “rasgado” para “Trompe Le Monde”.
Brilhantemente desalinhado, explosivo, sujo e cru, para além das reflexões mais delirantes dos Sonic Youth, esta sonoridade era basicamente inédita na época. É uma soberba mistura da melhor capacidade de composição, de letras loucas e perturbadoras, de guitarras abrasivas e de uma melodia verdadeiramente impressionante.
Black Francis surge aqui mais psicótico do que nunca, as suas vocalizações alternam entre gritos e pensativas reflexões, Joey Santiago continua a provar que é um dos mais subestimados guitarristas de sempre, e o estrondoso rufar de David Lovering dá às músicas uma qualidade superlativa.
Tal como os Velvet Underground, os Pixies sempre tiveram os seus lados mais abrasivos e mais suaves, e foram capazes de os demonstrar num registo único, e muitas vezes dentro da mesma música.
Este é o mais resoluto, áspero e agudo disco, menos filtrado, as canções são editadas para eliminar qualquer nota que não seja absolutamente necessária – isto claro obra de Steve Albini – e assim elas surgem brutais, com guitarras altamente distorcidas e letras sobre incesto e injúrias, mas no entanto são bastante cativantes e melódicas.
Desde o soco inicial dado pelos clássicos por excelência, o enlouquecido e desafiante “Bone Machine” e o rápido e furioso “Break My Body”, passando pela deliciosa interpretação de Kim Deal em “Gigantic” (um assombroso e assustador hino sobre o voyeurismo infantil), pela excelentemente intensa “River Euphrates”, ou pela arrepiante beleza do inesquecível “Where Is My Mind?”, o clímax do álbum, e uma das melhoras músicas dos anos 80.
Um grande disco que provou ser massivamente influente em praticamente todas as futuras áreas do rock alternativo.
_

21 julho 2010

Rock # 15 - Polvo - “Exploded Drawing” (1996)” (Touch And Go)

O catálogo dos Polvo está bem recheado com discos ousados e tentadores, que literalmente engolem as melodias e os ritmos como é o caso de “Shapes” e “Today’s Active Lifestyles”. Mas pessoalmente o hipnótico e formoso “Exploded Drawing” é o que mais me fascina.
Todas as esculpidas dissonâncias, os calmantes vocais, e os afiados desvios rítmicos que tão bem definem os Polvo e que os tornam tão difíceis de categorizar estão presente aqui mas com uma dose adicional de um purificante turbilhão sónico e estranhas estruturas “pop”.
Anteriores referências comparativas incluem os Sonic Youth, os U.S. Maple ou o ”math-rock”, sendo que esta última referência é uma “etiqueta” extremamente enganadora, uma vez que alude muito mais para o método do que para os resultados e para a própria música – é certamente um sofisticado e matemático “noise-rock”/“indie–rock”, mas onde os resultados desses ritmos complexos e das ortodoxas estruturas de guitarra pertencem a um formato não convencional.
As melodias estão divididas em regimes de tons que nem perecem humanos, e tal como a capa que o seu título evoca “Exploded Drawing”, golpeia as estruturas convencionais, abrindo-as e recombinando-as em novas e intrigantes formas, que nos transportam para outra realidade.
Um soberbo e ambicioso “opus”, de uma das mais inesquecível e originais bandas da década de 90.
_

09 maio 2010

Rock # 13 - Swervedriver – “Mezcal Head” (1993 Creation)

Desconcertantemente aglomerados no movimento “shoegaze” do início dos anos 90, quando a sua brilhantemente explosiva abordagem do “guitar rock” americano era muito mais sangrenta, este quarteto de Oxford misturou os Sonic Youth com os “grooves” de uns Crazy Horse e hectares de vagas "low-end".
Este disco foi a sua obra-prima - mais brilhante do que a estreia “Raise”, mais atrevido do que o irónico “psych-pop” de “Ejector Seat Reservation” - e baseado na teoria de que a única coisa melhor do que guitarras são mais guitarras. No disco estão em grande forma, eles possuíam uma impressionante capacidade para envolver melodias memoráveis em torno de camadas de guitarras para criar músicas realmente inspiradoras. A atenção dada às melodias é o que define este registo e o separa do género “shoegaze”, o verdadeiramente incrível “noise” não é projectado para ofender, mas para estimular e elevar.
Cada canção é um “road movie”, com o vocalista-guitarrista Adam Franklin como o exausto protagonista, e uma quinta velocidade sempre pronta para engrenar - desde o provocador intro de “From Seeking Heat”, passando pelas carregadas guitarras de “Duel” que rompem alegremente num brilhante pôr do sol, pelos crepitantes “riffs” do incendiário “Blowin’ Cool”, pelas ondulantes guitarras de “Last Train To Satansville”, até ao fantasista “Duress”, – Mezcal Head” merece um estatuto de inovador. Mas numa altura em que o “indie-rock” britânico estava a encaminhar-se para as drogas halucinogénicas, os Swervedriver atingiram um fosso.
Ao contrário dos seus companheiros na Creation, My Bloody Valentine ou The House Of Love, nunca receberam o apoio popular que a sua música merecia. Difícil de classificar, “Mezcal Head” permanece com um clássico do “rock alternativo” dos anos 90.
_

03 maio 2010

Singles # 22 - Nirvana - “Smells Like Teen Spirit” (1991 Geffen)

Quando os Nirvana começaram a gravação de “Nevermind”, em Maio de 1991, reforçados com um novo brilhante baterista e um acordo com a Geffen, eles eram a banda de Seattle com maior probabilidade de obter sucesso. E o que “sucesso” significa neste contexto era repetir o êxito dos Sonic Youth, que tinham conseguido atingir o Top 100 de álbuns nos Estados Unidos, com o seu último disco.
Apenas algumas semanas antes, Kurt Cobain tinha apresentado à banda um novo “riff”, com o qual eles experimentaram vários acordes durante uma hora, até atingirem a canção que ele intitulou “Smells Like Teen Spirit”. Ele tomou consciência dessas palavras após uma noite passada a pintar slogans revolucionários com spray pelas ruas de Olympia na companhia de Kathleen Hanna das “riot grrrls” Bikini Kill. No regresso a casa, e no meio de uma conversa sobre a insurreição juvenil, Hanna disse: “Kurt smells like teen spirit”. Kurt tomou a frase em consideração, sem imaginar que referenciava uma marca de desodorizante.
As letras podiam ser obscuras e semi-improvisadas, mas ainda referenciavam os padrões da geração X: o sarcástico cinismo e o violento niilismo. E desde o seu lançamento em Setembro de 1991, “Smells Like Teen Spirit”, obteve um sucesso comercial sem precedentes, conseguindo unir a juventude americana como nada há vários anos, e permitindo aos “media” focarem-se em Kurt como um ícone para uma geração indolente.
Naturalmente, o próprio Kurt foi extremamente ambivalente em relação ao sucesso da canção (e a sua extrema exposição na MTV), tendo posteriormente intercalá-la nas actuações ao vivo com o “hit” dos Boston, “More Than A Feeling”, a canção que a imprensa “mainstream” acreditava que mais se assemelhava. Ironicamente a banda quase que inicialmente tinha descartado a canção, pois achavam que poderiam ser acusados de ter copiado os Pixies. Isso, acabaria por tornar o menor dos seus problemas.
_
Nirvana - Smells Like Teen Spirit

07 janeiro 2010

Classic # 23 - The Velvet Underground And Nico- “The Velvet Underground & Nico” (1967 Verve)

Por muitos considerado como o ponto de partida para a música alternativa, este disco realmente alterou a face do “rock”, mas também do “glam”, do “punk”, do “goth” ou do “indie”. Mas 43 anos depois, o que ainda mais surpreende é a sua audácia, a sua diversidade, a sua capacidade de experimentação sonora e a sua originalidade.
Sombrio e introspectivo, é a absoluta antítese, do movimento “hippie” que o resto da América andava a jubilar, e áspero como a cidade onde nasceu.
A música não é complexa, surge dispersa e escorregadia, mas é estranhamente compelível. E a estranha aliança entre Lou Reed e John Cale , fazia com eles experimentassem algo diferente em cada canção, através das hipnóticas espirais de dissonantes guitarras e viola, sempre apoiados pela poderosa bateria de Mo Tucker e com Sterling Morrison a agregar toda a mutilação sonora. Ao juntarem o contraste entre a voz fortemente superficial de Reed e o suave trautear de Nico, e a ilustre escrita de Reed - com referências sinceras e directas ao sexo bizarro e drogas, algo que ninguém tinha coragem para abordar tão abertamente à 40 anos atrás, pois no passado grupos como The Beatles (em “Happiness Is A Warm Gun”) ou The Byrds (em “Eight Miles High”), escreveram sobre os mesmos controversos temas ambiguamente – criaram momentos verdadeiramente únicos.
Começando na volátil, celestial, simultaneamente fascinante e sinistra “Sunday Morning”, passando pelas implacáveis e puramente loucas imagens do completamente soberbo “I'm Waiting For The Man”, pela gentil e sedutora “Femme Fatale”, pelo perturbador e contundente exótico relato sadomasoquista da claustrofóbica “Venus In Furs”, pela a atitude fútil do desbotado “garage” de “Run, Run, Run”, pelo melancólico “avant-garde” de “All Tomorrow’s Parties”, pela assustadora e francamente brilhante confissão no surreal épico “Heroin”, ou pela invulgarmente delicada e encantadora “I’ll Be Your Mirror”, chegamos às duas últimas canções que efectivamente representam a criação do rock alternativo: a convulsiva “The Black Angel’s Death Song” com a feroz e penetrante viola e a poesia absurda de Reed e a abismal batalha instrumental recheada de feedback presente em “European Son”, que absorve por completo o ouvinte.
Certamente Sonic Youth, Suicide, The Jesus and Mary Chain, Pixies, Smashing Pumpkins, My Bloody Valentine, entre outros, não teriam realizado os extraordinários álbuns que fizerem sem a existência deste magnifico monumento ao espírito brutal do “rock’n’roll”.
_

02 dezembro 2009

Rock # 10 - Band Of Susans – “Hope Against Hope” (1988 Blast First)

Oriundos de Nova Iorque, o guitarrista Robert Poss e a baixista Susan Stenger criaram uma banda cujo nome derivou do simples facto de na altura três dos seus elementos se chamarem Susan. Inspirados em igual medida por Glenn Branca e Rhys Chatham, pelos Wire e pelo no-wave dos seus conterrâneos Live Skull e Sonic Youth, criaram um som verdadeiramente único, se por um lado era extremamente agressivo, aguçado e abrasivo, por outro era estratificadamente melódico. Misturaram uma sonoridade reminiscente do movimento “no-wave” nova-iorquino, com outra mais próxima do movimento shoegazing que provinha de Inglaterra.
Resultaram texturas e tonalidades sónicas, executadas através de simples e repetitivos acordes e matrizes de baixo em constante movimento, recheados com enormes camadas de guitarras “noise” para produzir uma vivificante e visceral corrente de magma melodioso, entregues ou pelo ruidoso “falsetto” de Poss ou pelo gentil gutural de Stenger. O facto de coabitarem na banda três guitarristas, deu à música uma qualidade compacta, onde um revestimento tectónico de feedback, distorção e acordes desfocados e disfuncionais, escondia nas dissonantes e inconstantes “walls of noise”, as estruturas e as melodias mais convencionais.
O seu disco de estreia, o corrosivo “Hope Against Hope”, foi considerado por muitos como uma versão americana de “Psychocandy” dos The Jesus And The Mary Chain, e daí destacam-se, para além do propulsivo tema-título, a fulminante “Not Even Close”, a estridente “Throne Of Blood”, a devaneadora “All The Wrong Reasons” ou a densa “You Were An Optimist”.
O disco seguinte “Love Agenda” (1989) é outra excelente colecção de canções embriagadas e consumptivas, que contou com a participação de Page Hamilton, futuro fundador dos Helmet.
Discos fascinantes e que ainda hoje soam actuais.
_

11 maio 2009

My Favorites # 15 - The Feelies – “Crazy Rhythms” (1980 Stiff)

Originários de Hoboken, New Jersey, foram juntamente com Sonic Youth, Mission Of Burma ou Bush Tretas, uma das bandas da costa este que estiveram na vanguarda do movimento pós –punk americano. As ideias musicais de Glenn Mercer e Bill Million sobre minimalismo, dinâmicas, tonalidades e texturas musicais foram apoderadas pelo núcleo central dos músicos que integravam o emergente movimento “rock alternativo”.
Criaram uma inimitável e completamente única sonoridade, onde as suas canções tem uma evidente sensação de urgência e a sua sonoridade destilava uma perfeita sensibilidade estética. As guitarras de Mercer e Million são delicadas e elevadas – em contraste com os fortes acordes do “punk” – o incessante e descendente dedilhar, com crescendos sem clímax, e acções descontroladamente repetitivas é um óbvia influência dos Velvet Underground. Os ritmos – vocais e instrumentais – eram tensos e desassossegados – tal como os Talking Heads, mas com uma qualidade ameaçadora que foi meia abafada na música dos Heads, com as suas investidas na “world music”.
São inevitáveis as comparações com os grupos já referidos e os Television, mas “Crazy Rhythms” é tão impressionantemente original que é como se tivesse desenvolvido numa estufa desprovido de quaisquer influências ambientais. E o que torna o disco ainda mais inovador, foi o facto da percussão ser particularmente efectiva, em virtude da substituição do anterior baterista pelo extravagantemente inventivo Anton Fier. O seu frenético e forte tambor “tom-tom” tornou-se numa terceira voz no diálogo rítmico com os duelos de guitarra de Mercer e Million. Para além disso, o uso de um variado conjunto de instrumentos de percussão pouco convencionais (tamborim, “maracas”) e a acção combinada entre silêncio e ruído adiciona estrutura e solidifica o seu som. Daí resultaram momentos sublimes como a honestamente semi-biográfica “The Boy With Perpetual Nervousness”, “Fa Ce La”, a intensa “Moskow Nights”, a contagiante “Loveless Love”, a “estratificada complexidade de “Force At Work”, “Original Love”, a revoltada “Raised Eyebrows”, ou a irreconhecível e irreverente versão de “Everybody’s Got Something To Hide Except For Me And My Monkey” dos Beatles.
Um disco muito subestimado (e o único disco onde exerceram controlo criativo), ideal para descobrir as origens do “indie rock”/”rock alternativo”, onde muitos grupos - R.E.M., The Dream Syndicate, Yo La Tengo, até Clap Your Hands Say Yeah - retiraram elementos sonoros, mas que não são tão citados como alguns dos seus pares.
_

18 março 2009

Rock # 6 - Dinosaur Jr.- “You’re Living All Over Me” (1987 SST) / “Bug” (1988 SST)

Apesar de nunca terem tido a importância histórica de uns Pixies ou Sonic Youth, ou mesmo de uns Hüsker Dü ou Big Black, foi por aqui, via The Stooges e o “punk-hardcore” que se começou a desenvolver o caminho que iria levar aos Nirvana. É aqui que encontramos as raízes do grunge e do “lo-fi”.
O trio de Amherst composto por J. Mascis, Lou Barlow e Murph, foram uma explosão de energia, resultado da acção combinada entre a vitalidade e a tensão da química interna produzida pelo grupo liderada por J Mascis, um proto-Cobain que escreveu importantes capítulos na história da guitarra eléctrica. Ousadamente tornaram OK criarem “jams” e aplicarem extensos solos no essencialmente leal movimento “punk-indie”, totalmente desprovido de qualquer enfeite musical.
No inigualável “You’re Living All Over Me”, as canções são concisas e sinceras, onde os dotes e a presença de Mascis são colossais, pela intensidade emocional que coloca nos seus solos de guitarra, complementado por um grande trabalho de Barlow no baixo, uma mistura de melodia e distorção.
Brilhante desde o distinto e contagiantemente louco “feedback” de “Little Fury Things”, passando pela segura “The Lung”, pelo agradável “noise” de “Tarpit”, pela forma como as pesadas guitarras de “Raisans” e a insana “Sludgefeast” envenenam o ouvinte com o seu poder, até chegarmos a “Lose” e à assombrosa “Poledo”, ambas escritas por Barlow (cujas sonoridade relembram mais as desenvolvidas posteriormente no seu trabalho com os Sebadoh).
Em “Bug” o som está mais ordenado e estruturado, mas a banda estava prestes a explodir em conflitos internos. No entanto as acções combinadas mantêm-se num nível elevadíssimo, onde a dinâmica “soft/hard” é um padrão que iguala a atitude de Mascis, que alterna entre delicadeza e desejo e um mortal desencantamento, bem reflectida no ocioso e suavemente distorcido “garage.rock” de “Freak Scene” (a “marca registada” era resmungar vagarosamente vocalizações “folk” e rápidos, ásperos “riffs” e depois derramar ardentes solos de guitarra). Destacam-se ainda o dilacerantemente belo solo de “No Bones”, o reprimido “trashing” de “Pond Song” (que relembra Neil Young na fase “Rust Never Sleeps”), a directa “Budge”, e os enormes e patetas “riffs” de “Yeah We Know”.
Dois discos de prazer intenso misturado com sofrimento intenso.
_
_

12 dezembro 2008

Extremos # 4 - Boredoms


“Chocolate Synthesizer” (1994 WEA Japan)
“Super æ” (1998 WEA Japan)
“Vision Creation Newsun” (1999 WEA Japan)


Os japoneses Boredoms liderados pelo incomparável Yamataka Eye criam uma música agradavelmente difícil. Originários de Osaka, uma cidade bastante próspera culturalmente, com grandes tradições no “noise” experimental e minimalista, evoluíram do abrasivo “punk” divergente que praticavam nos primeiros anos para uma sonoridade verdadeiramente única. (Essa evolução é bem visível ao longo dos vários “Super Roots”)
No início da década de 90, ganharam maior notoriedade com a colaboração de Eye nos Naked City de John Zorn e com a partilha de palcos com os Sonic Youth. E foram estes últimos que os encorajaram a elevar a sua música.
Primeiro surgem “Pop Tatari” (1992) e especialmente “Chocolate Synthesizer” (1994) dois discos totalmente antinaturais, mas que de um modo crescente, nos cativam com o seu fascinante, anárquico e primitivo “noise-rock”. As aparentemente incongruentes e delirantemente indomáveis partes (“hardcore punk”, psicadelismo, “free jazz”, “hip hop”,etc) encaixam perfeitamente e o caos furioso presente ao longo de “Pop Tatari” é no segundo disco subordinado, disciplinado, concentrado e amplificado.
“Super æ” (1998) foi o ponto de transição, uma verdadeiramente impressionante afirmação da criativa perspicácia musical que os caracteriza. Incorporando mais elementos de uma impetuosa electrónica e “jams” de “rock” psicadélico, com densos e grandiosos acordes, e essas incomparáveis percussões poliritmicas, a sua sonoridade aproximou-se mais de grupos como Tangerine Dream, Can ou Hawkwind. E aqui é bem evidente a energia e paixão que os Boredoms entregam em cada disco. Um dos mais originais discos dos anos 90.
“Vision Creation Newsun” (1999) é um disco maravilhosamente focado e aerodinâmico. As frenéticas percussões tribais sustentam uma ditosa electrónica, “riffs de rock psicadélico e cânticos transcendentais. Os Boredoms parecem ter uma instintiva interpretação/compreensão da relação entre tensão e desprendimento, entre a dinâmica e a importância de espaço vazio. Um vibrante e voluto opus psicadélico.
_
_

16 novembro 2008

Stereolab - “Chemical Chords” (2008 4AD)

Em quase duas décadas, a discografia da banda de Tim Gane e Laetitia Sadier sempre foi uma íntima exploração de ideias. Apareceram no início da década de 90 desafiando o dominante “shoegazing”, oferecendo uma mistura de “krautrock”, electrónica, e vozes despidas. E ao longo dos anos tiveram desvios pelo universo de Martin Denny, da Tropicália, da “french chanson” ou do cinema italiano, “Chemical Chords” não foge à regra, mas é um excelente exemplo de exploração e um novo propósito para a banda.
A música aqui presente encontra-se na forma mais elaborada, mas fluida e natural, descarada no efeito desejado – uma massiva reacção emocional. Tal como muitos dos anteriores discos, contém uma simplicidade do princípio ao fim que pode-nos abstrair do seu encanto. Temos de insistir gradualmente, pois neste disco, está presente uma urgência que já não ouvíamos à muito nos Stereolab, tudo parece inteligentemente compacto e agrupado magnificamente como num organismo vivo. O regresso de Sean O’Hagan (High Llamas) é uma mais valia pelos seus dominantes e delicadamente cuidados arranjos presentes em todo o disco.
Destacam-se o requintado “pop”, aqui presente no mais puro dos encantos e esplendor em “The Ecstatic Static”, “Valley Hi!” e “Self Portrait With Electric Brain”, a circulatória energia e intrigante melodia de “Neon Beanbag”, a furtivamente “sexy” linha sonora e os arranjos de sopros de “One Note Symphony”, ou o agitante e incandescente baixo de “Three Women”.
Muitos poderão ouvir “Chemical Chords” e afirmar que ainda soa aos velhos Stereolab, mas como uns Sonic Youth, as pequenas mutações vão existindo, no entanto mantêm-se sempre fieis ao seu projecto sonoro
Não será tão épico como eles já provaram ser capazes, mas é extremamente satisfatório, e após algumas audições ficará alojado no nosso cérebro.

Stereolab - Three Women

13 novembro 2008

DVD # 4 - Vários - “1991: The Year Punk Broke” (1992 Tara Films)

Quando o movimento “grunge” explodiu, a música categorizada como “underground” tornou-se no “mainstream”, com a atenção dada pela imprensa e apoiada por todo o marketing forjado que dai resultou.
E muito do que de negativo chegou com essa mini revolução social, faz com que muitas vezes se esqueça tudo o que de bom existia antes de “Nevemind”. Estamos na presença de um grande DVD - cujo nome é uma astuta resposta ao fenómeno, através da comparação com o que aconteceu em 1976 na Inglaterra com os Sex Pistols, Buzzcocks e The Clash, pois o movimento “punk” americano (Black Flag, The Germs, X) nunca extraiu os benefícios da fama - que nos relembra desses bons momentos, recheado de brilhantes performances da tournée pela Europa realizada em 1991 pelos Sonic Youth, e por isso é essencialmente focado nestes.
O nosso “guia” Thurston Moore, simultaneamente arrogante e encantador, é excelente nas suas hilariantes deambulações, especialmente no episódio com os jornalistas alemãs. E o ponto alto do DVD é mesmo o registo das actuações dos SY, sendo que “Dirty Boots” é verdadeiramente excepcional, recheada de premência, assim como o são “Schizophrenia” (soa melhor ao vivo), “Mote” ou “TeenAge Riot”. Outras boas performances incluídas são os Dinosaur Jr., que tocam de uma forma ciclónica “The Wagon”, os Nirvana com “Negative Creep” e “Smells Like Teen Spirit”, e as Babes In Toyland em “Dustcake Boy”. Para além destes temos a contribuição musical dos Gumball e Ramones, pequenos momentos passados nos bastidores que retratam a excitação vivida no período e ainda a presença esporádica de gente ilustre como os Mudhoney ou Bob Mould (a comer um cachorro quente).
Um excelente momento de nostalgia, mas também uma visão antropológica da música alternativa em 1991, com a presença de algumas das bandas mais influentes do movimento.

27 outubro 2008

My Favorites # 10 - Built To Spill - “Keep It Like A Secret” (1999 Warner Bros)

Com “Perfect From Now On” (1997), Doug Martsch e os seus rapazes já nos tinham prometido uma obra-prima. Ela chegou com “Keep It Like A Secret”, que continua a mesma fórmula, com mais 10 intensas canções literalmente de cortar a respiração.
Neste disco perfeitamente equilibrado criaram algo único e impetuoso, onde podemos pensar nos velhos Sonic Youth, mas sem a abstracção.
Sendo um incrivelmente dotado músico, Martsch abstêm-se largamente de solos que aturdem, em ordem de manter o foco nas canções. E com isto não quero dizer que ele não nos presenteia com excelentes momentos no disco. Pois em vez de momentos instrumentais onde nos demonstra a sua formidável proficiência como guitarrista, ele opta antes por usar o instrumento como um meio de constituição da estrutura e dar coloração a cada canção.
Começa de forma perfeita com a concisa “The Plan”, depois segue-se essa declaração “pop” que é “Center Of The Universe”, o assombroso trabalho de guitarra na fenomenalmente simples “Carry the Zero”, o desenvolvimento do núcleo da canção em “Time Trap”, as brilhantes camadas sonoras de “Temporarily Blind”, ou as suaves harmonias de “Else”.
O disco termina com o épico “Broken Chairs”, e admiramos como pode um disco soar tão variado e no entanto, simultaneamente parecer tão consistente.
Puro esplendor.

28 julho 2008

Editoras # 2 - Sub Pop

Bruce Pavitt foi para Seattle estudar história da arte, mas o seu maior estudo seria o “rock”. Primeiro lança a revista que documentava a cena independente americana, Subterranean Pop” (mais tarde Sub Pop). Depois continua a escrever para mais um par de revistas, a fazer programas de rádio e a editar cassetes com material inédito de grupos desconhecidos. Até que conheceu Jonathan Poneman, que também fazia rádio e que era a pessoa responsável pelo agenciamento dos grupos que tocavam na sala de espectáculos mais aventureira de Seattle, a Fabulous Rainbow Tavern. Conversas sobre música criaram uma admiração mútua, e o passo seguinte para a formação de uma editora estava dado.
A primeira edição da Sub Pop, foi em Julho de 1986, a compilação “Sub Pop 100”, com a participação dos Sonic Youth, Big Black ou Scratch Acid, entre outros. Os representantes de Seattle eram The U-Men e Steve Fisk (que se tornaria um dos mais famosos produtores da cidade). E na capa do disco aparecia a seguinte inscrição: “The new thing, the big thing, the good thing: a multinational conglomerate based in the Pacific Northwest”.
Uma das principais características da editora foi a sua preocupação em ter um identidade e que as pessoas procurassem os discos por estes terem o seu carimbo, simultaneamente encorajando a individualidade de cada grupo. Os seus modelos de inspiração eram a 4AD, a SST, a Stax, e até a Motown. Nem será estranho o facto de passaram a trabalhar quase permanentemente com o produtor Jack Endino (que iria produzir os álbuns de estreia de Nirvana e Mudhoney).
O “marketing” foi sempre um dos pontos fortes utilizados por Pavitt e Poneman. Criaram um clube de singles, disponível apenas por subscrição, através de edições mensais (limitadas e em vinil colorido), e sempre com temas inéditos. Aqui incluíram grupos não só de todos os estados americanos como também europeus. Por outro lado, nas suas edições “normais”, o destaque era dado a grupos locais, aproveitando a política regionalista para melhorar a promoção. As capas dos discos eram semelhantes, assim como os anúncios, uniformizando uma ideia visual e sonora para melhor promover os novos grupos.
Se os Soundgarden foram o primeiro grande sucesso da Sub Pop, editando dois EP’s, “Screaming Life” e “Fopp”, antes de assinarem pela SST e posteriormente pela A&M, já os Mudhoney foram os que mais resistiram à chamada das multinacionais, e só com “Piece of Cake” de 1992 é que assinaram pela WEA (isto, para além de serem o único grupo de Seattle que manteve a sua formação inalterável por muitos anos).
Com o sucesso dos Nirvana, a história mudou, e hoje, a mesma já deve ser conhecida por todos, mas para reforçar a importância histórica da editora, que deixou de ser uma referência local, para ser uma global, refira-se que também por lá passaram grupos com a L7 (de Los Angeles), os Afghan Whigs (de Cincinatti), os Supersuckers, os Come (de Boston), os Pond (do Alaska), os Sunny Day Real Estate, e mais recentemente The Shins, Iron and Wine, ou os criadores de um dos meus discos favoritos do ano, The Ruby Suns.
_
Modest Mouse - Never Ending Math Equation

07 julho 2008

Singles # 15 - Mudhoney – “Touch Me I’m Sick” (1988 Sub Pop)

O disco que marcou a história da Sub Pop. Curiosamente lembro-me bem que a primeira vez que ouvi falar deles foi através do nosso Peel, o carismático António Sérgio, que passou no Som da Frente, a versão que os Sonic Youth (na altura já favoritos cá da casa) fizeram para este tema e a seguir a que estes fizeram para “Halloween” dos primeiros.
Independentemente de classificar-mos a sua sonoridade de “grunge” ou “guitar-noise”, esta foi uma das mais importantes bandas do movimento independente que cresceu em Seattle na segunda metade doa anos 80.
As suas origens estão nos lendários Green River, a primeira banda dos guitarristas Mark Arm e Steve Turner, que incluía ainda Stone Gossard e Jeff Ament, futuros Mother Love Bone e actualmente Pearl Jam.
Fecharam-se num estúdio com Jack Endino e misturando o “hardcore” dos Black Flag com a gloriosa brutalidade dos The Stooges, criaram um som brutal e explosivo, baseado no deformado “riff” de guitarra, extremamente distorcido através de um pedal de distorção Big Muff, acompanhado pelo brusco baixo de Matt Lukin e pela frenética bateria de Dan Peters. Como complemento as obscenas letras de Arm evocam enfermidade e repugnância.
Os Mudhoney seriam a inspiração para um jovem Kurt Cobain, que esperava um dia produzir discos que acumulasse o mesmo ímpeto emocional.
_
Mudhoney - Touch Me I'm Sick (Live - Video)

Mudhoney - Touch Me I'm Sick

16 junho 2008

Extremos # 3 - Swans - “Filth” (1983 Labour)

Inicialmente os Swans criaram uma das sonoridades mais brutais que ainda podem ser consideradas como música.
Oriundos de Nova Iorque, e liderados por Michael Gira, foram um dos expoentes do movimento “no wave”, ao lado de grupos como Sonic Youth ou visionários como Glenn Branca.
A sua mistura de “noise rock” e música industrial (claras influências dos Throbbing Gristle), resultou numa música mental, física, baseada na exaustiva repetição de “riffs” e locuções vocais, e no abrandamento total do ritmo (virtualmente rastejando), de forma a criar um efeito hipnótico.
O título do seu primeiro álbum “Filth” já sugere o que devemos esperar, e poucos discos poderão igualar a brutalidade oferecida, que nos deixa paralisados.
Dois bateristas (Roli Mosimann e Jonathan Kane), com um martelar ritual e abrasivo, criavam uma sensação de agressão, de violência directa, de impiedosa brutalidade. O rosnar de Michael Gira, constantemente abalado, é meio berrado, meio gemido, e funciona como uma arma atroz e formosamente injuriosa, resultado de uma certa ambiguidade das mórbidas letras. Este disco marca também a primeira participação do guitarrista Norman Westberg, cujas guitarras triturantes, seriam um das imagens de marca da banda.
Os discos seguintes “Cop”, “Greed”, Holy Money”, seguem o mesmo padrão sonoro. E seria já com a presença de Jarboe na banda, que os primeiros sinais de mudança acontecem, em 1987 com “Children of God”, e que iriam se concretizar na década seguinte, onde a sua sonoridade se transformou radicalmente.

08 fevereiro 2008

Extremos # 2 - The Ex – “Starters Alternators” (1998 Touch And Go)

Ao longo de mais de 25 anos de carreira, os The Ex raramente não foram exemplares na forma anárquica e explosiva que abordaram a música. Sempre procuraram novas formas de atormentar a música através das ferramentas base do “rock”: guitarras, baixo, bateria e vozes; com uma elasticidade suficiente para conter a fonte de vida que é o seu “noise”.
Eles praticam as suas autónomas crenças através de canções que colocam em primeiro plano todas as parcelas constituintes.
Aqui Steve Albini coreografa o caos de “Starters-Alternators” permitindo que o ruído não degenere em incoerência. Porque é um princípio e uma forma de orgulho para os The Ex desnaturar as vozes e desafinar os seus instrumentos, de forma que nenhum som brilhe ou seja ofuscada pelos outros. No mesmo espírito, as canções normalmente renunciam a lógica - versos, refrão, versos - por palavras lançadas de uma forma impetuosa e deturpada.
Estamos na presença de um som verdadeiramente glorioso quando se atinge o momento em todos os membros da banda colidem as suas ruidosas trajectórias de guitarras e percussão, e arremessam uma energia de cada um. Durante esses momentos culminantes eles conseguem ser tão excitantes como o foram os Sonic Youth nos anos 80.

05 setembro 2007

Liars – “Liars” (2007 Mute)

Após o conceptual “Drum’s Not Dead” e ao quarto disco, os Liars tiveram uma aproximação mais tradicional aos formatos típicos de canção.
As combinações rítmicas são menos complexas, no entanto estes ainda são os Liars cujas credenciais conhecemos, e de quem aprendemos a esperar o inesperado.
Se as experimentações de “Drum’s Not Dead” continuam presentes, a estrutura está mais próxima da canção pop-rock, mas com uma criatividade e variedade incomparáveis.
Senão vejamos: “Plaster Casts of Everything” parte de um único “riff” e cresce em intensidade de uma forma “drone-rock”. O minimalismo synth- funk de “Houseclouds”, transforma-a numa das melhores canções que ouvi este ano. O sónico “Leather Prowler” relembra os Sonic Youth, com muito “echo” e “delay”. “Freak Out” é bubblegum pop. “Cycle Time” é uma canção perdida de “Psychocandy”. Em “Clear Island” evocam o glam-rock e em “Pure Unevil” o “shoegazing”. E em “Protection”, uma balada sobre a infância, temos um órgão eclesiástico que realça o tema em questão.
Continua a ser um disco difícil de catalogar, que ao longo de cada passagem vamos descobrindo algo que não detectamos previamente, permitindo que cada audição seja tão excitante como a primeira.
Um disco mais acessível do que os anteriores, no entanto é corajoso e ousado numa época em que arriscar pode ser um risco, mas como Angus Andrews canta no sedativo “Sailing to Byzantium”: “It’s time to wake these dumb fucks up”.