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29 março 2011

Rock # 21 - June Of 44 – “Four Great Points” (1998 Quarterstick)

Composta por membros ou ex-membros de algumas das mais intrigantes bandas do “underground” americano da última década (Codeine, Rodan, Hoover e Rex), os June Of 44 retiram influências idênticas desses grupos para uma angular, forte e muitas vezes confusa sonoridade que se revela verdadeiramente em casa na editora de Chicago, Quarterstick Records. “Four Great Points” poderá ser considerada a gravação mais acessível da banda, mas também mostra que eles não perderam nenhum do seu carácter aventureiro. Ao manterem as músicas um pouco mais curtas do que as peças épicas que costumavam criar, eles produziram um álbum muito coerente e fluido. Eles surgem aqui como uma versão 4base e desarticulada do “math-rock” “pós-hardcore” dos Slint, mas mais melódicos, com uma instrumentação estelar, suave e indolente, no entanto brilhante e luminosa, que muito beneficia da experiencia em estúdio dos músicos, seja a realmente impressionante bateria de Doug Scharin, sejam as grandiosas linhas de baixo de Fred Erskine. Este “belo ruído” pode intimidar nas primeiras audições, pois as músicas são muito repetitivas, mas eles são suficientemente criativos para modificarem subtilmente o ambiente sonoro das canções enquanto estas progridem. E seja o incrível tema de abertura, “Of Information and Belief”, uma poética e surreal canção que tem os seus momentos de caos presos no seu interior, sejam as súbitas mudanças ao longo da canção de “The Dexterity Of Luck” e “Cut Your Face”, ou sejam as mais ritmicamente fluidas “Doomsday” e “Lifted Bells”, estamos na perante um disco recheado do mais delicioso “math-rock”.

16 fevereiro 2011

Rock # 20 - Fugazi – “Repeater” (1990 Dischord)

Este foi o real inicio para os Fugazi, após dois registos que foram liricamente e musicalmente desenvolvidos por Ian MacKaye (após o termino da sua antiga banda, Minor Threat), “Repeater” já foi uma junção de esforços de toda a banda, e é assim o primeiro real álbum dos Fugazi. Com Guy Picciotto como segundo vocalista e guitarrista, eles levam a banda a uma estranha dicotomia que tanto sustenta, disputa ou condensa o som em novos arranjos que são simultaneamente familiares e estranhos. Joe Lally e Brendan Canty alimentam-se um do outro e criam uma secção rítmica quase tribal que às vezes se torna tão complexa e unificada que é fácil esquecermos que é apenas um baixo e uma bateria. Angular, “funky”, irregular, emocional, politico, “Repeater” foi o anti-“Nevermind”, uma gravação histórica que mudou o som de uma subcultura sem se submeter as mãos gananciosas das grandes editoras. E apesar de as letras de MacKaye e Picciotto parecerem enfadonhas em alguns aspectos, certas linhas ressonam com a clareza de aforismos verdadeiramente Zen: “You are not what you own”; “Merchandise keeps us in line”; “Never mind what’s been selling, it’s what you’re buying”. Mais do que qualquer outra coisa no catálogo dos Fugazi, estas linhas resumem a postura da banda contra a produção de “hits” pelo “rock corporativo”, a manipulação da indústria publicitária e outros restantes abusos de poder. E em contraste com a mentalidade de escapismo, de ironia ou de vitimização que dominou muitos dos discos de “rock alternativo” da mesma década, “Repeater” mostrou que a paz interior é possível para aqueles de nós dispostos a fazer alguns sacrifícios pessoais.
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31 janeiro 2011

Rock # 19 - Prolapse – “The Italian Flag” (1997 Radar)

Sempre evoluindo na muita publicitada tensão entre os seus dois vocalistas, Linda Steelyard e Mick Derrick, a banda de Leicester, seguiu o impressionante disco de 1996, “Backsaturday”, com o igualmente inventivo e igualmente conflituoso, “The Italian Flag”. Ligeiramente menos atolado no lamacento “lo-fi”, “The Italian Flag”, novamente acasala poderosos ritmos com esquizofrenia vocal.
Após meia década a vomitarem reciprocamente acrimônias, a suave Steelyard e o psicótico escocês Derrick ainda possuem ódio e energia suficientes para continuar a dar vida ao seu muito pessoal, torturado e negligente show “a bela e o monstro”. Mesmo quando não se lamuriam (como na doce “Flat Velocity Curve”), eles justapõem as suas vozes num dissonante uníssono. E independentemente das suas características vocalizações, os Prolapse abordam os seus “jams” com uma intensidade desenfreada. O tema de abertura “Slash/Oblique”, divide a melodia bem no centro, fervilhando com a vivacidade de uns Sonic Youth, enquanto a incongruente, mas agradável “Killing The Bland” impele um “power pop” com uma tal abstracção, que se finge que o “new-wave punk” nunca enojou.
Adicionando fúria vocal com uma solidez instrumental, os Prolapse são um tanque multicolorido de prazer, uns mais ácidos Blonde Redhead, infundindo a sua música com a mesma “euro-sublimidade” mas com rajadas muito mais cáusticas.
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10 novembro 2010

Rock # 18 - Bardo Pond – “Amanita” (1996 Matador)

São bem evidentes as diferenças sonoras presentes no disco de estreia da banda de Filadélfia para a Matador, em relação a sonoridade tipicamente “basement-tapes” do anterior “Bufo Alvarius”, pois o surpreendentemente brilhante “Amanita” revela uma profundidade e maturidade que todos os seus esforços anteriores apenas insinuavam.
Tal como a maioria dos álbuns dos Bardo Pond, está recheado de intensas sonoridades “fuzzy” que giram e trituram, no entanto por debaixo de tudo isso existe sempre uma deslumbrante melodia como só mesmo eles são capazes de criar.
As influências são notórias: o psicadelismo dos anos 60, os Crazy Horse e claro os Sonic Youth.
Sombrio, pesado e hipnótico, atinge níveis superiores de massacre sonoro, camada após camada, através das trilhas de feedback das guitarras de John e Michael Gibbons e da irradiante flauta fantasmagórica da vocalista Isobel Sollenberger, sempre partindo do nuclear baixo pulsante de Clint Takeda, para criar algum da melhor música “psicadélica” das bandas contemporâneas.
Assim desde a monumental abertura com o denso e complexo “Limerick”, com as suas gritantes guitarras que criam tensão e a ressonante voz feminina, passando pela delirante experimentação sonora de “Rumination”, pela introspectiva e sensual “Be A Fish”, por essa densa valsa nuclear que reside em “High Frequency”, pelas distorcidas sinfonias celestiais de “Sentence”, até à conclusão com as texturas sonoras encharcadas de raiva presentes no tributo “RM”, seremos rapidamente absorvidos no lago (pond) e não sairemos pacificamente.
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07 outubro 2010

Rock # 17 - Hüsker Dü – “New Day Rising” (1985 SST)

Dos vários “clássicos” editados pelo Hüsker Dü, “New Day Rising” é uma excelente afirmação de intenção e será provavelmente o melhor da sua carreira.
Literalmente esmagador, ele recomeça onde “Zen Arcade” acabou e simplesmente dispara, capturando a banda numa fase onde eles se encontravam a passar do veloz “hardcore” dos discos anteriores para a sonoridade mais melódica dos álbuns que se seguiram. A velocidade das canções é ligeiramente inferior, mas a intensidade do fluxo nunca cessa.
A capacidade conjunta de composição de Grant Hart (provavelmente melhor em “Flip Your Wig”) e Bob Mould nunca funcionou tão bem como aqui, onde o perverso sentido de humor de Hart surge como um contraponto mais ensolarado às escuras e torturadas obsessões de Mould. Tal como os Velvet Underground nos anos 60, eles estavam a re-escrever as regras do “rock” e “pop” mas também do “hardcore” e “punk” de um só golpe.
O disco está recheado de grandes canções, sempre carregadas de emoções, onde a guitarra de Mould é nitidamente ameaçadora e implacável, a bateria de Hart é quase “jazzística”, de fluxo livre e a dirigir velozmente e sem fôlego as canções para a frente e com o baixista Greg Norton a colar as coisas com subtis ganchos melódicos.
Desde a selvagem, incendiária “New Day Rising”, passando pelo brilhante épico “Celebrated Summer”, pela explosiva “I Apologize”, pela vigorosa “Terms of Psychic Warfare”, pela política “Folklore”, pela “trashy” “Punch Drunk”, pela melancólica “Girl Who Lives On Heaven Hill”, pela excelente “Books About UFO’s” até chegarmos ao colapso sonoro de “Plans I Make”, este registo ficará para sempre como uma das indiscutíveis referências do “rock alternativo” americano dos anos 80.
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24 setembro 2010

Rock # 16 - The Wedding Present – “Seamonsters” (1991 RCA)

“Seamonsters” marcou um rumo diferente para os The Wedding Present, aqui eles afastaram-se da abordagem “rápido, frenético, furioso” levada ao limite no seu antecessor “Bizarro”. Este disco é muito mais dinâmico, recheado de grandes melodias, enterradas debaixo de uma “wall of noise” de “feedback”, e cheia de dinâmicas “loud/soft” que traduzem um perfeito equilíbrio entre a intensidade e a sensibilidade.
A genial produção de Steve Albini, acondiciona as tensas e atormentadas vocalizações de David Gedge, fazendo rosnar as dolorosamente honestas histórias, e encalhando-as em camadas sonoras que criam uma paisagem “auditiva” que ondula dores.
Mas a abordagem de Albini na gravação da banda também traz à tona os pontos fortes da mesma, não apenas o ofuscante dedilhar de guitarra de Peter Solowka, mas também a intensidade da bateria de Simon Smith.
Gedge surge mais uma vez como um imã para os maus relacionamentos. Liricamente ele continua a falar sobre o amor (perdido e não correspondido) namoricando e actuando de uma forma desprezível, mas os cenários são mais variados e desta vez menos convencionais.
O deslumbrante material sonoro presente em “Seamonsters”, faz dele um disco perfeito, pois não possui uma única música menor, e assim o registo simplesmente flui com jóias maravilhosos como “Dalliance”, “Dare”, “Suck”, “Rotterdam”, “Lovenest”, “Corduroy” ou “Heather” (algumas músicas apontam para o futuro “pop” de Gedge com os Cinerama), que comprovadamente são o seu coroamento dos tormentos pessoais e dos turbilhões de guitarra, pois tal como os My Bloody Valentine, eles pareciam estar a aniquilar as guitarras.
Provavelmente se eles fossem originários de Seattle, talvez hoje tivessem a mesma estima de uns Nirvana, mas egoistamente, tanto quanto os adoro, eu não me importo da sua relativa obscuridade.
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21 julho 2010

Rock # 15 - Polvo - “Exploded Drawing” (1996)” (Touch And Go)

O catálogo dos Polvo está bem recheado com discos ousados e tentadores, que literalmente engolem as melodias e os ritmos como é o caso de “Shapes” e “Today’s Active Lifestyles”. Mas pessoalmente o hipnótico e formoso “Exploded Drawing” é o que mais me fascina.
Todas as esculpidas dissonâncias, os calmantes vocais, e os afiados desvios rítmicos que tão bem definem os Polvo e que os tornam tão difíceis de categorizar estão presente aqui mas com uma dose adicional de um purificante turbilhão sónico e estranhas estruturas “pop”.
Anteriores referências comparativas incluem os Sonic Youth, os U.S. Maple ou o ”math-rock”, sendo que esta última referência é uma “etiqueta” extremamente enganadora, uma vez que alude muito mais para o método do que para os resultados e para a própria música – é certamente um sofisticado e matemático “noise-rock”/“indie–rock”, mas onde os resultados desses ritmos complexos e das ortodoxas estruturas de guitarra pertencem a um formato não convencional.
As melodias estão divididas em regimes de tons que nem perecem humanos, e tal como a capa que o seu título evoca “Exploded Drawing”, golpeia as estruturas convencionais, abrindo-as e recombinando-as em novas e intrigantes formas, que nos transportam para outra realidade.
Um soberbo e ambicioso “opus”, de uma das mais inesquecível e originais bandas da década de 90.
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18 junho 2010

Rock # 14 - Elastica – “Elastica” (1995 Deceptive)

Ao abrir uma porta através da qual inúmeras bandas alternativas lideradas por mulheres não hesitaram em transpor, o disco homónimo de estreia das Elastica, também surgiu de um vácuo auto-imposto que as próprias seriam tolas em não quebrar. O disco apresentava canções curtas, afiadas e chocantes que eram tão breves como as melhores dos Ramones, e notoriamente instáveis como as primeiras dos Wire. E se essa última homenagem especial foi perdida quer nos advogados (os Wire queixaram-se da apropriação rítmica de “I Am The Fly” para “Line Up”), quer nos críticos, bandas como as Sleeper e as Echobelly (somente citando as que mais se destacaram), teriam sido muito mais puras sem a influência de canções como “Connection”, “Stutter”, “Line Up”, “Waking Up”, “Hold Me Now”, “Annie”, “Car Song”, “Vaseline” ou “2:1”.
“We’re crap at writing middle eights, and i get really bored when songs are longer than three minutes”, esta foi a única defesa a seu favor por parte da vocalista/guitarrista Justine Frischmann. As suas canções eram tão acentuadas e tão resolutas que rapidamente as Elastica foram absorvidas indiferentemente pelo “mainstream”. O seu segundo álbum não conseguiu acompanhar as expectativas que se criaram com a admirável estreia. Mas na sua rota para o esquecimento, elas ressuscitaram e reinventaram o minimalismo para uma geração sinfónica.
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09 maio 2010

Rock # 13 - Swervedriver – “Mezcal Head” (1993 Creation)

Desconcertantemente aglomerados no movimento “shoegaze” do início dos anos 90, quando a sua brilhantemente explosiva abordagem do “guitar rock” americano era muito mais sangrenta, este quarteto de Oxford misturou os Sonic Youth com os “grooves” de uns Crazy Horse e hectares de vagas "low-end".
Este disco foi a sua obra-prima - mais brilhante do que a estreia “Raise”, mais atrevido do que o irónico “psych-pop” de “Ejector Seat Reservation” - e baseado na teoria de que a única coisa melhor do que guitarras são mais guitarras. No disco estão em grande forma, eles possuíam uma impressionante capacidade para envolver melodias memoráveis em torno de camadas de guitarras para criar músicas realmente inspiradoras. A atenção dada às melodias é o que define este registo e o separa do género “shoegaze”, o verdadeiramente incrível “noise” não é projectado para ofender, mas para estimular e elevar.
Cada canção é um “road movie”, com o vocalista-guitarrista Adam Franklin como o exausto protagonista, e uma quinta velocidade sempre pronta para engrenar - desde o provocador intro de “From Seeking Heat”, passando pelas carregadas guitarras de “Duel” que rompem alegremente num brilhante pôr do sol, pelos crepitantes “riffs” do incendiário “Blowin’ Cool”, pelas ondulantes guitarras de “Last Train To Satansville”, até ao fantasista “Duress”, – Mezcal Head” merece um estatuto de inovador. Mas numa altura em que o “indie-rock” britânico estava a encaminhar-se para as drogas halucinogénicas, os Swervedriver atingiram um fosso.
Ao contrário dos seus companheiros na Creation, My Bloody Valentine ou The House Of Love, nunca receberam o apoio popular que a sua música merecia. Difícil de classificar, “Mezcal Head” permanece com um clássico do “rock alternativo” dos anos 90.
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25 fevereiro 2010

Rock # 12 - Shellac - “At Action Park” (1994 Touch and Go)

Apesar de na altura Steve Albini ter formado este trio “numa base informal”, já lá estavam incluídas todas as “marcas sonoras registadas” dos anteriores projectos de Albini (Big Black e Rapemen) – as grosseiras mudanças temporais, a ruidosa e ressonante assimétrica bateria, o palpitante e fulminante baixo, as agudas e penetrantes guitarras e as vocalizações frenéticas – apesar de mais subtis.
Albini (“velocity”), Bob Weston (ex-Volcano Suns – “mass”) e o tumultuoso Todd Trainer (ex-Breaking Circus – “time”), tornam o complexo simples, ao criarem um tenso e frugal “rock”, que foi “recorded live in the sudio”, onde os arranjos são minimais e escasseiam, mas onde está bem presente a genuína tensão e energia que apenas pode ser produzida através de uma performance ao vivo. E o muito particular registo sonoro de Albini, utilizando brilhantemente as acústicas e as mais puras e analógicas técnicas de gravação, que retira toda a sofisticação e/ou purificação das modernas técnicas de produção, deixando-o num estado bruto e resoluto, sem que nada atenue o impacto da música.
Provavelmente o melhor produto no catalogue dos Shellac, “At Action Park” desenvolveu o distinto estilo sem subverter o seu poder. E se relembra o “post-rock” na atitude e o “math-rock” na entrega, é um marco na história da música moderna e um livre manifesto de como tornar a música “rock” grandiosa.
Ouçam o áspero circular “noise” de “Song Of The Minerals”, o irregular “feedback” de “Crow”, a fulminante “My Black Ass”, a meditativa “The Idea Of North”, a completamente cáustica “Dog & Pony Show”, ou humor seco presente em “Il Porno Star”.
Um das ultimas bandas de “rock” verdadeiramente intransigente.
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14 janeiro 2010

Rock # 11 - Archers Of Loaf - “Icky Mettle” (1993 Alias)

Infelizmente os Archers Of Loaf sempre pareceram perdidos no dilúvio da enorme corrente de “música alternativa” que surgiu no início da década 90 nos Estados Unidos.
O seu inquietante e desordenado “indie-rock”, é muita vezes comparado com o dos Pavement, mas sonoramente estão mais próximos dos seus conterrâneos da North Carolina, Superchunk e Polvo pelo choque entre “noise-pop” e “ pós-punk”, ou mesmo dos Dinosaur Jr., pela capacidade enérgica.
O seu abrasivo e impetuoso disco de estreia, “Icky Mettle”, está repleto de energia e fúria. São as penetrantes, abruptas e triturantes guitarras que comandam, mas com a sólida secção rítmica (composta pelo baixista Matt Gentling e pelo baterista Mark Price), a grudar conjuntamente toda a potente confusão. E através da impressionantemente extenuada voz do vocalista Eric Bachmann, surgem as disfuncionais, rancorosas e impenetráveis letras que abordam gloriosamente a vida na sociedade moderna.
Ecléctico, torna-se difícil destacar algum tema, mas pessoalmente continua-me a fascinar a persistente atracção de “Web In Front”, a inflexível “Last Word”, a dupla artilharia de guitarras presente em “You And Me”, a ríspida energia de “Fat”, a ardente “Learo, You’re A Hole”, a genial “Toast”, ou a áspera “Backwash”.
Nos três discos seguintes iriam por variadas razões evoluir sonoramente, mas “Icky Mettle”, é ainda hoje obrigatório para a compreensão do “indie-rock” nos anos 90.
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02 dezembro 2009

Rock # 10 - Band Of Susans – “Hope Against Hope” (1988 Blast First)

Oriundos de Nova Iorque, o guitarrista Robert Poss e a baixista Susan Stenger criaram uma banda cujo nome derivou do simples facto de na altura três dos seus elementos se chamarem Susan. Inspirados em igual medida por Glenn Branca e Rhys Chatham, pelos Wire e pelo no-wave dos seus conterrâneos Live Skull e Sonic Youth, criaram um som verdadeiramente único, se por um lado era extremamente agressivo, aguçado e abrasivo, por outro era estratificadamente melódico. Misturaram uma sonoridade reminiscente do movimento “no-wave” nova-iorquino, com outra mais próxima do movimento shoegazing que provinha de Inglaterra.
Resultaram texturas e tonalidades sónicas, executadas através de simples e repetitivos acordes e matrizes de baixo em constante movimento, recheados com enormes camadas de guitarras “noise” para produzir uma vivificante e visceral corrente de magma melodioso, entregues ou pelo ruidoso “falsetto” de Poss ou pelo gentil gutural de Stenger. O facto de coabitarem na banda três guitarristas, deu à música uma qualidade compacta, onde um revestimento tectónico de feedback, distorção e acordes desfocados e disfuncionais, escondia nas dissonantes e inconstantes “walls of noise”, as estruturas e as melodias mais convencionais.
O seu disco de estreia, o corrosivo “Hope Against Hope”, foi considerado por muitos como uma versão americana de “Psychocandy” dos The Jesus And The Mary Chain, e daí destacam-se, para além do propulsivo tema-título, a fulminante “Not Even Close”, a estridente “Throne Of Blood”, a devaneadora “All The Wrong Reasons” ou a densa “You Were An Optimist”.
O disco seguinte “Love Agenda” (1989) é outra excelente colecção de canções embriagadas e consumptivas, que contou com a participação de Page Hamilton, futuro fundador dos Helmet.
Discos fascinantes e que ainda hoje soam actuais.
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21 setembro 2009

Rock # 9 - The Jesus Lizard – “Goat” (1991 Touch And Go)

No seu segundo álbum, os lunáticos e depravados de Chicago cumpriram bem o seu papel dos primos retardados e alcoólicos dos britânicos Gang of Four. Nesta espiral de caos, produzida por Steve Albini, a sua sonoridade está no mais doentio, repulsivo e ameaçador possível em faixas como “Then Comes Dudley”, a psicótica “Nub”, a venenosa “Mouthbreaker”, “Monkey Trick” ou a paranóica “I Can’t Swin”.
O baterista Mac McNeilly e o baixista David Sims tocavam com uma ritmada subtileza fulminante, o guitarrista Duane Denison aparentemente arranha as cordas erradas para criar vibrantes “riffs” pós punk e o infame porta-voz David Yow, com o seu incomparável estilo vocal, capturara a alma de um imoderado e desarticulado personagem.
Depois de “Goat”, continuaram a fazer álbuns excelentes – como “Liar” de 1992 (e o famoso “single” a meias com os Nirvana, de onde provavelmente serão mais relembrados) – e repetidamente reinventaram-se a eles próprios, mas os verdadeiros fãs do rock aventuroso necessitam de “Goat”.
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04 maio 2009

Rock # 8 - The Replacements – “Let It Be” (1984 Twin/Tone)

Nomear um disco com o mesmo título com que os Beatles nomearam um dos seus, pode ser um pau de dois bicos. Felizmente estes quatro rapazes de Minneapolis (e companheiros de estrada dos Hüsker Dü) criaram um disco extremamente consistente que em nada envergonha o do quarteto de Liverpool.
Em grande parte devido aos incríveis talentos naturais de Bob Stinson e Paul Westerberg – que até podiam aproximar-se em “talento bruto” de Lennon & McCartney - foram das melhores bandas surgidas no início da década de 80 a exprimirem a sua revoltada angustia através da música – um incontornável “pop-trash” malandro. Agrupadas no movimento “punk/alternative rock” americano (apesar da sua sonoridade incluir elementos de “hard rock”, “country” ou até de música psicadélica), situavam-se num patamar muito superior à maioria dos grupos desse movimento.
A excelente capacidade de composição de Paul Westerberg surge no seu estimável melhor em “I Will Dare” e “Androgynous” – onde mistura pura poesia com uma porção de humor.
Destacam-se ainda a revolta de “We’re Coming Out”, a desilusão da adolescência intencionalmente mordaz de “Sixteen Blue”, o “punk” puro de “Gary’s Got A Boner”, a provavelmente auto-biográfica “Unsatisfied”, ou a torturada canção de amor “Answering Machine”. E se “Black Diamond” poderia ser a mais obscuras da versões visto ser um original dos Kiss, quem entende a banda percebe que encaixa perfeitamente e é bem melhor que o original.Um clássico da década e um dos mais importantes discos do “rock alternativo” americano.
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09 abril 2009

Rock # 7 - Girls Against Boys - “Cruise Yourself” (1994 Touch And Go)

Depois de reinterpretarem o “american hardcore” na sua primeira banda, Johnny Temple e Scott McCloud recrutaram o baixista Eli Janney e o baterista Alexis Fleisig com o objectivo de criarem um tipo de música que seria inspirada pelo emergente movimento praticado por editoras como a Wax Trax! e a Some Bizarre. No entanto em vez da aproximação ao “industrial-rock”, optaram por uma sonoridade rock mais estéril, com focagem em ritmos temperados e abruptos e nas conscientemente morais letras de McCloud. Muitos fãs citam o disco de estreia na Touch And Go, “Venus Luxure No1 Baby” como o seu ponto mais alto, mas é “Cruise Yourself” que contém todos os elementos sonoros da banda firmemente no seu lugar. Assim temos “pós-punk”, a dupla tracção dos baixos, batimentos regimentar de bateria e um inteligente uso de “samples”, que resultam em hipnotizantes canções de isolamento e de arrogantes e cínicas homenagens a todas as formas possíveis de comportamentos obscuros e alterados. Desde a curiosamente furtiva, ameaçadora, insidiosa e um tanto inepta “Tucked In”, passando pelas as irresistíveis “Kill The Sexplayer” e “(I) Don’t Got A Place”, apoiadas na incrivelmente electrizante forma de tocar bateria de Fleisig, pelo contraste entre as apáticas guitarras e o ritmo intensamente sensual dos baixos gémeos de “Explicitly Yours”, até à compelível “Glazed Eye” que com o seu deprimido vibrafone e a sombria, melancólica linha de baixo, combinam para um genuíno efeito glacial.
Este disco iria preparar o caminho para “House Of GVSB” e o elegantemente violento “Freak*On*Ica”, trabalhos que iriam firmemente estabelecer o quarteto como um dos mais inovadores do “rock” alternativo americano.
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18 março 2009

Rock # 6 - Dinosaur Jr.- “You’re Living All Over Me” (1987 SST) / “Bug” (1988 SST)

Apesar de nunca terem tido a importância histórica de uns Pixies ou Sonic Youth, ou mesmo de uns Hüsker Dü ou Big Black, foi por aqui, via The Stooges e o “punk-hardcore” que se começou a desenvolver o caminho que iria levar aos Nirvana. É aqui que encontramos as raízes do grunge e do “lo-fi”.
O trio de Amherst composto por J. Mascis, Lou Barlow e Murph, foram uma explosão de energia, resultado da acção combinada entre a vitalidade e a tensão da química interna produzida pelo grupo liderada por J Mascis, um proto-Cobain que escreveu importantes capítulos na história da guitarra eléctrica. Ousadamente tornaram OK criarem “jams” e aplicarem extensos solos no essencialmente leal movimento “punk-indie”, totalmente desprovido de qualquer enfeite musical.
No inigualável “You’re Living All Over Me”, as canções são concisas e sinceras, onde os dotes e a presença de Mascis são colossais, pela intensidade emocional que coloca nos seus solos de guitarra, complementado por um grande trabalho de Barlow no baixo, uma mistura de melodia e distorção.
Brilhante desde o distinto e contagiantemente louco “feedback” de “Little Fury Things”, passando pela segura “The Lung”, pelo agradável “noise” de “Tarpit”, pela forma como as pesadas guitarras de “Raisans” e a insana “Sludgefeast” envenenam o ouvinte com o seu poder, até chegarmos a “Lose” e à assombrosa “Poledo”, ambas escritas por Barlow (cujas sonoridade relembram mais as desenvolvidas posteriormente no seu trabalho com os Sebadoh).
Em “Bug” o som está mais ordenado e estruturado, mas a banda estava prestes a explodir em conflitos internos. No entanto as acções combinadas mantêm-se num nível elevadíssimo, onde a dinâmica “soft/hard” é um padrão que iguala a atitude de Mascis, que alterna entre delicadeza e desejo e um mortal desencantamento, bem reflectida no ocioso e suavemente distorcido “garage.rock” de “Freak Scene” (a “marca registada” era resmungar vagarosamente vocalizações “folk” e rápidos, ásperos “riffs” e depois derramar ardentes solos de guitarra). Destacam-se ainda o dilacerantemente belo solo de “No Bones”, o reprimido “trashing” de “Pond Song” (que relembra Neil Young na fase “Rust Never Sleeps”), a directa “Budge”, e os enormes e patetas “riffs” de “Yeah We Know”.
Dois discos de prazer intenso misturado com sofrimento intenso.
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13 agosto 2008

Rock # 5 - fIREHOSE - “Ragin’, Full-On” (1986 SST)

Apesar da mágoa resultante da morte do seu companheiro nos Minutemen - D.Boon - George Hurley e Mike Watt foram obrigados a regressar à luta, após um jovem fã chamado Ed Crawford (ou Ed Fromohio) ter viajado desde o estado do Ohio até à Califórnia, para lhes prestar tributo e convence-los a tocar com ele.
Os fIREHOSE faziam um som menos engrenado do que os Minutemen, mas com a mesma energia “rock-punk-funk”, no entanto as composições eram mais expansivas e destacava-se a impressivamente ardente tonalidade vocal de Crawford (totalmente diferente de D.Boon). Excelentes músicos, todos contribuíram conformemente para este disco, que transmite a sua plena capacidade de harmonização. Ritmicamente complexo, mas melódico, possante, mas inspirador, o título do disco descreve perfeitamente o conteúdo do mesmo.
Seja nos agitantes e infecciosos ritmos de “Brave Captain” ou “Chemical Wire”, na irresistível batida “punk-funk” de “Relatin’ Dudes To Jazz”, ou na intensa melancolia “folk” de “Candle And The Flame” e “Things Could Turn Around”, eles nunca iriam melhorar a pura arte de escrever canções deste convenientemente intitulado e coesivo disco de estreia.
D. Boon certamente ficaria orgulhoso.
Aconselho ainda “If’n”, menos incendiário que este, mais “rock-funk” e “fROMOHIO”, com uma sonoridade mais “americana”.
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24 julho 2008

Rock # 4 - The Gories – “I Know You Fine, But How You Doin’” (1990 New Rose/Crypt)

Esta banda liderada por Mick Collins, o padrinho do “garage-rock” de Detroit, é considerada, actualmente, como uma das mais influentes, por todos os grupo que revitalizaram essa sonoridade, já neste século. Para além disso, foram provavelmente uma das melhores.
Neste disco, curiosamente produzido por Alex Chilton, é captura toda a essência e arrogância do génio de Collins. Produziam um som brutal e rude, que destrói os conceitos básicos de “rock”, “soul”, “r&b”, “60’s punk”, apoiados na voz poderosa de Collins, suficiente transtornada para ser simultaneamente obscena e emotiva, e pela minimalista mistura explosiva de “garage” e “blues”. Este disco inclui duas fabulosas canções: “Thunderbird ESQ” e “Nitroglycerine” - esta última relembrando os The Sonics, lírica e sonoramente. Sem eles, os White Stripes nunca existiriam. Conflitos internos iriam acabar com a banda, mas Collins prosseguiu a sua cruzada com os The Dirtbombs, que editaram o seu último disco já este ano.
“This is Rock and Roll”.

02 abril 2008

Rock # 3 - The Monks – “Black Monk Time” (1966 Polydor)

Reza a história que cinco militares americanos foram para a base de Gelnhausen na antiga Republica Federal Alemã em 1963. Após terem sido exonerados, aventuraram-se na emergente cena “beat” alemã.
Chamaram a atenção porque se vestiam como monges, sempre de negro, com o cabelo a condizer. E com o seu disco de estreia, editado na Alemanha pela Polydor, criaram um dos discos mais estranhos de sempre.
“Black Monk Time” foi o ano zero para a “selvajaria” rock. Era música “punk” repetitiva e brutal, com referências ao ódio e à guerra - letras completamente alienadas, de como odiavam as namoradas e o Vietname, quando a onda “peace and love” estava no seu auge, e as polémicas posições anti-guerra ainda estavam a dois anos de distância.
Adicionalmente ao tradicional conjunto de instrumentos das formações clássicas (guitarra, baixo, bateria), adicionaram o órgão e o banjo. E o banjo agita toda a ferocidade musical, acompanhando o pulsante órgão, a bateria tribal, as guitarras frenéticas, e as letras venenosas que gritavam.
Aqui não há momentos de descanso, desde o explosivo “Monk Time” (onde acidentalmente descobriram o “feedback”), passando pelo constantemente contraditório “Drunken Maria”, pelo irreal “Higgle-Dy Piggle-Dy”, ou pelo repetitivo “Oh How To Do Now”.
Apesar de terem sido creditados diversas vezes como percursores da rebeldia do “punk” (a sugestão de que os The Monks estavam dez anos à frente dos Sex Pistols e dos The Clash, sugere que a sua musica é similar ao “punk-rock” dos ano 70, o que não é o caso, apesar de terem a mesma intensidade, o som diverge imenso) e das batidas hipnóticas do “krautrock”, com a edição em CD, já na década de 90, deste disco, e com o apoio dado por bandas como The Fall, Henry Rollins Band e Jon Spencer Blues Explosion, chamaram a atenção de um público mais novo, para o seu perfurante e primitivo “rock’n’roll”.
Um disco bizarro, mas essencial para quem aprecia ou pretende descobrir mais sobre o “garage-rock”/”punk-rock” dos anos 60.

11 dezembro 2007

Rock # 2 - The Sonics - “Here Are The Sonics!!!” (1965 Etiquette/Norton)

Se muitas das bandas de “garage-rock” dos anos 60, tendiam a soar similares, o som dos The Sonics era totalmente diferente.
Criaram um som novo, intenso, selvagem, através de composições básicas, e ao combinarem os gritos histéricos de Gerry Roslie, o som forte das enérgicas guitarras de Larry Parypa, da intensa e violenta bateria de Bob Bennett, em conjunto com uma produção intencionalmente tosca, com uma rudimentar qualidade sonora. Era puro e genuíno “rock’n’roll”.
Para a história deixaram-nos clássicos como os originais “Psycho”, “The Witch”, “Boss Hog” ou “Strychnine”, e versões insanas de clássicos de R&B.
A introdução de “The Witch”, com o seu característico órgão, é uma referência do movimento “garage-rock”. E “Psycho” ainda hoje continua brutal e psicótico.
Como eram originários de Tacoma, que geograficamente era próximo de Seattle, e como também era localizado no estado de Washington na zona Noroeste do Pacifico são muitas vezes referenciados como precursores do “grunge”, mas é muito mais evidente a influência que esta banda teve nos movimentos “proto-punk” e “punk”, e que ainda hoje têm em todas as “garage-bands” actuais.
Bandas como The Stooges, Ramones The Cramps, The Gories, Jon Spencer Blues Explosion ou White Stripes, devem ter escutado este disco várias vezes.

Editaram ainda “Boom” (1966 Etiquette), que apesar de ser um disco interessante e de ter tido um inesperado relativo sucesso comercial, já não é tão fascinante e não causa o mesmo impacto. Neste disco, para além de “Shot Down” e “He’s Waitin’, destaco somente uma magnífica versão de “Louie Louie”.