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27 setembro 2010

Extremos # 10 - Chrome – “Half Machine Lip Moves” (1979 Beggars Banquet)

O núcleo central dos Chrome, o duo Damon Edge e Helios Creed – auxiliados por variados músicos que fugazmente se juntavam ao projecto – criou um estilo musical que merecia muito mais crédito do que o estatuto de “culto” que inevitavelmente gerou. “Half Machine Lip Moves” foi na altura do seu lançamento um curioso e poderoso híbrido, que fundia o estilo agressivo de uns The Stooges com uma sobrenaturalidade inspirada na ficção cientifica e muita LSD, reflectida nos títulos, que evidenciavam o interesse que tinham nos alienígenas e na tecnologia contemporânea.
Este álbum foi sem dúvida o melhor momento dos Chrome (“Alien Soundtracks” de 1977 foi a outra obra-prima): a cauterizada guitarra de Creed, fortemente carregada de efeitos FX, o Moog e as arrepiantes vocalizações de Edge, sustentadas pela percussão metálica, uniram-se para criar o que poderia ter se tornado num ponto de partida radicalmente novo para uma forma emergente de “post-rock”. A sua influência pode ser perceptível no som dos Big Black e em alguns outros grupos, mas a extensão do seu esquecimento pode ser medido no mês em que o cadáver de Damon Edge permaneceu por descobrir após a sua morte em 1995.
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27 julho 2010

Editoras # 7 - 4AD

A história começa em 1972 quando o jovem de 17 anos, Ivo Watts-Russell deixou Northampton para descobrir Londres, e encontrar refugio atrás do balcão da loja de disco Beggars Banquet.
No final dessa década, as consequências do “punk” deixaram muitos excitados com as possibilidades criadas pelo movimento. Ivo foi um deles e ficou tão excitado com as inúmeras “demos” que infestavam a loja (proprietária da editora Beggars Banquet) que solicitou os responsáveis da mesma para criarem uma nova editora. Cansados de tanta insistência, deram-lhe £2000 para começar a sua própria editora, com a premissa de que podiam ficar com os potenciais futuros sucessos. Foi assim que surgiram em 1979, os Shox, Bearz, The Fast Set e Bauhaus, os responsáveis pelos quatro primeiros “singles” da recém formada Axis. Mas um telefonema de outra Axis Records, obrigou-o a renomear o seu projecto para 4AD. Os Bauhaus foram os únicos que se enquadraram no plano original da Beggars Banquet e posteriormente deixariam a editora. Mas entretanto chegaram os Rema-Rema, os Modern English, os Dif Juz, e um bando de australianos chamados The Birthday Party, que permitiram a uma pequena editora dar um grande passo em frente. Estes grupos iriam criar um tipo de padrão sonoro, sombrio e melancólico, que discos subsequentes não iriam eliminar. Mas o que faltava era continuidade, pois os seus artistas eram errantes ou descontentes. Os Bauhaus abandonaram, os Modern English foram despedidos, os Birthday Party acabaram.
Mas as peças começaram a juntar-se novamente a partir de 1982, quando três excêntricos escoceses decidiram reinventar a “pop” com uma surpreendente sonoridade vocal, e assim surgiu “Garlands” pelos Cocteau Twins. Surgem também os The Wolfgang Press, o mutante “disco-noise” dos Colourbox e Vaughan Oliver é recrutado como designer das capas dos discos.
Agora a 4AD tem a possibilidade de longevidade do seu lado, com uma deliciosamente abstracta imagem a unir um conjunto de bandas que iria moldar uma fachada uniforme. Isso seria cimentado pelo colectivo This Mortal Coil, um desejo de Ivo se envolver musicalmente e que virtualmente criou um manisfesto estético para toda a etiqueta. Assim quando os Dead Can Dance e os Xymox surgiram em 1984/85 já o termo “disco 4AD” era um factor diferenciador.
No meio dos anos 80, indiferentes ao movimento das “fuzzy” guitarras indie “C86”, aventuraram-se nas torturas apocalípticas dos A.R.Kane e nas expansões mentais das Le Mystère Des Voix Bulgares. E não podemos esquecer essa bizarra colaboração entre os A.R. Kane e os Colourbox, que resultou em “Pump Up The Volume” dos M/A/R/R/S o primeiro disco que fez os obsessivos questionar: “o que é que isso faz na 4AD?”. Mas o disco seria líder nas tabelas, vendendo dois milhões e meio de cópias por todo o mundo, naturalmente Ivo teve o seu momento corrupto.
Mas o seu consolo estava perto, se bem que do outro lado do Atlântico, ao localizar o caldeirão borbulhante de angústia e raiva das “Throwing Muses e um grupo de Boston notável pelas suas furiosas mudança de tempo, chamado Pixies. Esta dupla iria ter enorme sucesso, e para além de serem as bases futuras das The Breeders e das Belly, e seria responsável pelo despertar de grupos como as Lush e os Pale Saints.
A editora tinha afastado o rótulo etéreo e foi propositadamente procurando “bandas de guitarra”, na busca de uns novos Pixies, facto que se tornou urgente, após o fim da banda, e que se tornaria uma constante nos anos seguintes.
Seriam também bandas americanas a atingir maior sucesso na década de 90, como os Red House Painters, Unrest e His Name is Alive, mas a exploração de novos territórios continuou com a assinatura dos Gus Gus.
Coincidente com os fortes sentimentos da atribulada partida dos Cocteau Twins, praticamente após uma década a trabalharem em conjunto, em 1999 Ivo vende a editora ao Beggars Group, onde ainda hoje se encontra incorporada, mas a editora continuou a manter a sua identidade e selecção de artistas ao manter a ex-Throwing Muses, Kristin Hersh ou as The Breeders, e recrutando novos actos como Blonde Redhead, ScottWalker ou St. Vincent.
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Cocteau Twins - Crushed
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Throwing Muses - Colder

07 fevereiro 2010

Pop # 10 - The Go-Betweens- “Liberty Belle And The Black Diamond Express” (1986 Beggars Banquet)

O mais épico e mais romântico disco do quarteto Australiano, será provavelmente também o mais consistente de uma banda que ao longo da sua história discográfica nunca parou de impressionar. Pois, para além deste, poderia ter escolhido outro - “Before Hollywood”, “16 Lovers Lane” ou “Oceans Apart” – já que todos os seus álbuns são fantásticos, e estão recheados de belas e habilmente criadas canções, que relatam histórias de amores românticos e das suas irritadas rejeições.
Através das fantásticas letras de Grant McLennan e Robert Forster, apresentam-nos melancólicas e dolorosas meditações acerca do amor e as suas consequências. E estas surgem quer através da presunçosa indiferença de Robert Forster e os seus arrogantes relatos de intensas paixões, quer através do mais sério romantismo de Grant McLennan com as suas poéticas e sonhadoras composições.
Gravado com o produtor Richard Preston em Fulham na Inglaterra, está evidente que os nativos de Brisbane procuraram aqui uma sonoridade mais rústica, quase áspera, que lhe dá sensações ligeiramente únicas em relação aos seus outros discos.
Podemos destacar as discordantes guitarras e as declamatórias vozes de “Spring Rain”, a majestosa “The Wrong Road”, a perfeita capacidade de escrita evidenciada em “To Reach Me”, a subtil, no entanto dramática “Twin Layers Of Lightning”, o excelente “pop” presente em “Head Full Of Steam” ou as agravantes e desesperantes emoções de “Apology Accepted”. Mas a real força deste disco é a sua coesão global, pois tudo parece coexistir em perfeita sintonia. Todos os aspectos delicadamente reunidos como um puzzle, produzindo uma sonoridade perfeita e verdadeiramente única, e que por mais vezes que o escutemos, nos irá sempre produzir efeitos surpreendentes.
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24 outubro 2008

Inovadores # 10 - Associates – “Sulk” (1982 Beggars Banquet)

“Sulk”, foi uma distinta revolta contra os tons negros predominantes do pós-punk (cuja capa do disco bem o serve para ilustrar). Seria o último álbum de originais de uma trilogia de obras-primas (incluir “The Affectionate Punch” e”Fourth Drawer Down”) que os Associates iriam editar, e será provavelmente o mais acessível dos três, e onde as suas canções mais conhecidas estão incluídas.
Mas ao contrário de muitos disco dos anos 80, que se condenaram sonoramente a eles próprios a ficar encarcerados nessa década, este, como o passar dos anos, parece cada vez mais actual do que aquando da sua edição. E se, segundo reza a história, como o processo de gravação foi longo, felizmente o seu resultado final não resultou em nada de confuso ou desapontante, mas sim num grande disco “pop”.
Da combinação dos talentos do multi-instrumentista Alan Rankine, que criou uma música antinatural baseada em camadas sonoras de singularidade sintética, com as vocalizações eloquentes e transcendentais de Billy MacKenzie, resultou um disco conceptual, com a primeira metade (lado A no antigo vinil) a levar-nos para as trevas, com as canções mais sinistras, e com a segunda metade a restituir-nos a claridade, com as mais calmamente melódicas.
Ficaram peças únicas e extravagantes, como a alienada “Party Fears Two”, a incrível “Club Country”, a fantástica “Gloomy Sunday”, ou a maníaca cacofonia de “Nude Spoons”. E outras que amadureceram magnificamente como “Skipping”.
Se o suicídio de MacKenzie, poderá ter-lhe assegurado um estatuto de culto, é aqui que verdadeiramente conseguimos ouvir, através da sua elevada voz, a sua alma torturada e o seu grandioso espírito.
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