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29 março 2010

Do fundo da prateleira # 21 - Tara Jane O’Neil - “Peregrine” (2000 Quarterstick)

O’Neil tinha sido anteriormente a baixista/vocalista nessa banda de tributo ao Slint, Rodan. Mas este secretamente belo “Peregrine” é muito mais genuinamente “pós-rock” (num sentido não-genérico) do que algo que os Rodan alguma vez criaram.
O título do disco alude à solitária, suspensa qualidade sonora interior: o som de alguma coisa mais, algo verdadeiramente secreto.
Enquanto a música dos Rodan articulava-se no contraste entre as dinâmicas “quiet/loud”, aqui O’Neil pendura-se em esvaziadas harmonizações onde “incorrectos” acordes cristalizam cadências que perfuram pequenos buracos melódicos através das suas canções. Elas embelezam incertas fronteiras circulares que se recusam a permanecer no mesmo local de uma audição para outra.
Os dissolutos, estratificados arranjos das guitarras acústicas, flautas, violinos e piano concedem-lhe uma quase mística atmosfera, e as vocalizações de O’Neil são similarmente carregadas com as mesmas imagens surreais, que estavam presentes em discos como “Astral Weeks” de Van Morrison ou “Red Apple Falls” de Smog.
Mas estas possíveis referências são de todo demasiado limitadoras para qualificar a música, pois o enigmático no entanto sempre intrigante “Peregrine” tenta planear de um modo elusivo para fora do nosso alcance.
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08 maio 2009

Bill Callahan – “Sometimes I Wish We Were An Eagle” (2009 Drag City)

O seu segundo registo sobre nome próprio depois do estilisticamente disperso e liricamente relaxado, “Woke On A Whaleheart”, é um regresso ao temas parcialmente sombrios e à suave monotonia da sua prestação como Smog, após uma breve experiência com a felicidade, conforme ele próprio afirma no dolorosamente belo semi-autobiográfico “Jim Cain”: “I used to be darker, then i got lighter, then i got dark again”.
Aqui descobrimos o seu autor muito concentrado em torno de um despojado “alt-country pop” carregado de luxuriantes e concisos instrumentos de corda. Tal como na incarnação Smog, usa narrações na primeira pessoa, mas agora vivifica as atribuladas histórias com sentimentos admiravelmente fortes. Parece que ele está a falar directamente connosco, recontando sórdidas histórias de dor e conhecimento. A sua famosamente seca voz soa amplamente desenvolvida e demonstra muito mais desprendimento e maturidade como músico/compositor – a refinada palete musical é tornada muito mais transparente pela cristalina produção, muito distante do rude lo-fi, de discos como “Julius Caeser” ou “Wild Love”.
O ouvinte é convidado para inúmeros momentos transcendentes como na profundamente sincera, docilmente galopante “Eid Ma Clack Shaw”, na agridoce “The Wind And The Dove”, na dramática “Too Many Birds”, na sinistra indolência de “My Friend”, na intimidadora “All Thoughts Are Prey To Some Beast”, no desorientado instrumental “Invocation Of Ratiocination”, até fechar ao delicado fecho com o arrebatador anti-épico “Faith/Void”. Fazendo com que este disco seja o culminar da sua singular e astuta narrativa e encantadora entrega.
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04 fevereiro 2009

Editoras # 4 - Chemikal Underground - Uma Selecção







Mogwai – “Young Team” (1997)
Arab Strap – “Philophobia” (1998)
The Delgados – “The Great Eastern“ (2000)
The Radar Brothers –“And The Surrounding Mountains” (2002)

Os primeiros discos editados pela Chemikal Underground relembraram-me da ética da Postcard.

A Chemikal Underground sempre foi vista como a “pateta” prima teenager do rock britânico – e a sua singular petulância apenas reforça essa ideia (ainda se lembram daquelas t-shits utilizadas pelos Mogwai com o dizer: “Blur Are Shite). Na verdade, isso é apenas metade da história. Pois o catalogo inicial da editora escocesa pode ser imperfeitamente dividido em duas distintas categorias: o “pop” acústico facilitado pelos fundadores da editora, The Delgados, e o melancólico experimentalismo condensado pelos Arab Strap.
O disco de estreia dos Mogwai, “Young Team”, encaixa na segunda categoria. É uma viagem provocante – a colecção de fracturados “rock-out” instrumentais, variando desde as entorpecidas guitarras nos versos até às explosões de “feedback” no refrão. “Yes! I Am A Long Way From Home” é reminiscente da sonoridade praticada pelos padrinhos do “lo-fi” Slint, enquanto “Mogwai Fear Satan” ressoa até ao ruidoso final recheado de címbalos.
Mas enquanto as dinâmicas “silêncio/barulho ensurdecedor” dos Mogwai frequentemente obrigam os ouvintes a ajustar os volumes sonoros, os Arab Strap seguem uma ainda mais sombria forma melancólica de tocar guitarra no seu segundo disco “Philophobia”.
Guiados pelas vocalizações resmungonas de Aidan Moffat e unindo sonoridades Velvet Underground com o que soa a uma velha caixa de ritmos Casio, a sua “folk” acústica é deliciosamente triste.
Por contraste, nos The Delgados e nos The Radar Brothers, têm duas bandas desavergonhadamente acessíveis. O disco de 2000 dos primeiros, “The Great Eastern”, produzido por David Fridmann (na altura nos Mercury Rev), é um alegre disco de “pop” acústico que varia desde as harmonias estilhaçadas de uns Pavement (“Reasons For Silence”) até ao “rock” estival dos Teenage Fanclub (“Thirteen Gliding Principles”). Já as firmes vocalizações e as rígidas guitarras do assombroso “And The Surrounding Mountains” são reminiscentes da “folk” “lo-fi” de uns Smog. No seu melhor (“Rock Of The Lake”; “On The Line”) eles soam gloriosamente apaixonados.

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09 julho 2007

Do fundo da prateleira # 4 - Damien Jurado – “Where Shall You Take Me?” (2003 Secretly Canadian)

Com este introspectivo disco, Jurado volta a comprovar que é um dos mais talentosos, deprimidos e sombrios compositores da actualidade.
O som de rudimentares instrumentos acústicos e as influências tradicionais criam uma notória tensão.
Comparações com “Nebraska” de Bruce Springsteen são óbvias, mas não fazem totalmente justiça à original capacidade deste nativo de Seattle.
Pequenas e inquietantes histórias, com ricos detalhes de lugares e pessoas, que tornam a audição mais arrepiante, como um pesadelo que nunca passa, mas estranhamente, neste disco dolorosamente honesto, esta indistinta voz oferece um certo tipo de conforto.
Como exemplificado no tema de abertura, “Amateur Night”, com a voz a ecoar lamuriosamente sobre uma relaxada guitarra acústica, e uma letra sombriamente ambígua. A canção é perfeita e encanta, até que surge uma distorção em fundo, que a torna mais perturbadora, como se aproximasse algo horrível e inevitável.
Mais espantosa é a sincera história de um amor proibido em “Abilene”.
A simplicidade e a delicadeza escondem uma grande tristeza, como em “I Can´t Get Over You”, ou nesse afável hino à vida nas pequenas cidades, que é “Matinne”.
E o disco encerra como começou, só que agora em “Bad Dreams”, sem disfarce, aberto e inconstante.
Se isto é música “folk”, andará mais perto dos mundos de Sparklehorse, Smog ou Cat Power, do que o “british-folk” de influência renascentista.