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27 abril 2010

In the Beginning # 2 - My Bloody Valentine - “Isn’t Anything” (1988 Creation)

Após a regulamentação da pureza “indie-pop” nos EP’s “Strawberry Wine” e “Ecstasy” (ambos de 1987), “Isn’t Anything” foi comprovadamente pós- lapsariano. A transformação dos MBV de pretendentes ao espectro sonoro dos The Jesus and Mary Chain, para aventureiros sónicos ainda hoje é de difícil crédito. Só mesmo a audição do tenso holocausto que foi o EP “You Made Me Realise” e o verdadeiramente inovador álbum que o seguiu, podem ajudar a sua compreensão.
Sonoramente caótico, incorporando as desfalecidas paisagens sonoras dos Cocteau Twins, juntamente com um uso altamente inovador de “microtons” e artisticamente submerso no estúdio, é impressionante a sua consistente tonalidade negra e erótica, alternadamente desnorteante ou agressivamente voraz. É um disco cheio de contrastes, sejam as exuberantes paisagens sonoras recheadas de “feedback”, sejam as sensuais combinações das vocalizações vazias de Kevin Shields contra os encantos etéreos de Bilinda Butcher. As músicas não são “sobre” amor, sexo e emoções, mas “soam” como fossem momentos hiper-sensíveis de amor, sexo e emoções.
E ao ouvir “Isn’t Anything” actualmente, ele parece ter muito em comum com o sentimento de euforia vivida na altura em torno do “second summer of love”, pois tem a mesma qualidade entorpecedora do que os resultados das experimentações químicas ocorridas aquando do referido movimento.
Embora a apoteose do MBV ficasse completa após o lançamento de “Loveless”, “Isn’t Anything” mantém uma nitidez e clareza de composição, que é às vezes um pouco ausente nos inúmeros de efeitos de guitarra presentes em “Loveless”.
Desde o dub-balançante do totalmente sexual “Soft As Snow (But Warm Inside)”, passando pelo orgásmico, minimalista e absolutamente arrebatador “Lose My Breath”, pela poesia de tom fúnebre do perturbador “No More Sorry”, pelo alegremente perturbador “All I Need”, pelos “riffs” brutais do apocalipticamente erótico “Feed Me With Your Kisses”, pelo verdadeiro letal “Sueisfine” até à violentamente sexy “Nothing Much To Lose”, “Isn’t Anything” é uma aventura musical que transcende qualquer redundante género estilístico onde possam inadvertidamente ter sido colocados os MBV.
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07 janeiro 2010

Classic # 23 - The Velvet Underground And Nico- “The Velvet Underground & Nico” (1967 Verve)

Por muitos considerado como o ponto de partida para a música alternativa, este disco realmente alterou a face do “rock”, mas também do “glam”, do “punk”, do “goth” ou do “indie”. Mas 43 anos depois, o que ainda mais surpreende é a sua audácia, a sua diversidade, a sua capacidade de experimentação sonora e a sua originalidade.
Sombrio e introspectivo, é a absoluta antítese, do movimento “hippie” que o resto da América andava a jubilar, e áspero como a cidade onde nasceu.
A música não é complexa, surge dispersa e escorregadia, mas é estranhamente compelível. E a estranha aliança entre Lou Reed e John Cale , fazia com eles experimentassem algo diferente em cada canção, através das hipnóticas espirais de dissonantes guitarras e viola, sempre apoiados pela poderosa bateria de Mo Tucker e com Sterling Morrison a agregar toda a mutilação sonora. Ao juntarem o contraste entre a voz fortemente superficial de Reed e o suave trautear de Nico, e a ilustre escrita de Reed - com referências sinceras e directas ao sexo bizarro e drogas, algo que ninguém tinha coragem para abordar tão abertamente à 40 anos atrás, pois no passado grupos como The Beatles (em “Happiness Is A Warm Gun”) ou The Byrds (em “Eight Miles High”), escreveram sobre os mesmos controversos temas ambiguamente – criaram momentos verdadeiramente únicos.
Começando na volátil, celestial, simultaneamente fascinante e sinistra “Sunday Morning”, passando pelas implacáveis e puramente loucas imagens do completamente soberbo “I'm Waiting For The Man”, pela gentil e sedutora “Femme Fatale”, pelo perturbador e contundente exótico relato sadomasoquista da claustrofóbica “Venus In Furs”, pela a atitude fútil do desbotado “garage” de “Run, Run, Run”, pelo melancólico “avant-garde” de “All Tomorrow’s Parties”, pela assustadora e francamente brilhante confissão no surreal épico “Heroin”, ou pela invulgarmente delicada e encantadora “I’ll Be Your Mirror”, chegamos às duas últimas canções que efectivamente representam a criação do rock alternativo: a convulsiva “The Black Angel’s Death Song” com a feroz e penetrante viola e a poesia absurda de Reed e a abismal batalha instrumental recheada de feedback presente em “European Son”, que absorve por completo o ouvinte.
Certamente Sonic Youth, Suicide, The Jesus and Mary Chain, Pixies, Smashing Pumpkins, My Bloody Valentine, entre outros, não teriam realizado os extraordinários álbuns que fizerem sem a existência deste magnifico monumento ao espírito brutal do “rock’n’roll”.
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16 dezembro 2009

Singles # 19 - The Jesus and Mary Chain – “Just Like Honey” (1985 Blanco Y Negro)

Apesar de “Just Like Honey” apenas ter sido o terceiro “single” extraído de “Psychocandy”, foi sempre o que mais me marcou.
Ao combinarem dois acordes, uma batida primitiva de bateria e um torrencial “wall of sound” de feedback e distorção que mutila as guitarras, com uma melodia simples, invocam os primórdios do “rock and roll”, ao pegaram numa formula vulgar e formal de elaborar música, muito ao espírito de um Phil Spector.
Mas é nesses dois aspectos, que se encontra a sua beleza. Uma explosão de “noise” finamente presa a uma melodia.
Evocativa e sexual, as provocadoras letras, cujas referências acerca de ser o “plastic toy” de alguém, não parecem nada inocentes. Mas como é tão aduladora e sincera, é mais uma canção de amor do que um relato de uma aventura carnal. E por isso certamente foi tão bem seleccionada para o final do filme “Lost In Translation”.
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02 dezembro 2009

Rock # 10 - Band Of Susans – “Hope Against Hope” (1988 Blast First)

Oriundos de Nova Iorque, o guitarrista Robert Poss e a baixista Susan Stenger criaram uma banda cujo nome derivou do simples facto de na altura três dos seus elementos se chamarem Susan. Inspirados em igual medida por Glenn Branca e Rhys Chatham, pelos Wire e pelo no-wave dos seus conterrâneos Live Skull e Sonic Youth, criaram um som verdadeiramente único, se por um lado era extremamente agressivo, aguçado e abrasivo, por outro era estratificadamente melódico. Misturaram uma sonoridade reminiscente do movimento “no-wave” nova-iorquino, com outra mais próxima do movimento shoegazing que provinha de Inglaterra.
Resultaram texturas e tonalidades sónicas, executadas através de simples e repetitivos acordes e matrizes de baixo em constante movimento, recheados com enormes camadas de guitarras “noise” para produzir uma vivificante e visceral corrente de magma melodioso, entregues ou pelo ruidoso “falsetto” de Poss ou pelo gentil gutural de Stenger. O facto de coabitarem na banda três guitarristas, deu à música uma qualidade compacta, onde um revestimento tectónico de feedback, distorção e acordes desfocados e disfuncionais, escondia nas dissonantes e inconstantes “walls of noise”, as estruturas e as melodias mais convencionais.
O seu disco de estreia, o corrosivo “Hope Against Hope”, foi considerado por muitos como uma versão americana de “Psychocandy” dos The Jesus And The Mary Chain, e daí destacam-se, para além do propulsivo tema-título, a fulminante “Not Even Close”, a estridente “Throne Of Blood”, a devaneadora “All The Wrong Reasons” ou a densa “You Were An Optimist”.
O disco seguinte “Love Agenda” (1989) é outra excelente colecção de canções embriagadas e consumptivas, que contou com a participação de Page Hamilton, futuro fundador dos Helmet.
Discos fascinantes e que ainda hoje soam actuais.
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03 fevereiro 2009

Editoras # 3 - Postcard - The Sound Of Young Scotland

Ao contrário de Londres e Liverpool, nos anos 60 e 70, a Escócia não tinha tradição musical.
Isso mudou com a criação em 1979 da Postcard Records por Alan Horne. Situada em Glasgow, a partir de um pequeno andar arrendado, esta memorável editora foi a responsável por apresentar ao mundo bandas talentosas e visionárias como os Orange Juice, Aztec Camera e Josef K, e pelo celebrado slogan “The Sound Of Young Scotland”. Mas também foram responsáveis por descobrirem e terem editado o primeiro registo dos australianos The Go-Betweens.
Apesar de todos estes grupos terem assinado por outras editoras, muitos argumentam e debatem que nunca editaram nada tão bom com aquando da sua estadia na Postcard. Podemos não concordar com isso, mas o que é inequívoco é que cada “single” editado pelo Postcard é um absoluto clássico. E o seu impacto na música “pop” escocesa foi fundamental, inspirando bandas que durante os anos se foram confessando fãs como The Wedding Present, Teenage Fanclub, Belle & Sebastian, Franz Ferdinand e até mesmo os Travis.
A Postcard obrigou a industria musical fortemente centrada em Londres a olhar para norte, mais precisamente para Glasgow (da mesma forma como a Factory iria fazer para Manchester), de onde também surgiram outros grupos visionários como Associates, Altered Images ou The Fire Engines.
As grandes editoras estiveram atentas e de repente surgiram numerosamente em Glasgow para a caça ao ouro. E o rápido sucesso da Postcard acabou por ser também a sua desgraça e ruína, pois os grupos da editora acabaram por a abandonar para assinarem pelas multinacionais. Também a partir da segunda metade dos anos 80, os principais músicos escoceses abandonaram a ética DIY do Postcard e ao assinarem pelas grandes editoras, abraçaram o seu lado comercial. E se por um podemos incluir os magníficos The Jesus and Mary Chain nos grupos que assinaram por multinacionais, por outro temos que os excluir pois numa primeira fase nunca se desviaram da sua muita peculiar sonoridade, numa época onde surgiram os manhosos e ornamentados Hue & Cry e Deacon Blue. Mas as pessoas depressa se cansaram desse som açucarado, e uma nova geração de músicos escoceses iria novamente redescobrir e reinventar o som da Postcard. E a partir do final dos anos 80, a Escócia produziu muita da música mais original e criativa através dos já referidos The Wedding Present ou Teenage Fanclub, mas também dos The Pastels, The Vaselines ou Mogwai.
Hoje esse espírito pioneiro ainda poderá ser encontrado em pequenas editoras escocesas como a Chemikal Underground ou a Geographic.
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18 janeiro 2008

Novidades - The Jesus and Mary Chain

Na sua página no MySpace, os The Jesus and Mary Chain colocaram versões demo de três músicas novas. "War On Peace", "Cookies" e "Boiling Over" são o primeiro material apresentado pela banda desde o lançamento de "Munki".

Está ainda previsto para o mês de Março, um regresso aos palcos, com 2 datas previstas para o Roundhouse, em Londres.

10 janeiro 2008

Inovadores # 5 - A.R.Kane - “69” (1988 Rough Trade)

Quando os A.R.Kane participaram em “Pump Up the Volume”, a sua contribuição foi mínima, no entanto, no lado B do referido tema, criaram “Anitina”, onde já demostravam o rumo que pretendiam seguir.
Só a forma como o disco começa, com o estranhamente cativante “Crazy Blue”, é um pronuncio do que se segue. Pois estamos perante um exercício ecléctico, alucinogénico e experimental, cujo resultado são canções extraordinárias, com letras alucinantes, do calibre da refrescante “Baby Milk Snatcher” com as suas referências ao sexo oral, ou da cristalina fantasia que é “Spermwhale Trip Over” e os seus delírios obtidos através dos efeitos do LSD. Na balbuciante agregação de sons de “Sulliday” atingem o limite máximo da incompreensível experimentação.
Da combinação da voz única de Rudi Tambala, com os instrumentos de Alex Ayuli, através da utilização de som e texturas que relembram os experimentalismos dos pioneiros do rock psicadélico dos anos 60/70, com elementos adicionais do indie-pop dos anos 80, resulta uma sensual atmosfera imersa em reverberatório feedback, onde muitos temas podem não ser considerados canções, mas “sarrabiscos” sonoros.
Foram comparados com os The Jesus and the Mary Chain, Cocteau Twins (Robin Guthrie co-produziu alguns temas anteriores) ou até com os Pink Floyd (fase Syd Barrett). E posteriormente, também seriam considerados como percursores do “shoegazer”.
Os registos seguintes (“i” e “New Clear Child”), são satisfatórios, mas falta-lhes a profundidade deste disco.
Aqui criaram um disco inventivo e verdadeiramente elíptico.