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01 abril 2010

Electronic # 15 - Kraftwerk - “Trans-Europe Express” (1977 Kling Klang/Capitol)

Os mecanizados Kraftwerk atingiram um pico criativo em 1977 aquando da edição deste disco. Depois do tecnologicamente pioneiro “Autobahn” e antes do sucesso comercial de “The Man Machine”, “Trans-Europe Express” será provavelmente o disco mais essencial e mais influente da sua carreira, e que ainda hoje impressiona pela inestimável inovação tecnológica proposta por Ralph Hutter e Florian Schneider.
Na edição original em vinil existia uma clara divisão entre os lados. No primeiro tínhamos uma reflexão sobre as disparidades entre a realidade e a imagística. Aqui estavam contidas as excêntricas melodias e os hipnóticos “beats” que estão presentes na brilhante beleza da ondulante “Europe Endless”, nas misteriosas e deslocadas vocalizações da glacial “The Hall Of Mirrors” e na sombriamente cómica “Showroom Dummies”.
O segundo lado era dedicado a uma possível recreação auricular duma viagem intercontinental de comboio através da Europa – começa com “Trans Europe Express”, que se desenvolve em direcção às colagens sonoras de “Metal On Metal” e na magnificente melodia de “Franz Schubert”, a mesma melodia de “Europe Endless”, mas transformada lentamente como uma pintura sonora em evolução.
A ausência de qualquer particularmente sólido conteúdo lírico, efectivamente serve para tornar a consistentemente memorável música mais aprazível e permite-a dominar todo o disco.
A sua combinação de ritmos mecanizados e minimalistas com melodias contagiantes, seria uma influência enorme e um estímulo para inúmeras bandas britânicas, como os The Human League ou os Cabaret Voltaire, entre outras, utilizarem mais os sintetizadores (convém relembrar que o disco saiu no mesmo verão de “Never Mind The Bollocks” dos Sex Pistols), e iriam ser um dos maiores fornecedores de “samples” para a comunidade afro-americana dos grandes centros urbanos dos Estados Unidos (não esquecer que Afrika Bambaataa “samplou” “Trans-Europe Express” para o seu seminal “Planet Rock”). E se poderíamos pensar que o disco soa datado presentemente, a música resiste ao passar dos tempos, e ainda permanece verdadeiramente atmosférica hoje.
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19 março 2010

Electronic # 14 - Fad Gadget

“Fireside Favourites” (1980 Mute)
“Incontinent” (1981 Mute)
“Under The Flag” (1982 Mute)
“Gag” (1984 Mute)


Fad Gadget era um heterónimo utilizado por Frank Tovey, artista que gozou de um pequeno culto após uma sucessão de discos bizarros editados na Mute no início dos anos 80. Estudante de “performance art”, transferiu este interesse para um imprevisível espectáculo ao vivo. E ao contrário da pose afectada e do “make-up” presente em contemporâneos como Visage ou Classix Nouveau, Tovey assumiu-se como uma espécie de Iggy Pop da electrónica, assinando concertos onde o niilismo, a maquinaria e a auto-flagelação faziam parte da mesma estratégia de provocação.
Foi o primeiro artista a assinar com a editora de Daniel Miller, e o sinistro “single” “Back To Nature” foi editado em1979. Seguiu-se o fabuloso “Ricky’s Hand” que promoveu a combinação das competências líricas de Tovey (observações sobre os mais sombrios aspectos da vida) com uma utilização inovadora da electrónica. Ambas essas características continuaram evidentes em “Fireside Favourites” (1980), o primeiro álbum, que não esconde as influências dos Cabaret Voltaire. Em 1981, chega “Incontinent”, ainda mais violento, desalentado e perturbador do que anteriormente.
O ano de 1982 vê chegar o melancólico “Under The Flag”, por muito considerado o seu melhor álbum. Reparte-se entre as abordagens ao conflito nas Ilhas Falklands e ao nascimento do seu filho.
Os anos seguintes viram novos extremos, como quando Tovey regressou de uma tournée europeia com as suas pernas engessadas, tendo-as partido num espectáculo.
“Collapsing New People” (uma homenagem aos Einsturzende Neubauten) continuava a impressionante série de “singles”, e é seguido por ”Gag”, um disco mais “rock” e que seria o último sob o nome Fad Gadget.
Continuaria a gravar em nome próprio, mas cada registo seria altamente distinto e intransigente do material gravado como Fad Gadget. E apesar da sua inactividade durante as décadas seguintes a sua reputação como pioneiro “electro-pop” continuou a crescer e ecos da sua esparsa, excêntrica electrónica poderia ser encontrada em discos de artistas tão diversos como Depeche Mode, New Order ou Nitzer Ebb.
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25 maio 2009

Editoras # 5 - Factory

A Factory desempenhou um papel incrivelmente activo dentro da sua comunidade natal. Pode ser citada como uma influência cultural catalisadora do noroeste britânico na decada de 80.

A editora “Factory” foi precedida pelo clube “Factory” domiciliada no Russell Club em Manchester durante o ano de 1978. O seu nome foi escolhido por Alan Erasmus (um actor que foi sócio de Tony Wilson em vários aventuras), não, como normalmente é associado, ao estúdio de arte de Andy Warhol nos anos 60 em Nova Iorque, mas pela simples razão de que um enorme placar com a designação “Factory for Sale” chamou a sua atenção. Poucos meses depois, em resposta à florescente actividade musical de Manchester e da vizinha Liverpool, e pelo sucesso do clube, acharam que podiam capitalizar ainda mais com a edição de 12”.
Wilson e Erasmus aceitaram o desafio e recrutaram o produtor local Martin Hannett e o designer Peter Saville. Em Janeiro de 1979, saiu o duplo 7” “A Factory Sampler” com a contribuição dos Joy Division, The Durutti Column, John Dowie e Cabaret Voltaire. Baseados no modesto apartamento de Erasmus, a editora destacou-se pela excêntrica união de música alternativa com uma perversa destreza por discografias estranhas.
No verão de 79, os A Certain Ratio , heróis não celebrados até ao dia de hoje, editaram “All Night Party” e os Orchestral Manoeuvres In The Dark, “Electricity”. Mas o passo mais arrojado foi quando Rob Gretton, manager dos Joy Division, decidiu editar o enorme álbum de estreia, “Unknown Pleasures”, pela Factory em vez do gigante WEA. Apesar do disco ter recebido criticas mistas na imprensa especializada, a sua edição conjuntamente com o subsequente single, “Transmission”, definiu o futuro durante anos.E se nos primeiros meses demonstraram uma capacidade de aproveitar as oportunidades que surgiram à sua volta, os anos seguintes provaram o quanto difícil seria sobreviver. Os Joy Division atingiram grande sucesso com o enorme “Love Will Tear Us Apart”, mas o suicídio de Ian Curtis obrigou-os a repensar no futuro. Assim surgiram os New Order, que iriam com “Ceremony” e “Movement” editar discos de grande sucesso em 1981, em contraste com as menos distintas edições dos Minny Pops e Stockholm Monsters.
Nessa altura as ambições aumentaram e a Factory Records tornou-se na Factory Communications Ltd., e surgiu um clube associado ao império Factory, o Hacienda. Os primeiros rumores de falência surgiram logo no ano seguinte, mas em 1983, com a edição do single recordista de vendas "Blue Monday” dos New Order, a situação acalmou. Só assim se justifica a edição de registos de bandas como Abercederians ou The Wake. A partir de 1985, começou a surgir no Hacienda, um movimento inspirado pela música de dança originária dos Estados Unidos que anos mais tarde viria a designar-se por “Madchester”, e que iria culminar com o sucesso em 1987 de “True Faith” dos New Order, e de “Squirrel And G-Man, 24 Hour Party People…” o primeiro álbum dos Happy Mondays.
Com o surgimento de novas dificuldades financeiras, a companhia tornou-se menos errante, começou a utilizar melhores técnicas de marketing, muito mais de acordo com o resto da indústria musical, e realizaram os primeiros contratos escritos da sua história.
Com o advento da “acid-house”, com a Hacienda como expoente do movimento, com o sucesso de “Bummed” dos Happy Mondays, com “Technique” dos New Order, a atingir o lugar cimeiro dos tops, o despontar de uma nova era adivinhava-se. A “dance remix” de “Wrote For Luck” dos Happy Mondays, não foi a primeira, mas foi certamente a mais efectiva nesta ocasião, tornando Shaun Ryder e companhia, nuns improváveis heróis adoptados pela nova geração “pop-dance”.
Projectos como os Northside e os Revenge de Peter Hook ofereciam pouco em termos de inspiração musical. E só os Happy Mondays dominavam com sólidos sucessos como os singles “Hallelujah” e “Step On” ou o álbum “Pills ‘N’ Thrills And Bellyaches”, mas mesmo eles não estavam a gerar as receitas necessárias para suportar a organização.
Mas a Factory sofreu outro imprevisto quando as autoridades encerraram o Hacienda. A contratação dos The Wendys e dos The Adventures Babies também não iria convencer ninguém. E para culminar tudo os dispendiosos débitos na gravação de “Yes Please!” dos Happy Mondays nos Barbados e de “Republic” dos New Order em Ibiza, curiosamente as suas bandas mais rentáveis, fizeram com que em Novembro de 1992, a Factory Communications Ltd, declarasse falência.

11 fevereiro 2009

Electronic # 7 - The Human League – “Reproduction” (1979 Virgin) / “Travelogue” (1980 Virgin)

A formação inicial dos Human League - Phil Oakey, Martyn Ware, Ian Craig Marsh – foi responsável pela criação de dois excelentes discos que ajudaram a definir o futuro da música electrónica, antes da acrimoniosa separação e Oakey ter remarcado a sonoridade “pop” e Ware/Marsh fazerem razia nos BEF e Heaven 17.
Com uma sonoridade experimental, a sua música era minimal, gelada e organicamente desordenada muito mais próxima de uns Cabaret Voltaire, Suicide ou Throbbing Gristle (e não polida como viria a tornar-se em meados dos 80’s) e as letras tinham um carácter que os colocavam num território similar a uns Joy Division. E notavelmente conseguiram conciliar as pretensões artísticas, com a postura assumidamente “pop” - influências obvias de Kraftwerk, Tangerine Dream e David Bowie - essencialmente queriam fazer as coisas de uma forma diferente.
“Reproduction” remete-nos para um ambiente sinistro, com um sonoridade puramente electrónica (convém relembrar que nesta altura ainda não havia “pro-tools”) que ainda hoje parece vir do futuro e que em nada se relaciona com a ociosamente estabelecida nostalgia habitualmente associada aos anos 80 – de um lado estão as jóias “pop” como o resoluto single “Empire State Human”, o eufórico “Blind Youth” (uma resposta ao etos “no future” do movimento “punk”) e a brilhante versão (ou deconstrução) do clássico “You’ve Lost That Lovin’ Felling”, do outro estão, em contraste, os temas secos e mirrados como “Almost Medieval” e o single “Circus of Death”.
“Travelogue” possui uma sonoridade mais limpa e mais épica do que “Reproduction”, e inclui o ritmado “noise” de “The Black Hit Of Space”, a excelente versão de “Only After Dark” (original de Mick Ronson), o provocadoramente triste relato da escravidão do trabalho de “Life Kills”, a desesperação resultante da fuga da opressão de “Dreams Of Leaving”, o poderio enérgico da sobrecarregada reconstrução do single “Being Boiled” e as suas viciosas palmas electrónicas.
O disco termina (na versão original /vinil) com “WXJL Tonight”, onde Oakey é o ultimo DJ humano numa sociedade futura onde as rádios são totalmente automáticas e no final começa a gritar implorando aos ouvintes para não o abandonar. Arrepiante.
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03 novembro 2008

Tributo # 8 - Cabaret Voltaire – 1983-1987


“The Crackdown” (1983 Virgin)
“Micro-Phonies” (1984 Virgin)
“Code” (1987 Virgin)

Numa altura em que o “punk” dominava, existiram alguns movimentos que fugiam aos padrões sonoros do género. Muitos deles trabalhavam com instrumentos electrónicos e pré-gravações, e numa primeira, e mais primária fase, ficaram rotulados como electro-industrial.
Em Sheffield, uma cidade industrial, na verdadeira acessão da palavra, iriam aparecer grupos como os The Human League, os Clock DVA, e os Cabaret Voltaire. Estes últimos seriam um dos mais importantes ao combinarem música electrónica experimental com o “pop”“dub”, “tecno”.
Formados por Stephen Mallinder, Richard H. Kirk e Chris Watson, a sua evolução sonora esteve interligada com a evolução da própria tecnologia, evoluindo das primitivas colagens sonoras para os sintetizadores e samplers.
Uma forte componente visual sempre os acompanhou, desde as imagens que eram projectas nos espectáculos ao vivo, passando pelo grafismo dos discos, e os vídeos – neste último tendo criado a sua própria produtora de vídeo, a Doublevision.
Numa primeira fase dominava a agressividade politica e o terrorismo sonoro, dissonante e vibrante muita na veia dos Throbbing Gristle. Era um som experimental, livre electrónica industrial, e assim temas como “Silent Command”, “Eddie’s Out” ou “Control Addict” mais se parecem com colagens sonoras do que verdadeiras canções. Nesse período gravaram dois álbuns fundamentais, “Red Mecca” (1980) e “The Voice of America”(1981).
Já reduzidos a um duo com a saída de Watson, que iria formar os Hafler Trio, assinam pela Virgin, e a partir daqui a sua sonoridade ficou mais elaborada e passou a focar-se em ritmos mais dançáveis, mais “pop” orientados, e com a incorporação de estruturas do “funk”. Isto em 1983, quando a música industrial ainda se estava a desviar das guitarras e a norma era emergir nas electrónicas (Test Department) ou na experimentação (Einstürzende Neubauten).
Desta segunda fase resultaram discos como “The Crackdown” (1983), “Micro-Phonies” (1984) ou “Code” (1987), onde estavam incluídos alguns dos seus melhores temas, mas também os mais acessíveis como “Sensoria” ou “Here To Go”, que rapidamente se tornaram favoritos das pistas de dança.
Era um som sombrio, os ritmos frios e as vozes hesitantes com mensagens e advertências. E apesar do som mais “limpo” a imagem dos CV continuava algo sinistra, mas talvez mais distinta, e gradualmente foram desenvolvendo a variação “dançante” da música industrial que eventualmente definiu o género a partir de meados dos anos 80. A mudança começou com “The Crackdown” onde a música é mais complexa e estratificada, destacam-se “Talking Time”, “Crackdown”, a maravilhosamente complexa e altamente introspectiva “Just Fascination”, e as excursões ambientais de “DoubleVision” e “Badge of Evil”. Seguiu-se “Micro-Phonies”, provavelmente o melhor disco do CV, é mais disciplinado e resoluto, mas um dos mais intransigentes do seu tempo. Uma verdadeira banda-sonora da idade moderna, está cheio de humor negro e comentários sociais, visíveis nesse exercício de “samples” que é “Do Right”, na ciber-paranóia de “Spies In The Wires”, ou em “Blue Heat”. “Code” é o mais acessível, mas completamente contagiante, produzido por Adrian Sherwood, é mais “funky”, mas musicalmente inteligente e cínico. Destacam-se “Don’t Argue”, “Thank You America” e “No One Here”.
Seguiram-se colaborações com produtores como François Kevorkian, que realizaram remisturas com o intuito de tomar de assalto as pistas de dança, que iria culminar em 1990 com a edição de “Groovy, Laidback & Nasty”, já bastante influenciado pela sonoridade “house”.
Desde 1994 que estão semi-retirados (Richard H Kirk continua muito activo com vários projectos – Sandoz, Dark Magus, Sweet Exorcist), mas esta variação de música electrónica industrial iria influenciar directamente grupos como os Front 242, Nitzer Ebb, Skinny Puppy e Nine Inch Nails, o lado negro do “tecno pop”._

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24 abril 2008

Editoras # 1 – Warp Records

Na ressaca da explosão da música electrónica, nos fins dos anos 80, proliferavam pequenas editoras, que proporcionavam a divulgação de inúmeros tecnocratas “caseiros”.
As tabelas de vendas “indie”, no final dos anos 80/ princípios dos anos 90, eram regularmente animadas por discos de música electrónica, editados em obscuras editoras, que muitas vezes nem se aguentavam o suficiente para editar os seguintes.
Em Londres muitas pequenas editoras sobreviveram como servientes dos DJ’s da moda. Mas seria em Sheffield que iria acontecer uma verdadeira lição de sucesso na história das editoras britânicas independentes.
Steve Beckett e Rob Mitchell, já se conheciam e quando a loja de discos onde Beckett trabalhava fechou, decidiram abrir no mesmo espaço, uma distribuidora de música electrónica e música “indie” baptizada Warp Records.
Ao serem inundados com inúmeras cassetes e “white labels” de músicos locais, decidiram juntar algum dinheiro e criar uma editora com o mesmo nome.
A estreia aconteceu com “Track With No Name” dos The Forgemasters, numa edição de 500 exemplares. Esse disco, uma aventura do produtor Rob Gordon, e a segunda edição da Warp, Nightmares on Wax – “Dextrous”, tiveram algum sucesso. Como iriam ter LFO – “LFO”, Tricky Disco – “Tricky Disco” e Nightmares on Wax – “Aftermath”, que entraram no Top 20.
Nessa altura, a música da Warp diferenciava-se de tendências da altura como o “Balearic” ou a “Italian House”, e excepto caso se tivessem acesso aos intrujantes trabalhos do mestre Derrick May, os primeiros discos da Warp soavam como se estivéssemos a digitar um telefone por cima de um disco “dub”. No entanto esses sons puros e o aterrorizador baixo acabaram por ser um grande sucesso.
O facto de terem aparecido tantos músicos influenciados pela música electrónica em Sheffield, não foi nenhuma feliz coincidência. Pois precursores como os Cabaret Voltaire (cujo membro Richard H. Kirk era metade dos Sweet Exorcist) e os The Human League, eram ambos originários de Sheffield.
Provavelmente o fracasso do primeiro álbum, o conceptual “Clonk’s Coming” dos Sweet Exorcist, fez com que se afastassem dos caprichos da pista de dança, para abordarem projectos mais propícios aos discos de longa-duração.
Assim surgiram o magnífico e assustador “Frequencies” dos LFO vendeu muito bem quer em Inglaterra quer nos Estados Unidos. Os Nightmares on Wax editaram o alucinatório e futurista som “funk-rap” no disco de estreia “A Word Of Science”. E ainda editaram compilações de qualidade como “Pioneers Of The Hypnotic Groove” e “Artificial Intelligence”, esta última tornando-se num disco importantíssimo. Porque aparte o seu valor como um conjunto de delicadíssimas e relaxantes paisagens sonoras, “AI” foi um daqueles discos que sinalizou para onde penderia o futuro da musica electrónica.
O caminho seguiu com o que se designou de IDM – Intelligent Dance Music, ou “electronic listening music”, como prefiro, com os trabalhos de Polygon Window (ou Richard James/Aphex Twin), Black Dog, B12, FUSE (de Richie Hawtin), Wild Planet entre outros.
Como forma de evitar problemas com a indolente imprensa musical, decidiram fundar uma editora “indie guitar” ao criar a Gift, cujos primeiros artistas seriam os Newspeak, Various Vegetables, e como porta-estandartes, os gloriosos Pulp.
Passadas quase duas décadas, conseguiram provar, como a 4AD ou a Creation nos seus respectivos campos de acção, que ganharam a luta pela busca de música inventiva e de qualidade.
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Nightmares on Wax - Aftermath

22 novembro 2007

Singles # 10 - The Normal - “Warm Leatherette/T.V.O.D.” (1978 Mute)

Não se deixem enganar pelo nome, isto é tudo menos música “normal”.
Reza a história que Daniel Miller, um ex-punk, fã de “krautrock”, adquiriu, em segunda mão, um sintetizador Korg e um gravador de 4 faixas, e começou a experimentar com os sons criados. Compôs e gravou dois temas no seu quarto, que resolveu editar em single, por conta própria ao criar a etiqueta Mute Records, tendo recorredo à distribuição da Rough Trade.
O suposto lado A, “Warm Leatherette” é inspirado na novela de JG Ballard, “Crash” (a mesma que foi posteriormente adaptada ao cinema por David Cronenberg), e aborda os fetiches sexuais relacionados com acidentes de viação. A rígida caixa de ritmos e o som sibilante dos sintetizadores, ajudam ao conteúdo. (Grace Jones iria realizar uma excelente versão).
Mas seria o lado B, que iria ser mais apreciado, “T.V.O.D.” que observa a dependência e saturação dos “media”, e em particular da televisão. Um extraordinário “cocktail” sonoro, que inclui “samples” de excertos de programas de TV, sons electrónicos adulantes e “noise”, reminiscente do que os Cabaret Voltaire faziam na mesma altura.
“I don’t need a TV screen”, diz.
É hoje referenciada como um marco no desenvolvimento do “post-punk” e da “new-wave”.
Miller apenas editou este disco e dedicou-se a promover a Mute, e os seus primeiros artistas, como Fad Gadget ou D.A.F.