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30 novembro 2010

Do fundo da prateleira # 25 - Papa M – “Whatever, Mortal” (2001Drag City)

Apesar da sua longa e diversa lista de colaborações em múltiplos projectos, no que toca às suas próprias sonoridades, David Pajo simplifica bastante as coisas e faz música sem preconceitos e sem artifícios
Desprovido de “acordes pop” ou drama narrativo, a atenção dos temas desloca-se para a materialidade do som: a velocidade de um “vibrato” de guitarra, o do deslizar dos dedos nas cordas de metal ou a distância entre as notas de um intervalo. Frases despidas são repetidas lentamente e sombreadas ou alteradas por outros instrumentos, criando teias sonoras, que se entrelaçam entre si.
Música que pode ter uma base “country” e “folk” e um espírito sempre muito americano – a que não são alheias as presenças de Will Oldham, Tara Jane O’Neil e Britt Walford e a omnipresença do banjo – mas que ai muito além, numa fusão das vertentes aérea e terrena que Pajo tem vindo a explorar nos últimos anos. E se “Whatever, Mortal” pode parecer à primeira um disco fechado e obscuro, quando os nossos ouvidos passam por temas como “The Lass of Roch Royal”, “Purple Eyelid”, “Krusty”, “Many Splendorer Thing” ou “Northwest Passage”, para apenas destacar algumas canções, rapidamente nos apercebemos que estamos perante uma obra de arte à leveza e à simplicidade.
Resumindo, música que qualquer mortal irá gostar.
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17 setembro 2010

In The Beggining # 6 - Palace Music – “Viva Last Blues” (1995 Drag City)

Na década de 90, e embora muitos caminhos tenham sido perseguidos e posteriormente abandonados por músicos em busca de estilos ainda não saqueados, a trilha dos “Appalachian” foi uma das menos prováveis.
Mas no inicio dessa década, Will Oldham involuntariamente contribuiu para um outro renascimento das raízes americanas quando o nativo de Louisville no Kentucky, olhou para o seu próprio quintal em busca de inspiração.
Inicialmente editou a sua bem estudada versão de baladas “country” da era da Depressão no registo de 1992, “There Is No-One What Will Take Care Of You”, mas rapidamente ele abandonou o pastiche do “field-recording” e estabeleceu a sua própria voz em “Viva Last Blues”. Resolveu juntar uma banda com elementos que nunca tinham tocado juntos e libertou-os no estúdio, criando uma intrigante mistura de “folk-country-rock” que desafia classificação (ocasionalmente cobre o mesmo terreno do que os American Music Club). A produção desnudada de Steve Albini é bem visível na forma como a bateria é alisada sobre as guitarras com toda a delicadeza de uma forma a que o registo relembre uma autêntica “basement tape”.
Apesar de estar mais perto do convencional, a sua voz ainda surge rachada nos momentos certos, com Oldham acrescentando sentimento e idiotice” a versos como “If I could fuck a mountain, Lord, I would fuck a mountain” enquanto a sua banda toca como uns desarticulados músicos de Nashville.
Pode deixar-nos com um sentimento triste e claustrofóbico, mas este disco é extremamente belo na sua morbilidade.
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22 junho 2010

Extremos # 8 - Gastr Del Sol – “Upgrade & Afterlife” (1996 Drag City)

Os Gastr Del Sol começaram como um projecto paralelo do vocalista/guitarrista dos Bastro, David Grubbs, e ao longo dos seis anos em que existiram como banda, sempre desenvolveram inúmero conteúdos musicais, sem nunca se tornarem previsíveis.
No elegante “Upgrade & Afterlife”, o segundo disco onde predominou a parceria entre Grubbs e Jim O’Rourke, o talentoso duo trabalhou com o percussionista dos Tortoise, John McEntire e o violinista Tony Conrad, entre outros convidados para compor “rock”, música electro-acústica, poesia, dedilhações de guitarra acústica (incluindo uma versão de “Dry Bones In The Valley”, original de John Fahey) e composições minimalistas em algo espaço e hipnótico, que, de acordo com o que Grubbs na altura disse de forma sarcástica, serviu como uma “janela” para os interesses colectivos que tinham no momento. Superficial, talvez, mas certamente que muito mais se estava a passar, e assim tornou as possíveis interpretações infinitas.
O posterior “Camofleur” é amplamente considerado, pela comunidade “indie”, como sendo o melhor disco deles, essencialmente pelo facto de possuir composições mais estruturadas e ter menos experimentação, mas pessoalmente considero o absolutamente formoso e extremamente comovente “Upgrade & Afterlife” como um notável e evocativo trabalho de génio e que mostra realmente Grubbs e O’Rourke no seu auge.
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08 maio 2009

Bill Callahan – “Sometimes I Wish We Were An Eagle” (2009 Drag City)

O seu segundo registo sobre nome próprio depois do estilisticamente disperso e liricamente relaxado, “Woke On A Whaleheart”, é um regresso ao temas parcialmente sombrios e à suave monotonia da sua prestação como Smog, após uma breve experiência com a felicidade, conforme ele próprio afirma no dolorosamente belo semi-autobiográfico “Jim Cain”: “I used to be darker, then i got lighter, then i got dark again”.
Aqui descobrimos o seu autor muito concentrado em torno de um despojado “alt-country pop” carregado de luxuriantes e concisos instrumentos de corda. Tal como na incarnação Smog, usa narrações na primeira pessoa, mas agora vivifica as atribuladas histórias com sentimentos admiravelmente fortes. Parece que ele está a falar directamente connosco, recontando sórdidas histórias de dor e conhecimento. A sua famosamente seca voz soa amplamente desenvolvida e demonstra muito mais desprendimento e maturidade como músico/compositor – a refinada palete musical é tornada muito mais transparente pela cristalina produção, muito distante do rude lo-fi, de discos como “Julius Caeser” ou “Wild Love”.
O ouvinte é convidado para inúmeros momentos transcendentes como na profundamente sincera, docilmente galopante “Eid Ma Clack Shaw”, na agridoce “The Wind And The Dove”, na dramática “Too Many Birds”, na sinistra indolência de “My Friend”, na intimidadora “All Thoughts Are Prey To Some Beast”, no desorientado instrumental “Invocation Of Ratiocination”, até fechar ao delicado fecho com o arrebatador anti-épico “Faith/Void”. Fazendo com que este disco seja o culminar da sua singular e astuta narrativa e encantadora entrega.
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27 junho 2008

Bonnie “Prince” Billy - “Lie Down in The Light” (2008 Drag City/Domino)

Este senhor anda a estragar-me o orçamento. Will Oldham sempre foi muito prolífero, mas ultimamente tem sido demais. Depois das colaborações (menos conseguidas) com Tortoise ou Matt Sweeney, este ano já tivemos o disco de versões e a colaboração com Dawn McCarthy dos Faun Fables. E se pensássemos que toda esta actividade o fizesse distrair, enganamo-nos, pois aqui temos mais um disco magnificente, o melhor desde “I See A Darkness”.
Existe um regresso ao som mais tradicional de “Master & Everyone” (não será estranho a presença em ambos do produtor Mark Nevers dos Lambchop), e um afastamento do som mais polido de “The Letting Go”. Mas Oldham introduziu algumas peculiaridades, como a sonoridade “jazzy” presente em “For Every Field There’s a Mole”. Os temas são os habituais: a futilidade humana, amores perdidos e hinos a Deus, as canções, simples na estrutura, mas nunca monótonas, são luxuriantes, vigorosas, e os meticulosos arranjos são do melhor que já produziu na sua carreira. Ouçam a forma como se diverte ruidosamente no comicamente sério “Easy Does It”, ou a simpática e sensível melodia acústica de “(Keep An Eye On) Other’s Gain”.
Mas a maior transformação é a voz de Oldham, mais potente na forma emocionada de articular tão alegremente as superiormente esculpidas melodias. E que é reforçada nas canções que contam com a presença de Ashley Webber dos Black Mountain, com a sua voz enrouquecida, mas muito feminina. Oiçam o contraste no originalmente seco, mas romântico “So Everyone”.
Neste conjunto de canções, Oldham demonstra confiança, ousadia e franqueza, e não uma exagerada inflexibilidade, ao mostrar-se muito menos introspectivo (excepções são a notável “Missing One”e “Lie Down in The Light”), neste disco afectuosamente concebido e maravilhosamente recompensador.

Bonnie "Prince Billy - Easy Does It