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08 março 2010

Covers # 12

Mais uma fim-de-semana de chuva, mais uma oportunidade de procurar umas versões pela prateleira (algo que já tardava). A letra L surge aqui privilegiada, mas apenas porque os discos estavam guardados juntos, e porque já não os ouvia hà muito tempo.


Um edição especial de "Is A Woman" tem como bónus este curiosidade:

Já as Le Tigre optaram por este velho clássico "disco-pop":


Evan Dando pegou neste surpreendente "hit":


Para acabar e na sequência do último post, podemos continuar a exploração das influências musicais dos R.E.M.. Eles esconderam este tema de Alan Vega e Martin Rev no labo B de "Orange Crush":
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07 janeiro 2010

Classic # 23 - The Velvet Underground And Nico- “The Velvet Underground & Nico” (1967 Verve)

Por muitos considerado como o ponto de partida para a música alternativa, este disco realmente alterou a face do “rock”, mas também do “glam”, do “punk”, do “goth” ou do “indie”. Mas 43 anos depois, o que ainda mais surpreende é a sua audácia, a sua diversidade, a sua capacidade de experimentação sonora e a sua originalidade.
Sombrio e introspectivo, é a absoluta antítese, do movimento “hippie” que o resto da América andava a jubilar, e áspero como a cidade onde nasceu.
A música não é complexa, surge dispersa e escorregadia, mas é estranhamente compelível. E a estranha aliança entre Lou Reed e John Cale , fazia com eles experimentassem algo diferente em cada canção, através das hipnóticas espirais de dissonantes guitarras e viola, sempre apoiados pela poderosa bateria de Mo Tucker e com Sterling Morrison a agregar toda a mutilação sonora. Ao juntarem o contraste entre a voz fortemente superficial de Reed e o suave trautear de Nico, e a ilustre escrita de Reed - com referências sinceras e directas ao sexo bizarro e drogas, algo que ninguém tinha coragem para abordar tão abertamente à 40 anos atrás, pois no passado grupos como The Beatles (em “Happiness Is A Warm Gun”) ou The Byrds (em “Eight Miles High”), escreveram sobre os mesmos controversos temas ambiguamente – criaram momentos verdadeiramente únicos.
Começando na volátil, celestial, simultaneamente fascinante e sinistra “Sunday Morning”, passando pelas implacáveis e puramente loucas imagens do completamente soberbo “I'm Waiting For The Man”, pela gentil e sedutora “Femme Fatale”, pelo perturbador e contundente exótico relato sadomasoquista da claustrofóbica “Venus In Furs”, pela a atitude fútil do desbotado “garage” de “Run, Run, Run”, pelo melancólico “avant-garde” de “All Tomorrow’s Parties”, pela assustadora e francamente brilhante confissão no surreal épico “Heroin”, ou pela invulgarmente delicada e encantadora “I’ll Be Your Mirror”, chegamos às duas últimas canções que efectivamente representam a criação do rock alternativo: a convulsiva “The Black Angel’s Death Song” com a feroz e penetrante viola e a poesia absurda de Reed e a abismal batalha instrumental recheada de feedback presente em “European Son”, que absorve por completo o ouvinte.
Certamente Sonic Youth, Suicide, The Jesus and Mary Chain, Pixies, Smashing Pumpkins, My Bloody Valentine, entre outros, não teriam realizado os extraordinários álbuns que fizerem sem a existência deste magnifico monumento ao espírito brutal do “rock’n’roll”.
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23 fevereiro 2009

Inovadores # 12 - Silver Apples – “Silver Apples” (1968 Kapp)/ “Contact” (1968 Kapp)

Alan Vega dos Suicide costumava citar o nome dos Silver Apples como a principal influência para as suas estranhas psicoses sonoras. Nada soava como os Silver Apples quando o duo apareceu em 1968. Era uma rígida, embora pulsante e hipnotizante apropriação do “rock” para além dos seus limites. Se bem que o apetite pela experimentação inevitavelmente conduziu muitos grupos a introduzir instrumentos electrónicos, foram os SA, que desde o princípio, ousaram abandonar todos os outros instrumentos para estender e capturar o som do futuro.
Simeon Coxe deixou Nova Orleans com 21 anos para tentar a sua sorte como pintor em Nova Iorque. Mas um encontro casual com o compositor Hal Rodgers, iria mudar o seu rumo. Este mostrou-lhe o “oscillator” que tinha ligado ao seu equipamento “stereo”. Era a primeira vez que Coxe via de perto um instrumento electrónico, e ficou totalmente fascinado pelos sons alienados que produzia. Posteriormente Coxe adquiriu o instrumento, que iria costumizar e que viria a ser a base do futuro som dos Silver Apples.
Antes ainda teve algumas experiências com outros grupos, que se foram distanciando de Coxe pelo facto de este querer introduzir gradualmente mais electrónica, até que um dia ficou sozinho com o baterista Danny Taylor, que tinha tocado com Jimi Hendrix e por isso não era facilmente perturbado por ruídos antinaturais, e ambos decidiram formar os SA.
O seu primeiro disco foi editado por uma pequena editora chamada Kapp em 1968, suportado pela surpreendente capa prateada com o recorte de duas maças a negro. A música era uma unicamente híbrida mistura de dinâmicas “rock” - cortesia da sintonizada bateria de Taylor - de caprichosa electrónica e de poesia fornecida por vários conhecidos da banda. Para o segundo disco tiveram acesso a um estúdio de 24 pistas, com uma mesa de mistura que se parecia com a consola de um avião. Isso seria espelhado em tom de brincadeira na capa do disco, onde aparecem fotografados dentro do “cockpit” de um avião real da Pan Am.
Mas seria também o inicio do fim, a companhia aérea ameaçou avançar com uma acção judicial, a que se seguiu um conflito com o agente da banda relacionado com dividas contraídas, que iria impedi-los de actuar ou gravar, e que eventualmente acabou com a banda.
No final do século passado surgiu um interesse pelo trabalho do grupo através de tributos prestados por gente como Xian Hawkins, Flying Saucer Attack, Third Eye Foundation e Spacemen 3. E chegaram a gravar um disco mediano com Steve Albini, mas é neste dois discos que está um importante capítulo da evolução musical.

11 fevereiro 2009

Electronic # 7 - The Human League – “Reproduction” (1979 Virgin) / “Travelogue” (1980 Virgin)

A formação inicial dos Human League - Phil Oakey, Martyn Ware, Ian Craig Marsh – foi responsável pela criação de dois excelentes discos que ajudaram a definir o futuro da música electrónica, antes da acrimoniosa separação e Oakey ter remarcado a sonoridade “pop” e Ware/Marsh fazerem razia nos BEF e Heaven 17.
Com uma sonoridade experimental, a sua música era minimal, gelada e organicamente desordenada muito mais próxima de uns Cabaret Voltaire, Suicide ou Throbbing Gristle (e não polida como viria a tornar-se em meados dos 80’s) e as letras tinham um carácter que os colocavam num território similar a uns Joy Division. E notavelmente conseguiram conciliar as pretensões artísticas, com a postura assumidamente “pop” - influências obvias de Kraftwerk, Tangerine Dream e David Bowie - essencialmente queriam fazer as coisas de uma forma diferente.
“Reproduction” remete-nos para um ambiente sinistro, com um sonoridade puramente electrónica (convém relembrar que nesta altura ainda não havia “pro-tools”) que ainda hoje parece vir do futuro e que em nada se relaciona com a ociosamente estabelecida nostalgia habitualmente associada aos anos 80 – de um lado estão as jóias “pop” como o resoluto single “Empire State Human”, o eufórico “Blind Youth” (uma resposta ao etos “no future” do movimento “punk”) e a brilhante versão (ou deconstrução) do clássico “You’ve Lost That Lovin’ Felling”, do outro estão, em contraste, os temas secos e mirrados como “Almost Medieval” e o single “Circus of Death”.
“Travelogue” possui uma sonoridade mais limpa e mais épica do que “Reproduction”, e inclui o ritmado “noise” de “The Black Hit Of Space”, a excelente versão de “Only After Dark” (original de Mick Ronson), o provocadoramente triste relato da escravidão do trabalho de “Life Kills”, a desesperação resultante da fuga da opressão de “Dreams Of Leaving”, o poderio enérgico da sobrecarregada reconstrução do single “Being Boiled” e as suas viciosas palmas electrónicas.
O disco termina (na versão original /vinil) com “WXJL Tonight”, onde Oakey é o ultimo DJ humano numa sociedade futura onde as rádios são totalmente automáticas e no final começa a gritar implorando aos ouvintes para não o abandonar. Arrepiante.
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24 maio 2007

DVD # 1 – “Kill Your Idols” (2004 Palm)

Não estamos perante um documentário típico. “A documentary on thirty years of alternative NYC rock 'n roll” era o objectivo.
Scott Crary compila entrevistas com os pioneiros do movimento no-wave e post-punk, e tenta efectuar a ligação do movimento com bandas contemporâneas. A ponte é efectuada pelo grupo que provavelmente uniu os movimentos – os Sonic Youth.
Gravado nas ruas e em apartamentos de Nova Iorque (para além de incluir filmagens originais de actuações em pequenos clubes), em vez de utilizar os tradicionais estúdios de gravação, leva-nos a meditar/reflectir sobre as noções de nostalgia, tempo, tendências e a história da música.
A primeira parte retrata os fins dos anos 70/ princípios dos 80, com elementos de bandas como Suicide, DNA, Theoretical Girls, Teenage Jesus & The Jerks, Swans, a contarem-nos a forma caótica como levaram o punk até aos extremos, ao contrario de outras bandas nova-iorquinas mais “populares” como os Ramones ou os Dead Boys.
Era “anti-music”, atonal e extrema, mas muito mais de acordo com a ética punk de quebrar a barreira entre o artista e a audiência.
Por várias razões, o post-punk/no-wave está novamente na moda, e na segunda parte, saltamos até ao presente, onde encontramos uma selecção de artistas (Yeah Yeah Yeahs, Liars, Black Dice, Gogol Bordello) que se relacionam com essa estética, mas também com todo o contexto musical e cultural do fim dos anos 70/princípios dos anos 80. Eles falam sobre essas influências e sobre as tendências actuais em Nova Iorque.
Interessantes são os comentários dos veteranos sobre os mais novos. Em particular Lydia Lunch, que afirma que estes últimos nada acrescentam e apenas se aproveitam do “hype” em redor do revivalismo criado. Mas, felizmente, o documentário não incide na perspectiva “nova cena versus velha cena”.
As duas gerações estão em contraste; na primeira, a alienação, os riscos, a originalidade e o zero em reconhecimento. Muito diferente da actual que consegue elevar os Strokes para estatuto de superestrelas mesmo antes de ouvirmos a sua música.
Este documentário não diz o que devemos pensar, mas obriga-nos a pensar.