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14 maio 2009

Do fundo da prateleira # 16 - Moonshake - “Eva Luna” (1992 Too Pure/Matador)

Após repetidas audições, o disco de estreia dos britânicos Moonshake ainda revela surpresas e possibilidades.
Liderados pelos compositores, guitarristas e”samplistas” Dave Callahan e Margaret Fiedler, o quarteto usou a tecnologia do “sampling” para criar novas perspectivas sonoras sobre o altamente rítmico suporte base.
Fugindo dos géneros musicais estabelecidos, ofereciam tumultos e excitação, através de uma furiosa decadência urbana e enaltecimento do ódio. Aparentemente, misturavam pedaços grosseiros de discos “easy-listening” com os sons das suas desconexas implosões orquestrais enquanto as tendências “pós-punk” da banda (notavelmente próximas dos P.I.L. de “Metal Box”) acentuam a tensão e animosidade.
De um lado tínhamos as entusiastas, hipnóticas, sedutoras, murmurantes e incendiárias canções de Fiedler, do outro os desdenhosos, no entanto brilhantes, comentários social, normalmente bombásticos do perpetuamente transtornado Callahan. E se quase soam como bandas diferentes, tudo funciona numa imaculada unicidade.
Mas a pressão e a carga de stress que fizeram “Eva Luna” tão forçado, teve que ceder, e 18 meses depois, Fiedler e o baixista John Frennett terminaram o grupo para formar os Laika com Guy Fixsen (o produtor da banda, deixando Callahan e o baterista Mig, que recrutaram dois novos elementos para o irregular disco seguinte, “The Sound Your Eyes Can Follow”.
Neste “Eva Luna” (cuja edição americana inclui ainda o excelente EP, “Secondhand Clothes”) oferecem quer lições históricas de “pós-punk”, quer reflexões sobre direcções futuras.
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04 dezembro 2008

Compilação # 3 - ESG – “South Bronx Story” (2000 Soul Jazz)

Primeiro de tudo, temos de agradecer à senhora Scroggins, pois esta, para que as suas filhas não ficassem nas ruas e assim pudessem cair nas tentações do South Bronx, comprou-lhes alguns instrumentos musicais. As irmãs alinharam e cedo começaram a criar excertos musicais onde tentavam copiar o som de James Brown. O passo seguinte foi participar em alguns concursos de talentos, e num desses Ed Bahlmann, dono da pequena editora independente 99 Records, vê algo de especial naquelas adolescentes, e sobre a sua alçada coloca-as a partilhar os palcos com os seus futuros companheiros discográficos - Liquid Liquid e Konk. Impressionado também ficou o patrão da Factory, Tony Wilson, quando as viu em Nova Iorque, e que de imediato se ofereceu para editar o seu trabalho. Assim em 1981 gravaram as três canções - “You’re No Good”, “U.F.O.” (uma das canções mais sampladas da história) e “Moody” – que iriam constituir o seu primeiro single, e que seriam produzidas à distância em Manchester por Martin Hannett. Rapidamente se tornaram muito populares no circuito de dança de Nova Iorque, que apadrinhou especialmente “Moody” e iriam partilham o palco com gente como A Certain Ratio, Gang Of Four e P.I.L..
Todo isto porque conseguiram criar um tipo de “funk” minimal, primitivo e repetitivo, muito próprio, com ritmos esqueléticos, baseado essencialmente no baixo e percussão, que agradou a brancos (pelo minimalismo associado ao punk) e a negros (pela insistência rítmica).
Para além dos três temas mais conhecidos, destacam-se o mini-ritmo distinto de “Tiny Sticks” e a fascinante simplicidade de “My Love For You”. Mas até no mais recente e convencional “Erase You” as ESG nunca perdem a sua cândida identidade.
Problemas legais com a 99 Records fizeram com que os registos discográficos fossem poucos (somente dois álbuns de originais, o último de 1991), mas esta compilação, que agrega o essencial, permite regalar-nos com a pura inocência da banda e demonstrar que com ritmos simples se podem criar belos momentos musicais.
A positiva reacção a esta mesma compilação fez com que regressassem ao activo e editassem mais dois álbuns, “Step Off” em 2002 e “Keep On Moving” em 2006. E actualmente ainda são vários os músicos, de géneros como o hip-hop, passando pelas Luscious Jackson ou Le Tigre, que nunca esconderam a sua forte admiração.
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15 junho 2007

Classic # 5 - P.I.L. - “Metal Box” (1979 Virgin)

Com o fenómeno punk em declínio, John Lydon estava desencantado e saturado, pois na senda do sucesso dos Sex Pistols, aparecerem muitas pretensas bandas punk, que pouco tinham em comum com o ideal punk. E claro estava no início a longa batalha legal entre Lydon e Malcolm McLaren.
Lydon decidiu que estava na altura de fazer algo diferente. Os Public Image Ltd eram diferentes, muito diferentes.
Após o relativo sucesso do primeiro disco “First Issue”, Lydon continuou a levar a música para outras direcções, e com “Metal Box”, o segundo disco, conseguiu-o, brilhantemente.
Muitas das canções em “Metal Box” são criticas sociais e políticas, algumas referem os seus dias nos Sex Pistols, e mais especificamente como eram explorados e a forma com era esperado que eles “actuassem” não só no palco, mas também como uma espécie de circo ambulante. Lydon não queria nada disso nos P.I.L. E logo no primeiro tema do disco (“Albatross”) encontramos essas referências.
O que distingue este disco é a sua unicidade, e a combinação de 3 factores: a voz distinta de Lydon, as guitarras metálicas de Keith Levene, e o baixo de Jah Wobble, que é a força dominadora deste álbum.
Essa unicidade é evidente e poderá ser entendida ao escutar-se seguidamente a triologia "Memories”, “Swan Lake” e “Poptones”.
Ao ritmo baixo/bateria de “Careering” existe um acompanhamento de um teclado que parece emitir sons retirado de um filme de ficção científica série b. Essa mesma sensação parece estar evidente na vocalização de Lydon em “No Birds”.
Seguem-se duas canções favoritas: “The Suit” conduzida pelo baixo, e um ritmo de bateria simples, mas é a forma monótona de cantar de Lydon que torna o tema sombrio e ameaçador; e “Bad Baby” , também essencialmente comandado pelo baixo, e o com o regresso das teclas alienistas, é um perfeito exemplo da já referida unicidade, onde tudo está perfeitamente em harmonia e sincronia, até a voz de Lydon.
“Socialist” é um instrumental “up-tempo”, que contrasta com o desarticulado “Chant”, onde Lydon usa as repetitivas palavras: “love, war, kill, hate”. E esta canção efectua outra radical transposição para o ultimo tema “Rádio 4”. E como é difícil descrever “Radio 4”, só mesmo ouvindo este tipo de exercício de musica clássica ao estilo P.I.L.. Uma excelente maneira de acabar o disco.
Classificar a música dos P.I.L. e em particular este disco, é impossível, pois não se encaixa em nenhum género, apesar de já ter sido referenciado como uma mistura de “dub-reggae” e “krautrock”.
E para suportar a minha opinião de que esta música não é classificável, quem me explica como é que no meio dos discos de vinil ou nas caixas de CD (conforme seja o caso da edição original ou da reedição em CD), se consegue guardar uma caixa de metal!?!