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24 setembro 2010

Rock # 16 - The Wedding Present – “Seamonsters” (1991 RCA)

“Seamonsters” marcou um rumo diferente para os The Wedding Present, aqui eles afastaram-se da abordagem “rápido, frenético, furioso” levada ao limite no seu antecessor “Bizarro”. Este disco é muito mais dinâmico, recheado de grandes melodias, enterradas debaixo de uma “wall of noise” de “feedback”, e cheia de dinâmicas “loud/soft” que traduzem um perfeito equilíbrio entre a intensidade e a sensibilidade.
A genial produção de Steve Albini, acondiciona as tensas e atormentadas vocalizações de David Gedge, fazendo rosnar as dolorosamente honestas histórias, e encalhando-as em camadas sonoras que criam uma paisagem “auditiva” que ondula dores.
Mas a abordagem de Albini na gravação da banda também traz à tona os pontos fortes da mesma, não apenas o ofuscante dedilhar de guitarra de Peter Solowka, mas também a intensidade da bateria de Simon Smith.
Gedge surge mais uma vez como um imã para os maus relacionamentos. Liricamente ele continua a falar sobre o amor (perdido e não correspondido) namoricando e actuando de uma forma desprezível, mas os cenários são mais variados e desta vez menos convencionais.
O deslumbrante material sonoro presente em “Seamonsters”, faz dele um disco perfeito, pois não possui uma única música menor, e assim o registo simplesmente flui com jóias maravilhosos como “Dalliance”, “Dare”, “Suck”, “Rotterdam”, “Lovenest”, “Corduroy” ou “Heather” (algumas músicas apontam para o futuro “pop” de Gedge com os Cinerama), que comprovadamente são o seu coroamento dos tormentos pessoais e dos turbilhões de guitarra, pois tal como os My Bloody Valentine, eles pareciam estar a aniquilar as guitarras.
Provavelmente se eles fossem originários de Seattle, talvez hoje tivessem a mesma estima de uns Nirvana, mas egoistamente, tanto quanto os adoro, eu não me importo da sua relativa obscuridade.
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03 maio 2010

Singles # 22 - Nirvana - “Smells Like Teen Spirit” (1991 Geffen)

Quando os Nirvana começaram a gravação de “Nevermind”, em Maio de 1991, reforçados com um novo brilhante baterista e um acordo com a Geffen, eles eram a banda de Seattle com maior probabilidade de obter sucesso. E o que “sucesso” significa neste contexto era repetir o êxito dos Sonic Youth, que tinham conseguido atingir o Top 100 de álbuns nos Estados Unidos, com o seu último disco.
Apenas algumas semanas antes, Kurt Cobain tinha apresentado à banda um novo “riff”, com o qual eles experimentaram vários acordes durante uma hora, até atingirem a canção que ele intitulou “Smells Like Teen Spirit”. Ele tomou consciência dessas palavras após uma noite passada a pintar slogans revolucionários com spray pelas ruas de Olympia na companhia de Kathleen Hanna das “riot grrrls” Bikini Kill. No regresso a casa, e no meio de uma conversa sobre a insurreição juvenil, Hanna disse: “Kurt smells like teen spirit”. Kurt tomou a frase em consideração, sem imaginar que referenciava uma marca de desodorizante.
As letras podiam ser obscuras e semi-improvisadas, mas ainda referenciavam os padrões da geração X: o sarcástico cinismo e o violento niilismo. E desde o seu lançamento em Setembro de 1991, “Smells Like Teen Spirit”, obteve um sucesso comercial sem precedentes, conseguindo unir a juventude americana como nada há vários anos, e permitindo aos “media” focarem-se em Kurt como um ícone para uma geração indolente.
Naturalmente, o próprio Kurt foi extremamente ambivalente em relação ao sucesso da canção (e a sua extrema exposição na MTV), tendo posteriormente intercalá-la nas actuações ao vivo com o “hit” dos Boston, “More Than A Feeling”, a canção que a imprensa “mainstream” acreditava que mais se assemelhava. Ironicamente a banda quase que inicialmente tinha descartado a canção, pois achavam que poderiam ser acusados de ter copiado os Pixies. Isso, acabaria por tornar o menor dos seus problemas.
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Nirvana - Smells Like Teen Spirit

21 setembro 2009

Rock # 9 - The Jesus Lizard – “Goat” (1991 Touch And Go)

No seu segundo álbum, os lunáticos e depravados de Chicago cumpriram bem o seu papel dos primos retardados e alcoólicos dos britânicos Gang of Four. Nesta espiral de caos, produzida por Steve Albini, a sua sonoridade está no mais doentio, repulsivo e ameaçador possível em faixas como “Then Comes Dudley”, a psicótica “Nub”, a venenosa “Mouthbreaker”, “Monkey Trick” ou a paranóica “I Can’t Swin”.
O baterista Mac McNeilly e o baixista David Sims tocavam com uma ritmada subtileza fulminante, o guitarrista Duane Denison aparentemente arranha as cordas erradas para criar vibrantes “riffs” pós punk e o infame porta-voz David Yow, com o seu incomparável estilo vocal, capturara a alma de um imoderado e desarticulado personagem.
Depois de “Goat”, continuaram a fazer álbuns excelentes – como “Liar” de 1992 (e o famoso “single” a meias com os Nirvana, de onde provavelmente serão mais relembrados) – e repetidamente reinventaram-se a eles próprios, mas os verdadeiros fãs do rock aventuroso necessitam de “Goat”.
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13 novembro 2008

DVD # 4 - Vários - “1991: The Year Punk Broke” (1992 Tara Films)

Quando o movimento “grunge” explodiu, a música categorizada como “underground” tornou-se no “mainstream”, com a atenção dada pela imprensa e apoiada por todo o marketing forjado que dai resultou.
E muito do que de negativo chegou com essa mini revolução social, faz com que muitas vezes se esqueça tudo o que de bom existia antes de “Nevemind”. Estamos na presença de um grande DVD - cujo nome é uma astuta resposta ao fenómeno, através da comparação com o que aconteceu em 1976 na Inglaterra com os Sex Pistols, Buzzcocks e The Clash, pois o movimento “punk” americano (Black Flag, The Germs, X) nunca extraiu os benefícios da fama - que nos relembra desses bons momentos, recheado de brilhantes performances da tournée pela Europa realizada em 1991 pelos Sonic Youth, e por isso é essencialmente focado nestes.
O nosso “guia” Thurston Moore, simultaneamente arrogante e encantador, é excelente nas suas hilariantes deambulações, especialmente no episódio com os jornalistas alemãs. E o ponto alto do DVD é mesmo o registo das actuações dos SY, sendo que “Dirty Boots” é verdadeiramente excepcional, recheada de premência, assim como o são “Schizophrenia” (soa melhor ao vivo), “Mote” ou “TeenAge Riot”. Outras boas performances incluídas são os Dinosaur Jr., que tocam de uma forma ciclónica “The Wagon”, os Nirvana com “Negative Creep” e “Smells Like Teen Spirit”, e as Babes In Toyland em “Dustcake Boy”. Para além destes temos a contribuição musical dos Gumball e Ramones, pequenos momentos passados nos bastidores que retratam a excitação vivida no período e ainda a presença esporádica de gente ilustre como os Mudhoney ou Bob Mould (a comer um cachorro quente).
Um excelente momento de nostalgia, mas também uma visão antropológica da música alternativa em 1991, com a presença de algumas das bandas mais influentes do movimento.

29 julho 2008

Sub Pop – 3 discos alternativos

Na história da Sub Pop, alguns nomes não tiveram o destaque que mereciam. Aqui ficam três propostas do periodo áureo.

Tad - “God’s Balls” (1989 Sub Pop)
Rock poderosíssimo, com particular destaque para a secção rítmica. A vocalização de Tad Doyle passa pelos mais electrizantes berros alguma vez dados na história do rock, acompanhada de “riffs” que funcionavam como um tipo de serra eléctrica melodiosa, para criarem uma pesada massa sonora que faz lembrar um camião TIR descontrolado a 200 km/h numa auto-estrada. E o que dizer dos títulos das canções: “Satan’s Chainsaw”, “Cyanide Bath”, “Nipple Belt”, “Boiler Room”. Recomenda-se ainda “Salt Lick”, produzido por Steve Albini, e “8-Way Santa”.

Codeine – “Frigid Stars” (1991 Sub Pop)
A música dos Codeine foi designada como “slowcore”, juntamente com outros negros epítetos, mas uma descrição mais adequada para este trio de Nova Iorque seria um “blues” existencialista, mas tocado por brancos. No seu disco de estreia produzem ritmos rastejantes, arranjos esqueléticos e uma quietude vocal que iriam caracterizar todos os discos da banda. Mas Steven Immerwahr (baixo), John Engle (guitarra) e Chris Brokaw (bateria) não estavam a tentar fazer-nos sentir a sua dor, apesar de existir alguma para ser sentida. Tal como a singular linguagem dos “blues” de progressões de acordes e improvisações vocais, a musica dos Codeine foi destinada para fazer sentido, segundo os próprios, “na banalidade do dia a dia”. Mas certamente as suas crises de existencialismo eram mais intelectualizadas que a maioria.

Vaselines – “The Way of The Vaselines” (1992 Sub Pop)
Com um conjunto de temas de uma beleza melódica simplesmente arrebatadora como “Slushy”, “No Hope”, “Molly’s Lips” (que os Nirvana popularizaram), “Monsterpussy” ou “Son of A Gun”, o grupo de Eugene Kelly e Frances McKee foi o mais adolescente e apaixonado que saíu de Seattle. E fizeram do humor doentio uma inspiração descontraída. Eram canções alegres e divertidas, sendo simultaneamente uma ode ao amor inocente e um estímulo ao bater do pé. Um grupo perdido no tempo.

Tad - Flame Tavern

Vaselines - Son of A Gun

28 julho 2008

Editoras # 2 - Sub Pop

Bruce Pavitt foi para Seattle estudar história da arte, mas o seu maior estudo seria o “rock”. Primeiro lança a revista que documentava a cena independente americana, Subterranean Pop” (mais tarde Sub Pop). Depois continua a escrever para mais um par de revistas, a fazer programas de rádio e a editar cassetes com material inédito de grupos desconhecidos. Até que conheceu Jonathan Poneman, que também fazia rádio e que era a pessoa responsável pelo agenciamento dos grupos que tocavam na sala de espectáculos mais aventureira de Seattle, a Fabulous Rainbow Tavern. Conversas sobre música criaram uma admiração mútua, e o passo seguinte para a formação de uma editora estava dado.
A primeira edição da Sub Pop, foi em Julho de 1986, a compilação “Sub Pop 100”, com a participação dos Sonic Youth, Big Black ou Scratch Acid, entre outros. Os representantes de Seattle eram The U-Men e Steve Fisk (que se tornaria um dos mais famosos produtores da cidade). E na capa do disco aparecia a seguinte inscrição: “The new thing, the big thing, the good thing: a multinational conglomerate based in the Pacific Northwest”.
Uma das principais características da editora foi a sua preocupação em ter um identidade e que as pessoas procurassem os discos por estes terem o seu carimbo, simultaneamente encorajando a individualidade de cada grupo. Os seus modelos de inspiração eram a 4AD, a SST, a Stax, e até a Motown. Nem será estranho o facto de passaram a trabalhar quase permanentemente com o produtor Jack Endino (que iria produzir os álbuns de estreia de Nirvana e Mudhoney).
O “marketing” foi sempre um dos pontos fortes utilizados por Pavitt e Poneman. Criaram um clube de singles, disponível apenas por subscrição, através de edições mensais (limitadas e em vinil colorido), e sempre com temas inéditos. Aqui incluíram grupos não só de todos os estados americanos como também europeus. Por outro lado, nas suas edições “normais”, o destaque era dado a grupos locais, aproveitando a política regionalista para melhorar a promoção. As capas dos discos eram semelhantes, assim como os anúncios, uniformizando uma ideia visual e sonora para melhor promover os novos grupos.
Se os Soundgarden foram o primeiro grande sucesso da Sub Pop, editando dois EP’s, “Screaming Life” e “Fopp”, antes de assinarem pela SST e posteriormente pela A&M, já os Mudhoney foram os que mais resistiram à chamada das multinacionais, e só com “Piece of Cake” de 1992 é que assinaram pela WEA (isto, para além de serem o único grupo de Seattle que manteve a sua formação inalterável por muitos anos).
Com o sucesso dos Nirvana, a história mudou, e hoje, a mesma já deve ser conhecida por todos, mas para reforçar a importância histórica da editora, que deixou de ser uma referência local, para ser uma global, refira-se que também por lá passaram grupos com a L7 (de Los Angeles), os Afghan Whigs (de Cincinatti), os Supersuckers, os Come (de Boston), os Pond (do Alaska), os Sunny Day Real Estate, e mais recentemente The Shins, Iron and Wine, ou os criadores de um dos meus discos favoritos do ano, The Ruby Suns.
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Modest Mouse - Never Ending Math Equation

26 junho 2008

Tributo # 5 - Devo

São certamente uma das bandas mais incompreendidas da história da “pop”. Originários de Akron, e constituídos por dois pares de irmãos - Gerald Casalde e Bob Casale, Mark Mothersbaugh e Bob Mothersbaugh – criaram um projecto musical para revolucionarem a sociedade americana.
O seu curioso nome resulta da concepção de “de-evolution” – a ideia defendida pelo antropólogo Óscar K. Maerth, de que em vez de evoluir o homem estaria a regredir.
O objectivo da sua música era de servir como uma rebelião contra a conservadora e reprimida sociedade americana, através de sarcásticos comentários sociais e apoiados no estética minimalista, com ênfase em altamente estilizados e bizarros visuais - chapéus que pareciam vasos para plantas, cabelos preparados artificialmente, uniformes industriais idênticos. Musicalmente criaram uma simples, mas sinistra electrónica experimental - corrosiva, abrupta, assustadora, desprovida de emoções, com vocalizações destoantes. Foram dos primeiros grupos a abusar da utilização de sintetizadores, quer verdadeiros e costumizados pelos próprios, para além de incorporaram brinquedos eléctricos, esquentadores, torradeiras e outros objectos pouco usuais no seu reportório.
Em 1978, com “Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!” produzido por Brian Eno, e que incluía a agora famosa versão de “(I Can’t Get No) Satisfaction” dos Rolling Stones, estabeleceu o grupo como os mais cruéis satíricos sociais da “new wave” (ao desumanizar a sociedade com o objectivo de a assaltar), e como uma banda que compreendia perfeitamente o conceito “Warholiano” do produto “pop”.
Seguiu-se em 1979, “Duty Now for The Future”, mas seria com “Freedom of Choice”(1980), que iriam explodir. E em nada surpreendeu para um grupo instantaneamente reconhecível pela sua imagem, que eles cedo aproveitassem as potencialidades do formato vídeo. “Whip It” – apesar do baixo orçamento disponível – que com a sua imagem futuristica, e os contrastes entre o grotesco “sadomasoquismo” e um saudável rancho americano dos anos 50, foi um dos primeiros clássicos da MTV.
No entanto, o seu sucesso durou pouco tempo, pois o sombrio e mais sério “New Traditionalists” (1981), não era o que o público esperava desta banda invulgar.
No entanto no início dos anos 80 eram um verdadeiro objecto de culto, essencialmente pelas suas elaboradas performances em palco, mas os seus discos dessa fase - “Oh, No! It’s Devo” (1982) e “Shout” (1984) - são dispensáveis. Como foram os Devo pela sua editora, o que fez com que a banda decidisse parar.
Apesar de reuniões posteriores, os resultados nunca foram satisfatórios, e os vários membros partiram para novos projectos. Mark Mothersbaugh virou-se para a produção de bandas-sonoras quer para o cinema quer para a televisão, e Jerry Casale para a realização de vídeo-clips.
Existem imensas compilações, com destaque para “Pionners Who Got Scalped” na sempre excelente Rhino, que reúnem os principais êxitos como “Jocko Homo”, “Be Stiff”, “Girl U Want”, “Whip It” ou “Out of Sync”, mas para perceber a sua verdadeira importância e influência na música “pop” (são várias as bandas dos finais dos anos 80, princípios anos 90, que reconhecem essa influência e muitas delas o demonstraram, ao realizaram versões como os Nirvana, os Soundgarden ou os Superchunk), quer “Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!”, quer “Freedom of Choice” são essenciais.

Devo - Mechanical Man

Devo - Out Of Sync

13 maio 2008

Do fundo da prateleira # 9 - Superchunk - “No Pocky For Kitty” (1991 Merge/Matador)

Originários de Chapel Hill na Carolina do Norte, os Superchunk inicialmente tocavam um “punk” puro para ouvidos “pop”. Ao misturarem o tom áspero dos The Replacements com o sentido melódico dos Buzzcocks, o quarteto trouxe algo único e ajudou a lançar o espírito “DIY” do “rock underground” que se desenvolveu como contraste ao movimento de rock alternativo pós-Nirvana.
E ao contrário de outras bandas os Superchunk transformaram essa estética numa carreira e num movimento, e ao repelirem as grandes editoras multinacionais, a favor da sua própria editora, a Merge, tornaram-se nuns Fugazi da “pop-punk”.
Os seus melhores momentos acabaram por surgir na forma de três minutos explosivos. Muitos deles presentes em “No Pocky For Kitty”. Será menos um grande álbum, mas será certamente uma colecção de grandes “singles”, pois inclui canções furiosamente tímidas e loucamente contagiantes como “Seed Toss” e “Tie A Rope To The Back of The Bus”, todas cantadas pela voz de hélio de Mac McCaughan.
Desde a edição deste disco, os Superchunk transformaram-se em algo raro: “punk-popers” que melhoraram musicalmente com o passar dos anos, sem nunca perderem a sua alma.

Superchunk - Seed Toss

10 março 2008

Classic # 13 - Pavement – “Slanted and Enchanted” (1992 Matador)

O som “lo-fi” impreciso dos Pavement tornou-se numa identidade “indie”, e foi roubado por praticamente todas as bandas que se formaram na sequência de “Slanted and Enchanted”.
Quando este disco surgiu, era inovador e revolucionário, restabeleceu o “indie-rock” numa altura em que grupos como os Nirvana estavam a levar um som mais “limpo” e homogeneizado às massas. Pelo contrário, o som de “Slanted and Enchanted” é “sujo” e “gasto”.
Infalivelmente outras bandas já tinham praticado o “basement rock” antes dos Pavement, mas ninguém antes deles tinha conseguido transformar uma graduação universitária e uma vasta colecção de discos numa estética e mitologia pessoal.
Não seguiam as fórmulas “rock” “standard”, deixavam as guitarras fazer o que queriam, as letras são intencionalmente absurdas e as vocalizações são casuais, muitas vezes desconexas, algumas vezes cantadas outras simplesmente faladas.
A paixão de Stephen Malkmus por trocadilhos (“Zurich Is Stained”, “Fame Throwa”), combinado com um grande sentido de afinação, expressão e melodia, fizeram dele um dos mais interessantes vocalistas do “indie-rock”.
Canções como “Trigger Cut, “Summer Babe”, “Two States” ou “In The Mouth a Desert” são arrebatadoras ao máximo, do tipo de não nos saírem da cabeça o dia todo, e não conseguirmos parar de sussurrar.
No fundo, “Slanted and Enchanted” é um produto do seu tempo – o som de um grupo de miúdos irreverentes que queriam divertir-se e fazer música. Nunca pretendeu ser um clássico.

18 fevereiro 2008

Inovadores # 8 - Melvins – “Bullhead” (1991 Boner)

Os Melvins sempre gostaram de baralhar a indústria musical, e ao longo dos anos, variaram entre estilos como noise, punk, metal ou stoner rock.
Será difícil ficarem na história do “rock”, mas podem ficar com uma nota de rodapé no capítulo dedicado aos Nirvana, por dois motivos: a passagem do baterista Dale Crover pela banda de Kurt Cobain, e pelo facto de terem criado uma versão descarnada, arrastada e psicótica do metal original dos Black Sabbath, ajudando a conceber o que mais tarde viria a ser apelidado de grunge.
O terceiro disco dos Melvins, “Bullhead”, é maravilhosamente grotesco, onde o grupo criou uma completa desordem naquilo que o “rock’n’roll” é suposto ser.
Aqui criaram uma densa superfície de fúria metálica forjada numa orgia de “feedback” em conjunto com uma pura e absoluta demência.
O disco começa abrasivamente com “Boris”, nove minutos de “riffs” de guitarra maciçamente repetitivos, e o magnifico trabalho realizado na bateria por Dale Crover, que torna impossível conseguimos acompanhar o ritmo.
“Anaconda” e “Ligature”, “Zodiac” seguem o mesmo brilhante caminho. Os ritmos são diminuídos até ao excruciar da morosidade.
O disco fecha com “Cow”, um dos melhores solos de bateria que já ouvi. Apesar de Dale Crover não ser um tecnicista, ele parece estar em lamúria sobre a bateria.
“Bullhead” é um exercício de resistência, completamente implacável na sua existência com a acessibilidade.

07 dezembro 2007

Classic # 10 - Jane’s Addiction - “Ritual De Lo Habitual” (1990 Warner Bros.)

A combinação singular da estridente e cortante voz de Perry Farrell, dos ritmos tribais de Stephen Perkins, do ressonante e melódico baixo de Eric Avery e dos espantosos atributos técnicos de Dave Navarro, permitiram criar uma música psicadélica, esquizofrénica, repleta de “funk” e com um carácter etéreo.
Em 1988 com o surpreendente “Nothing’s Shocking”, já tinham conseguido abalar a indiferente indústria musical. E para mim, a banda ainda se conseguiu superar, pois considero “Ritual…” musicalmente mais interessante e desafiante que “Nothing’s…”, pois assumiram mais riscos ao criarem uma alucinatória viagem sonora.
Com “Ritual De Lo Habitual” apresentam-nos mais nove exuberantes temas, ao nível do melhor que já tinham feito, mas ainda adicionaram a agradável habilidade da canção “pop”.
O disco pode dividir-se em dois lados distintos.
De um lado estão as canções mais “rock”, as mais enérgicas, que com as suas batidas rítmicas e o irromper das explosivas guitarras tornaram “Stop!” (com a subversiva introdução em Espanhol), “No One’s Leaving”, “Ain’t No Right” e “Been Caught Stealing” (uma gracejante paródia) apropriadas para a rádio e a MTV. Enquanto do outro temos as canções mais “calmas”, as mais experimentais e diversificadas, como a belíssima “Classic Girl”, “Then She Did…” e a épica obra-prima de 12 minutos que é “Three Days”, composta por cinco distintas secções, que contemplam guitarras acústicas, secções de cordas, até aos desenfreados solos de bateria e guitarra que conduzem a canção ao seu grandioso final, e que deram aos fãs algo para devorar e idolatrar.
“Ritual…” é simultaneamente suculento, estimulante e sarcástico, mas também intenso e teatral.
Quem sabe, se não tivesse existido um disco, editado no ano seguinte, de nome “Nevermind”, e este talvez não fosse considerado como o exponente do rock moderno.

05 abril 2007

Classic # 2 - Gang of Four - “Entertainment!” (1979 EMI)

Este quarteto de Leeds, composto por estudantes de Ciências Sociais (o seu nome é uma referência retirada da China comunista), foi responsável pela produção de alguma da mais excitante música proveniente de Inglaterra no período pós-punk.
Associações aos ensinamentos dos situacionistas, caracterizaram a curta carreira da banda. Curiosamente os membros da banda eram sempre listados alfabeticamente, dando conformidade ao seu espírito equitativo.
“Entertainment!” é a ponte de inspiração entre a primeira onda punk e o pós-punk, que inclui outros percursores como Birthday Party ou 23 Skidoo.
O seu som experimental era punk-funk, ritmos funk de James Brown alimentado pela dinâmica “raw punk” característica da época. Também as letras politizadas baseadas na vida quotidiana e monólogos existenciais, não eram paralelas às do movimento punk.
As canções de “Entertainment!” são verdadeiros tesouros. “Damaged Goods” é tenso, muscular, com as guitarras distorcidas, e com a voz seca Jon King, é a canção que melhor simboliza a obra dos Gang of Four. Em “Anthrax”, após o feedback inicial, o ritmo funky da secção rítmica acompanha 2 vozes em simultâneo, uma que canta outra que fala, e se é desorientador, ao mesmo tempo torna-se única. E “Not Great Men”, para além de ser também uma das melhores canções do pós-punk, é a base dos primeiros discos dos Red Hot Chili Peppers, segundo os próprios.
Curiosamente sempre influenciaram muito mais a música underground americana, desde The Jesus Lizard, Nirvana ou Jon Spencer, até aos representantes da nova onda pós-punk, como Interpol, Radio 4 ou Liars.