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10 novembro 2010

Rock # 18 - Bardo Pond – “Amanita” (1996 Matador)

São bem evidentes as diferenças sonoras presentes no disco de estreia da banda de Filadélfia para a Matador, em relação a sonoridade tipicamente “basement-tapes” do anterior “Bufo Alvarius”, pois o surpreendentemente brilhante “Amanita” revela uma profundidade e maturidade que todos os seus esforços anteriores apenas insinuavam.
Tal como a maioria dos álbuns dos Bardo Pond, está recheado de intensas sonoridades “fuzzy” que giram e trituram, no entanto por debaixo de tudo isso existe sempre uma deslumbrante melodia como só mesmo eles são capazes de criar.
As influências são notórias: o psicadelismo dos anos 60, os Crazy Horse e claro os Sonic Youth.
Sombrio, pesado e hipnótico, atinge níveis superiores de massacre sonoro, camada após camada, através das trilhas de feedback das guitarras de John e Michael Gibbons e da irradiante flauta fantasmagórica da vocalista Isobel Sollenberger, sempre partindo do nuclear baixo pulsante de Clint Takeda, para criar algum da melhor música “psicadélica” das bandas contemporâneas.
Assim desde a monumental abertura com o denso e complexo “Limerick”, com as suas gritantes guitarras que criam tensão e a ressonante voz feminina, passando pela delirante experimentação sonora de “Rumination”, pela introspectiva e sensual “Be A Fish”, por essa densa valsa nuclear que reside em “High Frequency”, pelas distorcidas sinfonias celestiais de “Sentence”, até à conclusão com as texturas sonoras encharcadas de raiva presentes no tributo “RM”, seremos rapidamente absorvidos no lago (pond) e não sairemos pacificamente.
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30 setembro 2009

Yo La Tengo – “Popular Songs” (2009 Matador)

Ao seu décimo segundo disco (ou será decimo quarto) e ao longo de uma consistente carreira de 25 anos, o grupo de Ira Kaplan e Georgia Hubley, continua abrangente, alienante e prolifico como sempre.
E tal como o excelente último disco, “I’m Not Afraid Of You And I Will Beat Your Ass”, desistem rapidamente de se manterem fiéis a uma sonoridade constante e oferecem-nos as características variações sonoras que os fãs se habituaram a esperar da banda.
A destreza com que mudam de estilos, sons e temas de canção para canção é ao mesmo tempo idiossincrásica e surpreendente, e apenas possível de ser conjugado pelo singular ouvido conhecedor de melodias de Kaplan.
Desde o frágil “pop”, passando pelas explosões psicadélicas, pelo áspero “country-pop”, até às improvisações “noise” (e apesar de ser notável, que as suas principais influências musicais – “soul”, “garage rock” – estão mais tradicionais do que é usual), continuamos na presença de uma banda ainda persuasivamente enfeitiçada pela mutabilidade da música “pop”.
Isso é visível nos luxuriantes arranjos orquestrais do “funky” “Here To Fall”, no esplendoroso “pop-rock” de “Avalon Or Someone Very Similar”, na cintilante e encantadora “Nothing To Hide”, no inesperado dueto retro de “If It’s True”, no resplandecente rastro de “feedback” da épica “More Stars Than There Are In Heaven”, ou no hipnótico “noise-freak” de “And The Glitter is Gone”.
É inevitável não se questionar a mensagem subliminar da capa do disco – sinónimo de um futuro digital ou do papel da música nas nossas vidas – em qualquer caso, o disco vive de acordo com o seu título.
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14 maio 2009

Do fundo da prateleira # 16 - Moonshake - “Eva Luna” (1992 Too Pure/Matador)

Após repetidas audições, o disco de estreia dos britânicos Moonshake ainda revela surpresas e possibilidades.
Liderados pelos compositores, guitarristas e”samplistas” Dave Callahan e Margaret Fiedler, o quarteto usou a tecnologia do “sampling” para criar novas perspectivas sonoras sobre o altamente rítmico suporte base.
Fugindo dos géneros musicais estabelecidos, ofereciam tumultos e excitação, através de uma furiosa decadência urbana e enaltecimento do ódio. Aparentemente, misturavam pedaços grosseiros de discos “easy-listening” com os sons das suas desconexas implosões orquestrais enquanto as tendências “pós-punk” da banda (notavelmente próximas dos P.I.L. de “Metal Box”) acentuam a tensão e animosidade.
De um lado tínhamos as entusiastas, hipnóticas, sedutoras, murmurantes e incendiárias canções de Fiedler, do outro os desdenhosos, no entanto brilhantes, comentários social, normalmente bombásticos do perpetuamente transtornado Callahan. E se quase soam como bandas diferentes, tudo funciona numa imaculada unicidade.
Mas a pressão e a carga de stress que fizeram “Eva Luna” tão forçado, teve que ceder, e 18 meses depois, Fiedler e o baixista John Frennett terminaram o grupo para formar os Laika com Guy Fixsen (o produtor da banda, deixando Callahan e o baterista Mig, que recrutaram dois novos elementos para o irregular disco seguinte, “The Sound Your Eyes Can Follow”.
Neste “Eva Luna” (cuja edição americana inclui ainda o excelente EP, “Secondhand Clothes”) oferecem quer lições históricas de “pós-punk”, quer reflexões sobre direcções futuras.
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13 maio 2008

Do fundo da prateleira # 9 - Superchunk - “No Pocky For Kitty” (1991 Merge/Matador)

Originários de Chapel Hill na Carolina do Norte, os Superchunk inicialmente tocavam um “punk” puro para ouvidos “pop”. Ao misturarem o tom áspero dos The Replacements com o sentido melódico dos Buzzcocks, o quarteto trouxe algo único e ajudou a lançar o espírito “DIY” do “rock underground” que se desenvolveu como contraste ao movimento de rock alternativo pós-Nirvana.
E ao contrário de outras bandas os Superchunk transformaram essa estética numa carreira e num movimento, e ao repelirem as grandes editoras multinacionais, a favor da sua própria editora, a Merge, tornaram-se nuns Fugazi da “pop-punk”.
Os seus melhores momentos acabaram por surgir na forma de três minutos explosivos. Muitos deles presentes em “No Pocky For Kitty”. Será menos um grande álbum, mas será certamente uma colecção de grandes “singles”, pois inclui canções furiosamente tímidas e loucamente contagiantes como “Seed Toss” e “Tie A Rope To The Back of The Bus”, todas cantadas pela voz de hélio de Mac McCaughan.
Desde a edição deste disco, os Superchunk transformaram-se em algo raro: “punk-popers” que melhoraram musicalmente com o passar dos anos, sem nunca perderem a sua alma.

Superchunk - Seed Toss

10 março 2008

Classic # 13 - Pavement – “Slanted and Enchanted” (1992 Matador)

O som “lo-fi” impreciso dos Pavement tornou-se numa identidade “indie”, e foi roubado por praticamente todas as bandas que se formaram na sequência de “Slanted and Enchanted”.
Quando este disco surgiu, era inovador e revolucionário, restabeleceu o “indie-rock” numa altura em que grupos como os Nirvana estavam a levar um som mais “limpo” e homogeneizado às massas. Pelo contrário, o som de “Slanted and Enchanted” é “sujo” e “gasto”.
Infalivelmente outras bandas já tinham praticado o “basement rock” antes dos Pavement, mas ninguém antes deles tinha conseguido transformar uma graduação universitária e uma vasta colecção de discos numa estética e mitologia pessoal.
Não seguiam as fórmulas “rock” “standard”, deixavam as guitarras fazer o que queriam, as letras são intencionalmente absurdas e as vocalizações são casuais, muitas vezes desconexas, algumas vezes cantadas outras simplesmente faladas.
A paixão de Stephen Malkmus por trocadilhos (“Zurich Is Stained”, “Fame Throwa”), combinado com um grande sentido de afinação, expressão e melodia, fizeram dele um dos mais interessantes vocalistas do “indie-rock”.
Canções como “Trigger Cut, “Summer Babe”, “Two States” ou “In The Mouth a Desert” são arrebatadoras ao máximo, do tipo de não nos saírem da cabeça o dia todo, e não conseguirmos parar de sussurrar.
No fundo, “Slanted and Enchanted” é um produto do seu tempo – o som de um grupo de miúdos irreverentes que queriam divertir-se e fazer música. Nunca pretendeu ser um clássico.

29 dezembro 2007

My Favorites # 6 - Liz Phair - “Exile In Guyville” (1993 Matador)

Neste disco é possível descortinar o que bem quisermos: desde hinos ao pós-feminismo, passando pela rapariga dos subúrbios a armar-se em “tesa”, ou a pretensa e assumida réplica de “Exile On Main Street”.
Eu ao escutá-lo prefiro pensar em Liz Phair como uma rapariga que pretende encontrar o amor verdadeiro, ou uma que pretende ser uma “blow-job queen”.
O que não se pode é menosprezar a importância deste disco: um registo suave, dramático, que foi editado numa altura em que todos os outros se baseavam em gritos estridentes; o disco que demonstrou o poder das produções caseiras “lo-fi”; o disco que melhor capturou o sofrimento e a ansiedade da confusão pós-adolescência/ pré-idade adulta; o disco cujo sucesso influenciou que muitas multinacionais contratassem uma geração de cantoras-compositoras.
A sua musicalidade é por ventura desnivelada, a sua performance vocal não é revolucionária, mas a sua escrita… uau!!! que canções.
São canções que nos tocam no coração, comprometem a mente e até chegam a estimular sexualmente.
Liz sabe como construir um relato intenso e pessoal.
Apesar de todas serem fantásticas, gosto especialmente de “6’1””, “Help Me, Mary”, “Never Said”, “Mesmerizing”, “Fuck and Run”, “Divorce Song” e “Shatter”.
Ao contrário da maioria das cantoras-compositoras referidas anteriormente, a quem faltava a subtileza elegante” de Liz Phair, esta continuou a demonstrar o seu singular talento em trabalhos posteriores como “Whip-Smart” ou “Whitechocolatespaceegg”.
Com “Exile In Guyville” deixou-nos um registo que é um tributo à qualidade da “canção rock”, e que o torna num dos melhores discos de todos os tempos.