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25 junho 2010

Inovadores # 17 - Ash Ra Tempel - “Join Inn” (1973 Ohr)

Os Ash Ra Tempel fundiram um denso psicadelismo com sobrecargas de electrónica e no processo tornaram-se pioneiros do movimento “space-rock” alemão. Formados em 1970 pelo guitarrista Manuel Göttsching, pelo baixista Hartmut Enke e pelo também elemento dos Tangerine Dream, Klaus Schulze, gravaram uma série de extraordinários e resplandecentes discos durante a primeira metade da década de 70. Discos como “Schwingungen”, “Seven Up”, “Join Inn”, e o seu disco homónimo de estreia são de audição obrigatória para quem estiver interessado na história da “kosmische musik”. E apesar de com o passar dos anos se terem afastado das sonoridades “acid-rock” para terrenos mais diversos, como uma primária electrónica, e de serem popularmente perceptíveis como o arquétipo trio “freeform” dos “krautrock”, Göttsching, Enke e Schulze produziram alguma da mais potente exploração do período.
O muitas vezes menosprezado “Join Inn”, é constituído apenas por dois longos temas instrumentais (e aproxima-se mais do seu disco de estreia), e foi o último capítulo quer para Schulze (que abandonou para prosseguir uma carreira a solo) quer para Enke (que abandonou totalmente a realidade consensual, ao ser vitima de uma doença mental) nos Ash Ra Tempel.
“Freak’n’Roll” é uma apelante viagem espacial desfigurada pela confiante progressão “blues” de Göttsching (aqui em grande forma), uma sua nova predilecção que surgiu e alterou o disco anterior dos Ash Ra Tempel – o ultrajante “Seven Up”. Reciprocamente, o outro tema, “Jenseits” é um ditoso épico cósmico com alongados diáfanos de guitarra trémula em modo elusivo que coagulam as progressões pendulares do baixo de Enke, enquanto diversas tonalidades sonoras provenientes do sintetizador de Schulze flutuam. Simplesmente encantador.
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17 agosto 2009

Lindstrom and Prins Thomas – “II” (2009 Eskimo)

Mais um desconcertante fascículo na história do duo norueguês.
Eles que no intervalo entre o seu disco de estreia e este novo registo estiveram bastante activos. Lindstrom, editou no ano passado, o muito discutido “Where Tou Go I Go Too”, onde pareceu veemente entusiasmado em se expandir sonoramente, enquanto Prins Thomas realizou inúmeras remisturas, e é evidente que o trabalho a solo de ambos inspira as estéticas que trazem para a sua colaboração.
Apresentam-nos um disco inovador e estimulante, que através da sua caracteristicamente resplendorosa produção, sinaliza uma ambiciosa trajectória deliberada que os afasta da electrónica excessivamente processada através do uso de mais “live elements” no estúdio, que lhe dá uma sensação mais orgânica, e ao mesmo tempo afastam-se da essência inorgânica do “disco” e da possibilidade de algum aborrecimento dai resultante.
Como resultado temos uma singular e altamente trabalhada reconstrução do “krautrock” com o “disco”, mas onde surgem explorações por outros movimentos do “rock underground” das ultimas décadas, apesar das influências mais obvias serem inspiradas no trabalho de Manuel Göttsching, dos Neu! ou dos Tangerine Dream, mas também em Giorgio Moroder.
Audições repetitivas revelam novos pormenores de um disco onde nos podemos perder confortavelmente em momentos mágicos como no “krautrock” inspirado de “Rothaus”, nas plangentes linhas de piano presentes em “For Ett Slikk Og Ingentino”, ou nas cimeiras secção de cordas de “Rett Pa”.
Uma verdadeira demonstração de que duas cabeças podem ser melhores do que uma.
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11 fevereiro 2009

Electronic # 7 - The Human League – “Reproduction” (1979 Virgin) / “Travelogue” (1980 Virgin)

A formação inicial dos Human League - Phil Oakey, Martyn Ware, Ian Craig Marsh – foi responsável pela criação de dois excelentes discos que ajudaram a definir o futuro da música electrónica, antes da acrimoniosa separação e Oakey ter remarcado a sonoridade “pop” e Ware/Marsh fazerem razia nos BEF e Heaven 17.
Com uma sonoridade experimental, a sua música era minimal, gelada e organicamente desordenada muito mais próxima de uns Cabaret Voltaire, Suicide ou Throbbing Gristle (e não polida como viria a tornar-se em meados dos 80’s) e as letras tinham um carácter que os colocavam num território similar a uns Joy Division. E notavelmente conseguiram conciliar as pretensões artísticas, com a postura assumidamente “pop” - influências obvias de Kraftwerk, Tangerine Dream e David Bowie - essencialmente queriam fazer as coisas de uma forma diferente.
“Reproduction” remete-nos para um ambiente sinistro, com um sonoridade puramente electrónica (convém relembrar que nesta altura ainda não havia “pro-tools”) que ainda hoje parece vir do futuro e que em nada se relaciona com a ociosamente estabelecida nostalgia habitualmente associada aos anos 80 – de um lado estão as jóias “pop” como o resoluto single “Empire State Human”, o eufórico “Blind Youth” (uma resposta ao etos “no future” do movimento “punk”) e a brilhante versão (ou deconstrução) do clássico “You’ve Lost That Lovin’ Felling”, do outro estão, em contraste, os temas secos e mirrados como “Almost Medieval” e o single “Circus of Death”.
“Travelogue” possui uma sonoridade mais limpa e mais épica do que “Reproduction”, e inclui o ritmado “noise” de “The Black Hit Of Space”, a excelente versão de “Only After Dark” (original de Mick Ronson), o provocadoramente triste relato da escravidão do trabalho de “Life Kills”, a desesperação resultante da fuga da opressão de “Dreams Of Leaving”, o poderio enérgico da sobrecarregada reconstrução do single “Being Boiled” e as suas viciosas palmas electrónicas.
O disco termina (na versão original /vinil) com “WXJL Tonight”, onde Oakey é o ultimo DJ humano numa sociedade futura onde as rádios são totalmente automáticas e no final começa a gritar implorando aos ouvintes para não o abandonar. Arrepiante.
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12 dezembro 2008

Extremos # 4 - Boredoms


“Chocolate Synthesizer” (1994 WEA Japan)
“Super æ” (1998 WEA Japan)
“Vision Creation Newsun” (1999 WEA Japan)


Os japoneses Boredoms liderados pelo incomparável Yamataka Eye criam uma música agradavelmente difícil. Originários de Osaka, uma cidade bastante próspera culturalmente, com grandes tradições no “noise” experimental e minimalista, evoluíram do abrasivo “punk” divergente que praticavam nos primeiros anos para uma sonoridade verdadeiramente única. (Essa evolução é bem visível ao longo dos vários “Super Roots”)
No início da década de 90, ganharam maior notoriedade com a colaboração de Eye nos Naked City de John Zorn e com a partilha de palcos com os Sonic Youth. E foram estes últimos que os encorajaram a elevar a sua música.
Primeiro surgem “Pop Tatari” (1992) e especialmente “Chocolate Synthesizer” (1994) dois discos totalmente antinaturais, mas que de um modo crescente, nos cativam com o seu fascinante, anárquico e primitivo “noise-rock”. As aparentemente incongruentes e delirantemente indomáveis partes (“hardcore punk”, psicadelismo, “free jazz”, “hip hop”,etc) encaixam perfeitamente e o caos furioso presente ao longo de “Pop Tatari” é no segundo disco subordinado, disciplinado, concentrado e amplificado.
“Super æ” (1998) foi o ponto de transição, uma verdadeiramente impressionante afirmação da criativa perspicácia musical que os caracteriza. Incorporando mais elementos de uma impetuosa electrónica e “jams” de “rock” psicadélico, com densos e grandiosos acordes, e essas incomparáveis percussões poliritmicas, a sua sonoridade aproximou-se mais de grupos como Tangerine Dream, Can ou Hawkwind. E aqui é bem evidente a energia e paixão que os Boredoms entregam em cada disco. Um dos mais originais discos dos anos 90.
“Vision Creation Newsun” (1999) é um disco maravilhosamente focado e aerodinâmico. As frenéticas percussões tribais sustentam uma ditosa electrónica, “riffs de rock psicadélico e cânticos transcendentais. Os Boredoms parecem ter uma instintiva interpretação/compreensão da relação entre tensão e desprendimento, entre a dinâmica e a importância de espaço vazio. Um vibrante e voluto opus psicadélico.
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29 abril 2008

Compilação # 1 “Artificial Intelligence” (1992 Warp)

Apesar de John Cale ter popularizado o termo “Artificial Intelligence” no seu álbum de 1985, seria esta compilação da editora Warp a responsável (pelo menos para mim) pelo ressurgimento da música electrónica como uma experiência musical audível, ou se preferirem música de dança para se “escutar”. Iriam rotula-la de IDM – Intelligent Dance Music).
Rob Mitchell e Steve Beckett, fundadores da Warp, andavam atentos e descobriram que existiam muitos projectos musicais de dimensão similares, e decidiram criar um espaço onde pudessem conviver.
É certo que já tinham existido as experiências anteriores dos KLF ou The Orb que criaram um primeiro género de “ambiente house”, e que os artistas aqui presentes foram sem dúvida influenciados pelos Tangerine Dream ou Kraftwerk, mas souberam pegar em todas essas influências e expandiram-nas para criar algo verdadeiramente único.
Apesar das contribuições de muitos dos projectos aqui presentes (maioritariamente sobre a forma de pseudónimos), não serem tão interessantes como os seus trabalhos posteriores, seria desta forma que muitas pessoas iriam contactar pela primeira vez com nomes como Aphex Twin (como Dice Man), B12 (como Musicology), Black Dog (como I.A.O.) ou Autechre. E felizmente todos rapidamente iriam aprender a explorar e potenciar este novo espaço musical através de álbuns notáveis para a Warp.
Independentemente disso, muita da música aqui contida ainda hoje soa moderna e inovadora, especialmente os temas dos Autechre (“Crystal” e “The Egg”), dos I.A.O. (“The Clan”), e o esquecido “Spiritual High” dos UP! (mais uma maravilha criado pelo génio de Richie Hawtin).
Um pedaço de história.