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21 janeiro 2010

Electronic # 13 - The Sabres Of Paradise - “Haunted Dancehall” (1994 Warp)

Normalmente relegados para segundo plano quando se analisa a editora Warp, os The Sabres Of Paradise criaram aqui um disco extremamente coeso, que envelheceu maravilhosamente e ao contrário de muitos registos do mesmo período ainda soa tão moderno hoje como quando foi editado.
Inventivo e abstracto, ao nível do melhor de uns Aphex Twin, Andrew Weatherall e companhia fizeram um disco conceptual, mas onde parece obvio que também se queriam divertir, pois inventaram as treze pequenas narrativas (que seriam retiradas de um imaginário livro “Haunted Dancehall” de um imaginário autor - James Woodbourne), que acompanham o disco e que dão o titulo aos temas que servem para relatar a atmosfera da peculiar excursão de um tal Nicky McGuire pelo lado impuro da cidade de Londres.
Convenientemente estruturado, muito mais que o anterior disco, o palpitante “tecno” de “Sabresonic”, e menos direccionados para a pista de dança, é evidente que eles aqui encontraram o espaço necessário para serem cinemáticos e descritivos sem nunca comprometer o “groove”, ao criarem texturas sonoras (triturando “hip-hop”, “electro”, “dub”, “acid”) e sentimentos verdadeiramente únicos e totalmente envolventes, onde os espaços entre a música são tão importantes como a própria música.
Manhosamente, as faixas agem como se tivessem sido edificadas a partir da precedente, e de faixa para faixa, criam um sublime padrão auricular, através de pervertidos e borbulhantes “beats”, que aumenta a sombria atmosfera presente nas incursões de McGuire pelas ruas sinistras e becos misteriosos de Londres.
É impossível resistir à sinistra ameaça “lo-fi” de “Tow Truck”, aos melancólicos “grooves” da “mix” dos Portishead para “Planet D”, à assombrosa beleza de “Theme 4”, ao “tecno-dub” suspenso de “Wilmot”, ao excêntrico “Bubble And Slide”, às fantásticas paisagens sonoras de “The Ballad Of Nicky McGuire” e à espantosamente obscura “Haunted Dancehall” que encerra este aventuroso disco.
Genial.
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15 junho 2009

Classic # 21 - Serge Gainsbourg - “Histoire De Melody Nelson” (1971 Philips)

Se bem que Gainsbourg já tivesse determinado para si próprio, uma vida recheada de provocações e comportamentos semi-proibidos, como adição à de estrela musical, as partes nunca encaixaram tão perfeitamente como em “Histoire De Melody Nelson”, que pode ter só 28 minutos, mas que 28 minutos. Uma hábil e intrigante história baseada no brusco romance do narrador com a jovem ninfa Melody do título, de apenas 14 anos. E onde Serge exercitou uma orquestra de 50 elementos com uma destreza que faz com que as obras contemporâneas grandiosamente propensas como “Tommy” dos The Who, pareçam imensamente deselegantes.
Seguindo o seu impulso para chocar, a história é Gainsbourg no seu método tipicamente atenuante: conheceu Melody depois de a derrubar na sua bicicleta com o seu Rolls Royce, depois planeia transporta-la bizarramente para Sunderland, mas entretanto ela morre numa acidente de aviação.
Melody é bem representada no disco e na sua capa pela grávida, no entanto ainda púbere Jane Birkin (sua companheira de vários anos), enquanto a música (criada em colaboração com Jean-Claude Vannier, e que foi samplado por Massive Attack e Portishead, entre outros) alterna desde a resolutamente cinemática “Melody”, passando por várias ritmadas baladas, pelo interlúdio orgiástico “En Melody”, com os risinhos despropositados de Birkin, antes de concluir com o imperioso e trágico “Cargo Culte”.
Uma obra-prima inundada com delicadas guitarras, luxuriantes arranjos de cordas e impetuosos coros, que continua a atrair atenção, pelo numeroso numero de admiradores famosos (Air, Beck), e que serviu de planta para obras como “This Is Hardcore” dos Pulp.
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11 fevereiro 2008

Classic # 12 - Portishead - “Dummy” (1994 Go! Discs)

Se Beth Gibbons e Geoff Barrow andavam a planear o que seria “Dummy” há mais de um ano, o guitarrista Adrian Utley andava a compor banda-sonoras privadas há muito mais tempo. E seriam as bandas-sonoras que os iria juntar, pois Barrow adorava “samplar” velhas bandas-sonoras para os seus sets de “dj”. E numa dessas sessões conheceu Utley, tendo-o convidado a partilhar e reforçar sonoramente o projecto que inicialmente resultava na partilha de outra das suas paixões – o “hip-hop” - que Barrow estendia sobre as paisagens sonoras criadas, com uma sedutora cadência, esmigalhadas pela delicadamente sombria voz de Gibbons.
“Dummy” é um disco intemporal, que alterna de tom, de dilacerantemente sombrio, até lamentável, até levemente optimista. Está encharcado em melancolia e depressão, ajustada à música. As canções são simples e evocativas, mas substanciais.
A tensa delicadeza de “Sour Times” (“nobody loves me, it’s true” - tornou-se numa das expressões da década), ainda hoje é relevante. E juntamente com “Numb”, “It Could Be Sweet” e “Glory Box”, foram declarados como fundadores de uma nova revolução sonora, denominada trip-hop.
O disco inclui outros destaques, como o espectral e relaxante “Mysterons”, o delicado “Roads” ou o agressivo “Wandering Star”. O disco arrasta o ouvinte para um abismo aveludado.
Os teclados Rhodes e o órgão Hammond são o núcleo do insinuantemente sublime som, adicionando um sentido épico à maioria das canções. Simultaneamente, os flexíveis acordes de guitarra e a percussão “jazzy” dão-lhe um ar terreno.
Muitos estilos musicais estão implícitos no disco (rock, soul, hip-hop, jazz, electrónica, música clássica), no entanto mantendo-o consistente e agonizantemente belo, e por isso mesmo, hoje a sua influência é tão notória e relevante.