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07 abril 2010

My Favorites # 19 - Lisa Germano – “Geek the Girl” (1994 4AD)

O segundo disco da multi-instrumentista Lisa Germano (que esta noite toca na Casa da Música) é um trabalho coerente e focalizado, sincero e sombrio. Não é um disco musicalmente assustador ou sequer aventuroso, mas o absolutamente puro e emocional poder que transmite, esse assusta.
Aqui a música acompanha o profundamente reflectivo auto lirismo, relatando tragédias num tom sombrio e assustador, recheado de paranóia, estados depressivos e prisões espirituais, que pode ser verdadeiramente venenoso e deprimente. Através de uma atmosfera calma, mas exuberante, as dolorosas vocalizações de Germano são entregues num arrepiante silêncio, e os instrumentos (principalmente piano e violino) soam lúgubres. Assim estão apropriados às sinistras e analíticas letras que através de uma íntima abordagem extremamente feminista, relatam temas proibidos do nosso quotidiano - seres proscritos, violações, assaltos e infância - até estes atingirem um clímax de emoção e desespero, num impressionante equilíbrio entre o sonho e a realidade, entre o terror e a diversão, entre a resignação e a raiva.
Mas Germano consegue capturar algo genuíno, sem soar constrangedoramente emocional, como é evidente no desolado “My Reason Secret”, no devastador “Cry Wolf”, na assustadora ”Sexy Little Princess” ou no doloroso “Cancer of Everything”.
Pode relembrar Nico ou uma ferida Liz Phair, poderia ainda ser uma Tom Waits no feminino, mas certamente falta-lhe a variedade vocal. Agora o desespero presente na sua voz e a forma como nos faz sentir quentes e estridentes de uma vez só é bastante impressionante. A capacidade de soar triste e miserável, e cínica ao mesmo tempo, é um talento ímpar que faz este álbum verdadeiramente único.
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18 novembro 2008

Classic # 16 - Patti Smith - “Horses” (1975 Arista)

Um dos discos de estreia mais escandalosamente original, em 1975, “Horses”, foi fundamental para estabelecer a nova estética “punk” que alterou as regras do “rock” para sempre, mas catalogar Patti Smith não é fácil, pois a sua música transcende qualquer género musical. Iconoclasta abre o disco com a referência (“Jesus died for somebody’s sins, but not mine”), reinterpretando o velho clássico “Gloria”, de uma forma rude, determinada e provocadora. Está dado o mote para o resto do álbum: sem limites.
Produzido por John Cale, o disco está recheado de perturbadores, mas vivos relatos de sexo e violência, com temas que abordam a violação homossexual, a luxúria e até o suicídio, onde somos transportados para um halucinatório e perigoso sub-mundo. Intensa e poética, no entanto simultaneamente genuína e sincera, ela fez com que as suas “faladas/cantadas” letras se tornassem não só compelíveis, mas também credíveis.
Nunca ninguém verdadeiramente conseguiu restabelecer a originalidade criada por Smith.
É evidente a dramática estrutura das canções: a esperançosa “Free Money” com a sua mutação da bela balada de piano até o mais puro “rock”, o surrealismo evocativo de “Kimberly”, a pesarosa e gentil “Redondo Beach” com as suas influências “ska” e arranjos de sintetizador, o belo hino “Break It Up” que se eleva continuamente e que conta com o contributo de Tom Verlaine dos Television, as duas encantatórias invocações de fantasmas passados - a sublime e emocional “Birdland” (baseado em “Book of Dreams” de Wilhelm Reich), que nos transporta da plenitude até ao êxtase na sua complexa estrutura lírica e musical e a cinemática “Land”, violentamente erótica, com uma transcendente parte vocal e um extraordinário trabalho de guitarra – até à suicida “Elegie”que fecha assustadoramente o disco (escrita a meias com Allan Lanier dos Blue Oyster Cult, tal como “Kimberly”). Convém acrescentar que isto tudo não seria possível sem a excelente banda, liderada por Lenny Kaye, que a acompanhou.
“Horses” será um percursor do “punk”, primeiramente porque antecipou aquele género sonoramente antes da sua materialização, no entanto também porque antecipou o espírito do “punk” pela retrospecção dos velhos dias do “rock’n’roll” e capturar a sua juvenil e inspirada essência.
A sua influência foi óbvia e está presente em P.J.Harvey ou Liz Phair, em outras, ou até mesmo nas Sleater-Kinney. E como a icónica capa com a fotografia de Robert Mapplethorpe o testemunha, Patti Smith é a original Riot Grrrl.
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29 dezembro 2007

My Favorites # 6 - Liz Phair - “Exile In Guyville” (1993 Matador)

Neste disco é possível descortinar o que bem quisermos: desde hinos ao pós-feminismo, passando pela rapariga dos subúrbios a armar-se em “tesa”, ou a pretensa e assumida réplica de “Exile On Main Street”.
Eu ao escutá-lo prefiro pensar em Liz Phair como uma rapariga que pretende encontrar o amor verdadeiro, ou uma que pretende ser uma “blow-job queen”.
O que não se pode é menosprezar a importância deste disco: um registo suave, dramático, que foi editado numa altura em que todos os outros se baseavam em gritos estridentes; o disco que demonstrou o poder das produções caseiras “lo-fi”; o disco que melhor capturou o sofrimento e a ansiedade da confusão pós-adolescência/ pré-idade adulta; o disco cujo sucesso influenciou que muitas multinacionais contratassem uma geração de cantoras-compositoras.
A sua musicalidade é por ventura desnivelada, a sua performance vocal não é revolucionária, mas a sua escrita… uau!!! que canções.
São canções que nos tocam no coração, comprometem a mente e até chegam a estimular sexualmente.
Liz sabe como construir um relato intenso e pessoal.
Apesar de todas serem fantásticas, gosto especialmente de “6’1””, “Help Me, Mary”, “Never Said”, “Mesmerizing”, “Fuck and Run”, “Divorce Song” e “Shatter”.
Ao contrário da maioria das cantoras-compositoras referidas anteriormente, a quem faltava a subtileza elegante” de Liz Phair, esta continuou a demonstrar o seu singular talento em trabalhos posteriores como “Whip-Smart” ou “Whitechocolatespaceegg”.
Com “Exile In Guyville” deixou-nos um registo que é um tributo à qualidade da “canção rock”, e que o torna num dos melhores discos de todos os tempos.