26 setembro 2008

Covers # 6

Os Ash foram uma banda que nunca conseguiu convencer completamente cá na casa, no entanto tenho alguns dos singles que editaram basicamente pelas numerosas versões que realizaram, algumas delas verdadeiramente surreais, como esta:


ou esta, aproveitando o facto de eles estarem na moda, outra vez:



Nas Peel Sessions, muitas bandas realizam versões como forma de tributo a outras que de alguma forma as marcaram, sonoramente ou inspiracionalmente. Nesta realizada em 2002, parece-me que será o segundo caso.



E a proposito do recente post sobre o Josef K, os autores de "Duel" (ainda alguém se lembra), demonstraram aqui muito bom gosto:

Propaganda - Sorry For Laughing (Josef K)

23 setembro 2008

Leila – “Blood, Looms and Blooms” (2008 Warp)

Após oito anos sem editar, a misteriosa Leila Arab, está de regresso agora na Warp, depois dos excelentes “Like Weather” (1998 Rephlex) e “Courtesy of Choice” (2000 XL), que com o passar dos anos continuam a revelar qualidades escondidas. O facto de neste período ter perdido os seus pais (que indiscutivelmente deixa a sua marca no disco) servirá como uma possível explicação.
Mas volta com a mesma qualidade arrebatadora, disposta a mexer com os velhos pressupostos do que a música electrónica deveria supostamente ser. Pois presenteia-nos com aprazíveis e invulgares estruturas musicais, agradavelmente variadas, recheadas de sons electrónicos nauseabundos e desprovidos de quaisquer pontos de referência ou distantes de fórmulas estabelecidas.
Assim produz um disco singular e incomparável, com um mostruário sublime, como os momentos “electro” presentes em “Molie” e nesse conto de fadas subaquático que é “Lush Dolphins”. Na excêntrica melodia “pop” de “Little Acorns”, ou em “Mettle”, com as suas borbulhantes correntes divergentes e a estrondosa guitarra.
São várias as contribuições vocais, mas destacam-se a sublime prestação de Roya na sedutora “Daisies, Cats and Spacemen” e Zan Lyons em “Young Ones”. E a colaboração dos dois nomes mais “mainstream” presentes no disco, Terry Hall em “Time To Blow” e Martina Topley-Bird em “Deflect”, ou o alterado dueto em que ambos participam, “Why Should I’”.
“Blood, Looms and Blooms” é perturbador e intrigante, mas será uma das melhores experiências traumáticas do ano.
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19 setembro 2008

Tributo # 7 - Josef K

“Young and Stupid” (1990 LTM)
“Endless Soul” (1998 Marina)
“Entomology” (2006 Domino)


Esta banda que leu Franz Kafka, foi uma das mais interessantes e inspiradas do “post-punk”, e extremamente influente no movimento musical escocês, apesar de mais obscura e menos celebrada que os seus contemporâneos Orange Juice, Fire Engines e Aztec Camera.
Liderada por Paul Haig e Malcolm Ross, produziu alguma da música mais sublime do período.
O facto de terem abortado a edição do seu álbum de estreia (“Sorry For Laughing”), por acharem o som muito polido, e que não reflectia o seu espírito, cometeram um pequeno suicídio. Para a história ficou apenas um álbum – “The Only Fun In Town”, este com um som mais forte - editado e vários singles.
Assim talvez a melhor forma de os descobrir, é nas várias sumptuosas compilações, como “Young and Stupid” (1990 LTM), “Endless Soul” (1998 Marina) ou “Entomology” (2006 Domino) (esta última provavelmente a definitiva, e reforçada pela sua bela embalagem). E ficamos com a oportunidade de descobrir pequenos tesouros perdidos de um curta e brilhante carreira, desta inteligente, talentosa e tão à frente do seu tempo.
Criaram um “pop” alternativo precioso, baseados numa agressivamente dinâmica bateria, em contagiantes e abafadas chicoteadas do baixo, em brilhantes harmónicos cheios de reverberação das guitarras e em vocalizações espontâneas e ásperas (relembrando os primórdios dos Echo And The Bunnymen).
Destacam-se principalmente os seus quatro singles editados na Postcard – o electrizante “Radio Drill Time”, o mordaz “It’s Kind Funny”, o desmazelado” “Sorry For Laughing” e o discordante e lamentoso “Chance Meeting” – mas ainda temos mais momentos arrebatadores no épico “Revelation”, na subtileza de “The Specialist”, em “Sense of Guilt” (e as similaridades com Joy Division), em “The Angle”, no “funk” musculado de “Heart of Song”, ou no refinado “Heaven Sent”.
É verdade, e muita gente já o afirmou, mas é extremamente evidente que foi aqui que os Franz Ferdinand vieram tirar as suas ideias. Mas também são claros os vestígios que encontramos nos The Wedding Present e Interpol.
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15 setembro 2008

Pop # 3 - Orange Juice - “You Can’t Hide Your Love Forever” (1982 Polydor)

Depois de um conjunto de singles para a Postcard, os Orange Juice até já tinham gravado o seu primeiro álbum - “Ostrich Churchyard” - quando assinaram pela multinacional Polydor, mas regressaram ao estúdio com o produtor Adam Kidron, alterando o som mais “garage-rock” do primeiro pelo cintilante “indie-pop” deste. Aqui presentearam-nos com um conjunto de canções cativantes e excitantes, cheias de dilacerantemente belas melodias, que se elevam e exercem o seu poder. Apoiados no crepitar zumbido das inarmónicas guitarras, superiormente lideradas por Malcolm Ross (que tinha abandonado os Josef K), na vibrante batida da bateria de Zeke Manyika e essencialmente em Edwyn Collins com a sua rígida e fora de timbre voz, num estilo inimitável, idiossincrático e unicamente sincero, produziram um som altamente original, por polir, espontâneo, que pegou na intensidade do “punk” e o seu grande idealismo e faculdade de diversão, e fundiu-a com uma romântica sensibilidade lírica e muita alma. Como influências apontam-se várias, Velvet Underground, The Byrds, The Buzzcocks, Television – e também são referenciados como precedentes da similar sonoridade desenvolvida pelos The Smiths (e como obvia influência no som de Stuart Murdoch e dos seus Belle & Sebastian). E só um grande compositor como Edwyn Collins, com as suas letras obliteráveis, tal como Morrissey, visionário, deprimido e levemente cínico, mas inteligente, honesto e credível, poderia abordar as fraquezas do amor e a sua falta de direcção, e criar a pletora de clássicos com a excelência de “Falling and Laughing”, “Satellite City”, “Consolation Prize”, “Untitled Melody” ou a icónica “Felicity”.
Edwyn Collins gravaria posteriormente bons discos, mas foi aqui que revelou o seu génio. Um disco de instantânea e ditosa alegria.
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Orange Juice - Felicity

11 setembro 2008

Electronic # 5 - Squarepusher - “Hard Normal Daddy” (1997 Warp)

Menosprezado pelos puristas do movimento “drum & bass” por não adaptar a sua música aos rígidos padrões em temas mais “DJ-friendly”, Squarepusher, ou melhor Tom Jenkinson, tornou-se no rei (ou será no bobo da corte?) do subgénero designado como “drill & bass”. Se em “Feed Me Weird Things” já tinha dado o mote, é “Hard Normal Daddy”, que conjuntamente com o EP “Big Loada”, melhor representa o seu apogeu estético. Através da sua destreza no baixo (existe ao longo do disco uma fantasia no renascimento de Jaco Pastorius) e a alienadamente febril e complexa programação das caixas de ritmos, Squarepusher, conseguiu a proeza miraculosa de reinventar o difamado género “jazz de fusão”, mas na perspectiva de um delirante fanático de “jungle”.
Apesar de “Rustic Raver”, “Chin Hippy” ou “Vic Acid” serem virtualmente impossíveis de se poderem dançar, excluindo talvez só bailarinos profissionais, estas faixas abrem novos caminhos rítmicos e possuem a virtude de após várias audições se poder compreender a percuciente complexidade implicada.
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08 setembro 2008

Wire – “Object 47” (2008 Pink Flag)

Os veteranos Wire estão de regresso com o seu 47º registo de material original, e mostrando que continuam fiéis ao seu estilo muito próprio, nomearam o disco “Object 47”. E mais uma vez, presenciamos uma nova direcção para uma banda que fez a sua carreira dedicada a reinvenção (veja-se a mudança de “Pink Flag” para “Chairs Missing”). Pois se desde 1999, nesta sua terceira reunião, os seus discos, como “Send” (2003), eram mais densos e toldados de excessiva violência sonora, agora existe uma aproximação à sonoridade que os caracterizou nos anos 70. Um som mais aberto, polido e resplandecente, cheio de “riffs” contagiantes e graciosos trocadilhos, acompanhados pela atmosfera coral dos sintetizadores e a precisão da bateria (o abandono de Bruce Gilbert, provavelmente o mais aventureiro, poderá ser uma justificação).
Apesar de diferente desses três históricos primeiros discos, é uma interessante actualização desse som, funcionando como um somatório das experiências sonoras realizadas pela banda ao longo dos anos e o obvio aumento da sua capacidade musical, para além do persistente amor pelo estúdio de gravação como um instrumento de Colin Newman e Graham Lewis.
No entanto as letras continuam com os seus temas de oposição e as filosóficas lutas políticas e sociais. Pois mantém a agressividade “punk” de 1977, seja nas melódicas “One Of Us” ou “Perspex Icon” e as suas tendências “Madchester”, seja na recordação do “art-punk” nas ásperas “Patient Resurrection” ou “All Fours”, seja na influências do “trip-hop” em faixas como a cínica “Hard Currency”.
Mais um habilmente robusto trabalho combinado com a habitual inteligência e impertinente sensatez.
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