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01 abril 2010

Electronic # 15 - Kraftwerk - “Trans-Europe Express” (1977 Kling Klang/Capitol)

Os mecanizados Kraftwerk atingiram um pico criativo em 1977 aquando da edição deste disco. Depois do tecnologicamente pioneiro “Autobahn” e antes do sucesso comercial de “The Man Machine”, “Trans-Europe Express” será provavelmente o disco mais essencial e mais influente da sua carreira, e que ainda hoje impressiona pela inestimável inovação tecnológica proposta por Ralph Hutter e Florian Schneider.
Na edição original em vinil existia uma clara divisão entre os lados. No primeiro tínhamos uma reflexão sobre as disparidades entre a realidade e a imagística. Aqui estavam contidas as excêntricas melodias e os hipnóticos “beats” que estão presentes na brilhante beleza da ondulante “Europe Endless”, nas misteriosas e deslocadas vocalizações da glacial “The Hall Of Mirrors” e na sombriamente cómica “Showroom Dummies”.
O segundo lado era dedicado a uma possível recreação auricular duma viagem intercontinental de comboio através da Europa – começa com “Trans Europe Express”, que se desenvolve em direcção às colagens sonoras de “Metal On Metal” e na magnificente melodia de “Franz Schubert”, a mesma melodia de “Europe Endless”, mas transformada lentamente como uma pintura sonora em evolução.
A ausência de qualquer particularmente sólido conteúdo lírico, efectivamente serve para tornar a consistentemente memorável música mais aprazível e permite-a dominar todo o disco.
A sua combinação de ritmos mecanizados e minimalistas com melodias contagiantes, seria uma influência enorme e um estímulo para inúmeras bandas britânicas, como os The Human League ou os Cabaret Voltaire, entre outras, utilizarem mais os sintetizadores (convém relembrar que o disco saiu no mesmo verão de “Never Mind The Bollocks” dos Sex Pistols), e iriam ser um dos maiores fornecedores de “samples” para a comunidade afro-americana dos grandes centros urbanos dos Estados Unidos (não esquecer que Afrika Bambaataa “samplou” “Trans-Europe Express” para o seu seminal “Planet Rock”). E se poderíamos pensar que o disco soa datado presentemente, a música resiste ao passar dos tempos, e ainda permanece verdadeiramente atmosférica hoje.
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09 julho 2009

Tributo # 10 - John Cooper Clarke

Começou com um tema numa compilação, depois foi pela descoberta de alguns discos em segunda mão, e a apreciação por este “poeta punk” foi crescendo.
Desde novo que recitava poesia em pequenos clubes de Salford (a sua terra natal) e Manchester, onde divertia as audiências com a sua bem humorada e acelerada poesia.
Em 1977 juntamente com Ed Banger e Jilted John ingressou na editora Rabid, que para além de lhe permitir abrir as primeiras partes de grupos como Buzzcocks ou Warsaw/Joy Division., ainda lhe possibilitou de gravar o seu primeiro single, que inclui “Psycle Sluts Parts 1 & 2”, um ataque violento e grotesco, recheado de desvirtuadas imagens e obscenamente inteligentes trocadilhos que soava tão terrificante como os Sex Pistols.
Surge como um poeta punk/electrónico, no seu apertado fato e com um penteado e óculos à Bob Dylan fase “Blonde On Blonde”, traçando um mapa da sociedade britânica nos anos 70, recheado de diversos retratos inteligentes de personalidades mesquinhas e dos seus meios de vida, descritas no seu estilo colorido, politicamente e socialmente sensato, sarcástico e perversamente engraçado. Apoiado na sua inarmónica voz, disparava supostas rimas sobre distintos “beats”, tradicionalmente fornecidos pelos The Invisible Girls, que inclui gente como Martin Hannett, Bill Nelson ou Pete Shelley.
Rapidamente assinou com a CBS e editou o seu primeiro álbum – “Disguise In Love” (1978) - gozou algum sucesso com o “single “Gimmix!” e com “Snap Crackle & Bop” (1980), que é provavelmente o seu melhor disco e que inclui o clássico “Beasley Street”, uma ode à miséria industrial de Salford, repleta de imundice, decadência e desespero infiltrada em cada poro. Imagens de parasitas, homicídios, prostituição geram um incomparável sentimento de desesperação.
“Zip Style Method” (1982) foi o seu último disco – nos anos seguintes a sua dependência de drogas (heroína) fez com que passasse a maior parte do seu tempo em clínicas de reabilitação com a sua companheira no vício, Nico.
Recentemente regressou aos palcos e acompanhou os The Fall numa tournée britânica. E teve uma homenagem e tributo da parte de Alex Turner dos Arctic Monkeys. Mas o seu estilo de vida sufocou o seu talento.


John Cooper Clarke - Psycle Sluts (Part 1)

02 dezembro 2008

My Favorites # 11 - The Cure – “Pornography” (1982 Fiction)

Esta é inquestionavelmente a hora mais negra de Robert Smith. Todos os momentos de “Pornography” são assustadores, desesperantes e angustiantes, nunca os The Cure soaram tão frios e rancorosos, nem a música “rock” tinha sido tão opressiva e claustrofóbica. Cinco anos após o apogeu dos Sex Pistols e The Clash, este era o seu momento de violência “punk”, nada como os anteriores, mas na mesma furiosa e niilista. Foi um marco no movimento “pós-punk” onde apenas rivaliza com “Closer” dos Joy Division. Mas é um disco colossalmente criativo pois contém alguma da música mais sepulcral já criada. O facto de na altura Smith ser um regular utilizador de LSD, e que mal falava com os seus companheiro, é evidente na forma como a sua voz frágil é levantada por impiedosos gritos de agonia, surgindo desesperado e transtornado. Assim como os rígidos ritmos - a forma mais dissonante e extenuante de tocar guitarra, os tons lúgubres dos sintetizadores, o baixo sorumbático, a forma monótona e mecânica de tocar bateria de Lawrence Tolhurst criam um absoluto sentimento de inércia ao longo do disco – são factores que contribuem para a triste aura deste convidativo disco. Este começa com a frase: “It doesn’t matter if we all die”, retirada de “One Hundred Years”, cheia de desespero e desejo não correspondido. Seguem-se os hipnóticos hinos fúnebres “Siamese Twins” e “The Figurehead”, a tribal “The Hanging Garden” que é provavelmente uma das melhores canções dos The Cure, “A Strange Day” que é dominada pelo presente sentimento de raiva, mas com algo contíguo em beleza oculto no seu interior. E a faixa-título é uma claustrofóbica e completa descida aos abismos da total loucura, como deve ser o fecho de um disco destes.
Smith revisitou este disto com “Disintegration”, em 1989, que a par deste, continuam a ser as suas obra-primas. E estes são os The Cure com que me identifico, e não os de “Friday I’m In Love”.
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13 novembro 2008

DVD # 4 - Vários - “1991: The Year Punk Broke” (1992 Tara Films)

Quando o movimento “grunge” explodiu, a música categorizada como “underground” tornou-se no “mainstream”, com a atenção dada pela imprensa e apoiada por todo o marketing forjado que dai resultou.
E muito do que de negativo chegou com essa mini revolução social, faz com que muitas vezes se esqueça tudo o que de bom existia antes de “Nevemind”. Estamos na presença de um grande DVD - cujo nome é uma astuta resposta ao fenómeno, através da comparação com o que aconteceu em 1976 na Inglaterra com os Sex Pistols, Buzzcocks e The Clash, pois o movimento “punk” americano (Black Flag, The Germs, X) nunca extraiu os benefícios da fama - que nos relembra desses bons momentos, recheado de brilhantes performances da tournée pela Europa realizada em 1991 pelos Sonic Youth, e por isso é essencialmente focado nestes.
O nosso “guia” Thurston Moore, simultaneamente arrogante e encantador, é excelente nas suas hilariantes deambulações, especialmente no episódio com os jornalistas alemãs. E o ponto alto do DVD é mesmo o registo das actuações dos SY, sendo que “Dirty Boots” é verdadeiramente excepcional, recheada de premência, assim como o são “Schizophrenia” (soa melhor ao vivo), “Mote” ou “TeenAge Riot”. Outras boas performances incluídas são os Dinosaur Jr., que tocam de uma forma ciclónica “The Wagon”, os Nirvana com “Negative Creep” e “Smells Like Teen Spirit”, e as Babes In Toyland em “Dustcake Boy”. Para além destes temos a contribuição musical dos Gumball e Ramones, pequenos momentos passados nos bastidores que retratam a excitação vivida no período e ainda a presença esporádica de gente ilustre como os Mudhoney ou Bob Mould (a comer um cachorro quente).
Um excelente momento de nostalgia, mas também uma visão antropológica da música alternativa em 1991, com a presença de algumas das bandas mais influentes do movimento.

02 abril 2008

Rock # 3 - The Monks – “Black Monk Time” (1966 Polydor)

Reza a história que cinco militares americanos foram para a base de Gelnhausen na antiga Republica Federal Alemã em 1963. Após terem sido exonerados, aventuraram-se na emergente cena “beat” alemã.
Chamaram a atenção porque se vestiam como monges, sempre de negro, com o cabelo a condizer. E com o seu disco de estreia, editado na Alemanha pela Polydor, criaram um dos discos mais estranhos de sempre.
“Black Monk Time” foi o ano zero para a “selvajaria” rock. Era música “punk” repetitiva e brutal, com referências ao ódio e à guerra - letras completamente alienadas, de como odiavam as namoradas e o Vietname, quando a onda “peace and love” estava no seu auge, e as polémicas posições anti-guerra ainda estavam a dois anos de distância.
Adicionalmente ao tradicional conjunto de instrumentos das formações clássicas (guitarra, baixo, bateria), adicionaram o órgão e o banjo. E o banjo agita toda a ferocidade musical, acompanhando o pulsante órgão, a bateria tribal, as guitarras frenéticas, e as letras venenosas que gritavam.
Aqui não há momentos de descanso, desde o explosivo “Monk Time” (onde acidentalmente descobriram o “feedback”), passando pelo constantemente contraditório “Drunken Maria”, pelo irreal “Higgle-Dy Piggle-Dy”, ou pelo repetitivo “Oh How To Do Now”.
Apesar de terem sido creditados diversas vezes como percursores da rebeldia do “punk” (a sugestão de que os The Monks estavam dez anos à frente dos Sex Pistols e dos The Clash, sugere que a sua musica é similar ao “punk-rock” dos ano 70, o que não é o caso, apesar de terem a mesma intensidade, o som diverge imenso) e das batidas hipnóticas do “krautrock”, com a edição em CD, já na década de 90, deste disco, e com o apoio dado por bandas como The Fall, Henry Rollins Band e Jon Spencer Blues Explosion, chamaram a atenção de um público mais novo, para o seu perfurante e primitivo “rock’n’roll”.
Um disco bizarro, mas essencial para quem aprecia ou pretende descobrir mais sobre o “garage-rock”/”punk-rock” dos anos 60.

15 outubro 2007

Classic # 9 - Television – “Marquee Moon” (1977 Elektra)

Companheiros de Patti Smith, e posteriormente dos Ramones, Talking Heads e Blondie no lendário clube nova-iorquino CBGB, os Television foram um dos grupos mais importantes da pré-história do punk-rock e pós-punk. (e de toda a história do “rock” propriamente dito).
A formação original incluía o baixista Richard Hell, que patenteou o “look” punk, muito antes dos Sex Pistols, e o líder Tom Miller, assumiu como novo “apelido” o do poeta simbolista francês. Assim as credenciais eram perfeitas, o problema era que os Television não tocavam punk-rock. Seria mais um “psychedelic jazz punk”? O que quer que fosse, era diferente e original.
Seriam, na minha opinião, o primeiro grupo identificado com o movimento “punk” que realmente criaria algo novo e original, quer ao nível técnico quer ao nível estético.
O disco inicia com o hipnotizante “See No Evil”, passa pelo dramático “Elevation”, com as suas constantes paragens e arranques, e fecha com um longo lamento, que sugere futuras direcções na sinistra, mas profética “Torn Curtain”.
O som do grupo está perfeitamente registado no tema que dá título ao álbum, o épico “Marquee Moon”, com o “staccato” penetrante, sinistro, complexo e labiríntico, cria um super-sofisticado poema sonoro, apoiado na frágil voz de Verlaine. Musica para o corpo e mente.
O virtuosismo instrumental do grupo é evidente na forma perfeita como contrastam as guitarras gémeas – Verlaine, (temperamental e improvisador), Richard Lloyd, (controlado, preciso & denso) – encaixam completamente, enquanto as influências jazz e a sensibilidade melódica iluminam a forma sincopada de tocar do baterista Billy Ficca e do baixista Fred Smith.
Introspectivo, “Marquee Moon”, é um marco de criatividade, de coerência, e de consistência.

15 junho 2007

Classic # 5 - P.I.L. - “Metal Box” (1979 Virgin)

Com o fenómeno punk em declínio, John Lydon estava desencantado e saturado, pois na senda do sucesso dos Sex Pistols, aparecerem muitas pretensas bandas punk, que pouco tinham em comum com o ideal punk. E claro estava no início a longa batalha legal entre Lydon e Malcolm McLaren.
Lydon decidiu que estava na altura de fazer algo diferente. Os Public Image Ltd eram diferentes, muito diferentes.
Após o relativo sucesso do primeiro disco “First Issue”, Lydon continuou a levar a música para outras direcções, e com “Metal Box”, o segundo disco, conseguiu-o, brilhantemente.
Muitas das canções em “Metal Box” são criticas sociais e políticas, algumas referem os seus dias nos Sex Pistols, e mais especificamente como eram explorados e a forma com era esperado que eles “actuassem” não só no palco, mas também como uma espécie de circo ambulante. Lydon não queria nada disso nos P.I.L. E logo no primeiro tema do disco (“Albatross”) encontramos essas referências.
O que distingue este disco é a sua unicidade, e a combinação de 3 factores: a voz distinta de Lydon, as guitarras metálicas de Keith Levene, e o baixo de Jah Wobble, que é a força dominadora deste álbum.
Essa unicidade é evidente e poderá ser entendida ao escutar-se seguidamente a triologia "Memories”, “Swan Lake” e “Poptones”.
Ao ritmo baixo/bateria de “Careering” existe um acompanhamento de um teclado que parece emitir sons retirado de um filme de ficção científica série b. Essa mesma sensação parece estar evidente na vocalização de Lydon em “No Birds”.
Seguem-se duas canções favoritas: “The Suit” conduzida pelo baixo, e um ritmo de bateria simples, mas é a forma monótona de cantar de Lydon que torna o tema sombrio e ameaçador; e “Bad Baby” , também essencialmente comandado pelo baixo, e o com o regresso das teclas alienistas, é um perfeito exemplo da já referida unicidade, onde tudo está perfeitamente em harmonia e sincronia, até a voz de Lydon.
“Socialist” é um instrumental “up-tempo”, que contrasta com o desarticulado “Chant”, onde Lydon usa as repetitivas palavras: “love, war, kill, hate”. E esta canção efectua outra radical transposição para o ultimo tema “Rádio 4”. E como é difícil descrever “Radio 4”, só mesmo ouvindo este tipo de exercício de musica clássica ao estilo P.I.L.. Uma excelente maneira de acabar o disco.
Classificar a música dos P.I.L. e em particular este disco, é impossível, pois não se encaixa em nenhum género, apesar de já ter sido referenciado como uma mistura de “dub-reggae” e “krautrock”.
E para suportar a minha opinião de que esta música não é classificável, quem me explica como é que no meio dos discos de vinil ou nas caixas de CD (conforme seja o caso da edição original ou da reedição em CD), se consegue guardar uma caixa de metal!?!