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11 maio 2010

My Favorites # 20 - The Angels of Light – “Everything Is Good Here/Please Come Home” (2003 Young God)

Ao terceiro disco do seu projecto The Angels of Light, e mais uma vez após as experiências com World of Skin/ Skin e The Body Lovers, Michael Gira continua na tentativa de exorcização da tensão criada pelo seu primeiro grupo - Swans - agora que se reinventou como um “shaman” que procura no misticismo e na religião a sua fonte de inspiração.
Apesar de muitas vezes ser inferiormente comparado com os dois registos anteriores do projecto, essencialmente por apresentar um mais variado conjunto de músicas e ser muito menos sufocante do que os referidos discos, aqui as canções conseguem atingir um efeito misterioso e fascinante. As palavras, como sempre, parte fundamental da essência dos The Angels of Light, são acentuadas pelo pulsar da contagiante música e da sua complexa instrumentação.
Está recheado de pequenas histórias tristes, que assentam no contraste que resulta da combinação entre o sombrio e a luz, e ao serem relatadas na voz de Gira, obtêm o efeito de controlo e comando de um capaz líder de um obscuro culto (aqui adjuvado por Devendra Banhart, Siobhan Duffy e o coro infantil de Stratford-Upon Avon). O resultado é deslumbrante pela forma como sugere dor, tensão, escuridão, e até mesmo redenção simultaneamente.
Destacam-se a lúdica, quase infantil melodia da mística “Palisades”, a primitiva, dissonante e obsessiva “All Souls’ Rising”, o sónico esplendor de “Kosinski” com os seus arranjos hipnóticos, a complexa e deprimente “The Family God”, a delicada “What You Were”, a contagiantemente alegre “Sunset Park” com a sua rica textura de vozes a interagir, e a melodiosamente triste “What Will Come” com a sua atmosférica instrumentação.
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16 junho 2008

Extremos # 3 - Swans - “Filth” (1983 Labour)

Inicialmente os Swans criaram uma das sonoridades mais brutais que ainda podem ser consideradas como música.
Oriundos de Nova Iorque, e liderados por Michael Gira, foram um dos expoentes do movimento “no wave”, ao lado de grupos como Sonic Youth ou visionários como Glenn Branca.
A sua mistura de “noise rock” e música industrial (claras influências dos Throbbing Gristle), resultou numa música mental, física, baseada na exaustiva repetição de “riffs” e locuções vocais, e no abrandamento total do ritmo (virtualmente rastejando), de forma a criar um efeito hipnótico.
O título do seu primeiro álbum “Filth” já sugere o que devemos esperar, e poucos discos poderão igualar a brutalidade oferecida, que nos deixa paralisados.
Dois bateristas (Roli Mosimann e Jonathan Kane), com um martelar ritual e abrasivo, criavam uma sensação de agressão, de violência directa, de impiedosa brutalidade. O rosnar de Michael Gira, constantemente abalado, é meio berrado, meio gemido, e funciona como uma arma atroz e formosamente injuriosa, resultado de uma certa ambiguidade das mórbidas letras. Este disco marca também a primeira participação do guitarrista Norman Westberg, cujas guitarras triturantes, seriam um das imagens de marca da banda.
Os discos seguintes “Cop”, “Greed”, Holy Money”, seguem o mesmo padrão sonoro. E seria já com a presença de Jarboe na banda, que os primeiros sinais de mudança acontecem, em 1987 com “Children of God”, e que iriam se concretizar na década seguinte, onde a sua sonoridade se transformou radicalmente.

26 fevereiro 2008

Xiu Xiu - “Women as Lovers” (2008 Kill Rock Stars)

Um regresso excelente do prolífero grupo de Jamie Stewart, após o conceptual “Air Force”. Parece que a expansão dos elementos que o acompanham resultou em seu favor, pois se em discos anteriores o som padecia um pouco por confiarem em demasia nos sequenciadores MIDI, em “Women as Lovers” produzem um som mais rico e mais variado (apesar de continuar agreste), pois as canções diferem bastante umas das outras. Continuam a revelar uma surpreendente criatividade, e a encontrar maneiras de escapar a qualquer catalogação. Mas também nos presenteiam com alguns temas dos mais acessíveis que já criaram, como a claustrofóbica “I Do What I Want, When I Want”, uma canção francamente “pop” ou “In Lust You Can Hear The Axe Fall”.
Como de costume as letras são directas e muitas vezes chocantes, continuando com a abordagem de temas insólitos e dispares como o terrorismo, a transsexualidade, a violência doméstica ou o recrutamento de crianças para a guerra.
A colaboração de Michael Gira, numa surpreendentemente e eficaz versão de “Under Pressure”, originalmente gravada por David Bowie e os Queen, é uma escolha apropriada e um dos destaques do disco. Curiosamente a partir desta faixa, parece que o disco toma outro rumo, pois os temas são mais obscuros e experimentais, como que revisitando terrenos musicais já explorados em discos anteriores.
“Women as Lovers” é uma consolidação das diferentes matérias musicais e líricas que tem obcecado Stewart.
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