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10 março 2010

Do fundo da prateleira # 20 - Bowery Electric - “Beat” (1996 Kranky)

Os nova-iorquinos Bowery Electric eram uma banda de “pós-rock” vulgar, que aproveitaram o abandono do seu baterista para se virarem para os “beats” programados, pois o sempre tiveram um confesso interesse por produções “hip-hop”. Esse facto iria mudar-lhe o rumo e “Beat” tornou-se um marco importante do género.
Tentarem seguir a formula do seu disco homónimo de estreia, e aqui, ao longo de dez canções criaram uma sonhadora e delicada atmosfera, através de uma perfeita mistura das altaneiras, ligeiramente distorcidas, arqueadas e ressonantes guitarras, com ambientais texturas de sintetizadores, “drum loops” e os particularmente subtis “beats”.
O disco foi verdadeiramente bem produzido, e apesar de não ser nada de verdadeiramente novo, assim o parece, e ouvi-lo hoje, 14 anos depois da sua edição, não podemos de deixar de encontrar ligações no trabalho de Ulrich Schnauss ou dos M83, entre outros.
A distinta e solícita combinação de “shoegaze”/”dreampop” e electrónica ambiental, resultou numa atraentemente estática sonoridade híbrida. Mais espaçada dos que uns My Bloody Valentine ou Spacemen 3, mais quente do que uns Seefeel, mas possuidora de um certo mecanismo minimalista que evita a mesma de se deslocar para um rumo de trivialidade. A bela e luminosa voz de Martha Schwendener, perfeitamente ambígua e sedutoramente entorpecida é o complemento ideal para a música.
O disco é tranquilizador e ditoso nas rítmicas revelações de “Beat”, “Empty Words”, “Without Stopping” ou na soberba “Fear Of Flying”.
Completamente e inacreditavelmente excelente, é um disco que permanece connosco por muito tempo.
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14 dezembro 2009

Atlas Sound – “Logos” (2009 Kranky)

Bradford Cox ofereceu-nos no ano transacto, dois excelentes discos, que estiveram entre os melhores desse mesmo ano - “Microcastle” dos Deerhunter e o primeiro disco do seu projecto a solo, Atlas Sound - onde regressa agora.
Aqui, em oposição ao Deerhunter, Cox permite a si próprio mais liberdade na composição, e o resultado é mais um disco extremamente ecléctico, cuidadosamente composto, e com uma atenuante elegância.
Dentro do seu admiravelmente invulgar e intenso mundo interno, ”Logos” consegue combinar melodias simples com bastante experimentalismo, o que permite ao ouvinte regressar sempre preparado para novas sensações auditivas.
Gravado de forma súbita em tournée, conta com bastantes convidados ilustres, como Noah Lennox/Panda Bear dos Animal Collective, no desenvolto e sublime “psych-pop” de “Walkabout”, Sasha Vine dos Sian Alice Group, na frágil tolerância de “Attic Lights” ou Laetitia Sadier dos Stereolab, que empresta a sua volátil voz às acidentadas matrizes sonoras do épico “Quick Canal”. Estes convidados efectivamente ajudaram a dar uma nova ressonância a este caleidoscópio sonoro, mas apesar da sua presença, “Logos” é ainda predominantemente uma questão verdadeiramente insular para Cox, mas que aqui soa mais vivo e mais solto do que no primeiro disco. Isso é visível nas harmónicas tonalidades que emergem de “An Orchid”, no evasivo “pop” acústico de “Criminals”, na interminavelmente memorável e vibrante pseudo-balada “Sheila” ou nos cintilantes sintetizadores e ritmos activos de “Kid Klimax”.
Dolorosamente belo.
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03 abril 2009

Do fundo da prateleira # 15 - Jessamine – “Don't Stay Too Long” (1998 Kranky)

Na altura da sua edição, muitos esperavam que isto nunca acontecesse, a Kranky editar um disco “pop”. Mas no seu terceiro disco de originais, os Jessamine procuraram uma sonoridade mais baseada no formato “canção”, com a baixista Dawn Smithson a assumir um novo papel principal, escrevendo todas as letras e cantando todas as melodias vocais. E o resultado é um perfeito híbrido entre as anteriores excursões instrumentais pelo rock psicadélico e a forma concisa dos seus anteriores singles. E se o anterior disco do grupo (“Another Fictionalized History”) tinha sido uma compilação desses mesmos singles, com o complemento de algumas experimentações cósmicas inéditas, parece que os Jessamine procuraram inspiração no seu próprio catalogo, pois este parece ser uma perfeita combinação das melhores partes dos álbuns prévios.
E se os seus fãs mais “avant-garde” possam ter ficado mais desiludidos com esta viragem musical, os Jessamine seguem uma lógica progressão musical, apesar de a mesma poder conter desvios. A sua marca sonora continua presente – o rodopiante piano eléctrico, as guitarras “drone” cheias de efeitos, os ritmados acordes do baixo e a voz fuliginosa de Smithson por cima – e conserva o ameaçante e amorfo pessimismo do seu homónimo disco de estreia. A única diferença, realmente, é na forma de como as ideias estão agrupadas – em vez das longas e espontâneas “jams”, as canções são concisas comparadas com as dos discos anteriores. Os Jessamine criaram aqui um disco vencedor, cavando uma atmosfera que eleva a tristeza e a monotonia para níveis perigosamente sedutores, e continuaram a transformar-se em uma das mais intrigantes bandas do movimento “pós-rock”.
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25 novembro 2008

Deerhunter – “Microcastle” (2008 Kranky)

Depois da edição do primeiro disco do seu muito pessoal projecto paralelo - Atlas Sound – era com muita ansiedade que aguardava pelo novo disco da banda de Bradford Cox. E os Deerhunter não me desiludiram, pois apresentam-nos um disco colossal.
“Microcastle” é um disco original e imaginativo, com um charme e uma competência fora do comum, e está recheado de um “pop” florescente, com calorosos e sibilantes solos de guitarra e uma percussão enérgica. Aqui as rudes arrestas sonoras foram limpas para um formato mais digestível e orientado para a canção, comparado com a dura escuridão ambiental de “Cryptograms”, e se a redução do “noise” pode diminuir o impacto, é o lado mais brando dos Deerhunter que torna a sua música tão compelível. Existe uma elegância nesta simplicidade, que pode comprovar que as guitarras distorcidas de “Cryptograms” não serviam para esconder algum tipo de incompetência. Sobressaem as directas e enérgicas “Nothing Ever Happened” e “Saved By Old Times”, a despreocupada melodia de “Never Stop” ou a simetria da flutuante “Agorophobia”, que não estavam associadas ao som dos Deerhunter.
Os temas base (morte, perda e desespero) continuam presentes, mas parecem mais preocupados em arranjar formas de escapar aos mesmos, mesmo que seja de uma forma efémera e assim uma impressionantemente postura esperançosa está presente em temas como “Little Kids” e “Green Jacket”, apesar das vocalizações continuarem submissas e deprimidas.
A natureza complexa e individualista dos vários membros é uma mais-valia, que se pode comprovar pela brilhante contribuição do guitarrista Lockett Pundt, que também partilha por esta via as suas obsessões.
“Microcastle” é uma luxuriante paisagem sonora, muito mais próxima da perspectiva de uns My Bloody Valentine do que de outros grupos de rock experimental com quem os Deerhunter costumam ser associados e mais uma forma de Bradford Cox confirmar a sua influência como futuro ícone musical.
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06 março 2008

Atlas Sound - “Let the Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel” (2008 Kranky)

Um projecto paralelo do prolífero e provocativo Bradford Cox dos Deerhunter, que tenta afasta-se do “noise-rock” claustrofóbico que caracteriza a sua banda. Recolhido em sua casa, criou no seu portátil, uma junção entre electrónica ambiental e melodias”pop”, que resultam numa complexa combinação de sons (na sua maioria inclassificáveis e intrigantes), que tentam retratar os pequenos dramas emocionais da adolescência que carrega.
O disco começa excelentemente com “A Ghost Story” com o “sampler” da criança a narrar uma história assustadora, e se o álbum parece querer continuar nesse território sombrio em faixas como “Cold As Ice” ou “Small Horror”, dando a impressão de se tratar de um disco capaz de assustar e paralisar o ouvinte, não é disso que se trata.
Neste diversificado disco temos composições abstractas como a agitada “On Guard” ou “Winter Vacation” (com a camuflada batida “techno”), e “indie-rock” (mas reinventado) em “Quarantined” ou no exuberante “River Card” (é incrível a percussão). No hipnótico “Recent Bedroom” relembram os My Bloody Valentine, com as suas guitarras “noise”.
O disco inclui ainda “Scraping Past” que contém um inteligente encadeamento da maravilhosamente controlada voz de Cox, com uma saltitante linha de baixo, e que resulta numa bela experiência transversal.
Este disco, que provavelmente suplementa tudo o que Cox criou anteriormente, é sombrio, melancólico e calmante, no entanto completamente reconfortante

Atlas Sound - River Card

10 maio 2007

Stars of the Lid - “And Their Refinement of the Decline” (2007 Kranky)

Após 5 anos de ausência, o regresso deste eclético e atípico duo.
Editado na sempre credível Kranky, este duplo CD (ou triplo LP), é possivelmente ainda mais elaborado musicalmente do que o disco anterior. Com a integração de novas texturas ambientais e a expansão sonora dos temas, o resultado é uma transformação estrutural do som “ambient-drone” que caracterizava o disco anterior, e que torna este trabalho ainda mais calmo e subtil.
O disco abre com “Dungtitled (In A Major)” onde a secção de sopros, se dissolve na panorâmica secção de cordas, imagem de marca do duo. Violinos, violoncelos, harpas, trompetes, substituem cada vez mais a guitarra. Os instrumentos acústicos que anteriormente serviam como apoio, aparecem aqui como o elemento principal.
As alternâncias de “Articulate Silences”(Pt.1 and 2) e os dez minutos de “The Daughters Of Quiet Minds” são inovadores e refrescantes, mas ao mesmo tempo parecem tão familiares, que a sua audição dá-nos conforto.Este duo conseguiu criar outro conjunto sólido de canções, diferentes da maioria dos restantes artistas que exploram um som similar.