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14 abril 2009

Classic # 19 - The Band – “Music From Big Pink” (1968 Capitol)

Tal como “John Wesley Harding” de Bob Dylan, o primeiro disco dos The Band afigurava-se completamente singular com a maioria da música “rock” contemporânea, não só na sua apurada sobriedade, mas também pelo invulgar aspecto espectral das canções, que impecavelmente abordavam a difícil e fatalista existência vivida por aqueles que se afastaram do sonho americano. A música, no entanto, era uma infinitamente flexível mistura de influências forjadas após anos de actuações em bares e outros antros.
Indo contra a tendência “psychedelic rock” que rebentava no final dos anos 60, criaram uma música misteriosa, terrena, sincera, emotiva, arrebatadora e eclética que captura tantas emoções e funde com sucesso numerosas tradições musicais americanas. O termo “Americana”, fornece a sugestão, mas não abrange tudo, pois existem elementos de “r&b”, “blues”, “country”, “hillbilly” e “gospel”, tornando-o inclassificável no panteão do “rock” onde ele se insere.
Musicalmente são soberbos, numa ostentação de talento dos 5 membros, e se a música soa simples, é pela minimalista aproximação que realça a estranha aura do disco, pois as canções e a performance são floreadas e complexas (e que conforme reza a história influenciou gente como os The Beatles ou Eric Clapton).
Cada canção é uma sinfonia em si mesma, combinando o irregular e complexo entrelaçar das três subtis e apaixonadas vozes com instrumentos eléctricos e acústicos, e invocando tempos e espaços espirituais que existem apenas num imaginário distante. Desde a pungente “Tears Of Rage” com a sufocante guitarra, o volátil e inimitável órgão de Garth Hudson, a vaticinante percussão de Levon Helm, e a dolorosamente bela e angustiante voz de Richard Manuel, passando pela forma contundentemente económica de tocar guitarra de Robbie Robertson no requintado solo no final de “Kingdom Come”, pelas vacilantes harmonias vocais de “We Can Talk”, pelo épico poder emocional de “The Weight”, pela coerentemente relatada “Long Black Veil”, que derrota qualquer outra versão, ou pelo incendiário “intro” da oscilante “Chest Fever”.
Este disco fez com que outros músicos tornassem a olhar para as tradições musicais americanas. E provavelmente sem ele não teriamos tido um Bruce Springsteen, um Tom Petty ou uns R.E.M..
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09 julho 2007

Do fundo da prateleira # 4 - Damien Jurado – “Where Shall You Take Me?” (2003 Secretly Canadian)

Com este introspectivo disco, Jurado volta a comprovar que é um dos mais talentosos, deprimidos e sombrios compositores da actualidade.
O som de rudimentares instrumentos acústicos e as influências tradicionais criam uma notória tensão.
Comparações com “Nebraska” de Bruce Springsteen são óbvias, mas não fazem totalmente justiça à original capacidade deste nativo de Seattle.
Pequenas e inquietantes histórias, com ricos detalhes de lugares e pessoas, que tornam a audição mais arrepiante, como um pesadelo que nunca passa, mas estranhamente, neste disco dolorosamente honesto, esta indistinta voz oferece um certo tipo de conforto.
Como exemplificado no tema de abertura, “Amateur Night”, com a voz a ecoar lamuriosamente sobre uma relaxada guitarra acústica, e uma letra sombriamente ambígua. A canção é perfeita e encanta, até que surge uma distorção em fundo, que a torna mais perturbadora, como se aproximasse algo horrível e inevitável.
Mais espantosa é a sincera história de um amor proibido em “Abilene”.
A simplicidade e a delicadeza escondem uma grande tristeza, como em “I Can´t Get Over You”, ou nesse afável hino à vida nas pequenas cidades, que é “Matinne”.
E o disco encerra como começou, só que agora em “Bad Dreams”, sem disfarce, aberto e inconstante.
Se isto é música “folk”, andará mais perto dos mundos de Sparklehorse, Smog ou Cat Power, do que o “british-folk” de influência renascentista.