31 julho 2008

Primal Scream - They Will Shine Like Stars

Uma das mais interessantes bandas das duas últimas décadas vai estar em Paredes de Coura.
O estágio está a ser realizdo com a audição da sua discografia.
Aqui já se está a rever o início da carreira dos Primal Scream. Mas junto mais uma lembrança, que poderá ser alvo de uma comparação surreal.

Do primeiro single de 1985:

Primal Scream - It Happens
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Do último album de 2008:

Primal Scream - Beautiful Summer

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29 julho 2008

Sub Pop – 3 discos alternativos

Na história da Sub Pop, alguns nomes não tiveram o destaque que mereciam. Aqui ficam três propostas do periodo áureo.

Tad - “God’s Balls” (1989 Sub Pop)
Rock poderosíssimo, com particular destaque para a secção rítmica. A vocalização de Tad Doyle passa pelos mais electrizantes berros alguma vez dados na história do rock, acompanhada de “riffs” que funcionavam como um tipo de serra eléctrica melodiosa, para criarem uma pesada massa sonora que faz lembrar um camião TIR descontrolado a 200 km/h numa auto-estrada. E o que dizer dos títulos das canções: “Satan’s Chainsaw”, “Cyanide Bath”, “Nipple Belt”, “Boiler Room”. Recomenda-se ainda “Salt Lick”, produzido por Steve Albini, e “8-Way Santa”.

Codeine – “Frigid Stars” (1991 Sub Pop)
A música dos Codeine foi designada como “slowcore”, juntamente com outros negros epítetos, mas uma descrição mais adequada para este trio de Nova Iorque seria um “blues” existencialista, mas tocado por brancos. No seu disco de estreia produzem ritmos rastejantes, arranjos esqueléticos e uma quietude vocal que iriam caracterizar todos os discos da banda. Mas Steven Immerwahr (baixo), John Engle (guitarra) e Chris Brokaw (bateria) não estavam a tentar fazer-nos sentir a sua dor, apesar de existir alguma para ser sentida. Tal como a singular linguagem dos “blues” de progressões de acordes e improvisações vocais, a musica dos Codeine foi destinada para fazer sentido, segundo os próprios, “na banalidade do dia a dia”. Mas certamente as suas crises de existencialismo eram mais intelectualizadas que a maioria.

Vaselines – “The Way of The Vaselines” (1992 Sub Pop)
Com um conjunto de temas de uma beleza melódica simplesmente arrebatadora como “Slushy”, “No Hope”, “Molly’s Lips” (que os Nirvana popularizaram), “Monsterpussy” ou “Son of A Gun”, o grupo de Eugene Kelly e Frances McKee foi o mais adolescente e apaixonado que saíu de Seattle. E fizeram do humor doentio uma inspiração descontraída. Eram canções alegres e divertidas, sendo simultaneamente uma ode ao amor inocente e um estímulo ao bater do pé. Um grupo perdido no tempo.

Tad - Flame Tavern

Vaselines - Son of A Gun

28 julho 2008

Editoras # 2 - Sub Pop

Bruce Pavitt foi para Seattle estudar história da arte, mas o seu maior estudo seria o “rock”. Primeiro lança a revista que documentava a cena independente americana, Subterranean Pop” (mais tarde Sub Pop). Depois continua a escrever para mais um par de revistas, a fazer programas de rádio e a editar cassetes com material inédito de grupos desconhecidos. Até que conheceu Jonathan Poneman, que também fazia rádio e que era a pessoa responsável pelo agenciamento dos grupos que tocavam na sala de espectáculos mais aventureira de Seattle, a Fabulous Rainbow Tavern. Conversas sobre música criaram uma admiração mútua, e o passo seguinte para a formação de uma editora estava dado.
A primeira edição da Sub Pop, foi em Julho de 1986, a compilação “Sub Pop 100”, com a participação dos Sonic Youth, Big Black ou Scratch Acid, entre outros. Os representantes de Seattle eram The U-Men e Steve Fisk (que se tornaria um dos mais famosos produtores da cidade). E na capa do disco aparecia a seguinte inscrição: “The new thing, the big thing, the good thing: a multinational conglomerate based in the Pacific Northwest”.
Uma das principais características da editora foi a sua preocupação em ter um identidade e que as pessoas procurassem os discos por estes terem o seu carimbo, simultaneamente encorajando a individualidade de cada grupo. Os seus modelos de inspiração eram a 4AD, a SST, a Stax, e até a Motown. Nem será estranho o facto de passaram a trabalhar quase permanentemente com o produtor Jack Endino (que iria produzir os álbuns de estreia de Nirvana e Mudhoney).
O “marketing” foi sempre um dos pontos fortes utilizados por Pavitt e Poneman. Criaram um clube de singles, disponível apenas por subscrição, através de edições mensais (limitadas e em vinil colorido), e sempre com temas inéditos. Aqui incluíram grupos não só de todos os estados americanos como também europeus. Por outro lado, nas suas edições “normais”, o destaque era dado a grupos locais, aproveitando a política regionalista para melhorar a promoção. As capas dos discos eram semelhantes, assim como os anúncios, uniformizando uma ideia visual e sonora para melhor promover os novos grupos.
Se os Soundgarden foram o primeiro grande sucesso da Sub Pop, editando dois EP’s, “Screaming Life” e “Fopp”, antes de assinarem pela SST e posteriormente pela A&M, já os Mudhoney foram os que mais resistiram à chamada das multinacionais, e só com “Piece of Cake” de 1992 é que assinaram pela WEA (isto, para além de serem o único grupo de Seattle que manteve a sua formação inalterável por muitos anos).
Com o sucesso dos Nirvana, a história mudou, e hoje, a mesma já deve ser conhecida por todos, mas para reforçar a importância histórica da editora, que deixou de ser uma referência local, para ser uma global, refira-se que também por lá passaram grupos com a L7 (de Los Angeles), os Afghan Whigs (de Cincinatti), os Supersuckers, os Come (de Boston), os Pond (do Alaska), os Sunny Day Real Estate, e mais recentemente The Shins, Iron and Wine, ou os criadores de um dos meus discos favoritos do ano, The Ruby Suns.
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Modest Mouse - Never Ending Math Equation

24 julho 2008

Rock # 4 - The Gories – “I Know You Fine, But How You Doin’” (1990 New Rose/Crypt)

Esta banda liderada por Mick Collins, o padrinho do “garage-rock” de Detroit, é considerada, actualmente, como uma das mais influentes, por todos os grupo que revitalizaram essa sonoridade, já neste século. Para além disso, foram provavelmente uma das melhores.
Neste disco, curiosamente produzido por Alex Chilton, é captura toda a essência e arrogância do génio de Collins. Produziam um som brutal e rude, que destrói os conceitos básicos de “rock”, “soul”, “r&b”, “60’s punk”, apoiados na voz poderosa de Collins, suficiente transtornada para ser simultaneamente obscena e emotiva, e pela minimalista mistura explosiva de “garage” e “blues”. Este disco inclui duas fabulosas canções: “Thunderbird ESQ” e “Nitroglycerine” - esta última relembrando os The Sonics, lírica e sonoramente. Sem eles, os White Stripes nunca existiriam. Conflitos internos iriam acabar com a banda, mas Collins prosseguiu a sua cruzada com os The Dirtbombs, que editaram o seu último disco já este ano.
“This is Rock and Roll”.

22 julho 2008

Tributo # 6 - Hugo Largo

“Drum” (1988 Opal)
“Mettle” (1989 Opal)

Uma das mais ignoradas e enigmáticas bandas dos anos 80, apareceram numa altura em que o "guitar-noise" imperava nos Estados Unidos, e em Inglaterra acontecia a revolução da “acid-house”.
A banda era um quarteto composto por dois baixos (impecavelmente tocados por Tim Sommer e Adam Peacock), o violino de Hahn Rowe (que actualmente edita sobre o nome Somatic), e a voz incomparável e evocativa de Mimi Goese. Tiveram uma carreira meteórica com apenas dois álbuns editados na editora Opal de Brian Eno (um dos possíveis pontos de referência sonora a par dos Cocteau Twins). “Drum” e “Mettle”, são obras de arte que desafiam géneros ou categorizações, pois os Hugo Largo criaram uma música encantadora, de ambientes acústicos, com arranjos simples e orquestrações delicadas. Com uma ausência de ritmo, os violinos circulares abriam espaços para a voz poderosa, que investia através das simples melodias dos baixos em câmara lenta, provocando no ouvinte uma espécie de suspensão dos sentidos.
Ao rodearem o silêncio, esculpindo-o com rigor e compondo verdadeiras tapeçarias sonoras, era como se criassem radicais quadros impressionistas que variam desde uma delicada fragilidade até um glacial clímax, muitas vezes no espaço de uma única frase, nas letras celestiais recitadas pela etérea voz de Goese.
A participação de Michael Stipe dos R.E.M. em “Drum”, não lhe proporcionou nenhuma atenção especial, mas ainda hoje canções como “4 Brothers”, “Ohio”, “Turtle Song”, “Martha” mantém uma frescura e intemporalidade notável. E até parece que tinham um belo sentido de humor, já que “Drum” tem um título irónico, pois não existe nenhuma bateria presente no disco, exceptuando a penúltima e melhor faixa – “Second Skin”.
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16 julho 2008

DVD # 3 - White Stripes - “Under Blackpool Lights” (2004 XL)

Esqueçam todas as opiniões e ideias que se possam fazer sobre a importância dos White Stripes, e do facto de terem ou não revolucionado o “garage-rock-blues”. Aqui somente nos vamos centrar neste concerto.
Filmado nos formatos Super 8 e 16mm, com as suas imperfeitas imagens cheias de grãos, e para assim reforçar o objectivo de proporcionar uma magnifica perspectiva intemporal de se capturar a emoção e sentimento (para além das qualidades anti-tecnológicas, evidentes na edição do próprio concerto) de ver uma das melhores bandas contemporâneas ao vivo.
É um documento em bruto, despojado e extremamente genuíno dos White Stripes ao vivo, e que demonstra que não existe mais nada a afirmar, somente a sua idiossincrasia e esplendor.
Pois nesta fria noite de Janeiro, na soturna cidade costeira do noroeste de Inglaterra, realizaram uma fantástica e electrizante performance minimalista, demonstrando que é quando tocam ao vivo onde eles desabrocham mais energia e paixão, e todo o fundamento das raízes da sua música.
A forma de Jack White tocar guitarra é hipnotizadora, como se estive possuído, chegando a relembrar Jimi Hendrix. E Meg White toca bateria descalça, com o seu ar infantil, mas gerando um louco e trovejante barulho, numa forma simplesmente única de tocar a mesma.
Quando Jack White grita o tema de Leadbelly, “Take a Whiff On Me, Death Letter”, temos a melhor descrição desta actuação arrebatadoramente entre o absoluto caos e o sublime. E conseguem atingir o brilhantismo nas terríveis interpretações de “Black Math”, “Truth Doesn't Make A Noise”, “Hotel Yorba” e “Seven Nation Army”.
O facto de incluir muitas canções dos primeiros discos, e não se focaram excessivamente em “Elephant” (na altura o seu ultimo disco), torna-se ainda mais atractivo.

14 julho 2008

Minilogue – “Animals” (2008 Cocoon)

Um surpresa que chega de Malmo na Suécia. Marcus Henriksson e Sebastian Mullaert apresentam-nos um duplo CD (belíssimo “digipack”) – 26 faixas, 154 minutos de música. E apesar de que o título ou a duração do disco, me fizessem pensar nos Pink Floyd ou no rock progressivo dos anos 70, felizmente estamos muito longe.
O disco divide-se em duas partes deliberadamente diferentes, a primeira repleta de vacilantes “bleeps” e “beats”, é uma viagem pelos caminhos do “minimal techno”, reminiscente da segunda geração de Detroit, mas apimentada com temas que desobedecem a esse padrão musical, de uma forma ameaçadoramente inventiva e que fazem com que o disco circule por outros caminhos. Assim temos ecos de “jazz” e “funky-house” em “Loud”, vibrantes ritmos “dub techno” em “Hitchhiker’s Choice” e “electro” em “Giant, Hairy Spiders”. E que chegam a atingir a perfeição no brilhante “33.000 Honeybees” e os seus vigorosos padrões rítmicos.
O segundo disco deveria funcionar como uma suposta peça de música ambiental contínua, que deambula livremente, pois cada estrutura sonora cuidadosamente construída encaixa na próxima, mas que poderiam ter sido realizadas cada por uma diferente banda. Mas aqui o titulo “ambiente” é enganador pois quem esperar “ambient pop” ao estilo de Brian Eno ficará desapontado, pois para todas as longas espirais de sintetizadores ou delicados dedilhados de guitarra acústica, existem complexas melodias que se misturam intimamente com oscilantes “beats” reminiscentes dos Boards of Canada ou dos Global Communication.
Um disco corajoso e aventureiro, sem medo em avançar para novos terrenos, e que será difícil de esquecer.
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09 julho 2008

Covers # 4

A aquisição do ultimo single dos Spiritualized, "Soul On Fire", trazia como brinde no seu lado B, uma versão de "True Love Will Find You In The End" do enigmático Daniel Johnson.
Este artista já teve a sua música louvada e revista por gente tão diversa como Tom Waits, Yo La Tengo ou Teenage Fanclub. E esta canção em especial é uma das mais celebradas.

Spiritualized - True Love Will Find You In The End (Daniel Johnson)

Assim lembrei-me que já tinha uma versão para o mesmo tema no lado B
de "A Shot In the Arm" dos Wilco.


E que também Beck já tinha realizado uma versão para o disco de homenagem "The Late Great Daniel Johnston: Discovered Covered"


E na sequência do post anterior, na compilação de 1988 "Sub Pop 200", os Mudhoney fizeram esta versão:

07 julho 2008

Singles # 15 - Mudhoney – “Touch Me I’m Sick” (1988 Sub Pop)

O disco que marcou a história da Sub Pop. Curiosamente lembro-me bem que a primeira vez que ouvi falar deles foi através do nosso Peel, o carismático António Sérgio, que passou no Som da Frente, a versão que os Sonic Youth (na altura já favoritos cá da casa) fizeram para este tema e a seguir a que estes fizeram para “Halloween” dos primeiros.
Independentemente de classificar-mos a sua sonoridade de “grunge” ou “guitar-noise”, esta foi uma das mais importantes bandas do movimento independente que cresceu em Seattle na segunda metade doa anos 80.
As suas origens estão nos lendários Green River, a primeira banda dos guitarristas Mark Arm e Steve Turner, que incluía ainda Stone Gossard e Jeff Ament, futuros Mother Love Bone e actualmente Pearl Jam.
Fecharam-se num estúdio com Jack Endino e misturando o “hardcore” dos Black Flag com a gloriosa brutalidade dos The Stooges, criaram um som brutal e explosivo, baseado no deformado “riff” de guitarra, extremamente distorcido através de um pedal de distorção Big Muff, acompanhado pelo brusco baixo de Matt Lukin e pela frenética bateria de Dan Peters. Como complemento as obscenas letras de Arm evocam enfermidade e repugnância.
Os Mudhoney seriam a inspiração para um jovem Kurt Cobain, que esperava um dia produzir discos que acumulasse o mesmo ímpeto emocional.
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Mudhoney - Touch Me I'm Sick (Live - Video)

Mudhoney - Touch Me I'm Sick

04 julho 2008

Classic # 15 - Talking Heads - “Remain In Light” (1980 Sire)

Apesar de pertencerem ao contingente originário do CBGB, os Talking Heads nunca fizeram realmente parte do movimento “punk” ou “new wave”. As ambições de David Byrne eram superiores ao género em que os quiseram enquadrar. Enquanto bandas como os Ramones trituravam humorísticos hinos de três acordes, os TH exploraram a sua própria mescla de “art-rock” dançante. E se todos os discos desde “77” até “Speaking In Tongues” são de uma categoria superior, se tivesse de escolher o melhor, esse seria “Remain In Light”. Aqui uma das mais interessantes bandas de todos os tempos, criou o seu mais exótico e formoso álbum, numa fase da sua inspirada e natural evolução criativa. É certo que a presença de Brian Eno está em todo o lado, no entanto este nunca desvia a banda do seu rumo e limita-se a adicionar mais-valias.
As canções eriçam-se, sempre a transbordarem de ritmos africanos, através de melodias e estruturas invulgares, melódicas decorações “pop”, “loops” e efeitos, e acompanhadas por letras incoerentes proferidas por Byrne, que soando agitado, exulta inquietação e desconforto. Como complemento extra, um conjunto de ilustres convidados, adiciona excelência, na forma inventiva de tocar guitarra, Adrian Belew ou trompete, Jon Hassell.
A primeira metade do disco é altamente excêntrica, uma mutação de “punk", musica tradicional africana e “funk”, e é impressionante pela sua coerente energia. As galopantes polirritmias de “Born Under Punches (The Heat Goes On)” é a melhor maneira de começar um disco. Segue-se a substimada “Crosseyed and Painless”, a complexa “The Great Curve” (que possui um dos melhores harmonizadores de refrão), e a profética “Once In A Lifetime”, que com as suas referências ao materialismo que a década bem definiu, acabou por ser um êxito inesperado. A segunda metade tem um carácter mais misterioso e é mais melancólica, chegando a fascinar e a exasperar simultaneamente pela dissonante dispersão sonora. Começa com a intrincada cadência rítmica de “Houses In Motion”, mas as duas últimas composições fecham o álbum com uma tonalidade sombria e volátil. “Listening Wind” é um verdadeiro assombro, enquanto “The Overload” é como se estivéssemos a andar completamente desorientados pelo meio de umas ruínas resultante de alguma catástrofe.
Musicalmente antecipou muita da actual globalização musical ao influenciar músicos de diversos quadrantes.
Um disco que ultrapassa a excelência.
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03 julho 2008

Inovadores # 9 - Brian Eno / David Byrne - “My Life In The Bush Of Ghosts” (1981 EG)

Quando Brian Eno, conhecido pelo seu envolvimento com Roxy Music, Cluster e David Bowie, para além de ter criado o conceito de “ambient music”, colidiu com David Byrne, o excêntrico líder dos Talking Heads, era previsível que algo de extraordinário estaria para acontecer. Eno produziu o segundo disco dos TH, o subestimado “More Songs About Buildings”, e esteve ainda mais envolvido nas brilhantes obras-primas “Fear of Music” e “Remain In Light”. Assim tornou-se natural que os dois realizassem um disco em conjunto, e “My Life In The Bush Of Ghosts” é o resultado dessa colaboração.
Inspirações podem ser encontradas em “Movies” de Holger Czukay, nas colaborações de Eno com Jon Hassell (“Fourth World Vol.1”), e até no lado B de “Low”. Musicalmente, é um impetuoso desvio para territórios bizarros, até para os seus padrões, mas ambos se encontravam num máximo criativo, e a forma como misturam “samples” vocais de rituais de exorcismo, sermões evangélicos e “world music” com ritmos tribais, insidiosas guitarras minimalistas, subtis texturas de sintetizador, e a sensibilidade “funk” de Byrne, permitiu a criação de um disco verdadeiramente único.
O irregular e desvirtuado “America Is Waiting”, o ameaçador “Mea Culpa”, o assombroso “Regiment”, (excelente trabalho de guitarra e com a participação da cantora Libanesa Dunya Yusin), o admirável “Help Me Somebody” (“sampla” os sons de um aviário acompanhados pelo exaltado apelo de um pregador), a desagradável intensidade de “Jezebel Spirit” (“sampla” vozes de rituais de exorcismo, acompanhada por uma batida imparável), ficam gravadas na nossa mente. Não é de audição fácil, provavelmente soando mais como um moderno disco de electrónica experimental, sendo difícil de conceber que foi produzido à mais de 25 anos, e claro, muito do que se seguiu musicalmente, tem aqui as suas raízes.
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Brian Eno & David Byrne - America Is Waiting

02 julho 2008

Phoebe Killdeer & The Short Straws– “Weather’s Coming” (2008 PIAS)

Em primeiro lugar, quero afirmar que nunca apreciei muito o projecto Nouvelle Vague. Agora uma das vocalistas, Phoebe Killdeer, acompanhada por um competente trio clássico (guitarra, baixo, bateria), The Short Straws, avança com o seu disco de estreia. E quem esperava uma continuação do som dos Nouvelle Vague, bem pode olhar noutra direcção, pois este disco é totalmente diferente da sonoridade desenvolvida nesse projecto, e provavelmente era essa a sua intenção. Apesar de ter sido gravado com Marc Collin (o líder do projecto Nouvelle Vague), foi misturado por Oz Fritz, velho colaborador de Tom Waits.
Versátil e ecléctica, ela própria refere como influências, Tom Waits (é obvio), Nick Cave, Yma Sumac ou Art of Noise, e afirma que tem um especial fascínio pelas palavras. Isso obviamente revela-se nas viciantes canções que abordam temas simples – as relações das pessoas e os seus sentimentos, emoções, perturbações, equívocos. Com essas tendências literárias elegantemente subjacentes, as canções serpenteiam de uma forma impressionante à volta da sua invulgarmente pretensiosa voz.
Musicalmente, entre “pop” experimental, blues acústico, jazz psicadélico, soul-rock, r&b (e muito mais), os instrumentos fundem-se com os melódicos arranjos, para criar uma brilhante amálgama sonora, visível na luxuriante “Let Me”, ou na “jazzy” “He’s Gone”. Mas a excelência é atingida na assoladoramente contagiante “Big Flight” e na devastadoramente assombrosa” “I Get Nervous”, que comprovam o talento desta senhora.
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