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19 outubro 2010

Tributo # 13 - Can

Os Can surgiram em 1968, na cidade de Colónia. A anarquia, novas liberdades e novas questões estavam no ar. A Europa Ocidental estava a adoptar novas formas de pensar o seu futuro, e os jovens alemães levaram a necessidade de revolução para o coração.
O teclista Irmin Schmidt tinha sido aluno do pioneiro da música electrónica Karlheinz Stockhausen, e durante esse período, Schmidt conheceu Holger Czukay, que na altura compunha extremamente complexas peças musicais e que se tornou baixista enquanto ganhava a vida como professor de música.
Um dos alunos de Czukay, o guitarrista, Michael Karoli, estava convencido de que os The Beatles e os The Rolling Stones eram melhores do que Stockhausen e Beethoven. Ele demonstrou-o a Czukay ao tocar “I Am the Walrus”, um momento decisivo para Czukay, pois este percebeu que era possível ser-se musicalmente audacioso no contexto de uma canção “pop”.
Entretanto Schmidt estava a ficar cada vez mais aborrecido com os seus estudos formais da música e cada vez mais encantado pelos sons radicais provenientes do mundo do “rock”, especialmente, os The Mothers of Invention, os The Velvet Underground e Jimi Hendrix, ou seja, música eléctrica que incorporou improvisação, dissonância, elevados volumes sonoros e, provavelmente o mais importante, o ritmo percussivo – um elemento que a música clássica, mesmo nos seus modelos mais “avant-.garde”, nunca incluiu.
Schmidt e Czukay decidiram formar um grupo para criar um novo tipo de música; nenhum tinha muito conhecimento do “idioma rock”, um facto que ambos consideravam uma grande vantagem, pelo facto de assim ser difícil seguir os “rock” clichés.
Recrutaram Karoli para tocar guitarra, e completaram o grupo com um amigo de Schmidt – o baterista Jaki Liebezeit - que tocava “free jazz” e “bebop”, e um itinerante artista negro norte-americano chamado Malcolm Mooney, que possuía a rara habilidade de improvisar letras que faziam um muito seu próprio sentido.
Os Can queriam fazer um tipo de música que combinasse elementos de “rock”, “jazz”, “r&b”, “world music”, electrónica, mas que no entanto não fosse nenhuma dessas, pois era crucial que essa música fosse apenas deles, caso contrário, não tinha interesse.
Liebezeit, também tinha começado a odiar as suas performances de “free jazz”, ele sentiu que o “free”, paradoxalmente, estava actualmente a matar a música, e começou a desenvolver um interesse nos ritmos “naturais” que podiam ser encontrados nas músicas étnicas, ritmos que podem ser multifacetados e complexos e ao mesmo tempo facilmente “sentidos” e “compreendidos” pelo corpo humano.
Desde o início que a música dos Can se caracterizou pelos fortes poliritmos da percussão e pela densa interacção instrumental, como é visível nos 20 minutos de “Yoo Doo Right” do primeiro álbum “Monster Movie”.
Foi no seu próprio estúdio de gravação situado num velho castelo chamado Schoss Norvenich, a cerca de meia hora de Colónia, que os primeiros álbuns da banda foram gravados (o japonês Damo Suzuki substituiu Mooney após a edição do primeiro). A música dos Can foi construída no princípio de que “everyone solos, no one solos” – ou seja, a música era sobre o “tecido” e não sobre os “tecelões”. As peças têm frequentemente uma “qualidade fabricada” – Czukay, como engenheiro chefe, esculpia as “jams” livres, através da edição e da mistura, dando-lhes estrutura e espaço para respirar.
Foi a espontaneidade e a forma quase telepática de trabalharem em conjunto que criou o verdadeiro génio e que os fãs consideram os seus melhores anos: “Tago Mago”, “Ege Bamyasi”, “Future Days” e “Soon Over Babaluma”.
Todos os álbuns foram gravados em duas pistas, o que é surpreendente tendo em conta a densidade de informação sónica que contêm. Mas Czukay, sentiu que o uso de “multitracking” foi o princípio do fim, pois incentivou o grupo a pensar em si mesmos como “players” mais preocupados com as suas partes do que contribuírem apenas com o que era necessário para a excelência do todo. E isto é evidente nos últimos discos dos Can, já com Rosko Gee no lugar de Czukay, e com a adição do percussionista Reebop Kwaku Baah. O grupo tinha melhorado como “players”, no entanto a música perdeu a sua inefabilidade, o seu mistério e assim o seu real poder.

28 junho 2010

Covers # 13

Mais uma ronda pela prateleira com o objectivo de seleccionar algumas versões que particularmente aprecio.


Este é uma excelente interpretação para um grande clássico intemporal.

Death Cab For Cutie - This Charming Man (The Smiths)


Ainda me lembra do filme que incluia esta na sua banda-sonoro. Curiosamente Ray Manzarek foi o produtor.

Echo And The Bunnymen - People Are Strange (The Doors)


Um grupo que merecia muito mais atenção do que a recebeu, mas que terá sempre um carinho especial cá por casa.

Shop Assistants - She Said (The Beatles)

E aqui está uma boa razão para ainda comprar "singles".

26 maio 2010

Pop # 13 - Beulah - “Yoko” (2003 Fargo)

O quarto disco dos Beulah é um épico “indie-rock” apaixonadamente ecléctico.
Produzido pelo experiente Roger Moutenot (conhecido pela sua longa colaboração com os Yo La Tengo), e em comparação com os registos anteriores revela uma maior profundeza de detalhes e será provavelmente o mais sombrio e melancólico. Pois o que poderia ser um consciente passo para longe das harmonias solarentas dos discos anteriores, não é mais do que o relato dos problemas conjugais que abalaram a banda antes da gravação do disco, evidente nas letras muito mais directas e mais maduras, marcadas pela tristeza, que parecem distanciadas das presentes nos discos anteriores, e que lhes dá uma ligação mais emocional, mais ainda assim mantendo o som “indie-rock” intacto.
Assim e tal como o sinistro titulo do álbum - que certamente poderá ter algo a ver com o seu homónimo de desagradável destruidor de bandas – estamos na presença de uma bela colecção de elegias a amores falhados, que abordam a amargura, a raiva, a reflexão, o perdão das mesmas, e onde as emoções são exploradas de uma forma real, sem nenhum traço de auto-piedade. O espectro “pop-rock” é amplo, e contempla o bonito apogeu de “A Man Like Me”, o “garage-pop” de “Landslide Baby”, a deprimente e lamentosa, “You’re Only King Once”, a deliciosamente discordante “Me and Jesus Don’t Talk Anymore”, a sincera “Don’t Forget To Breathe” ou a épica “Wipe Those Prints and Run”.
Impressionante a vários níveis, é uma receita sónica de “rock’n’roll” entregue com inteligência e sagacidade. E se nos anteriores registos as referências musicais eram os Beatles e os Big Star, agora são mais facilmente identificados com os Wilco de “Summerteeth” e “Yankee Hotel Foxtrot”.
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24 março 2010

Classic # 26 - Big Star – “# 1 Record” (1972 Ardent)

Em 1972, as canções “rock” relevantes deviam supostamente incluir complicadas progressões musicais, letras introspectivas e uma aparente tendência progressista. Canções agradáveis e concisas acerca de “boys and girls and cars”, eram uma traição para as sempre futuristas tendências do “rock”. Mas no seu disco de estreia, dois miúdos inteligentes de Memphis, Alex Chilton e Chris Bell, mostraram-nos como podiam combinar a delicadeza do “british pop” de uns Beatles, com o “american rock”, e ainda juntar pedaços de “garage-soul”, ajustado a um profundamente pessoal e frequentemente revelador universo lírico.
Eles eram uma verdadeira versão americana de Lennon e McCartney, e se não inventaram o “power pop”, forneceram a mina de ouro que serviu de inspiração a gente como R.E.M., Teenage Fanclub, The Replacements, Elliot Smith, The Posies, entre muitos outros.
“#1 Record”, com uma vibrante e cintilante produção de John Fry, adquire apropriadas e distintas reviravoltas, umas atrás de outras, através das cuidadosamente idealizadas canções e da formosa reciprocidade entre as guitarras acústicas e eléctricas e as vocalizações repartidas, seja na “auto-afirmativa “Ballad Of El Goodo”, no turbilhão “pop” de “My Life Is Right”, na magnificente “Thirteen”, na impetuosa “When My Baby’s Beside Me” ou na ondulante “Feel”.
Alguns responsabilizaram Bell (o McCartney), que abandonou após este disco, pelo excessivamente acústico e melancólico segundo lado, mas quer ele quer Chilton (o Lennon) iriam atingir aqui estados de espírito distintos, e beneficiaram dos alternados entusiasmos e suspiros nas suas letras e vocalizações. E por isso “#1 Record” é praticamente perfeito.
Os Big Star eram obviamente e excessivamente “Sixties” – ele estavam demasiadamente feridos para as ideias revolucionárias do “rock” e eram suficientemente sensatos para saber que “boys, gals and the gang” iriam sempre durar muito mais que qualquer tendência.
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07 janeiro 2010

Classic # 23 - The Velvet Underground And Nico- “The Velvet Underground & Nico” (1967 Verve)

Por muitos considerado como o ponto de partida para a música alternativa, este disco realmente alterou a face do “rock”, mas também do “glam”, do “punk”, do “goth” ou do “indie”. Mas 43 anos depois, o que ainda mais surpreende é a sua audácia, a sua diversidade, a sua capacidade de experimentação sonora e a sua originalidade.
Sombrio e introspectivo, é a absoluta antítese, do movimento “hippie” que o resto da América andava a jubilar, e áspero como a cidade onde nasceu.
A música não é complexa, surge dispersa e escorregadia, mas é estranhamente compelível. E a estranha aliança entre Lou Reed e John Cale , fazia com eles experimentassem algo diferente em cada canção, através das hipnóticas espirais de dissonantes guitarras e viola, sempre apoiados pela poderosa bateria de Mo Tucker e com Sterling Morrison a agregar toda a mutilação sonora. Ao juntarem o contraste entre a voz fortemente superficial de Reed e o suave trautear de Nico, e a ilustre escrita de Reed - com referências sinceras e directas ao sexo bizarro e drogas, algo que ninguém tinha coragem para abordar tão abertamente à 40 anos atrás, pois no passado grupos como The Beatles (em “Happiness Is A Warm Gun”) ou The Byrds (em “Eight Miles High”), escreveram sobre os mesmos controversos temas ambiguamente – criaram momentos verdadeiramente únicos.
Começando na volátil, celestial, simultaneamente fascinante e sinistra “Sunday Morning”, passando pelas implacáveis e puramente loucas imagens do completamente soberbo “I'm Waiting For The Man”, pela gentil e sedutora “Femme Fatale”, pelo perturbador e contundente exótico relato sadomasoquista da claustrofóbica “Venus In Furs”, pela a atitude fútil do desbotado “garage” de “Run, Run, Run”, pelo melancólico “avant-garde” de “All Tomorrow’s Parties”, pela assustadora e francamente brilhante confissão no surreal épico “Heroin”, ou pela invulgarmente delicada e encantadora “I’ll Be Your Mirror”, chegamos às duas últimas canções que efectivamente representam a criação do rock alternativo: a convulsiva “The Black Angel’s Death Song” com a feroz e penetrante viola e a poesia absurda de Reed e a abismal batalha instrumental recheada de feedback presente em “European Son”, que absorve por completo o ouvinte.
Certamente Sonic Youth, Suicide, The Jesus and Mary Chain, Pixies, Smashing Pumpkins, My Bloody Valentine, entre outros, não teriam realizado os extraordinários álbuns que fizerem sem a existência deste magnifico monumento ao espírito brutal do “rock’n’roll”.
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11 maio 2009

My Favorites # 15 - The Feelies – “Crazy Rhythms” (1980 Stiff)

Originários de Hoboken, New Jersey, foram juntamente com Sonic Youth, Mission Of Burma ou Bush Tretas, uma das bandas da costa este que estiveram na vanguarda do movimento pós –punk americano. As ideias musicais de Glenn Mercer e Bill Million sobre minimalismo, dinâmicas, tonalidades e texturas musicais foram apoderadas pelo núcleo central dos músicos que integravam o emergente movimento “rock alternativo”.
Criaram uma inimitável e completamente única sonoridade, onde as suas canções tem uma evidente sensação de urgência e a sua sonoridade destilava uma perfeita sensibilidade estética. As guitarras de Mercer e Million são delicadas e elevadas – em contraste com os fortes acordes do “punk” – o incessante e descendente dedilhar, com crescendos sem clímax, e acções descontroladamente repetitivas é um óbvia influência dos Velvet Underground. Os ritmos – vocais e instrumentais – eram tensos e desassossegados – tal como os Talking Heads, mas com uma qualidade ameaçadora que foi meia abafada na música dos Heads, com as suas investidas na “world music”.
São inevitáveis as comparações com os grupos já referidos e os Television, mas “Crazy Rhythms” é tão impressionantemente original que é como se tivesse desenvolvido numa estufa desprovido de quaisquer influências ambientais. E o que torna o disco ainda mais inovador, foi o facto da percussão ser particularmente efectiva, em virtude da substituição do anterior baterista pelo extravagantemente inventivo Anton Fier. O seu frenético e forte tambor “tom-tom” tornou-se numa terceira voz no diálogo rítmico com os duelos de guitarra de Mercer e Million. Para além disso, o uso de um variado conjunto de instrumentos de percussão pouco convencionais (tamborim, “maracas”) e a acção combinada entre silêncio e ruído adiciona estrutura e solidifica o seu som. Daí resultaram momentos sublimes como a honestamente semi-biográfica “The Boy With Perpetual Nervousness”, “Fa Ce La”, a intensa “Moskow Nights”, a contagiante “Loveless Love”, a “estratificada complexidade de “Force At Work”, “Original Love”, a revoltada “Raised Eyebrows”, ou a irreconhecível e irreverente versão de “Everybody’s Got Something To Hide Except For Me And My Monkey” dos Beatles.
Um disco muito subestimado (e o único disco onde exerceram controlo criativo), ideal para descobrir as origens do “indie rock”/”rock alternativo”, onde muitos grupos - R.E.M., The Dream Syndicate, Yo La Tengo, até Clap Your Hands Say Yeah - retiraram elementos sonoros, mas que não são tão citados como alguns dos seus pares.
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04 maio 2009

Rock # 8 - The Replacements – “Let It Be” (1984 Twin/Tone)

Nomear um disco com o mesmo título com que os Beatles nomearam um dos seus, pode ser um pau de dois bicos. Felizmente estes quatro rapazes de Minneapolis (e companheiros de estrada dos Hüsker Dü) criaram um disco extremamente consistente que em nada envergonha o do quarteto de Liverpool.
Em grande parte devido aos incríveis talentos naturais de Bob Stinson e Paul Westerberg – que até podiam aproximar-se em “talento bruto” de Lennon & McCartney - foram das melhores bandas surgidas no início da década de 80 a exprimirem a sua revoltada angustia através da música – um incontornável “pop-trash” malandro. Agrupadas no movimento “punk/alternative rock” americano (apesar da sua sonoridade incluir elementos de “hard rock”, “country” ou até de música psicadélica), situavam-se num patamar muito superior à maioria dos grupos desse movimento.
A excelente capacidade de composição de Paul Westerberg surge no seu estimável melhor em “I Will Dare” e “Androgynous” – onde mistura pura poesia com uma porção de humor.
Destacam-se ainda a revolta de “We’re Coming Out”, a desilusão da adolescência intencionalmente mordaz de “Sixteen Blue”, o “punk” puro de “Gary’s Got A Boner”, a provavelmente auto-biográfica “Unsatisfied”, ou a torturada canção de amor “Answering Machine”. E se “Black Diamond” poderia ser a mais obscuras da versões visto ser um original dos Kiss, quem entende a banda percebe que encaixa perfeitamente e é bem melhor que o original.Um clássico da década e um dos mais importantes discos do “rock alternativo” americano.
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14 abril 2009

Classic # 19 - The Band – “Music From Big Pink” (1968 Capitol)

Tal como “John Wesley Harding” de Bob Dylan, o primeiro disco dos The Band afigurava-se completamente singular com a maioria da música “rock” contemporânea, não só na sua apurada sobriedade, mas também pelo invulgar aspecto espectral das canções, que impecavelmente abordavam a difícil e fatalista existência vivida por aqueles que se afastaram do sonho americano. A música, no entanto, era uma infinitamente flexível mistura de influências forjadas após anos de actuações em bares e outros antros.
Indo contra a tendência “psychedelic rock” que rebentava no final dos anos 60, criaram uma música misteriosa, terrena, sincera, emotiva, arrebatadora e eclética que captura tantas emoções e funde com sucesso numerosas tradições musicais americanas. O termo “Americana”, fornece a sugestão, mas não abrange tudo, pois existem elementos de “r&b”, “blues”, “country”, “hillbilly” e “gospel”, tornando-o inclassificável no panteão do “rock” onde ele se insere.
Musicalmente são soberbos, numa ostentação de talento dos 5 membros, e se a música soa simples, é pela minimalista aproximação que realça a estranha aura do disco, pois as canções e a performance são floreadas e complexas (e que conforme reza a história influenciou gente como os The Beatles ou Eric Clapton).
Cada canção é uma sinfonia em si mesma, combinando o irregular e complexo entrelaçar das três subtis e apaixonadas vozes com instrumentos eléctricos e acústicos, e invocando tempos e espaços espirituais que existem apenas num imaginário distante. Desde a pungente “Tears Of Rage” com a sufocante guitarra, o volátil e inimitável órgão de Garth Hudson, a vaticinante percussão de Levon Helm, e a dolorosamente bela e angustiante voz de Richard Manuel, passando pela forma contundentemente económica de tocar guitarra de Robbie Robertson no requintado solo no final de “Kingdom Come”, pelas vacilantes harmonias vocais de “We Can Talk”, pelo épico poder emocional de “The Weight”, pela coerentemente relatada “Long Black Veil”, que derrota qualquer outra versão, ou pelo incendiário “intro” da oscilante “Chest Fever”.
Este disco fez com que outros músicos tornassem a olhar para as tradições musicais americanas. E provavelmente sem ele não teriamos tido um Bruce Springsteen, um Tom Petty ou uns R.E.M..
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12 janeiro 2009

Do fundo da prateleira # 13 - Cardinal – “Cardinal” (1994 Flydaddy)

Para mim, o australiano Richard Davies e o americano Eric Mathews nunca conseguiram igualar, nas suas carreiras a solo, o modesto esplendor deste disco único. Editado numa época onde o movimento “grunge” era verdadeiramente dominador, o duo criou, sem grandes pretensões, este belo e assombroso disco, que é um dos mais melodicamente e liricamente inesquecíveis dos anos 90.
Dez faixas maioritariamente escritas por Davies, mas que Matthews adorna cada uma perfeitamente com os seus singularmente barrocos arranjos “pop”. Se formos a citar influências, seria algures entre os Beach Boys de “Smile”, os Beatles de “White Album” e Syd Barrett, mas todas as canções têm uma vida própria, pois o que é extremamente satisfatório neste disco, é que eles pegaram nessas mesmas influências e renovaram-as em vez de as reciclar. E assim “Cardinal” não é uma reversão, pois eles criam uma música resoluta, aterradoramente cheia de profundidade e originalidade.
As harmoniosas canções são delicadas na sua construção, próprias para o tom sombrio e melancólico que enfeita as mesmas, e mesmo quando as letras desmentem a sonoridade, o disco tem sempre um triste e ansioso sentimento presente, como acontece em “You’ve Lost Me There” um dos destaques aqui presentes. A esta canção podemos adicionar ainda, como momentos memoráveis, “If You Believe In Christmas Trees”, “Big Mine”, “Dream Figure” e “Silver Machines”.
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09 janeiro 2009

Compilação # 4 - “Nuggets: Original Artyfacts from the First Psychedelic Era, 1965-1968” (1972 Elektra)

Originalmente editado em 1972, “Nuggets” é uma terrivelmente fabulosa colecção que reúne algumas das maiores descobertas dos tesouros perdidos do rock. Compilado por Lenny Kaye, colaborador de Patti Smith, incluía uma pletora de gravações de bandas de “garage-rock” pouco conhecidas com pequenos êxitos.
E se a palavra “psicadélica” que consta no título pode afastar alguns, esqueçam, pois as movimentadas e cintilantes cores e luzes e viagens intergaláticas com a mente só chegaram no início da década de 70.
Aqui, esta “primeira era psicadélica” é assente nas ondulantes guitarras, nos órgãos Farfisa, e em pequenos sistemas sonoros. Mais próximos da urgência do “punk” e da “new wave”, pela sua espontânea explosão de testosterona, as ousadas guitarras e o simbolismo dos 7”, tornou-se um critério de referência para esses movimentos. E muitas das raízes estão aqui bem presentes, desde o proto-punk dos The Seeds com “Pushin' Too Hard” ou em “Dirty Water” dos The Standells, o garage punk dos Count Five em “Psychotic Reaction”, o proto-metal dos Amboy Dukes em “Baby Please Don’t Go”, o punk-psicadélico dos The Magic Mushrooms em “It’s-A-Happening”, ou a incompreensível experimentação dos The Castaways em “Liar Liar“.
Vamos esquecer-nos momentaneamente dos Beatles, de Bob Dylan, e de outros revolucionários culturais, “Nuggets”, é uma simples colecção que captura a alegre estética que atraiu os “teenagers” e celebra o básico ideal do “rock”: qualquer um consegue gravar um disco e editá-lo, habilitando-se a ter um sucesso.
A Rhino iria editar mais recentemente uma caixa com 4 discos, mas esta colectânea, a primeira de revelo da era do “rock moderno”, é mais concisa e fundamental com uma avalanche do mais rude e estranho que o rock dos anos 60 ofereceu, e que três décadas depois continua a demonstrar o resplandecente aprumo de quem o realizou.
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The Standells - Dirty Water

05 maio 2008

Covers # 2

Aproveitei o fraco dia de Domingo para organizar e ordenar alguns discos, e entre eles estava a discografia que possuo das The Breeders.
Verifiquei que os seus discos não tem muitas versões, a excepção nos álbums é este clássico:

The Breeders - Hapinnes Is A Warm Gun (Beatles)

Mas nos vários EP's, existem algumas interessantes, de gente tão diferente como Sebadoh ou Aerosmith.
Do EP "Safari" anexo uma versão dos The Who:

The Breeders - So Sad About Us (The Who)

Por falar nos The Who, esta senhora fez um disco só com versões do disco "The Who Sell Out", uma experiência que sempre me fez confusão:

Petra Haden - Armenia City In the Sky (The Who)

E será que alguém ainda se lembra dos Cud, que no início dos anos 90 editaram
discos "indie-pop" como "Leggy Mambo" ou "Asquarius".
Numa das suas "Peel Sessions", gravaram esta gravação
do conhecido tema dos Hot Chocolate.

Cud - You Sexy Thing (Hot Chocolate)

08 abril 2008

Classic # 14 - The Stone Roses – “The Stone Roses” (1989 Silvertone)

“Sgt. Pepper…”, “Dark Side of The Moon” “Never Mind the Bollocks”, cada geração tem os seus álbuns de culto, que muitas vezes determinam modas e comportamentos. Para quem tinha entre 15 e 25 anos em 1989, “The Stone Roses” foi um deles.
Curiosamente e ao contrário, dos referidos discos, no inicio teve pouca ressonância cultural, politica e comercial. Apareceu do nada, indiferente, e foi através da sua divulgação pela rádio, que vincou a sua magnifica mistura de “indie-pop” e psicadelismo que grupos como os Primal Scream já andavam a tentar produzir sem sucesso.
O disco não é particularmente revolucionário, só que continha um inesperado conjunto de superlativas canções “pop”, brilhantemente tocadas por quatro desinteressantes rapazes oriundos de Manchester.
Sempre que regresso a este disco é admirável como quer as canções, a performance e a produção (cortesia do veterano John Leckie), resistiram ao passar dos anos. E que a atmosfera de mistério e melancolia inicial ainda permanece sem diminuição.
Desde os primeiros acordes de “I Wanna Be Adored”, onde o crescente baixo de Mani, é adicionado ao brilhante, extremamente retardado e descendente “riff” de John Squire, existe uma sensação totalmente do outro mundo.
No “riff” circular de “Waterfall” – e no seu reflexo retrógrado “Dont’ Stop” – o convite para desligarmos a mente e relaxar, é descaradamente reminiscente dos Beatles. A “pop” firmemente “ferida” de “She Bangs The Drums”, “Made Of Stone” e “(Song For My) Sugar Spun Sister” relembra a “pop” psicadélico dos Byrds.
Ian Brown não é um grande cantor, mas a sua ansiosa e melancólica voz tem um efeito monotonamente volátil. A guitarra de John Squire é inspiradora e sincopada, e cria a alquimia perfeita com a leve e fluida bateria de Reni, e o ágil e vivo baixo de Mani. É uma terapia musical que culmina no extenso e sibilante “I Am the Resurrection” – o tema que encerra o disco e completa o consciencioso ciclo iniciado em “I Wanna Be Adored”.
“The Stone Roses” deu o tom para a música rock dos anos 90.

01 fevereiro 2008

Inovadores # 7 - Yellow Magic Orchestra

“Yellow Magic Orchestra” (1978 Alfa)
“Solid State Survivor” (1979 Alfa)
“Technodelic” (1981 Alfa)



Formados em 1978 pelo talentoso Ryuichi Sakamoto, pelo veterano Haruomi Hosono, e pelo percussionista Yukihiro Takahashi produziram onze discos, até ao seu término em 1984. Para mim, estes três são aqueles que melhor os representam.
Surgiram na altura da ascensão do Japão como inovador tecnológico, utilizaram sequenciadores, sintetizadores, samplers e caixas de ritmos, quando ainda eram regularmente a excepção
São frequentemente esquecidos quando se faz referência aos artistas que desbravaram caminho na evolução da música electrónica.
Criavam um divertido “techno-pop”, ou “twisted pop”, se preferirmos, mas onde nunca esconderam a sua paixão pelos Beatles (daí as versões).
Estes músicos já tinham assimilado todas as experiências primárias realizadas anteriormente com música electrónica, e deram um salto qualitativo para uma fase mais avançada, só que ainda não tinha sido inventado um tipo música para classifica-los. Pois ao contrário de uns frios Kraftwerk ou dos seus aprendizes britânicos como Gary Numan ou John Foxx, que tendiam perseverantemente para a ficção científica, os YMO ofereciam divertidas delicias “pop” totalmente descaradas.
Quando surgiu o disco homónimo de estreia, foram ignorados pela imprensa ocidental, que não se conseguir afastar da cacofonia criada pelos fortuitos ruídos electrónicos que abrem o disco. E assim não descobriu as esquadrilhas melódicas do psicadélico “Simoon” ou do irreflectido “disco-feel” de “La Femme Chinoise”.
Com “Solid State Survivor”, tentaram fugir do ecletismo presente no disco de estreia, e abordaram um som mais “mainstream”, mas nem por isso menos arrebatador. Desde o balouçante instrumental “Technopolis”, passando pelo belíssimo “Absolute Ego Dance”, ou pela sinuosa e pungente melodia de “Insomnia”, este disco está repleto de excelentes momentos.
Em “Technodelic” acontece mais uma reviravolta, criam um disco mais negro, cheio de vozes sinistras, ritmos incomodativos, percussões industriais destruidoras. “Epilogue” de Sakamoto, dá o mote, com uma melodia dilacerante.

18 julho 2007

Singles # 1 - The La’s – “There She Goes” (1988 Go! Discs)

Uma das canções mais belas de sempre, com as suas harmoniosas guitarras e cativantes letras, vaticinaram o “Britpop” que ainda estava a anos de distância. Apesar de ter sido originalmente editada em 1988, foi com a reedição deste single (e a consequente edição do seu único álbum) em 1990 que este quarteto de Liverpool se tornou numa das mais famosas bandas de “one-hit-wonder”, como os “brits” tanto gostam.
Liderados por Lee Mavers, um perfeccionista, que preferia ter guardadas na sua cave as versões rudimentares e "lo-fi" da suas composições, do que ter editado a versão final que a sua editora lançou, produzida pelo conhecido Steve Lillywhite.
No álbum de 1990, de título homónimo, misturando as melhores partes dos Beatles, dos The Kinks, e dos Who, Mavers compôs simples canções que cantava com uma voz extramamente vulgar e um impecável sentido de ritmo e graciosidade.
O baixista John Power iria formar os Cast, e tentar dar continuidade ao som dos La’s, sem sucesso.
No entanto este disco permanece como uma das mais sólidas referências do “indie-pop”.
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