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22 março 2010

Inovadores # 16 - Fire Engines – “Lubricate Your Living Room” (1980 Pop:Aural)

Este mini-álbum do grupo de Edinburgo ofereceu a mais fresca das várias abordagens sobre a guitarra eléctrica que surgiu no “pós-punk” escocês. Em apenas 18 meses, de uma forma caótica e sem convencionalismos, e através de 3 “singles” e um mini-LP, conseguiram deixar um durável impacto no “pós-punk” em geral.
Considerados como uma das mais importantes bandas do fértil movimento “pós-punk” escocesas do inicio do anos 80, a par com os mais “pop” Orange Juice e os ligeiramente mais acessíveis Josef K, os Fire Engines extraíram das mesmas similar influências, mas inclinaram-se numa direcção mais sombria e abrasiva - The Velvet Underground, Television, The Pop Group, The Fall .
Os guitarristas David Henderson e Murray Slade desbobinavam contorcidas, dissonantes linhas de energia que indicavam obsessão e confusão. A música, abrupta mas “funky”, discordante mas melódica, concisa e energética, reivindicou o “riff” de volta do “rock” – todas as composições são fabricadas a partir de inoportunos e repetidos acordes de baixo e guitarra. Mas não existia nenhuma comunhão com os regulares ritmos “rock” – a banda assentava no forte golpear, mas de invulgar andamento do ruidoso tambor de Russell Burn (que não utilizava címbalos ou “hi-hats”). As vocalizações de Henderson eram frequentemente guinchos e as canções eram essencialmente instrumentais de guitarra, mas fundamentalmente isso não interessava, pois existia uma contagiante, frenética energia presente na música.
O interesse da banda em perverter as neuroses do consumismo estava bem reflectido quer na embalagem (o disco originalmente vinha num saco de plástico) quer nos títulos humorísticos como “Plastic Gift” e “New Thing In Cartons”. Ouvindo o disco hoje, essa “lo-fi”, “live in the studio” abordagem, ainda surpreende pela invulgar sonoridade que a banda conseguiu atingir – o áspero, electrizante prurido das guitarras e a desprezível corpulência da impetuosa bateria.
Ainda tentaram seguir um aclarado “pop” com “Candyskin” (1981) e o acessível “Big Gold Dream” (1981), os seus últimos “singles”, mas terminaram imediatamente a seguir, tendo Henderson prosseguido carreira com os WIN e os The Nectarine Nº9, estando actualmente nos The Sexual Objects.
Mas ficamos com este rápido e delirante disco, que não poderá ser repetido.
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03 fevereiro 2009

Editoras # 3 - Postcard - The Sound Of Young Scotland

Ao contrário de Londres e Liverpool, nos anos 60 e 70, a Escócia não tinha tradição musical.
Isso mudou com a criação em 1979 da Postcard Records por Alan Horne. Situada em Glasgow, a partir de um pequeno andar arrendado, esta memorável editora foi a responsável por apresentar ao mundo bandas talentosas e visionárias como os Orange Juice, Aztec Camera e Josef K, e pelo celebrado slogan “The Sound Of Young Scotland”. Mas também foram responsáveis por descobrirem e terem editado o primeiro registo dos australianos The Go-Betweens.
Apesar de todos estes grupos terem assinado por outras editoras, muitos argumentam e debatem que nunca editaram nada tão bom com aquando da sua estadia na Postcard. Podemos não concordar com isso, mas o que é inequívoco é que cada “single” editado pelo Postcard é um absoluto clássico. E o seu impacto na música “pop” escocesa foi fundamental, inspirando bandas que durante os anos se foram confessando fãs como The Wedding Present, Teenage Fanclub, Belle & Sebastian, Franz Ferdinand e até mesmo os Travis.
A Postcard obrigou a industria musical fortemente centrada em Londres a olhar para norte, mais precisamente para Glasgow (da mesma forma como a Factory iria fazer para Manchester), de onde também surgiram outros grupos visionários como Associates, Altered Images ou The Fire Engines.
As grandes editoras estiveram atentas e de repente surgiram numerosamente em Glasgow para a caça ao ouro. E o rápido sucesso da Postcard acabou por ser também a sua desgraça e ruína, pois os grupos da editora acabaram por a abandonar para assinarem pelas multinacionais. Também a partir da segunda metade dos anos 80, os principais músicos escoceses abandonaram a ética DIY do Postcard e ao assinarem pelas grandes editoras, abraçaram o seu lado comercial. E se por um podemos incluir os magníficos The Jesus and Mary Chain nos grupos que assinaram por multinacionais, por outro temos que os excluir pois numa primeira fase nunca se desviaram da sua muita peculiar sonoridade, numa época onde surgiram os manhosos e ornamentados Hue & Cry e Deacon Blue. Mas as pessoas depressa se cansaram desse som açucarado, e uma nova geração de músicos escoceses iria novamente redescobrir e reinventar o som da Postcard. E a partir do final dos anos 80, a Escócia produziu muita da música mais original e criativa através dos já referidos The Wedding Present ou Teenage Fanclub, mas também dos The Pastels, The Vaselines ou Mogwai.
Hoje esse espírito pioneiro ainda poderá ser encontrado em pequenas editoras escocesas como a Chemikal Underground ou a Geographic.
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26 setembro 2008

Covers # 6

Os Ash foram uma banda que nunca conseguiu convencer completamente cá na casa, no entanto tenho alguns dos singles que editaram basicamente pelas numerosas versões que realizaram, algumas delas verdadeiramente surreais, como esta:


ou esta, aproveitando o facto de eles estarem na moda, outra vez:



Nas Peel Sessions, muitas bandas realizam versões como forma de tributo a outras que de alguma forma as marcaram, sonoramente ou inspiracionalmente. Nesta realizada em 2002, parece-me que será o segundo caso.



E a proposito do recente post sobre o Josef K, os autores de "Duel" (ainda alguém se lembra), demonstraram aqui muito bom gosto:

Propaganda - Sorry For Laughing (Josef K)

19 setembro 2008

Tributo # 7 - Josef K

“Young and Stupid” (1990 LTM)
“Endless Soul” (1998 Marina)
“Entomology” (2006 Domino)


Esta banda que leu Franz Kafka, foi uma das mais interessantes e inspiradas do “post-punk”, e extremamente influente no movimento musical escocês, apesar de mais obscura e menos celebrada que os seus contemporâneos Orange Juice, Fire Engines e Aztec Camera.
Liderada por Paul Haig e Malcolm Ross, produziu alguma da música mais sublime do período.
O facto de terem abortado a edição do seu álbum de estreia (“Sorry For Laughing”), por acharem o som muito polido, e que não reflectia o seu espírito, cometeram um pequeno suicídio. Para a história ficou apenas um álbum – “The Only Fun In Town”, este com um som mais forte - editado e vários singles.
Assim talvez a melhor forma de os descobrir, é nas várias sumptuosas compilações, como “Young and Stupid” (1990 LTM), “Endless Soul” (1998 Marina) ou “Entomology” (2006 Domino) (esta última provavelmente a definitiva, e reforçada pela sua bela embalagem). E ficamos com a oportunidade de descobrir pequenos tesouros perdidos de um curta e brilhante carreira, desta inteligente, talentosa e tão à frente do seu tempo.
Criaram um “pop” alternativo precioso, baseados numa agressivamente dinâmica bateria, em contagiantes e abafadas chicoteadas do baixo, em brilhantes harmónicos cheios de reverberação das guitarras e em vocalizações espontâneas e ásperas (relembrando os primórdios dos Echo And The Bunnymen).
Destacam-se principalmente os seus quatro singles editados na Postcard – o electrizante “Radio Drill Time”, o mordaz “It’s Kind Funny”, o desmazelado” “Sorry For Laughing” e o discordante e lamentoso “Chance Meeting” – mas ainda temos mais momentos arrebatadores no épico “Revelation”, na subtileza de “The Specialist”, em “Sense of Guilt” (e as similaridades com Joy Division), em “The Angle”, no “funk” musculado de “Heart of Song”, ou no refinado “Heaven Sent”.
É verdade, e muita gente já o afirmou, mas é extremamente evidente que foi aqui que os Franz Ferdinand vieram tirar as suas ideias. Mas também são claros os vestígios que encontramos nos The Wedding Present e Interpol.
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15 setembro 2008

Pop # 3 - Orange Juice - “You Can’t Hide Your Love Forever” (1982 Polydor)

Depois de um conjunto de singles para a Postcard, os Orange Juice até já tinham gravado o seu primeiro álbum - “Ostrich Churchyard” - quando assinaram pela multinacional Polydor, mas regressaram ao estúdio com o produtor Adam Kidron, alterando o som mais “garage-rock” do primeiro pelo cintilante “indie-pop” deste. Aqui presentearam-nos com um conjunto de canções cativantes e excitantes, cheias de dilacerantemente belas melodias, que se elevam e exercem o seu poder. Apoiados no crepitar zumbido das inarmónicas guitarras, superiormente lideradas por Malcolm Ross (que tinha abandonado os Josef K), na vibrante batida da bateria de Zeke Manyika e essencialmente em Edwyn Collins com a sua rígida e fora de timbre voz, num estilo inimitável, idiossincrático e unicamente sincero, produziram um som altamente original, por polir, espontâneo, que pegou na intensidade do “punk” e o seu grande idealismo e faculdade de diversão, e fundiu-a com uma romântica sensibilidade lírica e muita alma. Como influências apontam-se várias, Velvet Underground, The Byrds, The Buzzcocks, Television – e também são referenciados como precedentes da similar sonoridade desenvolvida pelos The Smiths (e como obvia influência no som de Stuart Murdoch e dos seus Belle & Sebastian). E só um grande compositor como Edwyn Collins, com as suas letras obliteráveis, tal como Morrissey, visionário, deprimido e levemente cínico, mas inteligente, honesto e credível, poderia abordar as fraquezas do amor e a sua falta de direcção, e criar a pletora de clássicos com a excelência de “Falling and Laughing”, “Satellite City”, “Consolation Prize”, “Untitled Melody” ou a icónica “Felicity”.
Edwyn Collins gravaria posteriormente bons discos, mas foi aqui que revelou o seu génio. Um disco de instantânea e ditosa alegria.
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Orange Juice - Felicity