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14 janeiro 2010

Rock # 11 - Archers Of Loaf - “Icky Mettle” (1993 Alias)

Infelizmente os Archers Of Loaf sempre pareceram perdidos no dilúvio da enorme corrente de “música alternativa” que surgiu no início da década 90 nos Estados Unidos.
O seu inquietante e desordenado “indie-rock”, é muita vezes comparado com o dos Pavement, mas sonoramente estão mais próximos dos seus conterrâneos da North Carolina, Superchunk e Polvo pelo choque entre “noise-pop” e “ pós-punk”, ou mesmo dos Dinosaur Jr., pela capacidade enérgica.
O seu abrasivo e impetuoso disco de estreia, “Icky Mettle”, está repleto de energia e fúria. São as penetrantes, abruptas e triturantes guitarras que comandam, mas com a sólida secção rítmica (composta pelo baixista Matt Gentling e pelo baterista Mark Price), a grudar conjuntamente toda a potente confusão. E através da impressionantemente extenuada voz do vocalista Eric Bachmann, surgem as disfuncionais, rancorosas e impenetráveis letras que abordam gloriosamente a vida na sociedade moderna.
Ecléctico, torna-se difícil destacar algum tema, mas pessoalmente continua-me a fascinar a persistente atracção de “Web In Front”, a inflexível “Last Word”, a dupla artilharia de guitarras presente em “You And Me”, a ríspida energia de “Fat”, a ardente “Learo, You’re A Hole”, a genial “Toast”, ou a áspera “Backwash”.
Nos três discos seguintes iriam por variadas razões evoluir sonoramente, mas “Icky Mettle”, é ainda hoje obrigatório para a compreensão do “indie-rock” nos anos 90.
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04 dezembro 2009

My Favorites # 18 - Mark Lanegan - “Whiskey For The Holy Ghost” (1994 Sub Pop)

Ainda a propósito do recente post sobre o último disco dos Soulsavers, será uma pena se a maioria das pessoas apenas conhecer Mark Lanegan como ex-membro dos Screaming Trees, membro ocasional dos Queens of The Stone Age ou aquele que tornou os últimos discos de Isobel Campbell tão formidavelmente especiais.
O seu trabalho a solo é indispensável, especialmente o sombriamente esplendoroso segundo disco – que demorou cerca de três anos a gravar, com a ajuda de Mike Johnson na altura nos Dinosaur Jr. e dos veteranos produtores/engenheiros de som Jack Endino e Terry Date, entre outros notáveis convidados – e que é uma absoluta obra-prima.
Triste, profundamente atmosférico e introspectivo, apesar de às vezes ser levemente reconfortante, representava uma significante rotura em relação ao seu trabalho com os Screaming Trees e em relação ao seu primeiro disco a solo - “The Winding Sheet”- revelava uma maior consistência global e um acréscimo de maturidade na escrita de Lanegan.
Ele, confessadamente tentava combater os seus demónios pessoais, que habitavam o seu despojado, mas todavia esperançoso mundo, através de encantadoras canções acerca de abandono e desespero, expondo-nos completamente a nu a sua atormentada alma. Mas a melancolia presente é compensada pelas requintadas e melódicas canções, que surgem uma atrás da outra, tão dolorosamente belas que não deixarão o ouvinte indiferente. E depois destaca-se o baixo, mas profundo tom de voz de Lanegan, marcado por demasiadas garrafas de whiskey e milhares de maços de cigarros, e ao contrário dos Screaming Trees, onde ele forçava a sua voz até ao alcance máximo possível, aqui ele permite-a descer até ao seu alcance mais natural, que reforça a sua abordagem musical, maioritariamente assente nas palavras.
Ouçam a atmosférica mistura do baixo com a guitarra acústica de “The River Rise”, a reconfortante “Kingdoms Of Rain”, a bizarra “Carnival”, a magnifica “El Sol”, a assombrosa “Judas Touch”, a lamentosa “Beggar’s Blues” ou “Sunrise”.
Revelando uma maravilhosa força motriz, é provavelmente o seu melhor disco, e se quisermos enquadra-lo com outra obra-prima de conteúdo similar, podemos coloca-lo ao nível de “On The Beach” de Neil Young.
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18 março 2009

Rock # 6 - Dinosaur Jr.- “You’re Living All Over Me” (1987 SST) / “Bug” (1988 SST)

Apesar de nunca terem tido a importância histórica de uns Pixies ou Sonic Youth, ou mesmo de uns Hüsker Dü ou Big Black, foi por aqui, via The Stooges e o “punk-hardcore” que se começou a desenvolver o caminho que iria levar aos Nirvana. É aqui que encontramos as raízes do grunge e do “lo-fi”.
O trio de Amherst composto por J. Mascis, Lou Barlow e Murph, foram uma explosão de energia, resultado da acção combinada entre a vitalidade e a tensão da química interna produzida pelo grupo liderada por J Mascis, um proto-Cobain que escreveu importantes capítulos na história da guitarra eléctrica. Ousadamente tornaram OK criarem “jams” e aplicarem extensos solos no essencialmente leal movimento “punk-indie”, totalmente desprovido de qualquer enfeite musical.
No inigualável “You’re Living All Over Me”, as canções são concisas e sinceras, onde os dotes e a presença de Mascis são colossais, pela intensidade emocional que coloca nos seus solos de guitarra, complementado por um grande trabalho de Barlow no baixo, uma mistura de melodia e distorção.
Brilhante desde o distinto e contagiantemente louco “feedback” de “Little Fury Things”, passando pela segura “The Lung”, pelo agradável “noise” de “Tarpit”, pela forma como as pesadas guitarras de “Raisans” e a insana “Sludgefeast” envenenam o ouvinte com o seu poder, até chegarmos a “Lose” e à assombrosa “Poledo”, ambas escritas por Barlow (cujas sonoridade relembram mais as desenvolvidas posteriormente no seu trabalho com os Sebadoh).
Em “Bug” o som está mais ordenado e estruturado, mas a banda estava prestes a explodir em conflitos internos. No entanto as acções combinadas mantêm-se num nível elevadíssimo, onde a dinâmica “soft/hard” é um padrão que iguala a atitude de Mascis, que alterna entre delicadeza e desejo e um mortal desencantamento, bem reflectida no ocioso e suavemente distorcido “garage.rock” de “Freak Scene” (a “marca registada” era resmungar vagarosamente vocalizações “folk” e rápidos, ásperos “riffs” e depois derramar ardentes solos de guitarra). Destacam-se ainda o dilacerantemente belo solo de “No Bones”, o reprimido “trashing” de “Pond Song” (que relembra Neil Young na fase “Rust Never Sleeps”), a directa “Budge”, e os enormes e patetas “riffs” de “Yeah We Know”.
Dois discos de prazer intenso misturado com sofrimento intenso.
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13 novembro 2008

DVD # 4 - Vários - “1991: The Year Punk Broke” (1992 Tara Films)

Quando o movimento “grunge” explodiu, a música categorizada como “underground” tornou-se no “mainstream”, com a atenção dada pela imprensa e apoiada por todo o marketing forjado que dai resultou.
E muito do que de negativo chegou com essa mini revolução social, faz com que muitas vezes se esqueça tudo o que de bom existia antes de “Nevemind”. Estamos na presença de um grande DVD - cujo nome é uma astuta resposta ao fenómeno, através da comparação com o que aconteceu em 1976 na Inglaterra com os Sex Pistols, Buzzcocks e The Clash, pois o movimento “punk” americano (Black Flag, The Germs, X) nunca extraiu os benefícios da fama - que nos relembra desses bons momentos, recheado de brilhantes performances da tournée pela Europa realizada em 1991 pelos Sonic Youth, e por isso é essencialmente focado nestes.
O nosso “guia” Thurston Moore, simultaneamente arrogante e encantador, é excelente nas suas hilariantes deambulações, especialmente no episódio com os jornalistas alemãs. E o ponto alto do DVD é mesmo o registo das actuações dos SY, sendo que “Dirty Boots” é verdadeiramente excepcional, recheada de premência, assim como o são “Schizophrenia” (soa melhor ao vivo), “Mote” ou “TeenAge Riot”. Outras boas performances incluídas são os Dinosaur Jr., que tocam de uma forma ciclónica “The Wagon”, os Nirvana com “Negative Creep” e “Smells Like Teen Spirit”, e as Babes In Toyland em “Dustcake Boy”. Para além destes temos a contribuição musical dos Gumball e Ramones, pequenos momentos passados nos bastidores que retratam a excitação vivida no período e ainda a presença esporádica de gente ilustre como os Mudhoney ou Bob Mould (a comer um cachorro quente).
Um excelente momento de nostalgia, mas também uma visão antropológica da música alternativa em 1991, com a presença de algumas das bandas mais influentes do movimento.