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14 outubro 2010

Pop # 15 - The Delgados – “Peloton” (1998 Chemikal Underground)

Antes de chegarem a "The Great Eastern", os The Delgados progrediram brilhantemente do “trash-pop” influenciado pelos Sonic Youth de “Domestiques” (1996) para uma mais detalhada palete sónica em “Peloton”, adicionando flautas, ao estarem recheados de quartetos de cordas e ao incluir o ocasional “sample”, fazendo com que cada canção tivesse arranjos verdadeiramente únicos. E se a isso juntarmos o facto de Emma Pollock e Alan Woodward ao alternam as vocalizações, fazem com que os seus sedutores tons celestiais tenham um efeito paliativo sobre o ouvinte.
O processo de aprendizagem que os levou de um extremo para o outro, desdobra-se diante dos nossos olhos. Os primeiros temas são particularmente bons exemplos – em “The Arcane Model” e especialmente na esplêndida “Everything Goes Around the Water”, existe uma fusão entre o deslocado “pub rock” de “Domestiques” com o estranho tom de suavidade aveludado da sua música posterior.
Pollock surge magnífica nos tons melodiosos da suave “The Actress”, e na viçosa e mágica “Pull The Wires From The Wall” a sua contribuição é particularmente impressionante. A presença da guitarra acústica e do violoncelo na introdução faz evocar Kristen Hersh, mas há também uma pitada de Marianne Faithfull na assustada mas avaliada entrega de Pollock. Mais emocionante ainda é “Blackpool”, um sinistro relato em que as alterações dos tempos são negociados por uma bizarra acrobacia fonética que encanta e confunde o ouvinte. E o francamente mental “Repeat Failure” que soa como se os My Bloody Valentine estivessem a massacrar os Belle And Sebastian, escutado através de um exausto rádio de onda curta.
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24 setembro 2010

Rock # 16 - The Wedding Present – “Seamonsters” (1991 RCA)

“Seamonsters” marcou um rumo diferente para os The Wedding Present, aqui eles afastaram-se da abordagem “rápido, frenético, furioso” levada ao limite no seu antecessor “Bizarro”. Este disco é muito mais dinâmico, recheado de grandes melodias, enterradas debaixo de uma “wall of noise” de “feedback”, e cheia de dinâmicas “loud/soft” que traduzem um perfeito equilíbrio entre a intensidade e a sensibilidade.
A genial produção de Steve Albini, acondiciona as tensas e atormentadas vocalizações de David Gedge, fazendo rosnar as dolorosamente honestas histórias, e encalhando-as em camadas sonoras que criam uma paisagem “auditiva” que ondula dores.
Mas a abordagem de Albini na gravação da banda também traz à tona os pontos fortes da mesma, não apenas o ofuscante dedilhar de guitarra de Peter Solowka, mas também a intensidade da bateria de Simon Smith.
Gedge surge mais uma vez como um imã para os maus relacionamentos. Liricamente ele continua a falar sobre o amor (perdido e não correspondido) namoricando e actuando de uma forma desprezível, mas os cenários são mais variados e desta vez menos convencionais.
O deslumbrante material sonoro presente em “Seamonsters”, faz dele um disco perfeito, pois não possui uma única música menor, e assim o registo simplesmente flui com jóias maravilhosos como “Dalliance”, “Dare”, “Suck”, “Rotterdam”, “Lovenest”, “Corduroy” ou “Heather” (algumas músicas apontam para o futuro “pop” de Gedge com os Cinerama), que comprovadamente são o seu coroamento dos tormentos pessoais e dos turbilhões de guitarra, pois tal como os My Bloody Valentine, eles pareciam estar a aniquilar as guitarras.
Provavelmente se eles fossem originários de Seattle, talvez hoje tivessem a mesma estima de uns Nirvana, mas egoistamente, tanto quanto os adoro, eu não me importo da sua relativa obscuridade.
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09 maio 2010

Rock # 13 - Swervedriver – “Mezcal Head” (1993 Creation)

Desconcertantemente aglomerados no movimento “shoegaze” do início dos anos 90, quando a sua brilhantemente explosiva abordagem do “guitar rock” americano era muito mais sangrenta, este quarteto de Oxford misturou os Sonic Youth com os “grooves” de uns Crazy Horse e hectares de vagas "low-end".
Este disco foi a sua obra-prima - mais brilhante do que a estreia “Raise”, mais atrevido do que o irónico “psych-pop” de “Ejector Seat Reservation” - e baseado na teoria de que a única coisa melhor do que guitarras são mais guitarras. No disco estão em grande forma, eles possuíam uma impressionante capacidade para envolver melodias memoráveis em torno de camadas de guitarras para criar músicas realmente inspiradoras. A atenção dada às melodias é o que define este registo e o separa do género “shoegaze”, o verdadeiramente incrível “noise” não é projectado para ofender, mas para estimular e elevar.
Cada canção é um “road movie”, com o vocalista-guitarrista Adam Franklin como o exausto protagonista, e uma quinta velocidade sempre pronta para engrenar - desde o provocador intro de “From Seeking Heat”, passando pelas carregadas guitarras de “Duel” que rompem alegremente num brilhante pôr do sol, pelos crepitantes “riffs” do incendiário “Blowin’ Cool”, pelas ondulantes guitarras de “Last Train To Satansville”, até ao fantasista “Duress”, – Mezcal Head” merece um estatuto de inovador. Mas numa altura em que o “indie-rock” britânico estava a encaminhar-se para as drogas halucinogénicas, os Swervedriver atingiram um fosso.
Ao contrário dos seus companheiros na Creation, My Bloody Valentine ou The House Of Love, nunca receberam o apoio popular que a sua música merecia. Difícil de classificar, “Mezcal Head” permanece com um clássico do “rock alternativo” dos anos 90.
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27 abril 2010

In the Beginning # 2 - My Bloody Valentine - “Isn’t Anything” (1988 Creation)

Após a regulamentação da pureza “indie-pop” nos EP’s “Strawberry Wine” e “Ecstasy” (ambos de 1987), “Isn’t Anything” foi comprovadamente pós- lapsariano. A transformação dos MBV de pretendentes ao espectro sonoro dos The Jesus and Mary Chain, para aventureiros sónicos ainda hoje é de difícil crédito. Só mesmo a audição do tenso holocausto que foi o EP “You Made Me Realise” e o verdadeiramente inovador álbum que o seguiu, podem ajudar a sua compreensão.
Sonoramente caótico, incorporando as desfalecidas paisagens sonoras dos Cocteau Twins, juntamente com um uso altamente inovador de “microtons” e artisticamente submerso no estúdio, é impressionante a sua consistente tonalidade negra e erótica, alternadamente desnorteante ou agressivamente voraz. É um disco cheio de contrastes, sejam as exuberantes paisagens sonoras recheadas de “feedback”, sejam as sensuais combinações das vocalizações vazias de Kevin Shields contra os encantos etéreos de Bilinda Butcher. As músicas não são “sobre” amor, sexo e emoções, mas “soam” como fossem momentos hiper-sensíveis de amor, sexo e emoções.
E ao ouvir “Isn’t Anything” actualmente, ele parece ter muito em comum com o sentimento de euforia vivida na altura em torno do “second summer of love”, pois tem a mesma qualidade entorpecedora do que os resultados das experimentações químicas ocorridas aquando do referido movimento.
Embora a apoteose do MBV ficasse completa após o lançamento de “Loveless”, “Isn’t Anything” mantém uma nitidez e clareza de composição, que é às vezes um pouco ausente nos inúmeros de efeitos de guitarra presentes em “Loveless”.
Desde o dub-balançante do totalmente sexual “Soft As Snow (But Warm Inside)”, passando pelo orgásmico, minimalista e absolutamente arrebatador “Lose My Breath”, pela poesia de tom fúnebre do perturbador “No More Sorry”, pelo alegremente perturbador “All I Need”, pelos “riffs” brutais do apocalipticamente erótico “Feed Me With Your Kisses”, pelo verdadeiro letal “Sueisfine” até à violentamente sexy “Nothing Much To Lose”, “Isn’t Anything” é uma aventura musical que transcende qualquer redundante género estilístico onde possam inadvertidamente ter sido colocados os MBV.
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10 março 2010

Do fundo da prateleira # 20 - Bowery Electric - “Beat” (1996 Kranky)

Os nova-iorquinos Bowery Electric eram uma banda de “pós-rock” vulgar, que aproveitaram o abandono do seu baterista para se virarem para os “beats” programados, pois o sempre tiveram um confesso interesse por produções “hip-hop”. Esse facto iria mudar-lhe o rumo e “Beat” tornou-se um marco importante do género.
Tentarem seguir a formula do seu disco homónimo de estreia, e aqui, ao longo de dez canções criaram uma sonhadora e delicada atmosfera, através de uma perfeita mistura das altaneiras, ligeiramente distorcidas, arqueadas e ressonantes guitarras, com ambientais texturas de sintetizadores, “drum loops” e os particularmente subtis “beats”.
O disco foi verdadeiramente bem produzido, e apesar de não ser nada de verdadeiramente novo, assim o parece, e ouvi-lo hoje, 14 anos depois da sua edição, não podemos de deixar de encontrar ligações no trabalho de Ulrich Schnauss ou dos M83, entre outros.
A distinta e solícita combinação de “shoegaze”/”dreampop” e electrónica ambiental, resultou numa atraentemente estática sonoridade híbrida. Mais espaçada dos que uns My Bloody Valentine ou Spacemen 3, mais quente do que uns Seefeel, mas possuidora de um certo mecanismo minimalista que evita a mesma de se deslocar para um rumo de trivialidade. A bela e luminosa voz de Martha Schwendener, perfeitamente ambígua e sedutoramente entorpecida é o complemento ideal para a música.
O disco é tranquilizador e ditoso nas rítmicas revelações de “Beat”, “Empty Words”, “Without Stopping” ou na soberba “Fear Of Flying”.
Completamente e inacreditavelmente excelente, é um disco que permanece connosco por muito tempo.
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04 fevereiro 2010

Classic # 24 - Primal Scream - “Exterminator” (2000 Creation)

Tal como os Primal Scream inventaram, em 1991, a sua própria banda-sonora para o Acid House com “Screamadelica”, ao se juntarem” aos The Orb e a Andrew Weatherall, e ao misturarem “beats” com abafadas guitarras reminiscente dos The Stooges e um “dub” halucinogénico, “Exterminator” maneja o mesmo bem oleado estratagema mas trocando o “house” pelo “electro” e “techno”.
Desta vez a “equipa de mistura” incluía entre outros David Holmes, Kevin Shield dos My Bloody Valentine, Dan The Automator, Jagz Kooner ou mais eficaz e surpreendentemente entre todos eles, os The Chemical Brothers. Estes últimos contribuem com uma frenética e vacilante “mix” de “Swastika Eyes”, que surge como o sucessor da “acid blues” mix de “Higher Than The Sun” que os The Orb realizaram para “ Screamadelica”.
Embora indiscutivelmente mais negro e vigoroso, depois de ter retirado elementos das sonoridades alcançadas em “Vanishing Point” e levando-as a um maior extremo sonoro, “Exterminator”, é facilmente identificável como o real sucessor de “Screamadelica”. Aqui é a amplitude, a profundidade, a energia, a intensidade e a ira presentes que completam o brilhantismo deste disco.
Mas “Exterminator” começa o seu penetrante curso de um ainda mais alto patamar, e a sua fuselagem está carregada com uma primitiva mistura explosiva do mais pesado “funk”, “jazz”, “noise” e “rock” prestes a explodir. E como se não bastasse debaixo de tudo, temos o verdadeiramente extraordinário e vibrante baixo de Mani (aka Gary Mounfield), que confere ao disco um acompanhamento deveras hipnotizador.
Assim e em canções como na poderosamente agressiva “Kill All Hippies”, na impertinente e intensa “Accelerator”, na bruma psicadélica de “Blood Money” ou nos abrasadores ritmos do transtornado “jazz” de “MBV Arkestra”, os Primal Scream retalharam todas as regras musicais para impulsionarem as suas estimulante ideias, no sempre muito estéril panorama musical.
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07 janeiro 2010

Classic # 23 - The Velvet Underground And Nico- “The Velvet Underground & Nico” (1967 Verve)

Por muitos considerado como o ponto de partida para a música alternativa, este disco realmente alterou a face do “rock”, mas também do “glam”, do “punk”, do “goth” ou do “indie”. Mas 43 anos depois, o que ainda mais surpreende é a sua audácia, a sua diversidade, a sua capacidade de experimentação sonora e a sua originalidade.
Sombrio e introspectivo, é a absoluta antítese, do movimento “hippie” que o resto da América andava a jubilar, e áspero como a cidade onde nasceu.
A música não é complexa, surge dispersa e escorregadia, mas é estranhamente compelível. E a estranha aliança entre Lou Reed e John Cale , fazia com eles experimentassem algo diferente em cada canção, através das hipnóticas espirais de dissonantes guitarras e viola, sempre apoiados pela poderosa bateria de Mo Tucker e com Sterling Morrison a agregar toda a mutilação sonora. Ao juntarem o contraste entre a voz fortemente superficial de Reed e o suave trautear de Nico, e a ilustre escrita de Reed - com referências sinceras e directas ao sexo bizarro e drogas, algo que ninguém tinha coragem para abordar tão abertamente à 40 anos atrás, pois no passado grupos como The Beatles (em “Happiness Is A Warm Gun”) ou The Byrds (em “Eight Miles High”), escreveram sobre os mesmos controversos temas ambiguamente – criaram momentos verdadeiramente únicos.
Começando na volátil, celestial, simultaneamente fascinante e sinistra “Sunday Morning”, passando pelas implacáveis e puramente loucas imagens do completamente soberbo “I'm Waiting For The Man”, pela gentil e sedutora “Femme Fatale”, pelo perturbador e contundente exótico relato sadomasoquista da claustrofóbica “Venus In Furs”, pela a atitude fútil do desbotado “garage” de “Run, Run, Run”, pelo melancólico “avant-garde” de “All Tomorrow’s Parties”, pela assustadora e francamente brilhante confissão no surreal épico “Heroin”, ou pela invulgarmente delicada e encantadora “I’ll Be Your Mirror”, chegamos às duas últimas canções que efectivamente representam a criação do rock alternativo: a convulsiva “The Black Angel’s Death Song” com a feroz e penetrante viola e a poesia absurda de Reed e a abismal batalha instrumental recheada de feedback presente em “European Son”, que absorve por completo o ouvinte.
Certamente Sonic Youth, Suicide, The Jesus and Mary Chain, Pixies, Smashing Pumpkins, My Bloody Valentine, entre outros, não teriam realizado os extraordinários álbuns que fizerem sem a existência deste magnifico monumento ao espírito brutal do “rock’n’roll”.
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24 abril 2009

Covers # 9

Um post no sempre excelente prozac, fez-me recordar um disco que não ouvia há anos e fez-me procurar uma versão das poucas que conheço de Dr. John.

Depois lembrei-me de mais esta, um pouco improvável para a época (ou daí talvez não...).


Já estes senhores criaram um disco que é uma reinterpretação total de "Loveless". Devem ser mesmo fãs.
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Por ultimo fica uma das mais recentes aquisições, e particularmente bem recebida cá por casa.

17 fevereiro 2009

Do fundo da prateleira # 14 - Long Fin Killie - “Valentino” (1996 Too Pure)

Depois da estreia com “Houdini” (1995), os escoceses Long Fin Killie continuaram em “Valentino” com a sua fascinação pelos singulares compassos rítmicos, pelas harmonias abrasivas, pela bizarra justaposição de instrumentos e por um vasto conjunto de influências estilísticas. Pois a sua inquietante sonoridade tanto relembra outros grupos da Too Pure (o etéreo ambiente fantasmagórico dos Pram, os vestígios “jazz” dos Moonshake), como o “shoegazing” de uns My Bloody Valentine ou Slowdive, e também a música tradicional Celta, esta representada pela forte presença de instrumentos étnicos (bouzouki, mandolin, violino, etc).
A música é bastante impressionista e melódica, e praticamente cada canção evoca um conjunto de diferentes emoções no ouvinte, pela forma como une as sussurrantes vocalizações com a complexa percussão, e impetuosos andamentos e descaradas guitarras com pormenorizados arranjos. As excêntricas e surrealistas letras de Luke Sutherland demonstram uma estranha e maravilhosamente deformada opinião sobre o mundo – ouçam “Neile” ou “Valentino”.
Disto tudo resulta um disco invulgarmente fascinante, tonificante, altamente delicado e perspicaz. Desde “Kitten Heels”, e o seu “rock” empolgante com a ultra rápida bateria e o “para-arranca” das densas guitarras passando por “Girlfriend” e os seus cortantes violinos, as vocalizações megafônicas e a deslizante linha de baixo até atingirem o nível mais alto em “Cupid” uma escultural obra-prima sónica, com os sustenidos violinos e a triturante percussão.
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25 novembro 2008

Deerhunter – “Microcastle” (2008 Kranky)

Depois da edição do primeiro disco do seu muito pessoal projecto paralelo - Atlas Sound – era com muita ansiedade que aguardava pelo novo disco da banda de Bradford Cox. E os Deerhunter não me desiludiram, pois apresentam-nos um disco colossal.
“Microcastle” é um disco original e imaginativo, com um charme e uma competência fora do comum, e está recheado de um “pop” florescente, com calorosos e sibilantes solos de guitarra e uma percussão enérgica. Aqui as rudes arrestas sonoras foram limpas para um formato mais digestível e orientado para a canção, comparado com a dura escuridão ambiental de “Cryptograms”, e se a redução do “noise” pode diminuir o impacto, é o lado mais brando dos Deerhunter que torna a sua música tão compelível. Existe uma elegância nesta simplicidade, que pode comprovar que as guitarras distorcidas de “Cryptograms” não serviam para esconder algum tipo de incompetência. Sobressaem as directas e enérgicas “Nothing Ever Happened” e “Saved By Old Times”, a despreocupada melodia de “Never Stop” ou a simetria da flutuante “Agorophobia”, que não estavam associadas ao som dos Deerhunter.
Os temas base (morte, perda e desespero) continuam presentes, mas parecem mais preocupados em arranjar formas de escapar aos mesmos, mesmo que seja de uma forma efémera e assim uma impressionantemente postura esperançosa está presente em temas como “Little Kids” e “Green Jacket”, apesar das vocalizações continuarem submissas e deprimidas.
A natureza complexa e individualista dos vários membros é uma mais-valia, que se pode comprovar pela brilhante contribuição do guitarrista Lockett Pundt, que também partilha por esta via as suas obsessões.
“Microcastle” é uma luxuriante paisagem sonora, muito mais próxima da perspectiva de uns My Bloody Valentine do que de outros grupos de rock experimental com quem os Deerhunter costumam ser associados e mais uma forma de Bradford Cox confirmar a sua influência como futuro ícone musical.
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06 março 2008

Atlas Sound - “Let the Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel” (2008 Kranky)

Um projecto paralelo do prolífero e provocativo Bradford Cox dos Deerhunter, que tenta afasta-se do “noise-rock” claustrofóbico que caracteriza a sua banda. Recolhido em sua casa, criou no seu portátil, uma junção entre electrónica ambiental e melodias”pop”, que resultam numa complexa combinação de sons (na sua maioria inclassificáveis e intrigantes), que tentam retratar os pequenos dramas emocionais da adolescência que carrega.
O disco começa excelentemente com “A Ghost Story” com o “sampler” da criança a narrar uma história assustadora, e se o álbum parece querer continuar nesse território sombrio em faixas como “Cold As Ice” ou “Small Horror”, dando a impressão de se tratar de um disco capaz de assustar e paralisar o ouvinte, não é disso que se trata.
Neste diversificado disco temos composições abstractas como a agitada “On Guard” ou “Winter Vacation” (com a camuflada batida “techno”), e “indie-rock” (mas reinventado) em “Quarantined” ou no exuberante “River Card” (é incrível a percussão). No hipnótico “Recent Bedroom” relembram os My Bloody Valentine, com as suas guitarras “noise”.
O disco inclui ainda “Scraping Past” que contém um inteligente encadeamento da maravilhosamente controlada voz de Cox, com uma saltitante linha de baixo, e que resulta numa bela experiência transversal.
Este disco, que provavelmente suplementa tudo o que Cox criou anteriormente, é sombrio, melancólico e calmante, no entanto completamente reconfortante

Atlas Sound - River Card

16 novembro 2007

Do fundo da prateleira # 6 - Flying Saucer Attack – “Flying Saucer Attack” (1993 VHF Records)

O título alternativo do disco de estreia dos FSA (também conhecido como “Rural Psychedelic”), já diz praticamente tudo.
Claramente inspirados pelos My Bloody Valentine e pelos místicos “krautrockers” Popol Vuh, mas sem possuírem a qualidade de equipamentos e estúdios dos mesmos, os FSA contudo aspiraram ao som denso e envolvente dos MBV.
Iriam ser responsáveis por influenciar inúmeras bandas “shoegazer” a tornarem-se “stargazer” com as suas suaves guitarras e melodias melancólicas. Eram originários de Bristol, de onde surgiram, entre outros, os Third Eye Foundation e Movietone.
O que poderia soar ou parecer a um tipo de engano, é realmente uma elaboradamente estruturada nova expressão musical. Uma combinação singular de melodia e som, cujo objectivo parece ser a exploração de novas regiões e paisagens sonoras.
A produção “lo-fi” realça a aspereza das canções. E nas vocalizações existe um esforço de fazer com que as palavras fluam tranquilamente com a música.
Mas se temas como “My Dreaming Hill” ou “Wish” evocam claramente os MBV, os FSA tentar afastar-se desse território, ao aventurarem-se também no “free-jazz” em “Moonset” ou na pura experimentação ambiental em “Still”.
Ecos dos FSA podem ser descortinados nos trabalhos dos Bardo Pond ou dos Godspeed You Black Emperor.
Um disco fundamental da “dream pop” dos anos 90.

29 agosto 2007

My Bloody Valentine Reuniting?

Será verdade....

Via DS - But now some tantalizing hints have emerged in the past few weeks that suggest the band is finally gearing up for a return to action. In July, several fans reported encounters with Shields at Primal Scream and Dinosaur Jr. shows in England, Ireland, and Russia, each returning with the same story: that Shields very matter-of-factly spoke of My Bloody Valentine in the very present tense. The fans reported Shields said that two new My Bloody Valentine releases are in the works – an anthology of unreleased 90s material and an album of brand new studio recordings – along with the imminent release of remastered versions of the band’s original studio work. He is also reported as saying, on several different occasions, that a 2008 tour is in the works that will feature the band’s original lineup. Furthermore, in an interview published earlier this year in Magnet magazine, Shields was adamant about the band’s return: “We are 100% going to make another My Bloody Valentine record unless we die or something,” he said.

23 agosto 2007

Seefeel – “Quique” (1993 Too Pure)

Apesar de terem assinado posteriormente trabalhos na Warp e na Rephlex, seria no seu disco de estreia
- o meu favorito - que os Seefeel, realizaram provavelmente o trabalho mais conceptual do grupo, e onde se denota uma maior sinergia entre os diversos membros.
Assim criaram uma mistura de hipnóticas texturas analógicas com efeitos de guitarras “Shoegazing” (influência clara My Bloody Valentine) My Bloody Valentine) e as luxuriantes angélicas vozes femininas.
O disco agrupa de uma forma completamente única diversas influências distintas, às vezes de uma forma experimental, outras de uma forma estética.
É difícil escolher um destaque porque o disco funciona como um todo.
Ouçam os três temas iniciais: “Climactic Phase #3” com os seus ritmos simples, e as imensas ondas de sintetizadores, seguida de “Polyfusion” que adorna o “feedback”, com densas camadas sonoras e a bela e incompreensível voz de Sarah Peacock, e “Industrious”, mais uma vez com a voz a estremecer etereamente sobre uma poderosa batida rítmica; e constatem como ao juntarem as possibilidades oferecidas pela electrónica com um trabalho de guitarra e baixo poderoso e sensual, criaram algo verdadeiramente diferente.
Se os Cocteau Twins tivessem integrado mais sintetizadores e caixas de ritmos talvez soassem assim.
Um clássico “indie-electronica” de um grupo que teve uma curta carreira, está agora disponível numa “Redux Edition” de 2 CD’s com mais 9 temas do que a edição original (o costume: B-Sides e remixes). Se ainda não o possuem, aproveitam, pois nos restantes discos nunca mais capturaram a criatividade aqui presente.
Um sedativo de atmosferas digitais.

03 julho 2007

Classic # 6 - My Bloody Valentine - “Loveless” (1991 Creation)

Em “Isn't Anything” (1988) já tinham identificado o projecto sonoro, no entanto o disco tinha como base a experimentação.
Com “Loveless”, Kevin Shields e os MBV expandiram esses sons pegando nos conceitos de “feedback” e “noise”, dando-lhe um sentido de estrutura, harmonia, e uma intensa e bela aproximação atmosférica.
Este conceito é demonstrado na primeira faixa, “Only Shallow”, onde Shields cria uma espiral de melodias, que parece que balança entre os “speakers”, enquanto em fundo, a assombrosa voz de Bilinda Butcher se funde com as outras instrumentações, sugerindo uma multiplicidade de eflúvios possíveis.
A segunda faixa, “Loomer” promove este conceito fundindo as vocalizações com rígidas distorções e uma bateria distante. E na terceira faixa, “Touched”, um instrumental de Colm O’Ciosoig, somos transportados numa viagem surreal, completa de estranhos “loops” e “samplers”.
A partir daqui o disco parece serenar, e Shields começa a tomar mais controlo sobre o som – visível nas guitarras densas e vocalizações celestiais.
Como resultado, “To Where Knows End”, “When You Sleep”, I Only Said”, “Sometimes”, e “Soon” são das mais belas canções da década, com os MBV a criarem um conjunto de temas que simultaneamente oferecem uma experiência desconcertante e perturbadora.
A melodia nunca está esquecida, e as atmosferas sonoras criadas são absolutamente incríveis.
Apesar do som distorcido das guitarras em fundo, nunca é dissonante escutá-lo, é pelo contrário calmante, provavelmente como resultado do uso das Fender Jazzmaster e Jaguars que lhes transmite um som mais caloroso.
As canções confundem-se umas nas outras e todo o disco surge como uma peça de arte, onde a sua coesão é simplesmente persistente, e onde todas as canções ou são praticamente tangíveis ou são inacessíveis.
O “Magnum Opus” dos My Bloody Valentine é um dos discos mais influenciais dos anos 90, um clássico moderno, em originalidade e sedução.

03 maio 2007

Classic # 3 - Ride - “Nowhere” (1990 Creation/Sire)

Considerado por muitos como o melhor disco dos Ride, “Nowhere” é não só um dos grandes momentos do chamado “shoegazing”, mas também um dos discos que poderá estar num Top 20 dos discos da década de 90.
“Nowhere” com a sua capa emblemática, é um disco clássico, do princípio ao fim.
Todas as canções, à sua própria maneira, demonstram a magia da música deste quarteto de Oxford no seu melhor: o caos controlado da bateria de Laurence Colbert, a urgência do baixo de Steve Queralt, o “feedback” monótono da guitarra ritmo de Mark Gardner, superiormente “misturados” com a atmosfera melódica criada pela guitarra de Andy Bell. Todos eram soberbos músicos. Outros instrumentos, como a harmónica e a guitarra acústica, aleatoriamente incluídos, visavam ainda embelezar mais as canções. E a perfeita combinação harmónica das vozes de Bell e Gardner, distinguia-os das restantes bandas.

Na melhor tradição britânica de classificar os géneros musicais, o som dos Ride é o que se definiu como “shoegazing”, (os músicos em palco estavam tão absorvidos com a sua música que ficavam a olhar para baixo, para as guitarras, dando a impressão que estavam a olhar permanentemente para os sapatos) mas comparando-o com o dos reis do movimento – My Bloody Valentine – é mais melódico e directo. Provavelmente é o resultado da presença da Rickenbacker de Andy Bell, e os seus efeitos e distorção.
O disco começa em clímax, com ondas de distorção e guitarras que parecem estar a chorar em “Seagull”, e contém canções imensas como “Dreams Burn Down”, e profundas como “Paralysed”. O resultado final é que não encontramos ao longo destas onze canções nenhum momento de fracasso.
O legado de “Nowhere” é um disco clássico, que ao procurar atingir as estrelas, consegue alcançar a lua.