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11 fevereiro 2009

Electronic # 7 - The Human League – “Reproduction” (1979 Virgin) / “Travelogue” (1980 Virgin)

A formação inicial dos Human League - Phil Oakey, Martyn Ware, Ian Craig Marsh – foi responsável pela criação de dois excelentes discos que ajudaram a definir o futuro da música electrónica, antes da acrimoniosa separação e Oakey ter remarcado a sonoridade “pop” e Ware/Marsh fazerem razia nos BEF e Heaven 17.
Com uma sonoridade experimental, a sua música era minimal, gelada e organicamente desordenada muito mais próxima de uns Cabaret Voltaire, Suicide ou Throbbing Gristle (e não polida como viria a tornar-se em meados dos 80’s) e as letras tinham um carácter que os colocavam num território similar a uns Joy Division. E notavelmente conseguiram conciliar as pretensões artísticas, com a postura assumidamente “pop” - influências obvias de Kraftwerk, Tangerine Dream e David Bowie - essencialmente queriam fazer as coisas de uma forma diferente.
“Reproduction” remete-nos para um ambiente sinistro, com um sonoridade puramente electrónica (convém relembrar que nesta altura ainda não havia “pro-tools”) que ainda hoje parece vir do futuro e que em nada se relaciona com a ociosamente estabelecida nostalgia habitualmente associada aos anos 80 – de um lado estão as jóias “pop” como o resoluto single “Empire State Human”, o eufórico “Blind Youth” (uma resposta ao etos “no future” do movimento “punk”) e a brilhante versão (ou deconstrução) do clássico “You’ve Lost That Lovin’ Felling”, do outro estão, em contraste, os temas secos e mirrados como “Almost Medieval” e o single “Circus of Death”.
“Travelogue” possui uma sonoridade mais limpa e mais épica do que “Reproduction”, e inclui o ritmado “noise” de “The Black Hit Of Space”, a excelente versão de “Only After Dark” (original de Mick Ronson), o provocadoramente triste relato da escravidão do trabalho de “Life Kills”, a desesperação resultante da fuga da opressão de “Dreams Of Leaving”, o poderio enérgico da sobrecarregada reconstrução do single “Being Boiled” e as suas viciosas palmas electrónicas.
O disco termina (na versão original /vinil) com “WXJL Tonight”, onde Oakey é o ultimo DJ humano numa sociedade futura onde as rádios são totalmente automáticas e no final começa a gritar implorando aos ouvintes para não o abandonar. Arrepiante.
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03 novembro 2008

Tributo # 8 - Cabaret Voltaire – 1983-1987


“The Crackdown” (1983 Virgin)
“Micro-Phonies” (1984 Virgin)
“Code” (1987 Virgin)

Numa altura em que o “punk” dominava, existiram alguns movimentos que fugiam aos padrões sonoros do género. Muitos deles trabalhavam com instrumentos electrónicos e pré-gravações, e numa primeira, e mais primária fase, ficaram rotulados como electro-industrial.
Em Sheffield, uma cidade industrial, na verdadeira acessão da palavra, iriam aparecer grupos como os The Human League, os Clock DVA, e os Cabaret Voltaire. Estes últimos seriam um dos mais importantes ao combinarem música electrónica experimental com o “pop”“dub”, “tecno”.
Formados por Stephen Mallinder, Richard H. Kirk e Chris Watson, a sua evolução sonora esteve interligada com a evolução da própria tecnologia, evoluindo das primitivas colagens sonoras para os sintetizadores e samplers.
Uma forte componente visual sempre os acompanhou, desde as imagens que eram projectas nos espectáculos ao vivo, passando pelo grafismo dos discos, e os vídeos – neste último tendo criado a sua própria produtora de vídeo, a Doublevision.
Numa primeira fase dominava a agressividade politica e o terrorismo sonoro, dissonante e vibrante muita na veia dos Throbbing Gristle. Era um som experimental, livre electrónica industrial, e assim temas como “Silent Command”, “Eddie’s Out” ou “Control Addict” mais se parecem com colagens sonoras do que verdadeiras canções. Nesse período gravaram dois álbuns fundamentais, “Red Mecca” (1980) e “The Voice of America”(1981).
Já reduzidos a um duo com a saída de Watson, que iria formar os Hafler Trio, assinam pela Virgin, e a partir daqui a sua sonoridade ficou mais elaborada e passou a focar-se em ritmos mais dançáveis, mais “pop” orientados, e com a incorporação de estruturas do “funk”. Isto em 1983, quando a música industrial ainda se estava a desviar das guitarras e a norma era emergir nas electrónicas (Test Department) ou na experimentação (Einstürzende Neubauten).
Desta segunda fase resultaram discos como “The Crackdown” (1983), “Micro-Phonies” (1984) ou “Code” (1987), onde estavam incluídos alguns dos seus melhores temas, mas também os mais acessíveis como “Sensoria” ou “Here To Go”, que rapidamente se tornaram favoritos das pistas de dança.
Era um som sombrio, os ritmos frios e as vozes hesitantes com mensagens e advertências. E apesar do som mais “limpo” a imagem dos CV continuava algo sinistra, mas talvez mais distinta, e gradualmente foram desenvolvendo a variação “dançante” da música industrial que eventualmente definiu o género a partir de meados dos anos 80. A mudança começou com “The Crackdown” onde a música é mais complexa e estratificada, destacam-se “Talking Time”, “Crackdown”, a maravilhosamente complexa e altamente introspectiva “Just Fascination”, e as excursões ambientais de “DoubleVision” e “Badge of Evil”. Seguiu-se “Micro-Phonies”, provavelmente o melhor disco do CV, é mais disciplinado e resoluto, mas um dos mais intransigentes do seu tempo. Uma verdadeira banda-sonora da idade moderna, está cheio de humor negro e comentários sociais, visíveis nesse exercício de “samples” que é “Do Right”, na ciber-paranóia de “Spies In The Wires”, ou em “Blue Heat”. “Code” é o mais acessível, mas completamente contagiante, produzido por Adrian Sherwood, é mais “funky”, mas musicalmente inteligente e cínico. Destacam-se “Don’t Argue”, “Thank You America” e “No One Here”.
Seguiram-se colaborações com produtores como François Kevorkian, que realizaram remisturas com o intuito de tomar de assalto as pistas de dança, que iria culminar em 1990 com a edição de “Groovy, Laidback & Nasty”, já bastante influenciado pela sonoridade “house”.
Desde 1994 que estão semi-retirados (Richard H Kirk continua muito activo com vários projectos – Sandoz, Dark Magus, Sweet Exorcist), mas esta variação de música electrónica industrial iria influenciar directamente grupos como os Front 242, Nitzer Ebb, Skinny Puppy e Nine Inch Nails, o lado negro do “tecno pop”._

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16 junho 2008

Extremos # 3 - Swans - “Filth” (1983 Labour)

Inicialmente os Swans criaram uma das sonoridades mais brutais que ainda podem ser consideradas como música.
Oriundos de Nova Iorque, e liderados por Michael Gira, foram um dos expoentes do movimento “no wave”, ao lado de grupos como Sonic Youth ou visionários como Glenn Branca.
A sua mistura de “noise rock” e música industrial (claras influências dos Throbbing Gristle), resultou numa música mental, física, baseada na exaustiva repetição de “riffs” e locuções vocais, e no abrandamento total do ritmo (virtualmente rastejando), de forma a criar um efeito hipnótico.
O título do seu primeiro álbum “Filth” já sugere o que devemos esperar, e poucos discos poderão igualar a brutalidade oferecida, que nos deixa paralisados.
Dois bateristas (Roli Mosimann e Jonathan Kane), com um martelar ritual e abrasivo, criavam uma sensação de agressão, de violência directa, de impiedosa brutalidade. O rosnar de Michael Gira, constantemente abalado, é meio berrado, meio gemido, e funciona como uma arma atroz e formosamente injuriosa, resultado de uma certa ambiguidade das mórbidas letras. Este disco marca também a primeira participação do guitarrista Norman Westberg, cujas guitarras triturantes, seriam um das imagens de marca da banda.
Os discos seguintes “Cop”, “Greed”, Holy Money”, seguem o mesmo padrão sonoro. E seria já com a presença de Jarboe na banda, que os primeiros sinais de mudança acontecem, em 1987 com “Children of God”, e que iriam se concretizar na década seguinte, onde a sua sonoridade se transformou radicalmente.