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23 outubro 2010

Compilações # 8 - Abecedarians – “AB-CD” (1988 Caroline)

O curioso título desta compilação, que basicamente contém os conteúdos dos dois primeiros álbuns dos californianos Abecedarians, é uma abreviatura do seu próprio nome. Eles foram durante os cinco anos da sua existência, uma das poucas bandas americanas do “post-punk” que deram uma apropriada resposta ao paralelo movimento britânico. E seria uma pena se ficarem na história apenas por terem sido a única banda americana que editou pela Factory Records (o single “Smiling Monarchs”, pois eles tinham uma sonoridade única, extremamente ampla e deserta, que encapsulava elementos do “post-punk”, “dream pop”e “post-rock”. Foram alvo de inúmeras comparações com os melhores do género, mas certamente serão os Echo And The Bunnymen a melhor referência, pelos ritmos enérgicos, pelas ressonantes guitarras, pelo serpenteante baixo e por uma bateria num estilo “jazzistico”, reminiscente dos Can, que impulsionava as músicas de uma forma expansiva, mas desapressada, para criar composições heterodoxas como as impressionantemente hipnotizantes “Soil” e “I Glide”.
Assente nas vocalizações profundas e distintas de Chris Manecke, em conjunção com as exuberantes guitarras submersas em “reverb”, era a robusta secção rítmica que funcionava como a âncora sonora que continha as imponderáveis atmosferas onde as canções se aventuravam. A banda notavelmente intercalava uma quantidade de truques tecnológicos no seu som, alternando entre canções mais optimisticamente “pop” e material mais melancolicamente lento. E assim se as guitarras discordantes do sombrio “Ghosts” relembram os Joy Division, já as “drum-machines” e os sintetizadores presentes em “The Other Side Of The Fence” recordam os Orchestral Manoeuvres In The Dark nos seus primórdios.
Um disco para ouvir lentamente e repetidamente.
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28 junho 2010

Covers # 13

Mais uma ronda pela prateleira com o objectivo de seleccionar algumas versões que particularmente aprecio.


Este é uma excelente interpretação para um grande clássico intemporal.

Death Cab For Cutie - This Charming Man (The Smiths)


Ainda me lembra do filme que incluia esta na sua banda-sonoro. Curiosamente Ray Manzarek foi o produtor.

Echo And The Bunnymen - People Are Strange (The Doors)


Um grupo que merecia muito mais atenção do que a recebeu, mas que terá sempre um carinho especial cá por casa.

Shop Assistants - She Said (The Beatles)

E aqui está uma boa razão para ainda comprar "singles".

23 abril 2010

Pop # 12 - Kitchens Of Distinction

“Love Is Hell” (1989) (One Little Indian)

“Strange Free World” (1990) (One Little Indian)

Este trio londrino presenteou-nos com canções apaixonantes, inteligentes, honestas, bruscas e graciosas, recheadas de extáticas e intensas emoções, através da despretensiosa poesia de Patrick Fitzgerald, que detalhavam as fraquezas e os desaires dos relacionamentos que ele observava. A homosexualidade de Fitzgerald significa que as letras não se refugiavam na tradicional história “rapaz encontra rapariga”, mas ainda assim ressonavam com empatia, ternura e sensibilidade. Ao contrário de bandas como os Echo And The Bunnymen ou os The Chameleons, que tinham os seus incentivos nas trevas, os KOD usavam dinâmicas mais electrizantes como ponto de partida. Estas estavam assentes na fogosa voz e nas brilhantemente confessionais letras de Fitzgerald, na aterradora e voluta guitarra de Julian Swales, que produzia uma assombrosa quantidade de extraordinários sons gerados via uma extensa utilização de efeitos e na pulsante bateria de Dan Goodwin, que adicionava uma verdadeira musculatura e simultaneamente sustentava a estrutura das canções. Foram aglomerados na pletora de bandas “shoegazing”/”dream –pop” juntamente com os recém chegados Slowdive e Chapterhouse, o que trouxe comparações injustas e pouco sensatas, pois a sua música possuía muito mais alma, variedade e emoções genuínas (aquele turbilhão de guitarras de certo modo relembra uma música psicadélica bem enraizada). Tudo isto é extremamente visível nos seus dois primeiros álbuns. O brilhante “Love Is Hell” (1989), que inclui as indolentes rajadas de guitarra presentes em “In A Cave”, a efémera guitarra de “Time To Groan”, a simplesmente fabulosa “Prize”, e a eufórica “The 3rd Time We Opened The Capsule”. Evoluíram para algo verdadeiramente transcendente em “Strange Free World” (1990), que inclui a esplendorosa “Railwayed”, a poderosa “He Holds Her, He Needs Her”, a impiedosamente frenética “Drive That Fast” e a sublime “Quick As Rainbows”. Uma banda lamentavelmente esquecida, que nunca teve o reconhecimento que mereciam (provavelmente devido ao nome desajeitado, provavelmente devido pela obvia homosexualidade que assustou e afastou muitas pessoas), mas cuja dor era definitivamente o nosso prazer.
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Kitchens Of Distinction - The 3rd Time We Opened The Capsule
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Kitchens Of Distinction - Railwayed

13 fevereiro 2009

My Favorites # 13 - Echo And The Bunnymen – “Heaven Up Here” (1981 Korova)

Edificado sobre a juvenil vitalidade e dinamismo do exuberante “Crocodiles”, “Heaven Up Here” é, para mim, o auge de expressão dos Echo And The Bunnymen.
Existe aqui algo mais místico do que na maioria dos discos, mais filosófico e auto-motivante, e este torna-se no “nosso disco”, é como se estivesse-mos envolvido na sua criação. Está recheado de momentos sombrios assim como algumas estranhas e serenas fantasias que juntamente com as letras hipnotizadoras podem semear-se no nosso inconsciente.
Somos surpreendidos com as contundentes guitarras de Will Sergeant que cintilam como gotas que caiem em charcos, enquanto o baixo produz “riffs” hipnóticos e a bateria tritura ritmos tribais (o baterista Pete De Freitas tem uma importância divina ao longo de todo o disco). E depois reparamos na voz: ela eleva-se, mergulha, penetra, guia-nos e luta com a música, muitas vezes no espaço da mesma canção. A voz de Ian McCulloch é sinistra e possui algo de divino e anciã que nos faz acreditar nele. Ela que goteja quer sejam dramas ou situações patéticas, entregando poemas ocultos que nos atraem para uma estranha lógica interior que efectivamente com o passar do tempo começa a ter o seu sentido.
A “magia” está presente em todo o disco, mas destacam-se as três primeiras canções, uma das melhores trilogias de abertura de sempre:
“Show of Strength” a bateria e o baixo formam uma sólida rede sobre a qual a guitarra investe e lamenta-se. Ian McCulloch“ apregoa por aceitação, e a sua segura e gloriosa melodia faz com que acreditemos no seu magistral romantismo, a guitarra magicamente liga tudo num enorme buraco sem emenda, e a canção parece entalhada numa gigante montanha-russa.
“With a Hip” começa com uma sonoridade reminiscente de um vastidão industrial e termina com um cometimento à grandeza. Pelo meio as guitarras constroem uma tensão que é libertada através dos ensurdecedores tambores.
“Over The Wall” é uma viagem nocturna pelas encostas, enquanto o nevoeiro se precipita e as incertezas que nos atormentam rastejam por debaixo da nossa pele.
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19 setembro 2008

Tributo # 7 - Josef K

“Young and Stupid” (1990 LTM)
“Endless Soul” (1998 Marina)
“Entomology” (2006 Domino)


Esta banda que leu Franz Kafka, foi uma das mais interessantes e inspiradas do “post-punk”, e extremamente influente no movimento musical escocês, apesar de mais obscura e menos celebrada que os seus contemporâneos Orange Juice, Fire Engines e Aztec Camera.
Liderada por Paul Haig e Malcolm Ross, produziu alguma da música mais sublime do período.
O facto de terem abortado a edição do seu álbum de estreia (“Sorry For Laughing”), por acharem o som muito polido, e que não reflectia o seu espírito, cometeram um pequeno suicídio. Para a história ficou apenas um álbum – “The Only Fun In Town”, este com um som mais forte - editado e vários singles.
Assim talvez a melhor forma de os descobrir, é nas várias sumptuosas compilações, como “Young and Stupid” (1990 LTM), “Endless Soul” (1998 Marina) ou “Entomology” (2006 Domino) (esta última provavelmente a definitiva, e reforçada pela sua bela embalagem). E ficamos com a oportunidade de descobrir pequenos tesouros perdidos de um curta e brilhante carreira, desta inteligente, talentosa e tão à frente do seu tempo.
Criaram um “pop” alternativo precioso, baseados numa agressivamente dinâmica bateria, em contagiantes e abafadas chicoteadas do baixo, em brilhantes harmónicos cheios de reverberação das guitarras e em vocalizações espontâneas e ásperas (relembrando os primórdios dos Echo And The Bunnymen).
Destacam-se principalmente os seus quatro singles editados na Postcard – o electrizante “Radio Drill Time”, o mordaz “It’s Kind Funny”, o desmazelado” “Sorry For Laughing” e o discordante e lamentoso “Chance Meeting” – mas ainda temos mais momentos arrebatadores no épico “Revelation”, na subtileza de “The Specialist”, em “Sense of Guilt” (e as similaridades com Joy Division), em “The Angle”, no “funk” musculado de “Heart of Song”, ou no refinado “Heaven Sent”.
É verdade, e muita gente já o afirmou, mas é extremamente evidente que foi aqui que os Franz Ferdinand vieram tirar as suas ideias. Mas também são claros os vestígios que encontramos nos The Wedding Present e Interpol.
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06 maio 2008

Anjos Caídos

Comsat Angels – “Waiting for A Miracle” (1980 Polydor)
Comsat Angels – “Sleep No More” (1981 Polydor)


Este quarteto, apesar de ter editado discos em multinacionais, nunca teve o reconhecimento que merecia, e sempre viveu na sombra de contemporâneos como os Joy Division, os Wire, os Magazine ou os Echo & The Bunnymen.
Felizmente há alguns anos atrás a Renascent lembrou-se de reeditar os seus discos e tentar promove-los da mesma forma que tentaram anteriormente com os The Sound (a origem deste post foi aqui inspirada). Assim gerações mais novas podem descobrir canções brilhantes como “Independence Day” ou “Dark Parade”.
Originários de Sheffield, os seus dois primeiros álbuns “Waiting for A Miracle” (1980 Polydor) e “Sleep No More” (1981 Polydor), têm uma sonoridade única, caracterizada pelo estilo minimalista, mas harmonioso, de tocar guitarra de Stephen Fellows.
Cedo perceberam que podiam ter pretensões artísticas e serem simples ao mesmo tempo, dando mais ênfase à bem imaginada energia e domínio do que á complexidade musical.
Utilizando os Television e os Talking Heads como principal inspiração, desenvolveram uma sonoridade frugal, límpida, mas que atinge fortemente.
Do primeiro para o segundo disco nota-se que amadureceram, e aparecem mais confidentes, rigorosos, mas também mais frios (apesar do som ser mais pesado), nomeadamente na capacidade lírica. E se as letras continuam a abordar a decadência romântica, a resultante paranóia está muito mais forte e evidente. Como resultado “Sleep No More” poderá não ser tão acessível como o primeiro, mas não será menos intenso e brilhante.
Com “Friction” de 1982 tentaram aligeirar o som, e apresentaram um disco muito produzido. Apesar do “pop” sofisticado que predomina ao longo do disco, este não teria os momentos inspirados dos dois anteriores. Esses, sim, iriam assegurar-lhes um lugar cativo no quadro de honra dos melhores discos do pós-punk britânico.