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27 setembro 2010

Extremos # 10 - Chrome – “Half Machine Lip Moves” (1979 Beggars Banquet)

O núcleo central dos Chrome, o duo Damon Edge e Helios Creed – auxiliados por variados músicos que fugazmente se juntavam ao projecto – criou um estilo musical que merecia muito mais crédito do que o estatuto de “culto” que inevitavelmente gerou. “Half Machine Lip Moves” foi na altura do seu lançamento um curioso e poderoso híbrido, que fundia o estilo agressivo de uns The Stooges com uma sobrenaturalidade inspirada na ficção cientifica e muita LSD, reflectida nos títulos, que evidenciavam o interesse que tinham nos alienígenas e na tecnologia contemporânea.
Este álbum foi sem dúvida o melhor momento dos Chrome (“Alien Soundtracks” de 1977 foi a outra obra-prima): a cauterizada guitarra de Creed, fortemente carregada de efeitos FX, o Moog e as arrepiantes vocalizações de Edge, sustentadas pela percussão metálica, uniram-se para criar o que poderia ter se tornado num ponto de partida radicalmente novo para uma forma emergente de “post-rock”. A sua influência pode ser perceptível no som dos Big Black e em alguns outros grupos, mas a extensão do seu esquecimento pode ser medido no mês em que o cadáver de Damon Edge permaneceu por descobrir após a sua morte em 1995.
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10 setembro 2010

Classic # 28 - The Stooges – “Fun House” (1970 Elektra)

Se considerar que o primeiro álbum dos The Stooges era essencialmente o som de uns anti-sociais a tocarem o mais cru “garage-rock” possível, repetindo continuamente os mesmos brutais “riffs” de “blues” até atingirem um sentido de ritmo hipnótico no qual a guitarra “guinchava” e o vocalista Iggy Pop cantava contos urbanos que precediam a ascensão do “punk”, o disco seguinte, “Fun House”, ampliou o diagrama sonoro e impulsionou os limites do que o “ rock’n’roll” primário poderia ser ao extremo.
Provavelmente derrotando a sua fonte de inspiração - “White Light/ White Heat” dos The Velvet Underground - no seu próprio jogo (embora por meios um pouco diferentes), eles gravaram o que é indiscutivelmente um dos álbuns mais intensos de sempre, encontraram o equivalente musical da mais desenfreada, anárquica, torturante festa que qualquer homem jamais poderia conceber – simultaneamente terrível e fascinante na sua completamente selvagem naturalidade.
No disco de estreia, Iggy era um vocalista mais conflituoso do que qualquer outro do seu tempo, mas aqui ele surge como se estivesse no meio de uma transe tribal, que exigia a completa submissão” do corpo, mente e alma. As letras complementam a música perfeitamente, mas isto não é poesia para ser analisada ao mesmo nível de seriedade do que seriam letras de Bob Dylan, mas nada poderia ser mais apropriado, no calor do momento que a ladainha “I feel alright” repetida durante o fim incendiário de “1970”.
O registo está carregado com o mais directo “garage-rock” - “Down On The Street”, “Loose”, “T.V.Eye” - e seguidamente e de uma forma lenta entra em improvisação livre (juntando-se aqui para o resto da viagem o saxofonista Steven Mackay, que irá rivalizar os solos com a guitarra de Ron Asheton). Eles tiraram as suas sugestões directamente da então contemporânea cena “avant-gard” “ jazz”, e culminam com o apocalíptico “L.A. Blues”, a única lógica conclusão, quase cinco minutos da mais chocante e pura dissonância que sintetiza o manifesto do álbum. Mas um dos aspectos mais importante deste álbum é a forma como as músicas funcionam como um todo coeso, e 40 anos após o seu lançamento original, quando até mesmo a sua editora recuou perante o seu ruidoso, sujo e brutal “rock’n’roll”, nada pode diminuir a energia pura e genialidade emaranhados nesta celebração irrestrita. “Funhouse” é “Detroit Rock” no seu melhor, servindo como crucial diagrama para o “punk”, “post-punk”, “new wave” e “noise/art rock”.
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04 fevereiro 2010

Classic # 24 - Primal Scream - “Exterminator” (2000 Creation)

Tal como os Primal Scream inventaram, em 1991, a sua própria banda-sonora para o Acid House com “Screamadelica”, ao se juntarem” aos The Orb e a Andrew Weatherall, e ao misturarem “beats” com abafadas guitarras reminiscente dos The Stooges e um “dub” halucinogénico, “Exterminator” maneja o mesmo bem oleado estratagema mas trocando o “house” pelo “electro” e “techno”.
Desta vez a “equipa de mistura” incluía entre outros David Holmes, Kevin Shield dos My Bloody Valentine, Dan The Automator, Jagz Kooner ou mais eficaz e surpreendentemente entre todos eles, os The Chemical Brothers. Estes últimos contribuem com uma frenética e vacilante “mix” de “Swastika Eyes”, que surge como o sucessor da “acid blues” mix de “Higher Than The Sun” que os The Orb realizaram para “ Screamadelica”.
Embora indiscutivelmente mais negro e vigoroso, depois de ter retirado elementos das sonoridades alcançadas em “Vanishing Point” e levando-as a um maior extremo sonoro, “Exterminator”, é facilmente identificável como o real sucessor de “Screamadelica”. Aqui é a amplitude, a profundidade, a energia, a intensidade e a ira presentes que completam o brilhantismo deste disco.
Mas “Exterminator” começa o seu penetrante curso de um ainda mais alto patamar, e a sua fuselagem está carregada com uma primitiva mistura explosiva do mais pesado “funk”, “jazz”, “noise” e “rock” prestes a explodir. E como se não bastasse debaixo de tudo, temos o verdadeiramente extraordinário e vibrante baixo de Mani (aka Gary Mounfield), que confere ao disco um acompanhamento deveras hipnotizador.
Assim e em canções como na poderosamente agressiva “Kill All Hippies”, na impertinente e intensa “Accelerator”, na bruma psicadélica de “Blood Money” ou nos abrasadores ritmos do transtornado “jazz” de “MBV Arkestra”, os Primal Scream retalharam todas as regras musicais para impulsionarem as suas estimulante ideias, no sempre muito estéril panorama musical.
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11 janeiro 2010

Extremos # 6 - Blue Cheer - “Vincebus Eruptum” (1968 Philips)

Nomeados segundo um particularmente potente tipo de “acido”, os Blue Cheer são muitas vezes considerados os progenitores do que se iria denominar como “Heavy Metal” ou “Hard Rock, pela extremamente pesada sonoridade que praticavam para a época.
Reza a história que o grupo tocava tão forte e alto, que inadvertidamente chegaram a causar a morte prematura de um cão, que se extraviou para o palco numa altura em que eles estavam a improvisar.
No seu disco de estreia “Vincebus Eruptum”, descobriram que os amplificadores podiam atingir o volume máximo, e deram-nos seis temas recheados de “feedback” e mau génio. Começando no deformado e explosivo “Summertime Blues”, passando pelo preguiçoso e delirante “Rock Me Baby”, pela massiva e confusa distorção de “Doctor Please”, pelo fantástico “Out Of Focus” que é precisamente isso, pela erupção da psicótica “Parchment Farm”, até chegarmos ao verdadeiro abuso da guitarra e do amplificador de “Second Time Around”.
Rosnando violentamente na face da inocência “hippie”, “Vincebus Eruptum” não impressionou a geração Woodstock com o seu ataque sónico, mas rapidamente se tornou num hino para os Hell’s Angels.
Apesar da abordagem caótica o tornar menos directo que os primeiros trabalhos dos Black Sabbath ou The Stooges - as suas referencia mais próximas - anos mais tarde iria adequadamente inspirar uma nova geração de contundentes bandas “garage” e numerosos trios de “noise” japoneses, como os High Rise e os Musica Transonic de Asahito Nanjo, que ao longo dos anos lhes iriam prestar uma mutante homenagem.
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18 março 2009

Rock # 6 - Dinosaur Jr.- “You’re Living All Over Me” (1987 SST) / “Bug” (1988 SST)

Apesar de nunca terem tido a importância histórica de uns Pixies ou Sonic Youth, ou mesmo de uns Hüsker Dü ou Big Black, foi por aqui, via The Stooges e o “punk-hardcore” que se começou a desenvolver o caminho que iria levar aos Nirvana. É aqui que encontramos as raízes do grunge e do “lo-fi”.
O trio de Amherst composto por J. Mascis, Lou Barlow e Murph, foram uma explosão de energia, resultado da acção combinada entre a vitalidade e a tensão da química interna produzida pelo grupo liderada por J Mascis, um proto-Cobain que escreveu importantes capítulos na história da guitarra eléctrica. Ousadamente tornaram OK criarem “jams” e aplicarem extensos solos no essencialmente leal movimento “punk-indie”, totalmente desprovido de qualquer enfeite musical.
No inigualável “You’re Living All Over Me”, as canções são concisas e sinceras, onde os dotes e a presença de Mascis são colossais, pela intensidade emocional que coloca nos seus solos de guitarra, complementado por um grande trabalho de Barlow no baixo, uma mistura de melodia e distorção.
Brilhante desde o distinto e contagiantemente louco “feedback” de “Little Fury Things”, passando pela segura “The Lung”, pelo agradável “noise” de “Tarpit”, pela forma como as pesadas guitarras de “Raisans” e a insana “Sludgefeast” envenenam o ouvinte com o seu poder, até chegarmos a “Lose” e à assombrosa “Poledo”, ambas escritas por Barlow (cujas sonoridade relembram mais as desenvolvidas posteriormente no seu trabalho com os Sebadoh).
Em “Bug” o som está mais ordenado e estruturado, mas a banda estava prestes a explodir em conflitos internos. No entanto as acções combinadas mantêm-se num nível elevadíssimo, onde a dinâmica “soft/hard” é um padrão que iguala a atitude de Mascis, que alterna entre delicadeza e desejo e um mortal desencantamento, bem reflectida no ocioso e suavemente distorcido “garage.rock” de “Freak Scene” (a “marca registada” era resmungar vagarosamente vocalizações “folk” e rápidos, ásperos “riffs” e depois derramar ardentes solos de guitarra). Destacam-se ainda o dilacerantemente belo solo de “No Bones”, o reprimido “trashing” de “Pond Song” (que relembra Neil Young na fase “Rust Never Sleeps”), a directa “Budge”, e os enormes e patetas “riffs” de “Yeah We Know”.
Dois discos de prazer intenso misturado com sofrimento intenso.
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15 janeiro 2009

The Fall – Discografia Selectiva


“Dragnet” (1979 Step Forward)
O som claustrofóbico, tenebroso de uns amadores ranhosos a explorar os nossos nervos. Os regalos incluem o funesto “Flat Of Angles” e “Psykick Dancehall”.

“Grotesque (After The Gramme)” (1980 Rough Trade)
A primeira verdadeiramente grande obra. Foi aqui que os Pavement se inspiraram. A combinação entre o entusiasmante pop-psicadélico e a perversa melancolia – conseguiam ser simultaneamente contagiantes e repugnantes. Melhores faixas: “Container Drivers”, “English Scheme”, “New Face In Hell” e o manifesto “N.W.R.A.” que definiu a sua continuidade.

“Hex Enduction Hour” (1982 Kamera)
“Denso e desordenado. Um massivo desmoronamento de “noise” e histórias ocultas. Um crítico descreveu-o como “música criada para torturar imbecis”. Inclui “The Classic” e “Hip Priest”, que iria ser incluída na banda-sonora de “O Silêncio dos Inocentes”.

“The Wonderful And Frightning World Of The Fall” (1984 Beggars Banquet)
O avanço gradual para a normalidade “pop” com a produção a cargo de John Leckie e já com Brix Smith a bordo. O maravilhoso “Disney’s Dream Debased” está aqui presente, assim como o bombasticamente sangrento “The Lay Of The Land”. Soberbo.

“This Nation’s Saving Grace” (1985 Beggars Banquet)
Provavelmente o melhor disco. Novamente com Leckie, recheado de “riffs” gigantescos e batidas propulsoras, foi aqui onde estiveram o mais próximo do “rock tradicional”, mas ainda bastante afastados do “pop”. Aqui estão presentes a colérica e psicologicamente opressiva sátira de “Spoilt Victorian Child”, o presciente “L.A.” e “I Am Damo Suzuki”, o tributo ao vocalista dos Can.

“Bend Sinister” (1986 Beggars Banquet)
Ao longo do disco prevalece um imenso pessimismo, neste sombrio endereço à mediocridade e ao caprichismo da sociedade. Inclui “Mr. Pharmacist” e “Dktr Faustus”. Seria o fim da associação com John Leckie.

“The Frenz Experiment” (1988 Beggars Banquet)
Quando nos apercebemos que a nossa mente está a ser controlado por este disco, já é tarde demais. Entre a tranquilidade (“The Steak Place”) e a violência (a oculta perversidade de “Bremen Nacht”). Inclui ainda a bem sucedida versão de “Victoria” dos The Kinks.

“Extricate” (1990 Phonogram)
A presença de Adrian Sherwood e dos Coldcut, abrangeu o uso de mais tecnologia (sintetizadores e caixas de ritmos) que conseguiram estimular a banda – “Sing! Happy” rouba a ”Little Doll” dos The Stooges, enquanto o fabuloso “Bill Is Dead” demonstra subtileza. Fabuloso.

“The Infotainment Scan” (1993 Permanent)
Profundamente sintético, consegui entrar no Top 10 das tabelas de vendas britânicas. Apesar de “Glam Racket” ser inconsciente nostálgico e “Paranoia Man In Cheap-Shit Room” ser excentricamente autobiográfico. Um dos seus melhores álbuns.

“The Unutterable” (2000 Eagle Rock)
A velha fórmula – “rock’n’roll”visceral esboçado por cima de abstracções – é completamente implementada. Produzido por Grant Showbiz (que também realizou “Dragnet”) também inclui uma canção sobre William Blake, tal como “Dragnet”.

“Reformation Post-TLC” (2007 Slogan)
Mais uma vez após ter perdido uma formação numa tournée nos Estados Unidos, juntou membros de bandas de Los Angeles, e o resultado foi uma energética união de “riffs”, declamação e tecnologia, entregue com os mesmos níveis de vigor de outros tempos.
E ainda temos os vários singles:
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07 julho 2008

Singles # 15 - Mudhoney – “Touch Me I’m Sick” (1988 Sub Pop)

O disco que marcou a história da Sub Pop. Curiosamente lembro-me bem que a primeira vez que ouvi falar deles foi através do nosso Peel, o carismático António Sérgio, que passou no Som da Frente, a versão que os Sonic Youth (na altura já favoritos cá da casa) fizeram para este tema e a seguir a que estes fizeram para “Halloween” dos primeiros.
Independentemente de classificar-mos a sua sonoridade de “grunge” ou “guitar-noise”, esta foi uma das mais importantes bandas do movimento independente que cresceu em Seattle na segunda metade doa anos 80.
As suas origens estão nos lendários Green River, a primeira banda dos guitarristas Mark Arm e Steve Turner, que incluía ainda Stone Gossard e Jeff Ament, futuros Mother Love Bone e actualmente Pearl Jam.
Fecharam-se num estúdio com Jack Endino e misturando o “hardcore” dos Black Flag com a gloriosa brutalidade dos The Stooges, criaram um som brutal e explosivo, baseado no deformado “riff” de guitarra, extremamente distorcido através de um pedal de distorção Big Muff, acompanhado pelo brusco baixo de Matt Lukin e pela frenética bateria de Dan Peters. Como complemento as obscenas letras de Arm evocam enfermidade e repugnância.
Os Mudhoney seriam a inspiração para um jovem Kurt Cobain, que esperava um dia produzir discos que acumulasse o mesmo ímpeto emocional.
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Mudhoney - Touch Me I'm Sick (Live - Video)

Mudhoney - Touch Me I'm Sick

11 dezembro 2007

Rock # 2 - The Sonics - “Here Are The Sonics!!!” (1965 Etiquette/Norton)

Se muitas das bandas de “garage-rock” dos anos 60, tendiam a soar similares, o som dos The Sonics era totalmente diferente.
Criaram um som novo, intenso, selvagem, através de composições básicas, e ao combinarem os gritos histéricos de Gerry Roslie, o som forte das enérgicas guitarras de Larry Parypa, da intensa e violenta bateria de Bob Bennett, em conjunto com uma produção intencionalmente tosca, com uma rudimentar qualidade sonora. Era puro e genuíno “rock’n’roll”.
Para a história deixaram-nos clássicos como os originais “Psycho”, “The Witch”, “Boss Hog” ou “Strychnine”, e versões insanas de clássicos de R&B.
A introdução de “The Witch”, com o seu característico órgão, é uma referência do movimento “garage-rock”. E “Psycho” ainda hoje continua brutal e psicótico.
Como eram originários de Tacoma, que geograficamente era próximo de Seattle, e como também era localizado no estado de Washington na zona Noroeste do Pacifico são muitas vezes referenciados como precursores do “grunge”, mas é muito mais evidente a influência que esta banda teve nos movimentos “proto-punk” e “punk”, e que ainda hoje têm em todas as “garage-bands” actuais.
Bandas como The Stooges, Ramones The Cramps, The Gories, Jon Spencer Blues Explosion ou White Stripes, devem ter escutado este disco várias vezes.

Editaram ainda “Boom” (1966 Etiquette), que apesar de ser um disco interessante e de ter tido um inesperado relativo sucesso comercial, já não é tão fascinante e não causa o mesmo impacto. Neste disco, para além de “Shot Down” e “He’s Waitin’, destaco somente uma magnífica versão de “Louie Louie”.